De repente no futuro escrita por WinnieCooper, Laura Vieira


Capítulo 7
Jantar de anunciação




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Para Laura Batista.

Olá mamãe, como vai? Queria lhe dizer que está tudo bem por aqui, mas não está. Refleti muito nesses poucos dias que estou nessa nova realidade e… a verdade é que… eu não sei o que fazer! Não sei o porquê que estou aqui, não sei por quê o tempo me pregou essa peça, não sei por quê estou tendo que passar por essa lição, eu só sei que queria conversar com a senhora, por isso decidi escrever. O tempo todo eu lembro da senhora, mamãe. Eu lembro da senhora penteando meus cabelos antes de dormir, eu lembro da senhora me contando o quanto os homens eram horríveis me fazendo prometer que jamais confiaria neles, eu lembro da senhora me fazendo prometer que iria cuidar de minha irmãzinha. Eu lembro da senhora principalmente agora que me descobri grávida. Grávida mamãe! Estou grávida! Como isso pode ser possível? Sempre que coloco a mão em meu ventre eu sinto o amor, a responsabilidade e a forma de mãe em todos os aspectos surgindo em mim. Maternidade? Eu não sei ser mãe.. E os gêmeos! São tão diferentes, tão singulares em cada particularidade que não tem como, eu já ando pela casa preocupada com o que eles vão pensar de mim, já arrumo suas roupas pós banho e me vejo brincando com eles, conversando, acariciando quando precisam de mim. Isso é ser mãe? Eu não sei ser mãe! Eu não me preparei para isso! Eu me preparei para discursos feministas, lutas diárias para direitos das mulheres, para afugentar meus bajuladores com vasos, não me preparei para isso. Uma vida a dois que se multiplica com filhos e filhos. A senhora me perdoaria se estivesse viva? A senhora seria feliz casando com o homem que amava e teria filhos com ele por vontade própria? A senhora renegaria o nome, a sua fortuna, em nome de um amor verdadeiro como a mãe de Petruchio fez? Eu não existiria e nem Bianca se você estivesse sido feliz, mas imagino seus outros filhos como teriam sido felizes nessa outra realidade e talvez a senhora não tivesse morrido… E eu mãe? O que faço?...

Catarina parou de escrever, estava chorando muito ao ponto de não enxergar nada. Fechou o caderno no qual se desabafava e deitou sua cabeça sob ele. Seu corpo sacudia enquanto chorava, foi a hora que Petruchio entrou no quarto. Reparou nela a distância, lhe era permitido se aproximar e a acalentar? Ela parecia tão frágil quanto um vaso em sua mão, andou depressa até ela preocupado e colocou a mão em seu ombro, sem medo.

— Catarina, não chore. - pediu aos sussurros.

Ela ergueu os olhos e reparou no olhar de preocupação dele, encostou sua cabeça em seu peito e esperou que ele a abraçasse.

— Tô me sentindo tão perdida. - confessou.

— Mas não se sinta, eu tô aqui pra te ajudar. - ele começou a dar palmadinhas em suas costas bem de leve.

Ela levantou o rosto o encarando, ficou pensando em tudo o que havia acontecido naquele dia até o momento, tudo o que havia lido sobre ele no diário. Petruchio parecia diferente de qualquer homem que já havia lhe cortejado. Ele respeitava seu espaço, era companheiro, se preocupava consigo e era um pai espetacular.

— Obrigada. - ela ergueu seu rosto o encarando.

Ela já estava com vontade de beijá-lo, não era difícil ceder a seus impulsos. Inclinou seu rosto até ele indicando o que desejava. Petruchio estranhou, mas esperou ela se aproximar mais, queria ter certeza que ela não iria fugir. Por fim, quando viu ela fechar os olhos, eliminou o resto da distância que tinham e a beijou, mas na testa.

Catarina abriu os olhos surpreendida pela atitude dele, ele sorriu para ela coçando seus cabelos da nuca.

— Não quero que ocê pense que tô abusando de sua dor aproveitando que tá triste pra beijar ocê.

