Prefira Borboletas escrita por machadorisos


Capítulo 3
Constatação


Notas iniciais do capítulo

"Todos nós sabemos o que é o medo. Mas a paixão nos faz ter coragem."
— Paulo Coelho



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12 meses antes

 

 

— Bom dia, Asahi-san! — ele foi recebido com uma voz animada quando entrou na cozinha. Os cabelos desgrenhados, a cara amassada, todavia o sorriso ainda era gentil ao responder:

— Bom dia, Nishinoya. 

— O que você vai fazer para comer?? Estou faminto! 

 

Noya não precisava de comida para sobreviver, mas ele gostava de saborear tudo que Asahi conseguia preparar. O dono da casa, por sua vez, pesquisava na internet receitas que pudessem agradar a fada hiperativa que morava em sua estufa. 

 

— O que quer comer? — perguntou enquanto enfiava a cara em sua geladeira em busca de leite.

— Panquecas!! — Yuu às vezes parecia uma criança. Ele estava sentado no balcão da cozinha, as pernas balançavam para frente e para atrás. As asas bem abertas, esplendorosas demais para uma quarta-feira de manhã. Seu cabelo agora era usado espetado para cima, quando ele se apresentou a Asahi o usava natural, caindo sobre os olhos; porém recentemente ele resolveu usar um gel que achara no banheiro de Asahi. 

 

Asahi gostava mais do seu cabelo em estado natural, mas acostumou-se com esse novo penteado. Ele também adorava sua rotina: acordava, comia com Yuu, saia para trabalhar. Normalmente a fada não ficava em sua casa durante o dia, tendo suas obrigações naturais para cumprir, porém sempre estava em casa à noite para receber Asahi. 

 

Azumane não queria, mas não pôde evitar de se afeiçoar. Ele adorava a forma alegre que Nishinoya lhe contava sobre tudo, ou sua curiosidade encantadora. Ele adorava que Nishinoya tivesse aparecido em sua pacata vida. 

 

— Eu disse isso ao Ryuu!! — Noya riu, e Asahi se sentiu mal por não ter prestado atenção em nada que o amigo disse, totalmente perdido em pensamentos  — Você está bem, Asahi-san?

— Diga-me, Nishinoya — eu nunca vou saber se não perguntar — você me disse que as fadas criam laços, mas que é diferente do amor humano…

— Uhum... — murmurou esperando o outro continuar. 

— Vocês podem… bem… casar e tudo mais?

— Isso pode acontecer, mas não é uma regra. — contou, olhando-o diretamente — Olha, nós não somos gerados como vocês. Somos criados a partir da necessidade da Terra e, deixamos de existir se necessário. Alguns de nós vem em almas separadas, é o que vocês chamam de irmãos.

— Como Ryuu e Saeko. — Asahi exemplificou os amigos que Noya sempre mencionava.

— Isso! — sorriu de forma brilhante. — Quando uma fada se une a outra, eles podem se relacionar como casal sim.

— Fadas possuem orientação sexual? — Asahi já havia dito a Noya que gostava de homens. Noya lhe disse que gostava de tudo.

— Os humanos passaram a rotular, a natureza criou pessoas que gostam de pessoas. Às vezes as pessoas não gostam de pessoas, mas está tudo bem! Fadas gostam de fadas.

 

Era uma lógica quase infantil demais, todavia, soava melhor na forma de Noya falar. Alegremente sem nenhum pudor.

 

— Isso é interessante. — Asahi comentou, focando-se em preparar a massa das panquecas.

 

Nishinoya ficou calado por muito tempo. Asahi logo o encarou estranhando o silêncio. Encontrou a fada muito perto de si, corando com a aproximação repentina.

 

— Nishinoya…? 

— Você tem olhos bonitos, Asahi-san! Parece com o chocolate quente que você faz para mim!

 

Ele disse de forma simples. Um elogio, nada demais. Uma pequena faísca que bagunçou Asahi por dentro. Ele adorava isso em Nishinoya, essa espontaneidade avassaladora. Adorava mais ainda os orbes quase dourados com resquícios de violeta que o encaravam com carinho. 

 

— Fadas realmente não amam, Nishinoya? — sussurrou. 

— Às vezes eu penso que estou começando a duvidar disso, Asahi-san — Yuu disse tão baixo que se não estivesse perto, não ouviria — Porque quando estou perto de você sinto o mesmo que já vi outros humanos falarem....

— O quê? 

— Vontade de não ir mais embora.... — sorriu de forma quase tímida.

— Então não vá. — disse sem pensar. Porém não se arrependeu quando Noya sorriu quase resplandecente. O mesmo sorriso que tinha quando o viu pela primeira vez. 

 

Asahi sabia que estava terrivelmente fodido, porque o pensamento de provar os lábios de Noya parecia tentador demais. A fada respirava de forma calma, enquanto Azumane sentia o coração desenfreado. 

 

Não eram nem 9 da manhã e a vida já lhe pregava peças. Mesmo com a mão suja de farinha ele tocou o rosto de Yuu, que fechou os olhos ao receber contato. Aquela era uma expressão que ele não pensava um dia ver, mas a amou instantaneamente.

 

As asas bateram devagar, Asahi aprendeu a lê-las. Quando Yuu estava animado elas se mexiam quase que frenéticas, quando estava focado em algo, mexiam-se devagar. Às vezes era possível notar até mesmo uma pequena mudança de tom no violeta, que Yuu explicou ter a ver com as estações do ano. Quando a fada estava concentrada era possível notar até um leve tremor nas pontas das asas, mas agora elas só se abriam e fechavam de forma vagarosa.

 

Hipnotizante. 

 

Asahi soube que estava fodido.

 

Terrivelmente fodido.

 

Ele havia se apaixonado por uma fada. A constatação em uma manhã de semana lhe deu um indício de uma enxaqueca. 

 


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