Respeito escrita por Silver Lady


Capítulo 4
Fora de Controle




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— Ainda não entendi por que você precisa tanto falar comigo — Entrapta comentou, logo que pararam a uma distância suficiente para que ninguém ouvisse o seu “papinho de garota” com Perfuma — Daqui a pouco Hordak Errado e Scorpia estarão de volta com o meu data pad. Se eu não estiver lá pra localizar o sinal de Glimmer, a Casta – Não-Sei-Quê vai gritar comigo de novo.

“Também quero voltar logo pro Hordak,” pensou “Ele deve estar morrendo de tédio naquele campo, sem nada pra fazer.”

—É por isso que preciso lhe falar — começou Perfuma — Queria pedir desculpas por ter te julgado mal. Estava preocupada porque Mermis... porque me disseram que você poderia se virar contra nós de novo. Mas aí, você se ofereceu pra localizar nossos amigos, sem ninguém pedir! Isso foi incrível!

Longe de sentir-se lisonjeada, Entrapta estava confusa:

— Obrigada, mas por que eu me voltaria contra vocês? Me juntei à Horda porque achei que vocês princesas haviam me abandonado. Parecia o lugar certo pra mim, até que Catra me traiu. Depois desisti de fazer amigos, até que Bow me explicou que é preciso dar tudo de si pra amizade funcionar, mesmo que seja necessário fazer sacrifícios! Como estou fazendo agora! — terminou, com um largo sorriso.

Perfuma nem percebeu a alfinetada, porque tinha a sensação de que uma árvore havia caído em sua cabeça. Entrapta estava dizendo que não fora por tecnologia que havia traído seus amigos, mas porque se sentira traída por eles? Envergonhada, lembrou-se das coisas amargas que falara sobre ela com suas amigas. De como haviam ignorado o pedido de Bow para serem gentis com Entrapta, assim que a resgataram da Ilha da Fera. “Sei que não é fácil pra vocês, mas ela passou por muita coisa,” ele dissera. Também agora entendia melhor a atitude de Entrapta, metendo-se no meio das conversas, “sempre ansiosa por ajudar”, como Mermista desdenhosamente observara.

Era de cortar o coração.

“E eu sou conhecida como a mais bondosa das princesas! Como pude ser tão insensível? Bom, posso compensar agora.”

Armou o mais angelical dos seus sorrisos:

— Tenho certeza de que Bow tinha as melhores intenções, mas ele exagerou um pouco. Você também precisa aprender a se dar valor. E eu gostaria de te ensinar.

Entrapta estremeceu. Já tinha visto Perfuma dar aulas a Scorpia e outros infelizes refugiados. Perdiam um tempão meditando (Scorpia nunca aguentava muito tempo), fazendo inúteis arranjos de flores(que iam morrer logo) e ouvindo sobre a necessidade de canalizar energias positivas. Nada lógico ou científico.

—Hã, obrigada — começou a brincar com os dedos — Mas eu já me dou valor. Sou a melhor cientista de Etéria. Eu e o Hordak. Mas, como ele não é deste planeta, acho que não conta.

A frágil casca do autocontrole de Perfuma estilhaçou-se:

—Não conta mesmo! Hordak é um monstro cheio de emoções negativas! Ele destruiu Salineas! Tentou envenenar o solo de Plumeria! Transformou Scorpia em soldado! Separou Micah da família dele! E trouxe Horde Prime pra cá!

Entrapta recuou com a saraivada de acusações:

— Não! Digo, sei que Hordak fez coisas ruins, mas ele não é monstro! Ele também tem qualidades! Coisas “positivas”, como você vive dizendo...

Perfuma fez um gesto de cortar com as duas mãos:

—Não me interessa se ele tem jeito com robôs! Ele te usou! E agora vai te usar de novo, não percebe?

Começou uma lengalenga sobre relações tóxicas, que não era saudável dar sem nunca receber nada e blébléblé, mas Entrapta não prestava mais atenção. Ouvia sermões como aquele desde que a tiraram da Ilha da Fera. Ser usada pela Rebelião, bom; ser usada pela Horda, ruim. Que saco! Deixa estar, que quando Adora voltasse pra ajudá-la a convencer todo mundo a aceitar Hordak, Perfuma ia ver que ele não tinha nada de “tóxico”! Ele lhe dera muitas coisas, sim, na forma de conhecimento... mas isso teria que esperar. Se contasse agora, Perfuma faria uma cara mais feia do que já estava fazendo. Ela devia odiar clones, porque fizera essa mesma cara quando a arrastara de perto de Hordak...