Catarina respirava forte, como se tivesse corrido uma distância enorme para chegar até ali, seu coração não parava de bater desesperado. Havia sido pega de surpresa pelo desejo eminente e não conseguia disfarçar.

— Melhor assim, não faz mais que sua obrigação como homem. - ela saiu de perto dele e se encaminhou para perto da janela, não queria mais o olhar.

— Vim aqui pra tomar banho, Neca e Mimosa tão brigando na cozinha fazeno um monte de comida e falaram que era pra eu tomar banho. Pareceram inté minha mãe, insistiram tanto pra eu vir tomar banho, tô estranhando.

Catarina ouvia seus lamentos, mas não absorvia as palavras, ainda estava aérea pensando no beijo não concretizado.

— Vou sair do quarto para que tome banho então. - ela se encaminhou para o lugar que escrevia anteriormente e guardou o caderno dentro de uma gaveta, em seguida saiu do quarto aos tropeços e foi até a cozinha.

Neca e Mimosa discutiam, ou melhor, gritavam uma com a outra, uma implicava pela forma que a outra mexia a panela, enquanto a outra retrucava falando que nem a colher ela sabia segurar direito. Eram ofensas jogadas de forma fácil e nada comedidas.

— Parem de brigar! Estão parecendo duas crianças! - Catarina resolveu intervir na hora que viu elas começando a estragar a comida que a outra fazia.

— Olha o que ela fez Catarina, jogou sal nos ovos nevados. - Mimosa estava chorosa.

— Sal melhora até os doces, da mais sabor, ocê não sabe disso não? - Neca se justificou.

— Querem arruinar meu jantar é isso? - Ela voltou a ficar brava com as duas quando viu Mimosa colocar uma mão generosa de açúcar no pernil que Neca preparava.

— Tá até parecendo a época que a madrinha fazia comida toda errada pro seu Petruchio quando ele mandava a senhora cozinhar, lembra? - Buscapé apareceu na cozinha rindo observando a briga. - A senhora me mandando pegar capim pra fazer a torta. Nunca esqueci.
Buscapé ria, Catarina começou a imaginar sua versão cozinhando forçada ao ponto de fazer uma torta de capim.

— Buscapé! É você!

— Eu o que madrinha? - Catarina chegou perto dele pedindo.

— Termine jantar e dê um jeito nessas duas!

Buscapé olhou para Neca e Mimosa que quase saiam nos tapas.

— Madrinha eu não consigo não. Elas não escutam nem a senhora. E dona Neca detesta quando eu cozinho aqui, a senhora sabe.

— Oras! Não quer estudar gastronomia na França? É uma ótima oportunidade para aprender a lidar com a cozinha difícil. Imagine um restaurante cheio de pessoas esperando sua comida com ajudantes briguentos a sua volta. É quase um treinamento.

Buscapé olhou para ela cansado, sabia que teria que travar uma batalha para aquele jantar sair.

— A madrinha tá grávida? É isso? - Buscapé perguntou imaginando a urgência dela de um jantar que desse certo dessa vez. - Só isso pra madrinha ficar tão preocupada com a comida do jantar.

— Oras Buscapé, não invente histórias, só quero garantir um bom jantar e com essas duas isso não será garantido. - ela apontou Neca e Mimosa que continuava a discutir. Buscapé suspirou derrotado.
Catarina saiu da cozinha antes que o garoto dissesse qualquer coisa, foi para sala e se deparou com Calixto brincando com os gêmeos. Os dois corriam atrás dele.

— Mas oceis tão me provocando! - dizia fingindo nervoso o que arrancava gargalhadas dos dois.

— Vô Calixto vem pegar a gente! - Clara gritava fazendo gracinhas com o rosto.

— Mas as caveiras do vô e da vó d'oceis não iam de gostar de ver oceis provocando eu com careta. - ele fingiu estar bravo.

— Vô Calixto não pega nois! - Júnior gritava fazendo Calixto virar bravo e correr atrás deles.

