Lobo e o gato selvagem escrita por HumbleLittleFox


Capítulo 4
Capítulo 4 - Um grupo muito peculiar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806394/chapter/4

Sugimoto pega na madeira próxima do cano de saída do rifle diante da hostilidade de Hijikata e Yuki como quem iria usar o rifle como um taco de beisebol para bater. Yuki  se curva um pouco para frente em uma posição de saque rápido da katana. 

“Asirpa ia dizer alguma coisa… mas Hijikata-sama a interrompeu…” Yuki pensou, e olhou rapidamente para Ogata. Viu que ele olhava para as costas da garota ainu. “Ele também percebeu…”

“Ela disse…’Meu pai’.” pensou Ogata, as orbes negras opacas, enquanto olhava Asirpa. ”Será possível que ela seja… a filha de Nopperabou?”

O que aconteceu em seguida foi rápido demais até mesmo para olhos de pessoas comuns. Os movimentos de Sugimoto e Yuki iam além inclusive para os mais treinados e acostumados à vida agitada de combates e guerras.

 

Sugimoto atacou com o rifle, mas Yuki esquivou-se com impressionante reflexo ao simplesmente inclinar a cabeça para o lado, abaixando-se um pouco, para evitar ser atingido. Isso surpreendeu Sugimoto, que tentou novamente uma investida, visando atingir na altura do peito. 

Yuki sacou a katana em um piscar de olhos para bloquear o ataque. Os braços de ambos tremiam com devido a força impelida, ambos se encarando com olhares intensos.

 

Hijikata olhou para Yuki com olhos admirados e orgulhosos. "Ele aprendeu rápido e muito bem..." Ele pensou.

 

Enquanto isso, Ogata sorria totalmente entretido com a cena.

 

— Sugimoto, pare! - pediu Asirpa, bastante preocupada após vê-lo tomar a primeira investida.

 

Hijikata deu um passo a frente.

— Não, Hijikata-sama. - Yuki disse de forma respeitosa, sem tirar os olhos de Sugimoto. - Todos vocês, não se mexam. Eu dou um jeito nele.

— Oh, vai dar um jeito em mim, você diz? - Sugimoto disse, parecendo irritado apesar de sorrir ferozmente. - Vamos ver se consegue mesmo.

 

"Se ele ajudar Hijikata-sama, pode ser bom para o plano principal... Não posso matá-lo. Não ainda." Yuki pensou, empurrando Sugimoto para trás forçando a katana para frente, e deu um passo para frente, esquivando-se da tentativa dele de acertar seu rosto. 

 

Com a mão livre, Yuki socou a barriga de Sugimoto, e ficou surpreso quando foi agarrado, erguido e arremessado contra a parede. Soltou a katana com o impacto e caiu no chão.

 

Em um pulo, Yuki ficou de pé, a tempo de bloquear o soco de Sugimoto com o antebraço. Segurou o pulso dele e o puxou para golpeá-lo com uma cabeçada contra a testa de Sugimoto. Aproveitou esse momento para dar uma joelhada, mas Sugimoto era tão bom quanto, ele defendeu e segurou o joelho de Yuki com uma mão, e com a outra ele segurou a gola de sua roupa e desferiu um golpe de judô. Yuki atingiu o chão violentamente com um baque surdo. 

 

No entanto, ainda não era suficiente para vencer Hagiwara, que girou o corpo no chão para mover as pernas e chutar Sugimoto na dobra de seu joelho, fazendo-o perder o equilíbrio e cair.

 

Nesse momento Yuki se estica para pegar a katana que estava no chão ali próxima e ficou de pé mais uma vez, chutando a cara de Sugimoto que tentava se levantar. Sugimoto ainda tentou chutar Yuki, mas se esquivou com seus bons reflexos e atravessou a mão de Sugimoto com a ponta da katana, fincando-a no chão. 

Apoiou um joelho no peito de Sugimoto, que ficou sem ar, e pisou na mão livre dele, segurando-a contra o chão com seu pé.

Sugimoto olhou para Yuki furioso. Yuki sorriu para ele e passou a mão no rosto, limpando o sangue que escorria de sua testa.

