Os Retalhadores de Áries II escrita por Haru


Capítulo 21
— A batalha vai à luz




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— A batalha vai à luz

No Reino de Órion, Yue foi dada como criminosa e estava sendo procurada há uma semana. Kin e Haru não se viam desde que ele ajudou a amiga a fugir da prisão. Temeroso da reação de sua irmã, pesando no peito e na mente as consequências do que fez, o ruivo enfim se aprumou para sair do esconderijo. Devia satisfações à loira, que certamente já o contava entre os que deram guarida à procurada. Sora e Sayuri insistiam, tentavam convencê-lo a não subir, mas ele não os ouvia.

Estava desolado desde que Arashi disse que Kin pôs todas as forças do reino no encalço de Yue, queria tirar essa história a limpo com a própria primeira-ministra. Sora lançava mão de toda a sua lábia para demovê-lo deste intento, Sayuri, olhando-o jogar nas costas uma mochila com algumas provisões, entregou os pontos. Contra as razões do coração nenhuma razão pode. Yue, única quieta até então, saiu do lugar para falar. Triste, linda como se a melancolia ressaltasse a doçura de seus traços. 

— Haru, sabe que o Arashi não mentiria. — Apontou, de pé sobre o chão frio no qual antes estava sentada, com as costas ainda na parede. Os olhos violeta, desalentados, virou para os dele. — Eu sei que a sua irmã não te machucaria, mas os outros retalhadores do Reino de Órion me querem presa e você é um dos suspeitos de me ajudar, eles podem tentar alguma coisa contra você. Não pode se machucar por minha causa! 

 À essas palavras, Haru sorriu. Mesmo comovido pelos sentimentos na face e nas palavras da amiga. Tencionando passar confiança, dissipar o medo, afagou os cabelos dela com a mão. Ia não só por Yue, ia por Kin. Por si mesmo. A retalhadora que deu todas aquelas ordens contra uma inocente e que se rendeu tão docilmente a uma inimiga não tinha nada a ver com aquela que o criou. Só vendo-a face a face acreditaria que eram a mesma pessoa.

Determinado, deu-lhes as costas. 

— Não vou me machucar, não se preocupe. Eu preciso ver minha irmã. — Replicou, passeando até a saída. A vontade com a qual empregou a palavra "preciso" marcou em Yue e nos outros a certeza de que nada o manteria mais um dia ali em baixo.

Após sua saída, um vento frio adentrou a gruta e elevou uma fina nuvem de poeira. Quase apagou as tochas que espantavam a escuridão da caverna. O mais amigo ali de locais inóspitos, de ambientes deprimentes, até o espírito de Sora estava começando a se comprimir com tal visão. Acima de tudo com a de Yue tão abatida. 

Via-a sempre tão radiante, tão primaveril. Nenhuma outra cena real e nenhum quadro com pinturas apocalípticas teria tanto poder contra seu ânimo. Tão cabisbaixo quanto preocupado com Haru, espalmou as coxas com as mãos e se levantou apressado do banco de concreto onde ficara. 

Catou uma mochila e jogou-a nos ombros. 

— Eu vou atrás dele. — Avisou. Sob o olhar aflito de Yue, disse: — Para, vai! Quem te olhar agora pode até pensar que tá preocupada comigo... — Riu, lembrando-a das muitas discussões, das brigas que já tiveram. Ele próprio não sabia, mas já havia se tornado alguém importante para Yue. Tinha-o como um amigo. Antes dela virar o maior alvo do reino mais poderoso da Terra, vale apontar. Passou a vê-lo de outra forma desde que testemunhou o risco ao qual ele se deu para dar abrigo aos velhos companheiros de cela. Não ligou nem para ser espancado por aqueles que queria ajudar. Assim sendo, o que Sora vinha fazendo por ela nos últimos dias só lhe deu confiança para irrigar esses sentimentos. 

 Gray conhecia Arashi desde que, como ele, não passava de um menininho. Quando participaram e venceram o Torneio das Legiões. Contava com nove anos, então. Arashi, com oito. Os dois foram parceiros e fizeram algo que ninguém fazia há três anos: derrotaram Kin. A loirinha foi a vencedora invicta por um triênio inteiro — até os dois formarem uma união imbatível. Foram uma dupla por um mês, numa floresta em um planeta abandonado, cercados de retalhadores perigosos. Nele, Gray apontou seu primeiro amigo de verdade. No mundo todo, três pessoas vivas podiam dizer que tinham a total confiança de Gray. Arashi era uma delas. 

 O estupor quando Kande lhe disse que Arashi estava sob vigilância estatal foi sua primeira reação. Tinha certeza inamovível de que seu melhor amigo jamais faria algo para prejudicar o Reino de Órion. Nem antes de ser feito primeiro ministro e muito menos depois. Nesse caso, o que estava acontecendo? Kin tentava resumir a versão dela para Kande e ele, em segredo. Na sala de reuniões do conselho. Contudo, a mente de Gray começou a viajar assim que Kin, justo Kin, ordenou-lhes que caçassem o guerreiro glacial. E Gray conhecia Kin há tempo suficiente para dizer que aquela ali que estava dizendo todas aquelas coisas não era a mesma. 

Nem nos gestos, nem no tom de voz, nem no olhar. Encarava-a com torpor, cravou os galantes olhos verdes nela. Seu rosto pálido, já naturalmente branco como a nuvem solitária de um dia ensolarado, suava frio. Seus cabelos, loiros e rebeldes, nunca se lhe opuseram tanto. A bem da verdade, notou a estranheza em Kin há mais de uma semana, quis dizer algo ao companheiro dela, mas se calou.

Pensou que fosse algo de sua cabeça. Paranoias do ofício. Se viu certo, pretextou, a loira provavelmente só estava cansada. Cismada com alguma coisa relativa ao trabalho. De frente com ela agora, por outro lado, alguma coisa em Gray remetia-o à impressão que ele julgou como "paranoia do ofício". Eu devia ter falado alguma coisa antes?, se exortava.

Dos trinta dias que lutou ao lado do primeiro ministro pelo Torneio das Legiões, um específico tocou a memória de Gray enquanto Kin e Kande conversavam. Uma tarde tempestuosa, chovia tanto que aos nautas era como se o céu e o oceano tivessem se fundido. Não havia sinal de perigo nas regiões que rodeavam o esconderijo escolhido por Arashi. Seu plano era simples: se manter escondido e permitir que Kin eliminasse a concorrência. Funcionou perfeitamente. Por ser a campeã, a loirinha era a mais procurada e até gostava disso. Dezenas de retalhadores uniam-se em grupos contra ela e, mesmo assim, não davam nem pra saída. 

Aos vencedores do torneio, concediam um prêmio em dinheiro e a realização de um pedido. Gray ficou com o dinheiro, Arashi, com o pedido. Foi o acordo ao qual os dois chegaram, havendo conversado. Gray perguntou o que ele queria tanto a ponto de abrir mão do dinheiro. Arashi confidenciou que tencionava desejar o fim do Torneio das Legiões. Segundo suas palavras, aquele campeonato só servia para alimentar o ódio mútuo entre moradores do Reino de Órion. Assim foi feito. Das milhares de coisas que podia ter pedido para si, tendo aberto mão do dinheiro, o guerreiro glacial pensou em Órion. Como poderia pensar que alguém capaz disso faria o que Kin estava acusando-o de fazer?


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