Dessa vez escrita por Sak


Capítulo 3
Capítulo 3




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— Finalmente acabaram as bagagens. Muito obrigado senhor! – Nicole parecia estar agradecendo aos céus, o que indignou a irmã. Nem Rose e nem Aline tinham trazido tanta coisa assim.

Rose olhou ao redor. Como era bom estar de volta na casa em que cresceu, claro que era meio triste por causa das circunstâncias, ainda era estranho o fato de seus pais terem se separado, mas Rose sabia que era melhor assim. Ela só esperava que a mãe se recuperasse logo.

 – De quem são todas essas bagagens coloridas? – perguntou a tia interrompendo os pensamentos da garota. – Porque suas não podem ser, ou podem? – ela perguntou confusa para a sobrinha. 

— E por que não podem ser minhas, tia Nicole? – a questionou com as mãos no quadril.

— Porque elas possuem cores chamativas, – apontou para a de cor rosa choque e verde florescente – e você não gosta de chamar atenção dos outros para si, igualzinha à sua mãe – realmente, Rose era muito parecida com a mãe nesse quesito, ela não gostava de chamar a atenção.

— Me pegou! São da Iris, do Daniel e do Jack – porque todas essas bagagens coloridas só podem ser deles.

— E cadê eles, seus amigos gringos? Só estou vendo a bagagem – perguntou a tia.

— Estão em Pernambuco, a avó deles mora lá – a mãe de Rose respondeu verificando toda a bagagem. – Depois eles vêm para cá para São Paulo – deu de ombros. – Ai! – a mãe suspirou se jogando no sofá –, preciso descansar. As horas no avião foram muito longas e todo aquele distúrbio não ajudou – bocejou.

Aline não gostava nem um pouco de viajar de avião, sem falar que ainda tinha medo de altura.

— Vai tomar banho primeiro, mãe  – Rose a incentivou.

— Tudo bem, vamos só levar essas malas para cima primeiro e então eu vou – a mãe concordou se levantando do sofá.

Depois que subiram toda a bagagem (eram mais pesadas do que pareciam), Aline foi tomar um banho e Nicole indicou para que Rose a seguisse até a cozinha.

— Como é que ela está? – a tia perguntou assim que chegaram lá.

— Não muito bem né – a garota deu de ombros. – Se foi um baque para mim, imagina para ela. Eu não esperava isso do meu pai – falou com certo amargor na boca.

— Eu já falei que não dá para confiar em homem – a tia avisou.

— Tia, nem todo homem é igual – Rose protestou.

— Você diz isso até o homem em questão agir como todos os outros – a tia ironizou, mexendo nas panelas em cima do fogão.

Sua tia Nicole tinha sofrido uma desilusão amorosa quando era mais nova, com o primeiro namorado e nunca mais confiou em homem nenhum.

— Como é que foram esses anos? – a tia mudou de assunto. – Morar nos Estados Unidos deve ter sido um máximo – ela imaginou. – É que nem nos filmes? – ela perguntou com brilho nos olhos.

— Depois eu te conto e antes que me pergunte, eu trouxe sim umas lembranças para você, mas amanhã eu te dou, não vou mexer nessas malas hoje não – Rose disse enquanto bocejava. 

— Tá bom, enquanto eu termino de preparar o almoço, vá descansar, eu sei o quanto a viagem de avião pode ser horrível.

— É, estou sentindo o cansaço no corpo inteiro. Mas, primeiro, vou tomar um banho, daqui a pouco eu desço para almoçar.

— Seu quarto está do mesmo jeito que deixou – a tia disse enquanto a sobrinha subia as escadas.

— Obrigada – Rose disse realmente agradecida.

—  De nada – Nicole respondeu carinhosamente, Rose apenas retribuiu sorrindo de leve. – Você é minha sobrinha favorita – ela piscou um olho para a garota.

— Eu sou sua única sobrinha! – apontou brincando indignada.

 Rose subiu até seu antigo quarto e viu que realmente estava tudo do mesmo jeito que se lembrava, arrumado e limpinho, sua tia Nicole era mesmo demais. As paredes continuavam amarelo claro (porque de rosa já bastava seu nome) e a tira de fotos que havia deixado em cima da cabeceira da cama continuava intacta. Rose pensou nas fotos que havia tirado naqueles anos fora e que aquela tira iria aumentar. Foi até o banheiro depois que sua mãe saiu e verificou que estava tudo funcionando, luz, chuveiro elétrico, água encanada e quentinha, os chuveiros nos Estados Unidos eram a gás.

 Enquanto tomava banho, lembrou que a casa de seus padrinhos, Maria e Fernando, era ao lado da sua e a da frente pertencia aos seus outros padrinhos, Vera e Mateus. Poderia visitá-los depois de almoçar, quer dizer, isso se o sono deixasse…

Lembranças de quando ela era pequena a invadiram de repente enquanto estava embaixo do chuveiro enxaguando seu cabelo, lembranças de Henrique e de Jonathan, será que eles estariam em suas casas agora? Será que ficariam felizes em vê-la?

Lembrava do Henrique correndo e gritando seu apelido:

"– Vem logo Rosinha!"

Ele era sempre tão feliz, de bem com a vida, mas tão agitado que se machucava direto, não tinha um dia em que ela não o via com algum curativo em alguma parte do corpo. Lembrava que toda vez que o via machucado, ela perguntava: 

"– Você está bem, Henrique?"

"– Claro que sim, Rosinha, vaso ruim não quebra" – ele respondia com aquele sorriso enorme no rosto.