Ambos riam quando o "vô" os pegava enchendo-os de cosquinhas. Catarina encostou no batente da porta e colocou a mão na barriga. Começou a imaginar todas as cenas que já havia perdido dos gêmeos naquela fazenda. Eles haviam inaugurado tantas coisas, ela sendo mãe pela primeira vez, mas também Petruchio aprendendo a ser pai, e os demais membros da casa se transformando por eles. Como um avô que não era avô, mas era considerado.

Começou a imaginar ela descobrindo a gravidez, ficou feliz quando isso aconteceu? E como contou a Petruchio? Foi num jantar? E qual foi a reação dele? Ele queria mesmo ser pai? Como era sentir os bebês mexerem? E o nascimento? Não se imaginava tendo dois bebês de uma vez! Eram tantos momentos que perdeu. Ficou divagando em pensamentos quando deu por si Calixto havia falado para as crianças irem tomar banho com o pai e havia chegado perto da patroa.

— A senhora tá grávida. Mas as caveiras do pai e da mãe do seu Petruchio tão se mexendo de tanta felicidade no cemitério.

Catarina despertou de seu estado e o encarou preocupada de como ele descobriu a informação, quando viu a si mesma ainda acariciando a barriga.

— Não conte ao Petruchio! Eu vou dizer no jantar! - exigiu.

— Mas não digo não que ele vai ter outra onça, pode deixar. Apesar deles ser um pouco bravos as veiz, eu adoro ter essas duas oncinhas aqui na fazenda. A senhora vai fazer o seu Petruchio muito do feliz com essa notícia.

— O senhor acha isso? O conhece desde pequeno, não é? Como foi quando os pais dele faleceram? - Catarina estava curiosa quanto ao passado. Não havia esquecido o que o marido havia lhe contado poucas horas atrás.

— Ah foi muito triste, muito mesmo, seu Petruchio não tem irmão então em pouco tempo se viu sozinho para cuidar disso tudo aqui, e além disso ele era muito pequeno. A responsabilidade o pegou e ele teve que sustentar nois tudo ainda menor de idade. Fora a dor. Os pais de seu Petruchio se amavam demais, era bonito de se ver a união, um casamento que parecia que as duas pessoas eram feito uma coisa só.

Catarina concordou com a cabeça imaginando o sentimento e a sensação, sua mãe nunca teve aquilo e isso lhe corroía.

— …Algo difícil de se ver nos casamentos. - ela comentou pensativa.

— Mas a senhora e seu Petruchio tem um pouco disso também. Brigam por demais é claro, mas nas necessidades se unem como um só e nas felicidades exalam alegria pela casa tão contagiante. Sei que de onde os dois estiver eles havera de tá muito felizes de como essa fazenda prosperô e de como a senhora ajuda seu Petruchio a ter uma família que ele sempre sonhou ter.

Catarina concordou com a cabeça um pouco emocionada, as palavras eram dirigidas a outra Catarina, a Catarina que havia aprendido a amar aquela terra e a amar aquela vida. Não a ela. Mesmo assim, não conseguia negar a si mesma que gostava de receber esse tipo de elogio.

— O senhor é um ótimo avô. Nunca teve filhos seu Calixto?

Calixto olhou triste pra ela.

— Ara dona Catarina, pra quê tocar nesse assunto? Sabe que o fio que sempre quis ter é um salafrário. Eu nem sei se ele casô ou teve fio, e nem quero saber de Heitor.

— Heitor? O Heitor de dona Josefa? - ela perguntou surpreendida sem disfarçar.

— Mas a senhora tá bem não né? E fora isso, a única que criei feito fia me deu aquele golpe no coração, Lindinha até onde sei tem fio sim, mas eu nem quero saber. No final dona Catarina, seu Petruchio é como um fio que eu sempre quis ter e que tava do meu lado o tempo todo e eu não tinha percebido. E os fios da senhora são meus netos sim, memo que as veiz eles me morde feito onça.