Só que Entrapta nunca a vira olhar assim pro Hordak Errado, então... por quê?

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— Aaaah. Você sabia que aquele clone que estava conversando comigo era o Hordak! — largou de repente. Sorriu, satisfeita, antes que a ficha caísse mais fundo, trazendo junto a decepção — É por isso que não para de me puxar pra lá e pra cá! Você me tirou de perto dele porque achou ele ia me fazer mal? — pela primeira vez, desde que Perfuma viera incomodá-la, seu rosto mostrou indignação.

Perfuma ficou chocada, tanto por ver Entrapta brava como por descobrir que ela era capaz de somar dois e dois. Droga. Esperara poder contar de um jeito mais delicado, já que Entrapta estava obviamente apegada ao vilão. Paciência. Ela nunca entendia sutilezas, mesmo.

— Me desculpe, foi pro seu bem. Mermista desconfiou que devia ser ele e ficamos preocupadas. Por isso, ela me pediu pra tirar você do caminho pra poder capturar Hordak. Agora está contando pro Micah, com jeito... — Perfuma fez uma careta, porque “Jeito” não era uma palavra que pudesse se aplicar a Mermista — Ela está pedindo pra ele não ficar bravo com você. E pra não matar o Hordak, porque ele tem de ser julgado por seus crimes...

—E onde ele está agora? O Hordak, quero dizer? Mermista levou ele pro Micah? — o rosto normalmente moreno de Entrapta estava pálido.

—Ainda não. Deixou Frosta e Sea Hawk tomando conta dele naquele lindo bosque perto de onde o deixamos. Queria tanto ver aquelas árvores de perto... — Perfuma suspirou, pensando na beleza delas... e percebeu que havia falado demais.

Entrapta já fugia para a campina. Perfuma disparou atrás dela, ao mesmo tempo em que jogava o laço feito com um de seus cipós instantâneos. Apanhada em pela corrida, Entrapta deu um tranco e caiu sentada. Tentou se soltar com o cabelo, porém a planta estava muito apertada, e ela gemeu de frustração.

Um tiro de laser cortou o cipó em dois. Como as duas mulheres puxavam em direções opostas, caíram uma para cada lado, mas o cabelo de Entrapta instintivamente a amparou. Rapidamente, ela se levantou e soltou-se do pedaço de cipó agora inerte:

— Emily! — seu rosto se iluminou ao ver a robô rolando na direção delas.

Emily parou bem na frente de Perfuma, que também já tinha se levantado, e começou a atirar perto dos pés dela, impedindo-a de avançar.

—Obrigada, Emily! Mantenha ela ocupada, enquanto eu salvo Hordak!

Aquilo esporeou a motivação de Perfuma. Furiosa, fez plantas crescerem bem embaixo da robô, derrubando-a; depois, amarrou-a, de modo a cobrir seu laser. Com Emily neutralizada, disparou atrás de Entrapta, que já tinha uma boa vantagem. Lançou outro cipó, mas desta vez a inventora estava preparada e escapou, saltando com os cabelos.

—Pare com isso! A combinação de suas emoções negativas com o excesso de energia da sua runa pode causar efeitos colaterais imprevisíveis! —avisou, esquivando-se de mais cipós.

—Eu estou ótima! — Perfuma berrou, ofendida — E você vai voltar comigo pra junto dos nossos amigos, onde é o seu lugar! Não entende que Mermista e eu fizemos tudo isso porque nos importamos com você?

—Catra também disse que se importava comigo, mas depois me eletrocutou, roubou meu trabalho e me mandou pra Ilha da Fera! — Entrapta pegou com o cabelo um tronco, bloqueando com ele o próximo cipó — Mesmo assim, você fez amizade com ela! Por que eu não posso ser amiga de Hordak?

Perfuma baixou os braços. Tronco e cipó caíram no chão:

— Porque eles são completamente diferentes — lutou para recuperar a calma —Catra mudou! Ela se arrependeu de tudo o que fez, enquanto Hordak nunca mudou todos esses anos! Por que ele mudaria só agora?