E já se lembrava que Jonathan era completamente ao contrário, diferente de Henrique que dizia para ela correr e se divertir, Jonathan dizia:

"– Vai mais devagar Flor, não quero que se machuque." – Daquele jeito gentil e carinhoso que só ele a tratava.

  Assim que terminou de tomar banho, Rose desceu para almoçar.

— Hum, faz tempo que não como sua comida – a sobrinha disse saboreando o almoço.

Nicole era vegana e fazia pratos deliciosos. Sua mãe também era vegana, mas por causa do trabalho não cozinhava tanto e nem tão bem assim quanto a irmã.

— Saudável e gostosa do jeito que tem que ser – Nicole respondeu.

— Está gostosa mesmo, gosto de casa – Aline elogiou.

— Sabe, depois que eu terminar de almoçar vou visitar a madrinha Maria e a madrinha Vera – Rose informou as duas.

— Não vai dormir não? – a mãe perguntou surpresa.

— Se eu dormir agora, não durmo de noite – explicou dando de ombros.

— Então está bem, mas não demore muito, acabamos de chegar, vamos ter bastante tempo para isso – disse a mãe. – Diga a elas que eu vou mais tarde – pediu.

— Está bem – Rose sorriu para ela.

 

. . . 

 

Depois de almoçar, como tinha dito que faria, Rose foi até a casa de sua madrinha Maria primeiro, como ela morava ao lado, logo estava em frente ao portão e tocou a campainha. Não demorou muito e um homem alto e forte atendeu reclamando:

— Tudo eu nessa casa!

Rose o reconheceu de imediato.

— Junior! – exclamou surpresa.

— Não pode ser – ele a olhou surpreso. – Cabelos loiros, olhos verdes... Rose? – perguntou duvidando.

— Claro, estou tão diferente assim? – ela disse o abraçando.

— Como você cresceu, tá legal que não está tão alta assim, mas cresceu – falou a analisando de cima a baixo e debochando da altura da garota. – Vem, entra. Minha mãe vai ficar feliz em te ver.

— E o padrinho Fernando? – ela perguntou enquanto ele a levava até a sala de estar, Rose evitou de perguntar por Jonathan e se Junior notou, não comentou nada, o que fez a garota ficar agradecida.

— Está na oficina, mas logo chega para almoçar – ele respondeu e foi até a cozinha, Rose escutou ele gritar: – Mãe! Vem cá ver quem veio nos visitar.

— Quem meu filho? – sua madrinha Maria apareceu toda suja de lama, provavelmente estava cuidando da horta que tinha nos fundos da casa, e mesmo suja ela não perdia a classe, continuava bonita como sempre.

— Madrinha – Rose correu para abraçá-la.

— Rose, minha menina, você cresceu tanto, espere um pouco, estou toda suja de terra para te abraçar – ela estendeu os braços impedindo que a garota se aproximasse mais.

— Pode deixar mãe que eu faço isso por você – Junior disse abraçando Rose de novo e a jovem riu com isso.

— Quando foi que chegou? – a madrinha perguntou.

— Agora a pouco – Rose respondeu soltando um breve bocejo. – Tia Nicole foi buscar minha mãe e eu no aeroporto.

— Como foram as coisas nos Estados Unidos? Irá ficar para morar agora? Fez amigos? Se alimentou direito? Tirou boas notas na escola? E – Junior interrompeu a mãe, antes que ela continuasse as perguntas sem dar chance de Rose responder. 

— Calma aí, dona Maria. Assim a Rose não consegue acompanhar.

— Eu sei, desculpa minha menina, mas estava com tantas saudades, que simplesmente não posso ignorar. Quero saber de tudo – ela falou calmamente, olhando carinhosamente para a garota que considerava como uma filha.

— Também estava morrendo de saudades suas, madrinha. E pode deixar que eu contarei tudo – ela disse não conseguindo controlar outro bocejo. – Fiz amigos sim, são boas pessoas, inclusive alguns descendentes de brasileiros, eles estão em Pernambuco agora e só vêm para cá para São Paulo mês que vem. Sim, tirei boas notas e me alimentei direito, além de que, conheci bastante os Estados Unidos, posso até virar guia turística – falou.

— Aceita almoçar conosco? – a madrinha logo perguntou. – Daqui a pouco o Fe e Jonathan estarão aqui e você poderá vê-los – o coração de Rose deu um descompasso ao ouvir o nome de Jonathan.

— Não, obrigada – ela recusou o convite.

— Por favor, eu insisto – ela tentou convencer a afilhada.

— Deixa para outro dia, até porque eu já almocei com minha mãe e a minha tia – falou bocejando novamente.

— Você precisa descansar, hein – Junior notou. – Daqui a pouco vai cair durinha.

— É, eu sei, a viagem não foi das mais tranquilas, sem falar que nem dormi direito esses últimos meses, mas primeiro vou visitar a madrinha Vera, aí sim eu vou para casa descansar.

— Então vai minha menina, mas volte logo, quero detalhes da viagem – a madrinha disse carinhosamente para a afilhada.

— Pode deixar que eu volto sim – ela respondeu.

— Vem Rosinha, eu te acompanho até o portão – Junior falou estendendo o braço para a garota e a chamando pelo apelido de infância.

— Valeu Junior – agradeceu aceitando o braço.

— Imagina, é bom ter você de volta – a abraçou novamente e com mais força.

— Acho que dessa vez é pra ficar – respondeu se soltando de seu abraço. – Obrigado a você e a madrinha por não terem perguntado sobre o divórcio dos meus pais.

— Tudo bem, nós entendemos, quando estiver pronta vamos estar aqui, lembre-se disso. Tchau e vê se volta mais vezes.

— Tchau Junior – ela se despediu carinhosamente.

 


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