— Calma agora, Sugimoto. - Yuki debochou. - Tente alguma gracinha novamente e eu o mato.

 

Hijikata se aproximou dos dois, encarando Sugimoto de cima.

— O que você quer, Sugimoto? Talvez possamos ajudar um ao outro. É melhor conversar do que lutar.

— Além disso, estamos em vantagem numérica. - Yuki lembrou a ele. - E eles têm a mim.

Sugimoto cuspiu o sangue acumulado na boca para o lado, irritado.

— Preciso confirmar algo com Nopperabou. Seria ruim alguém pegar o ouro antes de nós conversamos com ele. - Sugimoto disse, enfim se sentindo vencido por hora, ainda encarando Yuki. - Antes de Asirpa ter a chance de falar ele. Ela precisa falar com ele.

— Que tal continuarmos esse assunto na mesa de jantar? - Nagakura sugeriu, por fim.

—-------------------------------------------------------------------------

Os dois grupos agora parece que se tornaram um só, e agora estavam tendo uma deliciosa refeição que Ienaga cozinhou para todos. De longe, parecia a última ceia de Leonardo Da Vinci.

 

Yuki optou por se sentar numa cadeira próxima da mesa, não junto de todos, depois de pegar um pouco de comida para si. Ficou onde poderia observar todos e porque costumava não comer junto. Sempre se isolou durante as refeições desde a época que era do exército, tal qual um lobo solitário. Sentia que não se encaixava em lugar nenhum.

Observava aquela mesa lotada de pratos, copos e comida onde pessoas que antes eram inimigas agora conversavam e riam juntas. Yuki olhava para eles, descobrindo um novo sentimento que não havia sentido antes: desejava por algo que pensava não que seria capaz de viver e conquistar.

Ele já esteve em mesas e compartilhou refeições no passado, com os camaradas soldados no exército, sempre se forçando a se aproximar e participar. O que sentia agora era similar ao que sentia antes no passado. Similar a memória dos homens dos outros batalhões rindo e contando piadas bobas no refeitório durante as refeições. Yuki sempre preferiu a solidão e nunca foi de se socializar, mas mesmo assim fazia considerável esforço para se sentar com todos, estar presente e rir com eles. 

Era um bom sentimento.

— Vem comer com a gente. – aquela voz gentil puxou Yuki de volta de seus devaneios, olhando com surpresa para Asirpa que havia se levantado da mesa. – Vi que você não veio comer com a gente. Vem, trás sua cadeira pra cá. Todos devem comer juntos!

— C-certo… – Yuki respondeu e, tentando disfarçar como estava sem jeito, afinal, isso foi inesperado, atendeu ao chamado.

Puxou a cadeira para se sentar à mesa, próximo de Hijikata, e de frente para Ogata, que olhava com um meio sorriso. Yuki arqueou uma sobrancelha diante daquilo e continuou a comer.

— Curioso como um grupo de pessoas assim conseguiu de juntar. – começou Sugimoto, olhando para Ogata com um olhar de desprezo e sem brilho. – Esses caras em específico. Afinal, eles eram homens do Primeiro Tenente Tsurumi. Qualquer pessoa que se torna um traidor pode fazer isso de novo.

— Sugimoto… Você sabe que quase me matou. – começou Ogata, com notável tom de voz sarcástico e um sorriso debochado, ponto a mão no peito de forma dramática. – Mas não sou de guardar rancor, mesmo assim, sua afirmação realmente me machucou.

Yuki arqueou ambas as sobrancelhas, seu rosto agora uma carranca de irritação olhando para Sugimoto com a lembrança de que fora ele quem tentara matar Ogata. Ira tomou conta de seus olhos azuis.

 

O resto ficaram calados, não querendo se meter.

— E você, Segundo Tenente Hagiwara? O que faz com eles? – perguntou Sugimoto, confrontando-o. – Você nunca me pareceu o tipo de pessoa que se envolve nesse tipo de situação.