— Porque... porque... — Entrapta tentou responder, mas as palavras não saíam. Frustrada, ela pousou e começou a brincar com o cabelo enquanto procurava o argumento certo.

“Por minha causa. Porque Hordak finalmente entendeu que pode ser ele mesmo, e não uma projeção de Horde Prime,” era a resposta presa em sua garganta. Não sabia como dizer aquilo sem explicar que ela era a causa da mudança de Hordak. Se ela mesma achava difícil de acreditar, imagine Perfuma. No mínimo, poria seu argumento por terra com uma de suas lindas frases floreadas que Entrapta raramente entendia, mas que sempre a faziam sentir-se menos.

Fazia uma carinha tão triste que Perfuma sentiu pena. Apesar de toda sua habilidade, Entrapta no fundo era uma criança, pensou. Precisava de orientação, não de violência. Aproximou-se dela com um sorriso benevolente:

—Sei que você quer muito acreditar que Hordak tem um lado bom. Todos nós preferimos ver o lado positivo de quem gostamos. Como a Scorpia. Ela achava que, se desse bastante amor a Catra, conseguiria modificá-la, mas acabou se machucando.

—Mas Catra mudou depois. Você acabou de dizer — Entrapta insistiu, fazendo beicinho.

Perfuma respirou bem, bem fundo:

—Mudou porque quis! Ela não mudou por causa do amor da Scorpia e da Adora, e sim porque entendeu que estava errada! O amor mostra o caminho, mas é você quem decide trilhá-lo ou não! Agora, por favor, vamos voltar. Scorpia já deve estar de volta com o seu... computador.

Como não houve resposta, pegou-a descuidadamente pelo braço e virou-se na direção da ravina. Entrapta não arredou pé dali. O braço dela deslizou pela mão de Perfuma e soltou-se. A loira bufou, revirou os olhos, voltou-se para olhá-la e se assustou com o brilho nos olhos rosados.

—E -Entrapta?

—ESTÁ ENGANADA! — Entrapta explodiu de alegria, puxando Perfuma pra perto até que seus rostos quase se tocaram. Tinha um sorriso de orelha a orelha — Hordak mudou, sim! —largou-a e começou a andar animadamente, descrevendo “esses” pelo gramado e fazendo gestos com o cabelo e as mãos — Eu só não sabia dizer porquê, mas agora que você explicou, está tudo bem claro! Ele sempre achou que tinha que agradar Horde Prime a qualquer custo, mas não conseguia porque nasceu defeituoso e Horde Prime não suportava defeitos! Mas aí eu disse pro Hordak que estava tudo bem ele não ser perfeito porque imperfeições são lindas! Foi esse o caminho que...

—Vá direto ao ponto! — Perfuma estava no fim da sua paciência — Não entendo nada do que está falando!

Entrapta se acalmou. Afastou-se alguns passos, para o caso da outra princesa começar a jogar cipós de novo, e passou a falar mais devagar:

—Hordak... mudou... porque eu... mostrei o caminho... pra ele... como você disse. Eu nunca... tentei mudá-lo, a decisão foi só dele — recuou mais um pouco — Assim como eu mudei, porque percebi que estava errada em fazer meus experimentos só pela ciência... — sua voz morreu ao ver a cara que Perfuma estava fazendo. De acordo com suas anotações, ombros tensos, punhos cerrados tremendo e sobrancelhas juntas em “V” significavam raiva. Muita raiva.

Nenhuma das duas percebeu que a grama começou a ondular perigosamente.

— Não! Você não mudou! — Perfuma agitou as mãos, enquanto avançava — Você continua a mesma! Nunca ouve ninguém! Nunca fala como uma pessoa normal! Está sempre saracoteando, dando gritinhos, indo pra onde bem entende e obrigando a gente a ir atrás! E agora quer saber mais do que eu sobre amizade, que é a minha área! — avançou mais e mais, fazendo Entrapta recuar — Você já disse uma vez que não entende nada de pessoas! Por que não aceita o que eu falo?

Entrapta encolhia-se enquanto recuava, ansiosa por baixar a máscara, mas com medo de que isso enfurecesse ainda mais sua antagonista. Sempre acreditara que, se fosse bastante útil, gostariam dela, apesar de seus defeitos. Nos últimos meses, parecia finalmente ter encontrado seu lugar, mas fora uma ilusão. Nem mesmo a ciência podia compensar o que havia de errado nela, que a tornava diferente dos outros. Em momentos assim, chegava a se perguntar se ter amigos realmente valia a pena.

