No dia seguinte, domingo…

Sakura acordou sentindo braços ao redor dela e uma respiração em sua orelha. Sorriu preguiçosa. Realmente tinha dormido na mesma cama com Sasuke e… não se arrependia nem um pouco.

Apertou o medalhão em volta do pescoço, pensando nas palavras de Tsunade no dia anterior, quando ela e as meninas entraram em contato por vídeo chamada para falar do colar… e sobre Mei.

Tsunade se emocionou ao saber da morte da amiga…

“- Aproveitem a vida, meninas, a gente nunca sabe o que pode acontecer, sendo sereia ou não.”

Foi o que ela havia dito antes de encerrar a chamada.

— Tudo bem? — Sasuke murmurou sonolento no ouvido dela.

— Sim – ela respondeu sorrindo de leve, sentindo o corpo arrepiar com os beijos que ele depositava na nuca dela, até chegar aos lábios, fazendo ela sorrir.

Era assim que era amar?

— Eu tenho que ir – Sakura disse depois de um tempo, um tanto ofegante com o beijo.

— O que? – Sasuke ainda ofegava. – Mas já? Por que? Nem meu pai nem meu irmão estão. 

— Eu tenho que trabalhar, vou fazer hora extra hoje – ela o informou se levantando da cama.

— Te vejo mais tarde? – ele perguntou esperançoso.

— Sim – Sakura respondeu com um sorriso.

. . . 

Mais tarde…

Quando Sakura e Ino não estavam exatamente de boa, com Sakura as evitando sempre que podia e Ino não querendo dar o braço a torcer, Hinata se sentia péssima por ficar em cima do muro e era Naruto quem vinha tentando distrair a amiga com cantadas baratas. 

Mesmo que agora estivessem bem umas com as outras novamente, Hinata não abriu mão das cantadas baratas, elas eram muito divertidas.

— Escuta essa: e aí gata, quer conhecer minha varinha mágica? — Naruto soltou sorrindo.

— Ai que horror — Hinata riu. – Essa é péssima.

— Eu sei – ele concordou rindo. – Sua vez!

— E aí gato, já que você me convidou pra conhecer sua varinha, quer conhecer minha câmara secreta? – ela perguntou tímida.

Naruto sentiu o suco subir por suas narinas e se engasgou, cuspindo o líquido para fora, sujando a mesa.

— Ai minha nossa, respira Naruto – Hinata deu batidinhas nas costas dele.

— E a minha cantada é que é ruim? – ele revidou tentando recuperar o fôlego.

A verdade é que Naruto tinha ficado envergonhado em como sua mente tinha ido longe com a cantada da amiga.

— O que vocês estão fazendo? – Ino perguntou indo até a mesa deles e limpando a bagunça que Naruto havia feito.

— Estamos jogando um jogo – respondeu Hinata.

— É – Naruto concordou, já mais calmo. – Se chama: quem encontra a pior cantada da internet.

— Tem uma pior do que a outra – disse Hinata balançando a cabeça abismada com algumas que tinha encontrado.

— Ah é? – Ino queria debochar, dizer que mais parecia que eles estavam flertando do que jogando de fato, mas não ia interferir na vida amorosa deles, assim eles não se metiam na dela.

— Cadê a Sakura? – Hinata perguntou.

— Lá nos fundos, organizando o estoque – Ino a informou antes de ir atender uma mesa. – Olá, seja bem-vindo, o que vai querer? – sorriu educadamente para o cliente.

— Eu até que iria adorar você – ele falou de uma forma maliciosa que irritou Ino e continuou a falar: – Mas no momento eu tô procurando a Sakura, ela tá por aí?

A fala surpreendeu Ino e ela prestou atenção rapidamente na aparência do cara: ruivo, cheio de sardas, olhos castanhos e um corpo de atleta.

— Só um momento, por favor – respondeu antes de ir até o escritório atrás de Gaara.

— Ino? O que houve? – Gaara estranhou a situação.

— Tem um cara ruivo procurando pela Sakura, mas eu não sei se é uma boa ideia chamar ela pra atender ele – o informou.

— E isso porque… – ele a instigou a revelar mais.

Ino suspirou e respondeu:

— Ele parece ser desses clientes atirados.

Um barulho chamou a atenção dos dois que correram porta a fora. O cara ruivo segurava o braço de Sakura enquanto uma bandeja estava no chão.

