Rose observou as nuvens no céu uma última vez antes que o avião aterrissasse. 

Bem, depois de três anos, finalmente estava de volta ao Brasil. 

Rose era uma jovem de dezessete anos, que morou pelos últimos três anos nos Estados Unidos por causa do doutorado de seus pais. Ambos eram médicos, mas nos últimos tempos eles estavam tendo crises no casamento e a mãe de Rose, que antes de se casar era conhecida como Aline Oliveira Souza e depois de se casar passou a ser Aline Oliveira Alves, preferiu terminar tudo e voltar para o Brasil depois que descobriu uma traição do pai de Rose, David Ferreira Alves. Rose ficou muito magoada com o pai pela traição cometida e decidiu voltar com a mãe para o Brasil, não podia deixar ela sozinha em um momento tão difícil. 

Rose observou a mãe ao seu lado, verificando o celular. Sua tia, Nicole Oliveira Souza, é quem iria buscar as duas no aeroporto de Viracopos em Campinas, cidade natal delas.  

— Nada da sua tia responder – sua mãe exclamou um pouco frustrada. 

— A gente pode pegar um Uber – Rose sugeriu gentilmente tentando acalmá-la. 

Sua mãe e sua tia tinham lá seus problemas, elas eram o completo oposto uma da outra. Sua mãe é quem era a certinha das duas: tinha estudado, se formado em medicina, casado e tudo mais. Já a tia vivia cada dia como se fosse o último. Rose a adorava. 

Às vezes Rose parecia mais a tia do que a própria mãe e as duas eram gêmeas! 

As duas eram loiras de olhos castanhos claros e altas, o que Rose não havia herdado, era baixa como a avó. A tia era mais encorpada porque tinha colocado silicone e não se envergonhava nem um pouco disso. Rose tinha puxado os cabelos loiros das duas, mas os olhos eram verdes, herança de seu pai. 

Rose suspirou sentindo um pouco de saudades dele. Ela o amava, é claro, isso não iria mudar, mas a traição doía. Lembrou que adorava a história de amor dos dois. Eles se tornaram primeiramente grandes amigos na época da faculdade, mas com o tempo acabaram se apaixonando, decidiram se casar e tiveram a garota.

Rose ganhou esse nome porque a mãe era muito fã de Titanic, se ela tivesse nascido menino teria recebido o nome de Leonardo por causa do DiCaprio, o qual sua mãe era muito fã, ela dizia que Jack seria um nome muito incomum, principalmente em um país como o Brasil, apesar de adorar o personagem.

Mas a vida não foi um mar de rosas…

Quando Rose era mais nova infelizmente teve Leucemia, mas foi curada, graças, e se tornou uma pessoa saudável. No tempo em que esteve se tratando, seus pais conseguiram uma casa perto do hospital, foi aí que ela conheceu o Jonathan, filho da dona Maria de Fátima e do senhor Fernando, donos do mercadinho "Mais Brasil". O senhor Fernando era um homem sério, mas quem o conhecia sabia o quanto ele amava a família; já a dona Maria era uma mulher muito doce, se preocupava com tudo e com todos, ela era a melhor amiga da sua mãe, já que se conheciam desde pequenas, mas suas vidas tomaram rumos diferentes e só se reencontraram anos depois. 

Maria e Fernando viraram seus padrinhos, e mesmo Rose estando doente, dona Maria dizia que ela era a filha que nunca teve, pois, ambos seus padrinhos só queriam dois filhos, Júnior, o irmão mais velho que Rose nunca teve, e Jonathan, seu primeiro amor. 

Rose suspirou pensando nele, a última vez em que eles se viram foi há três anos antes de viajar e tinha sido tão conturbado. Ficou com um pouco de vergonha só de lembrar, mas não negava que estava ansiosa para rever o garoto. Seu coração ainda batia um pouco por ele.

Além de Jonathan, Rose tinha outro melhor amigo, o nome dele era Henrique e ele vivia a chamando de Rosinha, por causa da cor que seu nome representava, diferente de Jonathan, que era fechado e mais na dele (tinha puxado o pai todinho), o Henrique era mais extrovertido, chamava atenção por onde passava e conversava com todo mundo. Rose se divertia muito com os dois, o Jonathan porque era relaxante e o com Henrique porque era divertido. 

Os pais de Henrique também viraram seus padrinhos, dona Vera e senhor Mateus, donos da oficina "Meu pé de araque", o senhor Mateus tinha uma parceria com o senhor Fernando e ambos ajudavam um ao outro. Todos os seus padrinhos ajudaram e muito seus pais e ela quando foi descoberto que ela tinha leucemia.

Quando Rose completou quatorze anos, seus pais conseguiram ser aprovados em seus doutorados e assim foram para os Estados Unidos, assim sendo, Rose realizou uma prova para entrar em uma escola particular de lá e conseguir uma bolsa de estudos para o ensino médio completo, foi muito bom e útil tanto para os seus pais, quanto para a garota, que fez amigos incríveis dos quais nunca iria esquecer, inclusive havia conhecido alguns descendentes de brasileiros por lá. 

Antes de viajar, só o Henrique sabia de seus sentimentos por Jonathan, mas Rose não tinha coragem de confessar a Jonathan o que sentia e decidiu que só ia contar um dia antes da sua partida. Rose estava caminhando pelos corredores da escola antes de ir para a sala de aula naquele último dia, antes de partir e acabou ouvindo o Jonathan falar mal dela para toda a turma, às costas dela; ele a magoou muito, depois foi se desculpar, eles discutiram e no meio da discussão ela se confessou a ele, disse que o amava, mesmo que tenha sido um amor infantil, e ainda roubou um beijo dele, seu primeiro beijo, depois se afastou, o mandou embora e correu para dentro de casa.  

No dia seguinte viajou com os pais e ficaram em casa alugada em Nova Iorque, até ela começar a frequentar o colégio, no qual ganhou a bolsa de estudos, onde conheceu e fez muitos amigos... 

Passaram-se mais ou menos três anos e agora estava de volta à Campinas, se ela conseguir fazer uma boa pontuação no Enem, poderia fazer medicina em alguma universidade pública. Ela queria muito a USP e esperava conseguir, estava muito nervosa e com medo, aliás, quem é que não estaria? 

Além disso, ela não sabia como seria dali pra frente, como iria encarar o Jonathan? O que iria dizer para ele? Será que ele estaria namorando? Apesar de ter sido um amor infantil, de criança, ficava se perguntando se ainda gostava dele, por mais que tenha conhecido outros garotos e até ficado com alguns, não havia sido como o que ela sentia por ele. 

"Eu só sei que nada sei", essa frase de Sócrates se encaixava perfeitamente em como Rose estava se sentindo neste exato momento. 

Ela só esperava que desse tudo certo... 

Dessa vez...