E se lembrou de como Hordak Errado precisara dela para entender as complexidades da sua nova vida. Ele a defendera da tia de Glimmer. E Hordak, principalmente, sempre lhe dera valor, não apenas por seu trabalho, mas pela sua companhia; chegara a dizer que quem fazia pouco dela era idiota. E matara Horde Prime por sua causa, embora morresse de medo dele.

“Eu me dei um nome, eu me tornei conhecido, eu arrumei… uma amiga.”

Uma amiga.

Endureceu o olhar:

—Porque eu entendo de clones! Sei como é trabalhar duro pra que as pessoas de quem gosto também gostem de mim. Mesmo que signifique não rir, não falar demais e ficar fora do caminho pra não irritar meus amigos... e aí eles ficam bravos do mesmo jeito! ESTA é a minha área! — virou-se e recomeçou a correr.

Perfuma sentiu uma espécie de corrente elétrica passar por todo o seu corpo. Sem que ela comandasse, uma planta saiu do chão e agarrou uma das pernas de Entrapta. A inventora soltou um grito agudo, ao se ver subitamente erguida no ar.

Perfuma imediatamente se alarmou:

—Não! Eu não pedi isso!

— Eu avisei! Você usou demais seus poderes e eles agora estão fora de controoooleeee! — Entrapta explicou, enquanto subia, pendurada de cabeça para baixo pelo tornozelo, até parar quase na altura das torres de Bright Moon. Do chão, Perfuma assistiu angustiada enquanto sua colega princesa se balançava, tentando alcançar o caule com os cabelos. A planta, contudo, parecia ter inteligência própria, pois suspendeu a mulher bem longe do próprio “corpo”, como se ela fosse um saco de lixo fedorento.

— Entrapta! Fique quietinha, por favor! — Perfuma gritou, em pânico — Eu vou tirar você daí!

A inventora, no entanto, estava longe demais para entendê-la e ocupada demais tentando se salvar. Embora estivesse pendurada longe de tudo, ainda havia a ponta que a segurava. Entrapta facilmente alcançou-a com o cabelo, depois com as mãos. A partir dali, só precisou de um pouquinho de força e de uma de suas ferramentas para se soltar. Foi tão fácil que Entrapta chegou a rir, enquanto deslizava pelo caule, abraçada a ele com cabelos e membros.

—Consegui! Perfuma, já estou descendo... AAAAAAAHH! — quase caiu quando a planta deu um violento solavanco.

Perfuma tampouco havia ficado quieta. Com medo de que Entrapta caísse enquanto ela buscava ajuda, concentrou-se intensamente, tentando manter a cabeça fria. Nos primeiros instantes, pareceu funcionar. A planta começou a diminuir, mas sacudia-se e corcoveava, como se quisesse se livrar da carga que havia capturado. A base do vegetal inchou, retorceu-se e subitamente explodiu.

Perfuma ficou coberta de seiva e pedacinhos de vegetal.

Entrapta e o caule onde ela se agarrava despencaram em pleno ar.

As duas mulheres gritaram.

Uma rede luminosa surgiu no ar, a poucos metros abaixo de Entrapta, seguida por plantas similares à que a agarrara, que brotaram e cresceram em velocidade assustadora. A rede foi destruída; os talos das plantas ampararam a mulher que caía, amortecendo sua queda sem causar ferimentos. Por alguns segundos, tudo pareceu bem; mas, quando Entrapta começou a se recuperar do susto e tentou se sentar, grossas folhas se fecharam sobre ela.

— Perfuma! O que pensa que está fazendo?! — Netossa gritou atrás dela.

A princesa se virou: para sua surpresa, viu não apenas Netossa, mas Micah, Mermista e Emily. Todos de cara feia; embora Emily não tivesse rosto, era fácil adivinhar que ela tampouco estava feliz, por ter sido amarrada e abandonada como uma peça de ferro velho.

— Nós... demoramos um pouco, não foi? — Perfuma sorriu amarelo.

— Seu “papinho de garota” estava mais para seminário — ralhou Mermista — Era pra você fazer Entrapta perceber o seu erro, não aterrorizá-la! O que é aquilo? — apontou para a imensa planta que havia aprisionado a inventora.