— O que está acontecendo aqui? – Gaara foi em defesa de Sakura que parecia atordoada com a presença do cara ruivo. – É melhor se retirar se não quiser arranjar problemas – Gaara informou ao cara ruivo.

— Tudo bem – o cara ruivo sorriu de um jeito que deu arrepios em Ino. – Nos falamos depois Sakura – o cara ruivo soltou o braço dela e se despediu.

Ino viu Sakura ficar tensa com a fala.

— Você tá bem? – Gaara perguntou preocupado.

— Tô sim, valeu. Eu vou limpar isso aqui – Sakura respondeu antes de ir nos fundos e voltar com um balde e um pano de chão.

— Quem é aquele cara? – Ino perguntou para a garota de cabelos rosa. – Ele já te incomodou antes?

— Esquece ele, não é ninguém que você precisa saber – Sakura respondeu nervosa.

Ao final do expediente, Gaara tentou conversar com Sakura, Ino tentou prestar atenção de longe, sem conseguir ouvir a conversa direito, pois não queria interromper, até que Sakura saiu exaltada da sala dele dizendo:

— Você não tem nada que se meter Gaara!

— Eu tô tentando te ajudar — disse ele tentando se desculpar indo atrás dela.

— Cuida da sua vida!

— Sakura, você não tem que enfrentar tudo sozinha – ele tentou dizer, mas ela já tinha se afastado e saído da lanchonete.

— O que foi isso? – Ino perguntou preocupada.

— Ela é teimosa – ele suspirou.

— E eu não sei? – Ino brincou tentando melhorar o humor dele.

Gaara sorriu de leve.

— Só tô preocupado com ela – ele desabafou.

Aquilo incomodou Ino mais do que ela gostaria.

— Ela tem namorado agora – não resistiu em alfinetar.

— Verdade! – aquilo inexplicavelmente melhorou o ânimo dele, o que deixou Ino extremamente confusa. – Você tem o número do Sasuke?

— Hum, não – ela respondeu lentamente ainda sem entender. – Mas eu posso conseguir.

— Ótimo! – ele sorriu satisfeito. — Me passa quando conseguir, preciso falar com ele.

. . .

Sasuke estava na praia, esperando o expediente de Sakura acabar para pudessem fazer algo, quando a viu sair e ser abordada por um cara ruivo, alto e cheio de sardas. Sasuke se aproximou calmamente, não queria dar uma de paranóico, mas não gostou do jeito do cara.

— Esquece Sasori – ele ouviu Sakura dizer.

Então eles se conheciam.

— Me ajuda Sakura! O que te custa? – disse o ruivo um tanto indignado.

— Tudo! – ela respondeu exasperada. – Não é pra gente ter contato, que parte você não entendeu?

— Tá tudo bem por aqui? – Sasuke ficou atrás de Sakura, fazendo com que o cara ruivo soltasse o braço dela.

— E quem é você? – o ruivo perguntou com cara de entediado.

— Não te interessa! — Sakura respondeu.

— O namorado dela — Sasuke respondeu.

Responderam ao mesmo tempo e trocaram um olhar, Sasuke sem entender e Sakura de frustração. O cara ruivo soltou um riso de escárnio que irritou Sasuke. Por que Sakura queria esconder que eram namorados desse cara?

— Não quer apresentar o playboyzinho pra mim, maninha?

“Maninha”? Aquilo deu um estalo na cabeça de Sasuke, aquele cara era irmão de Sakura?

— Dá o fora Sasori, a gente não tem mais nada pra conversar – disse Sakura puxando Sasuke para longe.

— Eu vou tá por aí essa semana, então vai ser meio difícil a gente não se trombar – avisou o ruivo.

— Seu irmão? – Sasuke perguntou quando já estavam longe.

— É – confirmou ela –, eu falei que a gente não se dava muito bem – o avisou.

— Por que ele tá aqui? – ele perguntou confuso, mas iria respeitar caso a namorada não quisesse conversar sobre isso.

— Ele é surfista e vai participar do campeonato aqui perto – o informou.

— Sei qual é – Sasuke a abraçou e fez com que ela se sentasse na areia, entre as pernas dele, tentando acalmar ela. – Meu irmão também vai participar. Por que seu irmão quer sua ajuda? Ele não tem lugar pra ficar ou o que?