— Nada nunca é o que parece. Aposto que você nunca imaginou que seria o tipo de pessoa capaz de fazer o que fez na guerra para sobreviver e olha só como está. Todos fazemos o que é necessário para sobreviver ou proteger alguém que nos importa. 

Yuki olhou involuntariamente para Ogata enquanto falava aquelas últimas palavras. Seu olhar mudou de ira para uma leve suavidade ao olhá-lo. Os olhos do sniper se encontraram com os de Yuki a tempo de ver essa brusca mudança antes de Yuki olhar de volta para seu prato. 

Sugimoto nada respondeu, baixando a cabeça, afinal, ele já fez e fará muito para proteger a pequena Asirpa.

—------------------------------------------------------

Depois disso, conversaram mais à mesa e então parte do grupo, que consistia em Sugimoto, Asirpa, Ushiyama e Yuki, voltaram às minas à procura do corpo de Tsukishima e as peles falsas. Os demais permaneceram na casa, investigando em busca de alguma pista de como eles poderiam identificar as peles falsas das verdadeiras.

Na casa, Hijikata estava em um cômodo da casa que parecia com um escritório, abrindo as gavetas e lendo todos os papéis que encontrava. Ogata ajudava a procurar por alguma pista dentro dos animais empalhados.

O  vidro da janela quebrou e então o fogo se alastrou pela casa. Alguém jogou um coquetel molotov para incendiar tudo com eles dentro da casa. Rapidamente saíram do quarto para fugir do fogo e da fumaça. 

— Ienaga, não vá lá pra fora! – alertou Hijikata antes que ela abrisse a porta da frente. – Você será baleada!

— Eu vi rapidamente a movimentação de uniformes militares do lado de fora. – informou Ogata, de costas para a parede ao lado da janela, engatilhando o rifle em suas mãos. – Parece que estamos cercados por vários soldados. 

Hijikata se armou também, liberando a trava de sua escopeta, preparando-se.. 

— Devem ter vindo destruir as evidências das peles falsas. – disse, olhando com cuidado para fora pelas cortinas de uma janela.

— O que indica que o Tenente Tsukishima está vivo. – afirmou Ogata. – Como tem barras nas janelas, se quiserem invadir, terão de usar a porta da frente. Então vou direcionar eles em direção à entrada. 

Dito isso, o sniper correu para o andar superior da casa. Lá, quebrou uma janela para passar parte do rifle para fora e atirou nos soldados que os cercavam. Para sair do campo de visão de Ogata, os homens de Tsurumi correram para o beiral onde ficava a porta de entrada.

Foi quando Hijikata disparou, as balas atravessando a porta. Nikaidou e os outros homens de Tsurumi não foram atingidos, mas saíram da cobertura do beiral da entrada, ficando novamente no campo de visão de Ogata que aproveitou e disparou, atingindo um dos soldados no ombro.

A janela que Ogata atirava de repente se estilhaçou perto de seu rosto, ferindo-o levemente perto do olho. Um disparo que passou muito perto de sua cabeça. Correu para outra janela para ver de onde viera o tiro e avistou pelo menos mais uns cincos soldados escondidos atrás de uma das casas vizinhas. “Parece que tem um monte deles aqui…”

Lá embaixo, Hijikata estava de um dos lados da porta frente, recarregando sua escopeta, quando finalmente os homens de Tsurumi derrubaram uma das portas e entraram. O primeiro entrou indo em direção ao andar superior da casa. 

Nikaidou disparou para frente, mas o velho Hijikata estava atrás da porta e tinha sacado sua katana, erguendo-a acima de sua cabeça para desferir um corte de cima para baixo. Porém foi agarrado pela cintura e jogado no chão, iniciando uma luta corporal. 

Ogata, no andar de cima, ouviu o rangido do chão vindo do corredor e se escondeu atrás da porta. O soldado que havia subido em sua procura entrou no quarto para procurá-lo, no entanto, ao passar da porta, é golpeado na barriga com a baioneta de Ogata, entrando quase toda em sua carne e perfurando seus pulmões. O soldado revidou usando a coronha de seu rifle para golpear o sniper bem no rosto.