Perfuma agarrou seus cabelos loiros. Estava completamente histérica:

— Não sei porque minhas plantas estão fazendo isso! Eu só queria impedir que Entrapta se metesse em encrenca! — agarrou Mermista com as mãos melecadas de seiva — MAS ELA NUNCA ME OOUUVEEE!!

— Pelo que vimos, ela estava era fugindo da ”encrenca”— Netossa ironizou, virando-se para olhar melhor o monstro vegetal.

As plantas haviam prendido Entrapta numa espécie de botão (de flor), no alto de quatro caules grossos trançados de uns seis metros de altura. Em torno dessa prisão, brotavam os cipós que eram a marca registrada de Perfuma, chicoteando o ar ameaçadoramente.

—Parece um polvo gigante. Isso é, se polvos fossem verdes e de pescoço comprido — Mermista observou — E tivessem doze, dezesseis pernas... uuugh, esqueçam o que eu disse.

Emily avançou na direção deles, disparando seu laser. Os primeiros tiros despedaçaram três tentáculos, mas o quarto enfiou a ponta bem no “olho” dela e deu-lhe um golpe que a fez sair rolando. Netossa laçou um feixe deles com um de seus fios de luz, porém eles o partiram como uma teia de aranha. Mermista agarrou um dos cipós, lamentando não ter seu tridente à mão:

— Não querem que ninguém chegue perto dela! É como se quisessem protegê-la! Uuuf! — a coisa atirou-a longe com um golpe no estômago.

—Ou sufocá-la. Aquela coisa lá em cima parece hermeticamente fechada — Micah jogou um feitiço nos tentáculos mais próximos, porém ele se desmanchou sem causar dano nenhum.

Sem aviso, ele lançou outra magia em Perfuma, que agitava as mãos, tentando inutilmente controlar o monstro. A jovem bocejou, fechou os olhos e desabou sobre a grama. Quase imediatamente, os movimentos dos cipós ficaram mais lentos, até quase pararem.

— Ufa! — ele sorriu, aliviado — Desta vez funcionou! Rápido, não sei quanto tempo vai durar!

Os três heróis avançaram para o centro do monstro. Netossa laçou os caules com outro cabo de luz, que dessa vez aguentou; Mermista correu para ajudá-la a puxar.

— Acha que os poderes descontrolados de Perfuma tem algo a ver com o complexo maternal dela? — Netossa perguntou a Micah, enquanto elas forçavam o botão até o solo.

O rei procurou rápido um feitiço que pudesse abrir a prisão sem ferir Entrapta:

— Mais com raiva, eu acho. Havia esquecido como emoções podem influenciar a magia, e essa energia libertada parece mais sensível... —ele  tentou limpar sua mente, esquecendo os velhos medos que o assombravam, desde a transformação de Light Spinner em...

Perfuma soltou um grito horrível. Espinhos cresceram no caule da criatura, que se debateu, arrebentando o cabo. Ouviram Entrapta gritar dentro do botão, enquanto ele bruscamente voltava à posição original. Mermista e Netossa caíram sobre a grama e imediatamente foram varridas pelos tentáculos; igual destino teve Micah. Atordoados e doloridos, eles olharam para Perfuma, que se debatia no sono, parecendo que ia acordar a qualquer momento. Depois, parou e voltou a ressonar pacificamente.

— Vou buscar a Casta e a Spinnerella — Mermista levantou-se, gemendo —Se é que o resto da turma já não está vindo pra cá.

—Até chegarem aqui, Entrapta pode morrer — Netossa observou — Spinny vai ficar inconsolável.

Um uivo de arrepiar os cabelos fez todas as cabeças se virarem na direção do pequeno bosque ali perto. Por alguns instantes, nada aconteceu; quando já começavam a pensar que fora o vento, uma espécie de fita transparente saiu ziguezagueando do meio das árvores. Era uma rampa de gelo, e todos se animaram, sabendo que só poderia ser Frosta; mas seus queixos caíram quando perceberam que ela não vinha só.

—Por que ela está sentada nos ombros de um clone? —Netossa admirou-se.

—Não é um clone qualquer! É o Hordak! — Mermista gritou.

—AQUILO é o Hordak?! — os olhos de Micah quase saltaram fora das órbitas.