Sakura suspirou.

— Ele quer que eu faça o papel da irmãzinha torcendo pelo irmão mais velho – ele sentiu ela revirando os olhos.

Viver de aparências era algo que Sasuke aprendeu desde cedo e por isso a entendia.

— E você não quer fazer isso – ele sorriu contra o pescoço dela, fazendo ela se arrepiar.

— Não mesmo – ela soprou.

Ficaram um tempo abraçados, curtindo a presença um do outro.

— Você tá me deixando louca – ela reclamou quando sentiu ele a beijar na nuca, Sasuke adorava o modo como o corpo dela arrepiava quando a tocava.

— Que bom, porque essa era a intenção – ele riu ao sentir um beliscão de leve dela. – Quer ir pra minha casa?

— E seu pai e seu irmão?

— Ainda não chegaram – ele a informou.

— Ainda – ela ecoou.

— Qual é, vamos – ele a puxou, um sorriso vitorioso nos lábios quando ela não resistiu.

. . .

Três dias depois, quarta-feira…

Sasuke corria preocupado tentando contactar Sakura sem sucesso, ela não atendia e nem respondia suas mensagens. Tinha ficado surpreso com a ligação de Gaara mais cedo, mas rapidamente fez o que havia sido dito: correu para a área dos trailers atrás da Sakura. Até que finalmente a encontrou. 

— Eu não quero me mudar – ela andava atrás de uma mulher em um terno. – Eu gosto daqui, eu fiz amigos!

— Lamento Sakura – a mulher suspirou.

— Isso não é justo – Sakura reclamou. – Eu falei com o Sasori, ele me garantiu que não faria nada, meus pais não vão descobrir que eu estou aqui!

— Não podemos arriscar – disse a mulher pacientemente.

Aquilo deixou Sasuke confuso, Sakura não morava com os pais? Então ele a viu esfregar os olhos tentando espantar as lágrimas e isso foi o bastante para ele.

— Sakura?

— Sasuke? – ela perguntou surpresa. – O que você tá fazendo aqui?

— O Gaara me ligou – ergueu o celular que tinha em mãos.

— Claro que ligou – ela fungou, levando uma das mãos nos olhos como se controlasse para não chorar.

— Tá tudo bem – ele a abraçou.

— E esse garoto é… –  mulher perguntou sutilmente.

— Sou Sasuke Uchiha – Sasuke se impôs, aquela mulher não ia triscar um dedo em Sakura.

— Do jeito que se abraçam você parece ser o namorado – a mulher observou.

— Ele é – Sakura respondeu antes que Sasuke pudesse.

A mulher suspirou mais uma vez.

— E a senhora é? – Sasuke arqueou uma das sobrancelhas, do jeito arrogante que sabia que irritava os adultos.

— Shizune Kato, assistente social – a mulher se apresentou sem se abalar.

Sasuke ficou surpreso. “Assistente social?”

— Bom, eu vou indo, parece que vocês dois tem muito o que conversar – disse a mulher se despedindo. – Eu mantenho contato com você Sakura.

— Ela já foi – disse Sasuke, a abraçando mais forte. – Quer me explicar? – ele sentiu o corpo dela ficar tenso.

— Ei – Gaara chegou correndo com Naruto, Ino e Hinata logo atrás. – Tá tudo bem?

— Eu não quero conversar! – disse ela ao mesmo tempo que um trovão ecoou no céu a fazendo pular nos braços de Sasuke, logo em seguida começou a chover imediatamente, mesmo com o sol ainda alto no céu.

Sakura arregalou os olhos e praguejou, correndo rapidamente para dentro de um dos trailers, fazendo as meninas seguirem atrás dela imediatamente.

Sasuke sabia que Sakura tinha medo da chuva então a seguiu calmamente para dentro junto com os outros dois.

— O que a mulher disse? – perguntou Gaara assim que eles estavam abrigados da chuva.

— Você não podia ficar quieto, não é? — Sakura brigou com ele enquanto se enxugava com uma toalha, as meninas a imitando.

— Por favor – Ino chamou atenção. – Contexto!

— Eu vou me mudar de cidade e talvez até de estado dentro de alguns dias – disse Sakura resignada. Sempre tinha sido assim e nada mudaria até que completasse a maioridade.

