Eu escolhi você escrita por Valk


Capítulo 2
Decidida


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Acabei me enrolando com as datas, mas habemus capítulo novo!
Obrigada MayCastro e Rose Lopez pelos comentários! Isso faz toda a diferença para nós autores!
Boa leitura ;)



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O silêncio do lado de fora do meu quarto era tão grande que por alguns minutos me senti em paz. Consegui me acalmar e pela primeira vez não me arrependi de ter mostrado o que eu sinto.

De toda forma, eu precisava sair daqui. O silêncio, a sensação de paz eram momentâneas e eu não estava disposta a continuar pagando o preço para tê-las um dia ou outro.

Ouvi barulho de passos e pela agilidade eu poderia dizer que era Jacob. Ele e Seth seriam os únicos que viriam atrás de mim, essa é a verdade.

— Está afim de falar? - perguntou Jacob abrindo a porta com uma leveza que não combinava com ele.

Inclinei a cabeça para o lado direito apontando que ele poderia sentar ali e prontamente ele atendeu. 

Foram ainda longos minutos de silêncio, nem a nossa respiração era ouvida até que resolvi expor o que estava pensando.

— Preciso sair daqui, Jacob. Não consigo viver nesse lugar que eu perdi tanto. Me perdi tanto. — disse em um fôlego só. — Não tem mais nada para mim aqui. 

Jacob se movimentou sentando na minha frente e começou a brincar com a fita que amarrava em meu calcanhar. 

— Você falou exatamente como a minha irmã. Rebecca usou essas palavras quando a mamãe morreu e ela resolveu ir embora com Rachel. — disse com pesar.

— Ela não perdeu nada. - concluí.

— Talvez. — respondeu simplesmente. — Você tem um lugar para ir? 

— Não pensei sobre isso realmente. Eu só não quero ficar aqui. Qualquer lugar seria um paraíso comparado com La Push. 

A reserva era o meu lugar quando eu pensava que teria uma família aqui, amigos, emprego, um futuro. Agora não restou nada, não para mim.

— Até mesmo um lugar bem frio tipo o Alasca? — perguntou Jacob.

— Se eu quisesse frio e o risco de encontrar algum vampiro, eu ficaria em Forks, Jacob. Não me enche!

Jacob começou a gargalhar em seguida e ganhou um soco no braço em resposta. Prefiro ir para um lugar tão quente quanto o inferno do que ter a chance de cruzar com algum sanguessuga. 

— Você pode ir para o Havaí. — sugeriu Jacob. Olhei para ele com a sobrancelha arqueada. Havaí? Por que eu iria para o Havaí? — Eu nunca fui porque queria respeitar o espaço da minha irmã, mas lá parece ser um ótimo lugar. É tipo La Push, mas sem o frio e... os sanguessugas.

— Você quer que eu invada o espaço da sua irmã por você? Ela pelo menos sabe o que nós somos?

— Ela não precisa saber que você está indo, não estou te mandando pra casa dela. — suspirei quase concordando com a ideia. — Não sei se ela sabe. Rachel compartilha tudo com ela, uma coisa de gêmeas, mas ela é ótima em guardar o que pensa. 

Tudo que eu sabia sobre o Havaí era calor, sol, praia, paisagens bonitas, surfistas e vulcão. E uma bela distância. Não parece muita informação para que eu decida ir sem pensar duas vezes. Preciso avaliar minhas economias, ver o preço das passagens, algo que um turista normal faria.

— Se for uma boa opção para você, posso ver com Rebecca se a casa dela está disponível. Ela está sempre viajando com o marido… — continuou meio cauteloso. 

Eu não conhecia Rebecca muito bem, a última vez que passei qualquer tempo com as gêmeas, elas tinham 13 anos e estavam no enterro da própria mãe. Depois disso, elas mal saíam de casa e dois anos depois já estavam longe daqui. Talvez não fosse uma ideia tão ruim contar com a ajuda de uma delas para escapar daqui. Certeza que elas me entenderiam. Agora, pelo menos Rebecca me entenderia. 

— A ideia é bem tentadora. — respondi simplesmente. 

Jacob abriu um sorriso reconfortante e se levantou apressado. Se eu tivesse qualquer problema de audição, não teria entendido ele murmurando que iria ligar para a irmã enquanto eu arrumava minhas malas. Parece que dessa vez eu iria mesmo ter uma folga desse lugar.

Peguei uma mochila velha de Seth e comecei a enfiar todas as poucas roupas que eu tinha. Fiz uma nota mental de que se eu quisesse aproveitar as praias, pelo menos uma roupa de banho nova eu teria que arranjar. Depois que enfiei tudo que cabia no pequeno espaço da bolsa, levantei o meu colchão e tirei de lá uma meia com minhas economias.