A pista de gelo descreveu uma imensa curva para não esbarrar no grupo e parou de repente, derrubando seus ocupantes. Frosta deu uma cambalhota no ar e aterrissou graciosamente. Hordak caiu de cara na grama. A garota arregalou os olhos ao ver toda aquela confusão:

— Nossa! Que monstro é esse?

— Perfuma perdeu o controle de seus poderes e prendeu Entrapta naquela bolota, ali em cima, e os cipós em volta não deixam ninguém chegar perto. Micah botou Perfuma pra dormir, achando que adormeceria essa coisa, mas não funcionou — Netossa resumiu num fôlego só. Ia acrescentar alguma coisa, quando Mermista se atravessou entre as duas:

— Por que você trouxe Hordak pra cá?

Só então, todos se deram conta de que ele havia caído muito perto de Perfuma, que ressonava na grama, esquecida por todos. Fitou a princesa adormecida, com ar pensativo; era evidente que tinha ouvido a explicação de Netossa. Então desviou o olhar, levantou-se e correu até a criatura que prendia sua amada.

Frosta soltou o ar, baixou a mão que estava prontinha para congelar Hordak e sorriu:

— Viemos ajudar, não está vendo?

Um tentáculo agarrou Hordak, mas ele o cortou com as garras, depois se virou e rasgou mais dois que tentaram atacá-lo. Avançou para a base do casulo; outros tentáculos o agarraram pelas costas, porém Frosta rapidamente congelou suas bases e quebrou-as com socos. Olhou impaciente para os companheiros:

— Por que estão parados aí? Vocês sabem bater, não sabem?

Os três heróis trocaram olhares. Cuidariam de Hordak depois. Frosta congelava os tentáculos, que eram quebrados por Micah, Netossa e Mermista com chutes, pauladas e pedradas. A garota aproveitava também para congelar partes do chão, impedindo que mais cipós brotassem. Com o caminho livre, Hordak subiu nos caules a duras penas, devido aos espinhos e solavancos da coisa. Num instante, chegou ao botão, porém cada corte que ele abria se fechava imediatamente. E, claro, temia ferir Entrapta se cortasse muito fundo. Sem alternativas, pegou o cristal, que por milagre ainda não caíra do seu cinto, abriu outro talho e enfiou a pedra até a metade. O corte se fechou, mas o cristal ficou preso, impedindo que a folha se regenerasse totalmente. Hordak enfiou as garras de ambas as mãos onde o cristal tocava a planta e puxou para os lados, com toda a força.

O botão rasgou-se pela metade, revelando o rosto surpreso de Entrapta:

— Ho... Hordak?

Ele estendeu-lhe a mão. Cipós o agarraram pelo pescoço, tronco e braços, puxando-o para trás, forçando-o a levar uma das mãos à garganta para afrouxar o aperto. Enfiou um pé na abertura, mesmo sabendo que não seria suficiente para impedir que fechasse; porém Entrapta usou os cabelos para mantê-la aberta. Um de seus tentáculos capilares puxava desesperadamente os cipós da garganta de Hordak, mas com o esforço para não ficar fechada de novo, ela não conseguia fazer muita coisa. Quase desmaiando sufocado, ele tirou a mão do pescoço, decidido a arrancar Entrapta dali nem que tivesse que morrer... mas esqueceu que não estavam sozinhos.

Durante a luta do casal, Mermista e Netossa haviam subido no caule. A um sinal de Netossa, ela se penduraram uma de cada lado do botão, aproveitando o rombo aberto pelo clone. Apesar de grossas, as folhas que formavam o botão não resistiram ao peso e rasgaram, amortecendo a queda das princesas e libertando Entrapta, que praticamente se atirou sobre os cipós que sufocavam Hordak. Mal ela começou a puxar e eles amoleceram, sinal de que alguém embaixo havia cuidado das bases. Juntos, eles arrancaram as plantas murchas de cima de Hordak, que pegou Entrapta no colo.

A planta começou a oscilar.

—Saiam daí, rápido! — gritou Micah — Vai cair!

Hordak nunca fora muito ágil, e sua valiosa carga tornou seu pulo ainda mais desajeitado. Nada com que se preocupar, quando se carrega uma mulher com cabelos imensamente macios. Os dois rolaram pelo chão; quando Hordak abriu os olhos, viu-se sentado na grama, com Entrapta ainda no colo dele, sorrindo.

