Lobo e o gato selvagem escrita por HumbleLittleFox


Capítulo 2
Capítulo 2 - Empalhar, uma prática perturbadora


Notas iniciais do capítulo

Meus caros leitores, eis o segundo capítulo. Foi desafiador e complicado de adaptar, mas foi divertido mesmo assim.

Espero que gostem!



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A porta da frente da casa é aberta com um chute por onde Yuki e Ogata entram. No local havia vários animais empalhados, desde pássaros até ursos polares. Cuidadosamente, a dupla avança pelos corredores, verificando cada cômodo, procurando por mais alguém.

 

— Oh, você matou o Maeyama. Realmente faz o que é necessário, não importa se é contra alguém conhecido – Yuki disse quando viu o corpo do antigo companheiro morto no chão com furo a bala em sua testa. O rosto de Yuki era indiferente.

 

— Não me diga que está de luto por ele.

 

— Ora, é claro que não – Yuki realmente não dava a mínima. Havia apenas algumas pessoas que Yuki realmente se importava e sofreria muito se as perdesse e faria de tudo para protegê-las. Maeyama não é e nunca foi uma delas. – Bem, foi um belo disparo o seu, como sempre.

 Ogata sorriu.

— Tsukishima costuma tomar banhos longos, então ele não vai voltar por um tempo, isso pode nos dar algum tempo para investigar a casa. – comentou Ogata, enquanto terminava de ver um quarto vazio. Estava armado com uma pistola beretta de um modelo antigo e em seu ombro o seu querido rifle modelo Arisaka 30. no ombro.

 

— Você, por outro lado, sempre detestou banhos longos… – Yuki pensou alto demais.

 

— O que você disse?

 

— Eu disse… Ele ainda toma banhos longos? Espero que nos dê tempo o bastante para fazermos esse taxidermista falar também…– Yuki disse enquanto olhava com curiosidade os animais empalhados que estavam por toda parte. – E com isso descobrir o que eles devem estar planejando.

 

O dono da casa, um jovem chamado Edogai, era um taxidermista. Seu trabalho consistia em empalhar animais para decoração. Alguns donos, no entanto, apenas desejam eternizar os seus pets. O problema de Edogai era que ele não empalhava apenas animais… 

 

Ogata, enquanto conferia a casa, encontrou dois rifles encostados em uma parede e retirou o cano da boca da arma para deixá-las inutilizáveis.

 

“Incrível como as pessoas costumam ser tão descuidadas com suas armas…” ele pensou sorrindo zombeteiramente.

 

Yuki, por sua vez, entrou em um dos cômodos e se deparou com uma visão um tanto inesperada. Parou na porta, em choque com aquilo. Aqueles não acostumados a ver a morte sairiam correndo na mesma hora, mas os dois ex-soldados não. Ainda assim, era uma visão incomum de se ver. Era, no mínimo, perturbador.

 

— O que foi, Hagiwara? Está com medo? – debochou Ogata, passando pela porta, entrando no quarto lotado de cadáveres empalhados. 

 

— Eu? Claro que não. Apenas admirando essa belíssima vista. Olha só que beleza – Yuki disse sarcasticamente - talvez até demais -, gesticulando com a mão de uma maneira muito dramática para mostrar o lugar. – Tsurumi dessa vez encontrou um sujeito bem esquisito, devo dizer…

 

Os corpos estavam todos vestidos com roupas comuns, alguns sentados em uma mesa de jantar, outros estavam em pé. Pelas suas posições era como se fossem um grupo de pessoas conversando e interagindo entre si.

 

— Todos ao redor dele são esquisitos e problemáticos – Ogata comentou, observando aquele cômodo digno de filmes de terror.

 

— Oh, então você também é esquisito e problemático? Você sempre foi um dos homens de Tsurumi – Yuki disse com um sorriso debochado.

 

Ogata não respondeu nada. Ele apenas olhou na direção de Yuki e depois virou as costas para ele para continuar a investigar o lugar.

 

O sniper pegou algo esquisito do chão que estava perto da mesa de jantar. Parecia pele humana com uma ponta pintada, e sua forma retangular dava a entender que era apenas para testar a tinta, como retalhos de roupas. 