— O que? – Hinata perguntou surpresa.

— Por que? – Ino perguntou ao mesmo tempo que Hinata.

— Eu sou emancipada, não moro com os meus pais – Sakura suspirou. – Mas ainda sou menor de idade, então o governo “cuida” de mim – contou.

— E você só contou pro Gaara? – Sasuke perguntou melancólico.

— Eu não contei pro Gaara – Sakura suspirou frustrada. – Eu contei pro Jiraya, o Jiraya que contou pro Gaara.

A informação aliviou o peito de Sasuke, sabia que não devia se sentir enciumado, mas não conseguia evitar.

— E como isso aconteceu? – Ino a questionou.

— Não importa.

— Não, chega de segredos! — pediu Ino.

Sakura olhou nos olhos dela, um pouco com raiva, um pouco melancólica e esfregou as mãos nos olhos tentando espantar as lágrimas.

— Todo mundo diz que meu rosto é familiar… – começou a contar. – É porque eu participei de um monte de concursos de beleza e de comerciais desde que eu sou um bebê. Meus pais me usavam pra ganhar dinheiro, usavam meu irmão também.

Isso surpreendeu a todos.

— Uma coisa é você ser bonitinha e fofinha quando criança – Sakura continou a contar, a mente voando para longe dali –, mas quando você vai crescendo… as coisas mudam, meus pais sabiam disso, minha mãe é quem tomava conta e cuidava de tudo, meu pai só… observava e não fazia nada pra impedir. Minha mãe tentou atrasar minha menstruação e eventualmente isso fez com que eu fosse parar no hospital. 

‘Quando conversei com os psicólogos, longe dos meus pais… foi aberto um inquérito de maus tratos a menores. Meus pais foram presos, e meu irmão e eu fomos mandados para um orfanato, mas meu irmão quase já era de maior, então não demorou muito para ele sair dali, meu caso foi diferente, como eu já trabalhava eu pude pedir por emancipação, mas minhas contas foram todas congeladas para que meus pais não pudessem mais tocar, só que eu também não posso mexer nelas até completar 21 anos legalmente.

‘Uma assistente social fica de olho em mim e a cada semestre eu me mudo pra uma cidade diferente, uma escola diferente e procuro por trabalhos diferentes. Eu ganho uma bolsa de auxílio do governo, mas o dinheiro só dá pra pagar o aluguel, então eu preciso me manter trabalhando pra pagar as contas de água, luz, internet, fora a comida. É isso – deu de ombros.

Sasuke foi o primeiro a se aproximar dela, pegando uma das mãos dela e depositando um beijo, tentando a confortar. Não sabia que a situação dela era mais séria do que imaginava.

— Você não vai se mudar – ele disse com total convicção para ela.

— Eu não tenho escolha – ela respondeu esfregando os olhos se sentindo cansada.

— Deixa comigo – ele garantiu para ela. – Só não queria ter que te deixar sozinha, nem por um minuto.

— A gente vai ficar com ela, noite das meninas – disse Hinata abraçando a garota de cabelos rosa pelo ombro. – Então todos vocês três: para fora! – apontou para a porta.

— Mas tá chovendo – Naruto reclamou.

— Eu moro aqui perto – informou Gaara. – Se a gente correr não se molha tanto.

Sasuke depositou um beijo na testa de Sakura.

— Falo com você depois, tá bem?

— Tá – Sakura concordou.

Então os três correram porta afora, sumindo em meio a chuva.

— É por aqui! – Gaara apontou para o canal.

— Eu não vou! – Sasuke gritou. – Tenho que ir para casa!

Gaara e Naruto o observaram correndo para longe.

— O que será que ele vai fazer? – perguntou Naruto assim que entrou no trailer em que Gaara morava.

— Acho que só vamos descobrir com o tempo — o ruivo deu de ombros.

. . . 

— Pai?! — Sasuke chegou gritando em casa.

— O que é isso Sasuke? – o pai desaprovou a atitude dele. – Você está ensopado.

— Eu quero fazer um acordo com você – disse Sasuke de uma vez. – Só não deixe com que levem a Sakura.

Sem entender nada, o pai cruzou os braços e arqueou uma das sobrancelhas, Sasuke havia puxado aquele gesto dele.

— Estou ouvindo.