Ele sorriu e Catarina concordou com a cabeça sorridente, tentou absorver todos as novidades que ele contava, mas não entendeu tudo muito bem, pelo jeito a moça chamada Lindinha que morava na fazenda, que ela havia conhecido na noite de seu noivado, havia decepcionado a todos.

— A senhora me dá licença. - Calixto saiu da sala. Foi até o quarto de Petruchio e percebeu ele brincando com os filhos. - Oh seu Petruchio, preciso conversar com o senhor.

— Mas ocê mandou esses dois porquinhos tomar banho aqui no quarto, até estranhei Calixto, ocê nem gosta de banho. - Petruchio ria enquanto tentava pegar os dois para colocar na banheira.

— É que eu precisava falar um negócio memo com o senhor.

Petruchio olhou para ele sério e levantou a mãos pro alto se rendendo.

— Tá bom, hoje nem é sábado pra oceis tomar banho, além disso ceis tão limpo. Podem ir lá brincar mais um pouco.
Esperou até os filhos saírem do quarto e viu Calixto lhe entregar um envelope.

— É dela.

— Dela quem? - Petruchio perguntou pegando o envelope na mão.

— Dona Marcela. - Calixto sussurrou fazendo o nome do pai em seguida. - Quero nem pensar o que havera de acontecer se dona Catarina descobre ela enviando carta pro senhor. Ela cata as crianças e leva pras zoropa pra viver longe daqui, ela cata!

— Que que é que ela quer comigo?

— O senhor nunca que abre as carta pra saber, sempre amontoa no guarda-roupa. Eu não acho certo não, o senhor num fez nada de errado. Tinha é que ler o que essa doida quer, contar pra dona Catarina antes que seje tarde. Sabe que ela sempre gosta que conta tudo pra ela.
Petruchio abanou a cabeça e segurou o envelope contra a luz, viu vários escritos dentro a letra de Marcela com seu nome como remetente.

— E eu vou guardar essa também e ocê que não abre essa boca pra falar pra Catarina. - Pelo que Petruchio havia concluído, Catarina conhecia de alguma forma a Marcela e não gostava nem um pouco dela.

Pensar no que a mulher queria consigo lhe causava calafrios, mas guardaria o envelope escondido como o outro Petruchio fazia no guarda-roupa, afinal, ele não pertencia a aquela realidade mesmo, que mal poderia acontecer?

xx

Catarina esperava sentada na sala, fazia carinho em Carijó:

— …Sabe Carijó, fico pensando na minha mãe, como ela seria se tivesse se casado com o homem que amava, como teria sido? Ela era uma maravilhosa mãe mesmo não querendo ser a minha mãe, e agora com esse filho em minha barriga meus questionamentos são os mesmos…

— Mamãe! - Catarina parou de falar e observou Clara olhando brava para ela. - Tem bebê na sua barriga?

Catarina fez shiu com os lábios e pediu para Clara sentar ao seu lado com a mão.

— Não foi tomar banho com seu pai?

— Papai disse que eu tô limpa, nem preciso de banho. E que hoje não é sábado.

— Seu pai não tem jeito! - Catarina negou com a cabeça imaginando Petruchio analisando os filhos se precisavam de banho mesmo.

— Mas mamãe! Tem bebê na sua barriga? - perguntou com curiosidade no olhar.

— Têm. - Clara gritou feliz. - Mas é um segredo.

— Eu vou falar pro Júnior que vai ser menina! - Ela saiu do lado da mãe e foi correndo até o quarto que dividia com o irmão. Catarina foi atrás dela desesperada. - …Vai ser menina e vai ser minha melhor amiga!

— Irmã não pode ser amiga. - ele respondeu bravo cruzando os braços.

— Claro que pode seu tonto.

— Não chame seu irmão de tonto. - Catarina interviu.

— E eu pedi pro papai do céu um irmão! Vai ser MEU irmão! - Júnior gritou bravo com Clara, chegou perto da mãe abraçando ela pelas pernas. - Vai ser um menino não vai, mamãe?