 

— Oh, entendi… Isso pode ser realmente ruim. – disse Ogata, mostrando aquele retalho de pele pintada para Yuki que também compreendeu na hora.

 

— Hm… Preocupante, de fato… Isso coloca o Primeiro Tenente Tsurumi em uma boa posição. – disse Hagiwara, pegando o pequeno pedaço de pele da mão do Ogata e analisando. Aquela pele parecia ter sido tingida com a mesma cor das peles dos fugitivos tatuados.

 

Yuki olhou ao redor, mas logo faz uma careta e franziu o cenho, com certa irritação.

 

— Merda… Ele fugiu. – disse e apontou na direção dos ursos polares que antes eram dois, e agora restava apenas um.

 

Ogata nesse momento foi em direção à porta para sair. Yuki escutou um baixo som vindo do corredor e estica o braço na direção de Ogata para tentar impedi-lo. Conseguiu segurá-lo pela sua capa para impedi-lo de passar muito pela porta.

 

— Ogata, não…!!

 

Ama baioneta surgiu passando pelo guarda mato (parte redonda que fica o gatilho) de sua pistola beretta de Ogata, fincando a ponta na parede. Ogata abriu os olhos em total surpresa por aquilo que quase o fez perder o dedo indicador. Se Yuki não o tivesse segurado, ele teria sido atingido.

 

Era Tsukishima Hajime, um sargento subordinado do Primeiro Tenente Tsurumi da 7ª Divisão. Ele mal tinha um nariz e era o mais leal soldado de seu superior. Ele parecia estar bem irritado.

 

Com um violento chute de Tsukishima, Ogata é jogado para trás. Yuki tentou reagir avançando contra o sargento, mas no mesmo instante Tsukishima pegou a beretta que estava presa na baioneta e disparou contra os dois. Os olhares de Yuki e Tsukishima se encontram por um mísero segundo. Havia decepção no olhar do sargento.

 

Com agilidade, Yuki e Ogata se refugiam para atrás dos corpos sentados à mesa de jantar. 

 

— Segundo Tenente Hagiwara?! O que faz aqui com esse maldito do Ogata? – pergunta Tsukishima com surpresa e decepção na voz. – Não me diga que está atrás do ouro também? Por que você foi embora? Não acredito que ouro pudesse ser razão para você ir embora assim, Tenente Hagiwara. Jamais esperaria isso de você.

 

— Você fere meus sentimentos desse jeito, Tsukishima – Ogata debochou.

 

— Que reencontro desagradável, ouso dizer, Sargento – Yuki pensou em uma maneira de conseguir avançar, mas apenas uma katana não seria suficiente contra uma pistola em um lugar apertado como aquele quarto e, além disso, não desejava machucar Tsukishima. - Eu tinha esperanças de que não estivesse por aqui, em Yubari. Eu realmente não queria que nossos caminhos se cruzassem assim.

 

Tsukishima estreitou seus olhos cansados, em silêncio, com uma expressão pensativa. O Primeiro Tenente Tsurumi estava certo a respeito dos sentimentos de Hagiwara, no final das contas… Sentimentos fortes o suficientes para tomar tamanha decisão estúpida de ir embora… Tsukishima pensou e então suspirou.

 

Agora que ele sabia que Yuki estava ali, poderia ser um problema, pois Tsurumi agora saberia sua localização e que estava com Ogata. Tudo isso só o deixaria ainda mais furioso.

 

— O Tenente Tsurumi ficou muito chateado quando ele descobriu que você foi embora – Tsukishima disse. A voz dele também parecia de alguém chateado e decepcionado –. Ele viu você fugindo junto de Hijikata após o roubo que fizeram ao banco.

 

Yuki fechou os olhos por um momento, lembrando-se do dia que foi embora. Estava com Ogata, que ainda estava desacordado, no hospital logo após a cirurgia dele quando tomou a decisão sob estado de fúria. Tinha ficado dias ao lado de Ogata, com bastante preocupação sobre seu estado de saúde. Não havia deixado seu lado até decidir procurar por quem quase o matara. Essa era a razão suficientemente forte para fazer Yuki desertar. Seu coração repleto de emoções ainda confusas e desconhecidas temia por perdê-lo também.