Desde que comecei a fazer alguns trabalhos na loja da reserva, eu guardo o dinheiro aqui. É seguro, prático e sem nenhuma burocracia. Não era muito, mas eu poderia conseguir um extra enquanto estivesse no Havaí, carregar malas, ensinar crianças a surfar, vender minha arte, coisas assim. Estar fora daqui me daria forças para fazer qualquer coisa que eu quisesse, eu já sentia isso. 

(...)

A noite caiu e Jacob não deu nenhum sinal de vida. Se amanhã cedo ele não estivesse aqui, iria atrás desse bastardo cobrando uma resposta. Me virei para o lado preparada para dormir até que ouvi o barulho da porta rangendo. Levantei em um salto ao ver a figura de Sue, minha mãe. Eu sabia que a conversa não seria boa.

— Você precisa ir embora. — disse me surpreendendo. — Eu sinto muito por não ter impedido que você saísse tão ferida dessa história. Eu sinto muito mesmo. Dizer que eu não imaginava seria uma mentira horrível, mas a verdade é que eu nunca soube lidar com essa… com quem você é.

Confesso que eu esperava qualquer coisa de minha mãe. Esperava que ela ignorasse tudo que aconteceu e me chamasse para jantar ou que ela viesse puxar minha orelha pedindo para que eu me desculpasse com Emily. Mas ouvi-la dizer que não sabia lidar com quem eu era deixou um aperto muito grande em meu peito. 

Chorar duas vezes no mesmo dia não estava em meus planos, eu nem sabia que meu corpo conseguia produzir tantas lágrimas assim, mas quando ela sentou ao meu lado e deitou a cabeça em meu ombro, foi inevitável. 

Nunca fomos uma família como aquelas de propaganda da TV. Harry e Sue pareciam mais dois amigos que compartilhavam a mesma casa e os mesmos filhos. Mas ainda assim éramos uma família. Eu sabia que poderia contar com eles, eu queria o que eles tinham, pois era amizade, cumplicidade, parceria.

Quando Sam e Emily resolveram ficar juntos, as minhas mudanças de humor viraram motivos para discussões constantes dentro de casa. Foram meses em que nem eu mesma me reconhecia até o dia em que minha mãe começou a questionar meu temperamento. E foi nesse dia que eu realmente perdi tudo que eu tinha.

Minha reação com a discussão foi tão grande que meu corpo começou a tremer de raiva. Meu pai preocupado com minha mãe, entrou no meio da discussão e em segundos meu corpo explodiu na forma de um lobo pela primeira vez. Eu consegui não os machucar fisicamente no processo, mas o susto para Harry foi tão grande que ele infartou. 

Depois disso, tudo se transformou em caos. Eu e Seth estávamos transformados, sem nenhum conhecimento do que aquilo significava. Nosso pai estava morto e minha mãe em luto, assustada e perdida. Todos estavam em luto, assustados e perdidos. E eu estava me consumindo pela culpa cada dia mais. 

— Depois que vocês se transformaram e Harry se foi, todos sabiam que eu não daria conta disso sozinha. E logo vocês estavam tão ocupados aprendendo a vida em matilha, Seth estava se divertindo tanto e suas oscilações de humor não eram mais tão constantes que eu pensei que vocês tinham se encontrado. — continuou contando com pesar. — Só hoje percebi que na verdade você sempre esteve lidando com sua falta de escolha. — riu de forma amarga.

— Eu não posso dizer que sinto muito pelo que eu disse, mãe, porque eu sempre digo isso e anulo o que eu sinto. Mas eu não queria que você ficasse mal. — disse simplesmente. 

— Eu que devo me desculpar, filha. — respondeu enquanto enxugava suas próprias lágrimas. — A única coisa que posso fazer por você agora é te ajudar a se livrar do peso de uma vida que não é mais sua. 

Sue segurou meu rosto em suas mãos e olhou tão fundo nos meus olhos como nunca havia feito antes. Ela enxugou minhas lágrimas com os dedos e encostou sua testa na minha. 

— Tudo que eu quero é que você seja feliz e completa, Leah. Há um vazio em você que eu e nem ninguém nessa reserva pode preencher. — acenei em concordância. — E você merece estar completa e satisfeita por ser quem é. E isso não vai acontecer aqui. 

Essa era a bênção que eu precisava para ir embora sem olhar para trás. Sue beijou minha testa e apertou minhas mãos deixando entre elas uma pulseira que sempre a acompanhou. 