Enquanto isso, lá fora, atrás da casa, Ienaga procurava por uma saída, mas todas as janelas eram gradeadas então não havia como fugir. Cada vez mais a fumaça do incêndio ficava mais intensa, dificultando a respiração. Quando assustou-se com o som de uma das grades sendo arrancada por Ushiyama, com Asirpa agarrada em suas costas, Yuki e Sugimoto logo atrás.

Uma vez que a passagem estava livre, Yuki, mais ágil que Sugimoto, pulou para dentro da casa e correu em direção à entrada. Ao passar pelas escadas, escutou sons de luta no andar de cima e subindo degraus acima para ver quem lutava.

Ao parar em frente a porta, viu o soldado do Tsurumi, erguendo o rifle para cima, sentado em cima de Ogata, que estava com as mãos à frente do rosto para se proteger. 

— Morra, seu filho da puta duas caras! Bastardo! – ele gritou furioso. Ogata reagiu abrindo um sorriso debochado, o rosto ferido com sangue escorrendo pelo seu nariz.

Nesse momento, Yuki desfere um chute que atinge a cabeça do homem, jogando-o para o lado e o tirando de cima do Ogata. O soldado logo se recupera e se levanta avançando contra quem acabara de lhe atingir, atacando com uma coronhada. Com bons reflexos, Yuki se defende do golpe com o antebraço e desfere um soco contra a barriga do homem, que se curva para frente. O soldado, irritado, se joga contra seu oponente, agarrando na cintura e fazendo Yuki bater as costas contra a parede. 

Yuki dá uma cotovelada contra a cabeça dele, tentando se soltar e procura pelo revólver em sua cintura. Se surpreende quando vê a arma na mão do soldado, já se preparando para atirar, mas é finalizado com a cabeça sendo cortada fora pela lâmina afiada de uma katana rapidamente desembainhada. Seu corpo cai para o lado, sem cabeça, em um baque surdo.

— Heh, é engraçado como as vezes eu esqueço que tenho uma katana comigo. - Yuki riu para si mesmo, e seus olhos azuis procuram Ogata que ainda estava tentando se levantar do chão. 

Ogata não disse nada e Yuki arqueou as sobrancelhas, inclinando a cabeça para o lado de forma debochada.

— O que, quer que eu te agradeça? – ele perguntou, sarcástico, com um sorriso no rosto.

Yuki o encarou por alguns segundos em silêncio antes de dar um meio sorriso e disse:

— Heh, pelo visto o que tem de habilidade com o rifle, te falta em uma luta corporal. Deve ser por isso que apanhou.

Ogata respondeu a provocação cuspindo o sangue da boca para o lado. O que não esperava era ver a mão de Yuki estendida para ajudá-lo a levantar. Ele encarou aquela mão momentaneamente, sem expressão, antes de aceitar esse pequeno auxílio.

—--------------------------------------------------

Todos conseguiram sair pelos fundos da casa. Iriam se dividir em grupos para não chamarem a atenção. O destino agora era a prisão de Kabato na cidade de Tsukigata. Caso não conseguissem distinguir as peles falsas das verdadeiras com a ajuda de um especialista em falsificação que estava preso nessa prisão, não haveria outra alternativa a não ser se encontrar diretamente com Nopperabou na prisão de Abashiri.

— Ele provavelmente estará disposto a contar tudo, se for para sua própria filha. – afirmou Hijikata.

— Então você sabia que ela é filha dele… – observou Sugimoto, com desgosto. 

Yuki encarou as costas de Hijikata com um olhar desconfiado. O que mais esse velho homem poderia saber? Yuki se perguntou o que mais Hijikata poderia estar escondendo, informações importantes. Além disso, Yuki não se recorda de ter visto uma cópia da tatuagem dele também, talvez porque... não tenham feito sua cópia ainda.

Então eles partiram para a cidade de Tsukigata.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agradeço a leitura de vocês até aqui!
Espero que tenham gostado, foi divertido escrever. O grupo está unido agora, vamos ver como será a interação deles daqui pra frente, não é?
Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lobo e o gato selvagem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.