 

Yuki sabia sobre a caçada ao ouro, é claro, e essa tinha sido a razão pela qual Ogata tinha ficado em estado grave. Isso, pois, Tsurumi o havia mandado  para investigar em Otaru e procurar pelos prisioneiros tatuados.

 

— O gato de estimação da Central! Eu sei do que você está atrás, Ogata! – continuou Tsukishima, agora atrás da parede no corredor. – Você só está esperando pelo momento certo, quando ganharmos força o suficiente e o quartel general não puder mais lidar conosco! Nos entregar e subir de hierarquia! Entregar seus próprios companheiros de guerra! – ele gritou muito irritado –. Você também, Hagiwara-san. O Primeiro Tenente Tsurumi sempre teve fé e confiança em você.

 

Enquanto aquelas palavras eram ditas, Yuki virou levemente a cabeça para o lado, para observar o rosto do Ogata. Ele encarava o chão, sem expressão, e passou a mão em seus cabelos, ajeitando-os para trás. Ogata achou as palavras do Sargento muito interessantes. Então Hagiwara realmente está aqui por conta própria… Mas por que? Ele trair Tsurumi é algo difícil de acreditar. O que poderia ser a motivação para o tenente estar aqui? Ogata pensou realmente muito intrigado.

 

— Seu pai liderou a 7ª Divisão, e você quer superar ele… – Tsukishima acrescentou ainda se referindo ao Ogata. – Por isso você está disposto a trair seus próprios camaradas.

 

— “Camaradas”, “companheiros de guerra”... – Ogata sorriu ao dizer essas palavras, um sorriso sarcástico. – O Primeiro Tenente Tsurumi sempre teve talento para usar esses malditos clichês e fazer os jovens seguirem ele.

 

— Depois que foi atingido por aquela explosão, Tsurumi mudou e ficou louco. – Yuki acrescentou, a voz indiferente. – Talvez ele sempre tenha sido perigoso assim.

 

A questão era: Yuki não queria realmente dizer aquelas palavras. Disse aquilo apenas por causa da situação. Sim, Tsurumi tinha atitudes duvidosas e perigosas, principalmente após a explosão em Mukden que o deixou sem a parte frontal do crânio. Ele tinha aquele comportamento manipulador mas… Yuki o conhecia bem. Yuki conhecia um lado de Tsurumi que talvez ninguém jamais tenha visto.

 

Ao mesmo tempo que Ogata levantou o rifle, Yuki se levantou rapidamente de onde estava e avançou com grande agilidade em direção à porta. Nesse momento o sniper disparou e a bala atravessou a parede bem próximo do local onde estava cabeça de Tsukishima que fogiu logo depois, procurando por Edogai. Ele sabia que estava em desvantagem. Tsukishima poderia lutar contra Yuki, afinal, ele o treinara, mas com Ogata por perto para dar auxílio à distância seria impossível.

 

Quando Yuki chegou no corredor, o sargento já tinha sumido.

 

— Droga…

 

— Ele deve ter ido procurar o taxidermista. – observou Ogata, saindo de seu esconderijo. – Precisamos achá-lo antes de Tsukishima…

 

Ogata se surpreendeu quando Yuki voltou e o puxou  novamente para dentro do cômodo dos mortos empalhados, empurrando-o contra a parede com seu corpo em um abraço. Ogata, surpreendido, olhou para baixo, vislumbrando o rosto de Yuki que olhava para o lado, em alerta. Estavam tão próximos que agora podia ver com mais detalhe seu rosto e as suas cicatrizes. Uma delas era horizontal logo abaixo do olho esquerdo e as outras duas eram verticais, uma subindo no maxilar esquerdo bem pequena e outra, maior, que descia da testa até a bochecha, passando pelo olho direito. Pensou na sorte dessa última não ter afetado seu olho.

 

— Não vamos perseguir o soldado que acabou de sair correndo? – disse a voz de um homem que vinha lá de fora. 

 

— Não, estou curioso sobre essa casa. – outro homem respondeu.

 

“O quê? Sugimoto, o Imortal? Outro contratempo…” Ogata pensou, olhando para o corredor, o rosto de repente preocupado. Yuki virou e olhou para Ogata, vendo a expressão preocupada dele e concluiu que devia conhecer aqueles homens. Talvez não fosse um bom momento para iniciar um conflito ali.