Foi a noite mais agitada da minha vida. Eu estava ansiosa e empolgada com a possibilidade de viver algo novo e ao mesmo tempo assustada com a ideia de enfrentar essa nova realidade sozinha. Contudo, antes que o relógio marcasse 5 horas, Jacob já estava em minha janela me chamando para fora.

— Espero que tenha boas notícias. Já houve até despedida ontem — falei assim que abri a porta de casa.

— Falei com Rebecca e ela disse que você pode ir nesse fim de semana mesmo. Eu anotei o número dela e quando você chegar é só mandar uma mensagem que ela vai te encontrar para entregar as chaves da casa. — respondeu empolgado.

— Sério? — perguntei ainda mais ansiosa. — Isso… isso é incrível! — contive a vontade de pular nos braços de Jacob em agradecimento. Eu já me sentia diferente com a mudança que estava por vir. 

— E tem mais. Só não sei se você vai gostar da ideia. — continuou cauteloso.

Estava tudo muito bom e fácil para ser verdade.

— Fala logo, Jacob! Para quem vou ter que vender minha alma para conseguir sair daqui? 

— Nessie. — respondeu quase em um sussurro. 

— O quê? — perguntei com espanto. —  O que essa pirralha tem a ver com minha viagem, Jacob? O que você contou pra ela? 

— Ela não é mais pirralha. — saiu na defensiva.  — E eu conto tudo pra ela. Nessie adorou a ideia da sua viagem e quis te dar um presente. 

Antes que eu pudesse abrir minha boca para contestar sua resposta, Jacob me estendeu uma caixa e um envelope. Renesmee era uma pirralha, sim. Mas por algum motivo estranho ela gostava de mim, então não iria recusar um presente sem antes dar uma olhada no que se tratava.

Primeiro abri a caixa e encontrei uma câmera fotográfica. Sério. Essa menina me adorava. Que criança dá uma câmera tão moderna para alguém que mal conhece por causa de uma viagem? Uma vampirinha rica pelo visto.

— O quê…. Jacob… como… — tentei formular uma frase, mas nada saía. 

— Melhor você sentar para abrir o envelope.

Como assim? Não era uma cartinha com algum desenho de nós duas de mãos dadas e alguns corações para selar nossa amizade? 

Tirei do envelope um papel grosso, bem diferente do que eu imaginava para uma carta. Virei o mesmo em minhas mãos e reparei em duas coisas. Era uma passagem de avião para Honolulu. Para essa noite. 

— Essa sua garota é louca? — perguntei espantada.

— Ela é incrível, né?. 

Estranhamente me senti… querida? Por mais que rejeitar o presente poderia ser o certo a se fazer, eu não iria me fazer de rogada nesse momento. Até porque era um presente de uma Cullen, eles tinham condições de comprar uma companhia aérea inteira se quisessem, não era uma passagem que iria afetar a conta bancária da monstrinha.

— Obrigada, Jacob! Agradece Nessie por mim, eu… eu estou realmente feliz com isso tudo!

Ainda fiquei alguns segundos olhando os presentes que tinha em mãos até que Jacob me abraçou de súbito. Retribui o gesto de carinho de forma desajeitada. Não era comum para nós demonstração de carinho assim, mas era uma despedida. E sabe-se lá quanto tempo ela duraria

Logo senti mais um par de braços me rodeando. Seth. Meu irmãozinho faria muita falta, é verdade, mas aqui é o seu lugar. Ele ama tudo que tem descoberto sobre quem ele é, adora Jacob, a família Cullen e a vida que minha mãe tem construído com Charlie. A reserva tem sido um lugar necessário, bom e saudável, não tenho com o que me preocupar, ele será um bom homem e um bom braço direito para o Black. 

(...)

O dia passou de forma arrastada. Preferi ficar trancada em casa evitando os olhares de todos da reserva que já sabiam da discussão do dia anterior. Evitei qualquer pessoa que pudesse me dar notícias de Sam e Emily. Foi difícil pensar que iria embora sem me despedir de ninguém, mas quanto mais se aproximava o horário da partida, mais certa eu estava do que precisava ser feito.

Coloquei as malas na caminhonete de Jacob e acenei para minha mãe e Seth que estavam abraçados na porta da minha — agora — antiga casa. Enquanto Jacob dirigia em direção à saída da reserva pude ver um movimento na floresta que a rodeava e logo alguns uivos. Reconheci Paul, Embry, Quil… e Sam. Esse era o nosso adeus.


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Notas finais do capítulo

No próximo teremos uma personagem nova e importante... Pode entrar, Rebecca Black! Não deixem de comentar e dizer o que estão achando!
Beijos,
Valk ;)



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