Sem que precisassem trocar palavras, eles se abraçaram.

Alguém tossiu bem alto. Ergueram os olhos: estavam cercados por Mermista, Netossa, uma Perfuma recém-desperta que parecia assustada e Micah, com Frosta no colo. Nenhum deles parecia aprovar as demonstrações de carinho entre a inventora e o ex-vilão, que rapidamente se levantaram, embaraçados.

O olhar de Hordak caiu sobre Frosta, que jazia mole nos braços de Micah, aparentemente desmaiada.

— Ela está esgotada — Micah percebeu, surpreso, a preocupação nos olhos dele, embora não conseguisse evitar a hostilidade em sua voz — Estávamos atacando a base com fogo e gelo, quando Frosta insistiu em congelar também a base dos cipós que agarraram você. Foi demais para ela.

— Você fala como se fosse culpa do Hordak ele ter sido enforcado... — Entrapta observou.

Não teve tempo de dizer mais nada, porque uma luz cegante - não, várias luzes cegantes obrigaram todos a fecharem temporariamente os olhos. Frosta foi a primeira a abri-los; para sua surpresa, seu corpo estava azul-claro, como sempre acontecia quando chegava ao ápice do seu poder. Também não se sentia mais cansada. Olhou para o lado e viu que Mermista, Perfuma (acordada e confusa) e até Netossa, que não tinha runa, brilhavam também. Só então se lembrou de olhar para o homem que a segurava: Micah sorria para ela, brilhando uma suave luz púrpura.

Hordak e Entrapta, naturalmente, não brilhavam, mas assistiam o fenômeno de queixo caído. Entrapta soltou um guincho deliciado:

— Faaascinante! Adora deve ter percebido que as runas estavam sobrecarregadas e transferiu parte da energia para o resto do planeta!

— Bem que podia ter feito isso um pouco antes. Teria nos poupado muito trabalho — Mermista resumiu o pensamento geral.

— Concordo com você — Hordak resmungou, a voz mais rouca por causa da garganta machucada — Pela primeira vez.

Micah, que acabara de colocar Frosta no chão, parou:

— Se Adora restaurou as runas, significa que Glimmer deve ter recuperado o controle sobre seus poderes...? — olhou ansioso para Entrapta. Todos a fitaram, interessados.

— Sim... não... acredito que sim, embora não tenha meu data pad para rastrear o pessoal. Mas, pelo que eu conheço da Glimmer, ela ou já trouxe ou já está trazendo todo mundo de volta!

Foi uma comemoração geral. As princesas gritaram e se abraçaram. Até Hordak sorriu, pois o retorno de Adora poderia resolver sua situação. Ou talvez não, pensou, vendo Micah olhar para ele.

Bruscamente, Entrapta virou seu rosto, obrigando-o a encará-la. Estava séria:

—Esse hematoma não foi causado pelas plantas. Quem fez isso com você? — perguntou alto.

As princesas pararam de comemorar. Hordak sentiu o peso de todos aqueles olhos voltados para ele.

“Elimine a sombra... elimine a sombra...”

Em vez de responder, virou o rosto. Entrapta franziu a testa, porém antes que pudesse insistir, Micah se aproximou:

— É um alívio ver você a salvo, Entrapta. Está machucada? Não sou She-Ra, mas consigo curar pequenos ferimentos.

—Eu estou ótima, não se preocupe! Enquanto vocês tentavam me salvar, consegui tirar umas amostras das folhas que me prenderam. Quando estudar suas células, posso descobrir o efeito da mágica sobre seres vi... — se tocou do silêncio à sua volta— Mas isso não vai interessar a vocês. Ah, quase esqueci: Micah, você poderia curar o Hordak? Como pode ver, ele está precisando muito.

Micah fechou a cara:

—Ele vai ficar bem, com algumas compressas. É mais do que merece — lançou um olhar para Perfuma.

Entrapta piscou, confusa e decepcionada; porém, antes que pudesse reclamar, viu Hordak ser puxado para trás. Cipós, mais finos do que os que haviam prendido Entrapta, afastaram o clone dela, ao mesmo tempo em que o imobilizavam. Ele nem tentou lutar. Estava cansado demais, e de que adiantaria? Olhou triste para Entrapta, rodeada de seus amigos rebeldes, sufocada pela princesa de Plumeria num abraço lacrimoso e aliviado. Era melhor assim.