 

E, de fato, era de se preocupar. Sugimoto, o Imortal, não era um sujeito fácil de enfrentar e, obviamente, não era fácil de matar. Seu forte instinto de sobrevivência o tornava forte e implacável numa disputa corporal. A última vez que Ogata lutou com ele, teve seu maxilar e braço quebrado e quase morreu. 

 

Ogata baixou o olhar e viu que era observado. Yuki sentiu o rosto esquentar levemente e o soltou, porque até então não tinha se dado conta de que o havia abraçado e estava pressionando-o contra a parede até agora. Por um mero instante, o sniper sentiu algo no peitoral de Yuki que não deveria sentir em homens e seus olhos se estreitaram com a interessante descoberta.

 

Sons de passos se aproximando os alertou. Um homem de cabeça raspada, com costeletas e um cavanhaque entrou e ficou horrorizado ao ver os cadáveres empalhados. Era tarde demais quando sentiu a frieza do cano do rifle de Ogata em sua têmpora. Yuki surgiu do outro lado, encarando o recém chegado com um sorriso de um predador.

 

— Você é o Shiraishi Yoshitake, certo? – Yuki perguntou com a voz baixa. – Ouvimos sobre você do Hijikata Toshizou…

 

— Tenha cuidado, Shiraishi! – avisou Sugimoto, no outro cômodo, onde havia um soldado que Ogata matou à distância. – Há um soldado morto, então talvez ainda tenha alguém dentro da casa! 

 

Sugimoto já estava indo procurar pelo companheiro quando Shiraishi voltou, visivelmente apavorado. O Rei das Fugas estava tão nervoso que suava bastante. Tinha em mãos os retalhos das peles que Yuki e Ogata encontraram antes e um boneco parecido com Tsurumi que Edogai fez.

 

— V-veja! O Primeiro Tenente Tsurumi provavelmente estava fazendo peles falsas nessa casa! – contou Shiraishi, trêmulo. – Aquele soldado que acabou de sair devia estar lutando por isso. É melhor irmos atrás dele agora mesmo!

 

— Vamos, Shiraishi, se ele está com as peles, precisamos correr. Não deve ter ido muito longe. – disse Sugimoto. 

 

Yuki e Ogata aguardaram até que estivesse limpo e seguro para saírem. O sniper deu um longo suspiro, aliviado por ora.

 

— Pela cara que fez antes, deve conhecer o outro homem. – não era uma pergunta. Ogata sorriu diante daquele questionamento disfarçado de afirmação.

 

— Sim, aquele era Sugimoto, o Imortal.

 

— Oh! Acho que lembro de ter ouvido falar sobre ele em minha divisão. – lembrou-se Yuki. Então foi Sugimoto quem tentou matar Ogata… Yuki pensou com ira. – Sugimoto, o soldado da 1ª Divisão que sobreviveu matando muitos russos como se fosse um demônio. Se o que ouvi dizer for verdade, tem razão em se preocupar, mas não eu… – Ogata pôde ver a intensidade feroz nos olhos de Yuki. – Sugimoto daria uma luta muito boa e divertida… Oh, você está sangrando.

 

Ogata ficou surpreendido com a velocidade e leveza com que Yuki se aproximou dele. Yuki já estava ao seu lado quando virou a cabeça para olhar o próprio ferimento. O disparo de Tsukishima o havia acertado no braço.

 

O Segundo Tenente tirou um lenço do bolso e começou a envolver o braço de Ogata onde havia sido atingido pelo disparo de raspão. Yuki se importava o suficiente para cuidar de seu ferimento, o que era algo que pouquíssimas pessoas fizeram por ele em sua vida, se duvidar, a primeira pessoa. O olhos negros a vazios de Ogata acompanharam cada movimento de Yuki, que era rápido e cuidadoso com as mãos. Ele estava tão focado em observar o cuidado de Yuki com ele que estranhamente não sentia mais dor nenhuma. 

 

— Pronto! – Yuki disse assim que terminou. – Bom, precisamos ir.

 

E a dupla então saiu atrás de caçar Edogai.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui!

Esse capítulo teve uma breve luta, simples e rápida. Edogai, um rapaz bem louco né? Empalhar pessoas...

Bom, em breve estarei postando o próximo capítulo!



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