— Não dá pra saber, mas o que importa? Vai brincar com os dois eu tenho certeza, sendo menino ou menina.

— É que eu queria um irmão pra jogar futebol comigo. - Júnior encostou o rosto na barriga dela fazendo a mãe ficar estática um momento. - Ocê é menino, num é? - sussurrou para a barriga e ela sentiu seu coração disparar.

— Como se menina não pudesse jogar futebol. Mamãe sempre fala que as meninas podem fazer tudo o que quiser! - Clara comentou indo abraçar a mãe pelo outro lado.

— Isso é verdade. - Uma pontada de orgulho a atingiu.

Chegando o rosto perto da barriga da mãe, Clara sussurrou:

— Fala pra ele que é menina e vai chamar Mariana.

— Mariana? - Catarina perguntou tentando conter as lágrimas que começavam a cair de seus olhos.

— O nome da minha boneca ué. - Clara deu dê ombros.

— Ocê sabe que a mamãe sempre disse que se fosse menino ia chamar Antônio! Oi Antônio!

— Antônio?

— É mamãe, por causa do nome do vovô. Esqueceu? - Júnior voltou a explicar.

— Então já temos os nomes se forem menina ou menino, pronto. - Catarina fugiu da pergunta do filho e tentou não fazê-los brigarem mais. Ficou sentindo o carinho de ambos em sua barriga, até que estava chegando perto do horário do jantar, deu banho nos filhos e os trocou, ajeitou seus cabelos e foi se arrumar. Tirou uns minutos para si, tomou seu banho, arrumou seus cabelos, colocou um vestido mais confortável que não marcava sua barriga e passou seu perfume que ficava em uma prateleira no banheiro. Tudo parecia organizado e montado por ela, já que reconhecia os frascos de shampoo, os sabonetes e os perfumes que gostava de usar.

Adentrou a sala de jantar checando todos os pratos que Buscapé levava com a ajuda ou não de Neca e Mimosa.

— Olha madrinha, eu não garanto nada não, elas quiseram me ajudar no tempero e…

— Como assim Buscapé?! - Catarina reclamou.

— Única coisa que sei que está bom são os ovos nevados que eu tive que refazer depois que a dona Neca estragou os que a dona Mimosa tinha feito.

Catarina começou a repassar toda a mesa, pernil assado, salada de chuchu, feijão gordo, arroz com açafrão e farofa de torresmo. Gritou para que seu Calixto aparecesse na sala.

— Mas o que que é que foi dona Catarina? Tem alguma coisa pegano fogo?

— A minha cabeça não está vendo? Vá chamar o Petruchio para vir jantar, parece que esqueceu que temos um jantar especial hoje.

Ele concordou com a cabeça sorrindo e foi até o galpão de queijos chamar o patrão que monitorava a produção no final daquele dia.

Petruchio chegou à sala de jantar e se surpreendeu com a mesa posta, era um banquete e todos estavam já sentados aguardando a sua chegada.

— Arriégua, mas é uma ocasião especial e eu num tô sabendo? Por isso oceis duas me mandaram tomar banho. - Petruchio apontou para Neca e Mimosa que estavam emburradas cada uma em um canto.

— Mas eu tô com fome. - Calixto se precipitou até a comida e começou a colocar o arroz em seu prato.

— A deseducação Calixto! - Petruchio o repreendeu. - Não tá vendo que Catarina quer falar?

— Sim eu quero falar. - Catarina tentou sorrir, mas estava tão nervosa que acabou lhe entregando uma espécie de careta.

— Então diga. - Petruchio pediu vendo que ela não falava nada.

Catarina olhou para Mimosa que tentou a encorajar a falar lhe piscando o olho, passou o olhar para Neca que dizia sim balançando a cabeça, viu que Buscapé sorriu lhe mostrando um joia com o dedo polegar, observou os filhos pacientes e sorridentes e pousou o olhar em Calixto que parecia entediado.

— Mas eu tô morrendo de fome.

— Shiu Calixto! Não tá vendo que Catarina vai falar?

— Mas ela tá demorando tanto de falar um negócio que todo mundo já tá sabeno.

— O que tá todo mundo sabendo? - Petruchio perguntou para Catarina nervoso. - Mas o que? Eu sou o dono dessa fazenda e sou o último a saber? Arriégua! Pra Catarina tá querendo me dar uma notícia só pode ser a solução pra gente voltar pro nosso mundo e eu não quero isso, não quero memo!
Petruchio mais falava para si mesmo que para os outros da mesa. Catarina olhou brava para ele.

— Escute Catarina, eu não quero voltá, sei que ocê deve de ter descoberto como voltá. Mas eu não quero! - ele cruzou os braços em volta do corpo e sentou na cadeira tentando se segurar para não sair do lugar.

— Pare de falar asneiras! - ela lhe repreendeu entredentes observando todos confusos a mesa.

— Mas dona Catarina já sabe de dona Marcela? - Calixto perguntou a Petruchio fazendo Catarina virar o pescoço drasticamente para o senhor quando ouviu o nome…

— Marcela? - ela perguntou espantada. - Não gosto desse nome, EU JÁ LI SOBRE ESSE NOME.

— Mas Calixto! - Petruchio o repreendeu.

— Mas oceis não tavam falando da Marcela? Achei que dona Catarina já tava sabendo das cartas. - Calixto havia acabado com todas as esperanças de Petruchio de despistar Catarina.

— Me diga sobre essa Marcela Petruchio! Me diga! - ela disse urgentemente olhando o marido. - Não gosto mesmo desse nome. Marcela, Marcela. - começou a repetir o nome falando pausadamente e entortando o nariz a cada sílaba. - QUE CARTAS SÃO ESSAS?

— Mas eu nada sei. - Petruchio levantou as mãos no ar se rendendo. - Mas era ocê que tinha uma coisa pra me contar e não eu.

— Verdade Catarina, volte ao assunto do jantar! - pediu Mimosa.

— O assunto do jantar? - ela tentou falar calma, mas saiu gritado, o ar saindo pelas narinas tamanha sua raiva, não sabia porquê, mas não gostava dessa mulher. - Vamos jantar Petruchio, depois eu conto. Veja a mesa, como está bem posta!

Ela apontou com os dedos e Petruchio voltou a reparar na comida.

— Tá bem posta sim, vou me servir. - ele começou a pegar cada colherada de comida salgada sorridente enquanto Catarina andava em volta de sua cadeira pensando naquele nome que não lhe causava boa impressão.

— Mas foi ocê quem fez meu favo de mel?

— Não me chame de favo de mel! - disse raivosa. - Mandei que fizessem… Adoro mandar!

Petruchio sorriu ignorando a mulher nervosa e colocou uma colherada da comida na boca, assim que mastigou percebeu que o arroz estava papento, a carne estava doce e a farofa pegando fogo de tanta pimenta.

Ele abriu a boca sem conseguir falar e sentiu lágrimas saírem de seus olhos, abanou a mão pedindo água e Neca atendeu. Bebeu um copo cheio antes de conseguir falar.

— Eu nunca comi nada tão ruim em toda minha vida.

— Pior que na época que dona Catarina cozinhava pra nois tudo? - Calixto perguntou olhando com fome para a comida incomível.

— Aí madrinha, eu falei pra senhora que essas duas não me deixaram cozinhar! - Buscapé reclamou olhando todo seu serviço ir por água abaixo diante da reação de Petruchio a comida.

— Que bom que a comida está horrível, melhor. Não está merecendo comida nenhuma. Marcela, Marcela… - continuava a andar envolta de sua cadeira pensando no nome da mulher que lhe parecia estranhamente familiar.

— Melhor a comida tá ruim? - Petruchio cometeu o erro de perguntar.

— Sim, melhor Julião, porque agora pode ir direto para a sobremesa e provar os ovos nevados. - ela disse suavemente chegando perto dele na mesa.

Petruchio estranhou ela lhe chamando de Julião, mas gostou tanto da sonoridade do seu nome saindo da boca dela que não ousou questionar. Viu a suposta esposa pegar o prato de doce e chegar perto de si.

— É um doce tão gostoso esse ovos nevados, já provou Julião?

— Nunca provei favo de mel. - ele respondeu sorrindo.

— Pois prove então. - ela derramou todo doce na cabeça do marido, todos ficaram de boca aberta pela atitude dela à mesa.

— Arri, mas parece que voltei no tempo. - Neca comentou com Mimosa como se as duas não estivessem brigando segundos atrás.

— Igualzinho no passado.

— Mas era o único prato que eu tinha certeza que tava bom. - Buscapé se lamentou.

— E eu vou me juntar as caveiras do pai e da mãe do seu Petruchio de tanta fome que tô. - Calixto lamentou ouvindo seu estômago roncar ao mesmo tempo em que via seu patrão caminhar para perto de Catarina bravo com o que ela havia feito.

— Mas tá doida Catarina? Tava toda cheia das delicadeza pra me jogar doce na cabeça? Eu acabei de tomar banho!

— Pois fiz pouco! Eu aqui toda preocupada em lhe fazer um jantar para… para… O QUE IMPORTA!? E de repente descubro que troca cartas com essa Marcela! O que é isso? Não tem respeito nem por seus filhos!?
Ela berrava com lágrimas nos olhos, Petruchio não podia deixar de sorrir olhando suas expressões e ainda perceber que ela estava sim com ciúmes de um nome que ela não conhecia e não sabia o significado. Ficava tão linda brava com ciúmes, nunca a vira tão linda em toda sua vida.

— Eu juro que pego meus filhos e vou embora pra Europa e você nunca mais os vê!

— Ah lá! Começou! - Mimosa lamentou.

— Mas de novo a conversa das zoropa. - Calixto comentou abanando a cabeça.

— A culpa é sua, seu jumento! - Petruchio reclamou.

Nessa altura as crianças estavam encolhidas num canto assustadas e com medo do desenrolar da briga.

— Eu não quero morar longe daqui! - Clara choramingava.

— Não gosto das zoropa. - Júnior fez coro a irmã.

— Venha aqui os dois. Tá tudo bem, é só o pai e a mãe d'oceis num dia normal. - Neca abraçou os dois pelos ombros tentando os acalmar.

— …toda essa palhaçada e eu feito uma idiota me sentindo culpada… - ela pegou um copo na mesa e arremessou nele. - …me sentindo uma mãe horrível, me sentindo perdida e chorando lembrando de minha mãe, não querendo estar aqui, pensando o quanto é um pai maravilhoso e o quanto sustenta bem essa família para no final você estar me TRAINDO! - berrou a última palavra lhe atirando outro vaso.

— Mas eu não tô fazendo nada!

— Não minta! - ela disse brava jogando um prato desta vez, ele desviou como se fizesse isso todos os dias.

— Mas eu sei bem como lidar com ocê, onça ruim. - Petruchio foi atrás de um prato ao seu lado. - Com ocê tem que ser de igual pra igual.

— Não Petruchio! - ela pediu esticando os braços na frente de seu corpo.

— Não pode seu Petruchio! - Neca pediu preocupada.

Petruchio jogou o prato ao seu lado assustando ela que colocou a mão em sua barriga.

— Pare de fazer isso, pode fazer mal para o bebê! - ela pediu sentindo-se tonta diante de tantos acontecimentos. Escorou-se na parede arfando.

— Para papai! Vai machucar minha irmãzinha! - Clara pediu chorosa indo atrás da mãe lhe abraçando.

— Vai machucar meu irmão! - Júnior remendou indo atrás de abraçar a mãe também.

— O que tão dizendo? - Petruchio olhou para todos que lhe repreendiam através dos olhares.

— Estou grávida, estou esperando um filho seu. - Catarina anunciou fazendo ele arregalar os olhos e enfim entender o motivo do jantar.

 




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