—Me perdoa! Me perdoa, por favor! Prometo que nunca mais vou laçar nem amarrar você! Mesmo que fuja ou que saia vagando por aí! Eu juro! — Perfuma se esganiçava, sem sequer dar a Entrapta a chance de responder.

— Você... você já fazia isso com ela? — Micah perguntou, chocado. Não lhe escapou a troca de olhares culpados entre Mermista e Frosta, e notou pela cara de Netossa que ela também havia percebido.

Entrapta cobriu o rosto com a máscara. Seus cabelos agarraram Perfuma pelas pernas e braços, erguendo-a no ar. A princesa das flores gritou.

—Entrapta, não! — Netossa gritou —Perfuma não te prendeu de propósito!

A cientista virou-se e estendeu Perfuma na direção do grupo, usando-a como escudo:

— Sei que não foi de propósito! Eu a avisei que o excesso de magia misturado às emoções dela poderia causar efeitos colaterais, mas ela não quis me ouvir! Francamente, não sei pra que me querem na Rebelião, se não ligam pro meu trabalho! Nem mesmo quando falo devagar e uso palavras fáceis de entender vocês se interessam! Vocês não tem noção de como isso é frustrante!

Ofereceu Perfuma para Mermista. A sereia hesitou, depois apressou-se a pegar a amiga, que explodiu em soluços no seu ombro. Entrapta fez um “humpf!” de desprezo e virou-lhes as costas altivamente, como a princesa que ela era.

Para todos ali, a mensagem era clara: “Vocês duas se merecem!”

Hordak se conteve para não sorrir. Pelas caras daquelas princesas ridículas, era óbvio que a rejeição de Entrapta as machucava mais do que qualquer agressão. Teria rido, até, se não soubesse que ela precisava estar muito magoada para tomar uma atitude tão drástica.

Foi só aí que Entrapta reparou em Emily. Com um gemido angustiado, correu até a robô, que ainda se debatia, virada de lado. Não estava seriamente danificada, mas uma das pernas estava um pouco frouxa e o laser estava inutilizado. Entrapta cerrou os dentes por baixo da máscara. Alguém perguntou às suas costas se dava para consertar; em vez de responder, ela sacou seu famoso gravador. Desde a famigerada noite da caçada ao sinal da nave de Horde Prime, deixara de gravar suas experiências em público para não irritar os outros.

Agora não se importava mais:

—Gravando… 001, depois da derrota de Horde Prime. Hordak e meus amigos da Rebelião se uniram para me salvar da prisão criada acidentalmente por Perfuma. Eu estava feliz, achando que iam finalmente se entender, mas está claro agora que terei de escolher entre eles— suspirou — Ainda por cima, Perfuma destruiu o laser de Emily, por isso terei de libertar Hordak com outros métodos. Minhas serras não funcionaram bem com as folhas que me prenderam, mas não creio que os cipós tenham a mesma capacidade de regeneração. Vale a pena tentar!

—Uuugh! Exatamente o que a gente precisava — resmungou Mermista —A Princesa Nerd pirou de vez.

Netossa deu-lhe um tapa no braço:

— Às vezes não entendo como Sea Hawk aguenta você.

— Quer que eu reforce os cipós? — Perfuma cochichou para Micah, embora estivesse claramente relutante. O mago fez que não com a cabeça.

Estáticos, os membros da Rebelião observaram Entrapta se aproximar de Hordak, como se ela não tivesse mais ninguém no mundo. Frosta sentia o coração apertado. Por quê? Hordak não era boa pessoa. Fizera cara de satisfação quando Perfuma foi agarrada. Mas poderia culpá-lo? Perfuma enganara Entrapta e a pusera em perigo. Mermista montara uma armadilha para Hordak e o agredira, embora ele se recusasse a lutar. E agora Micah se recusava a curá-lo. Por mais que o rancor de seus amigos fosse justificado, vê-los agir assim lhe dava uma sensação estranha.

“Nunca tive boas relações com o povo de Etéria... ”

“…ninguém me ensinava nada de graça…”

“…pensei que vocês haviam roubado o que eu tinha de mais precioso…”

Entrapta sacou do bolso um conjunto de três serras giratórias pequenas. Continuava agindo como se não houvesse mais ninguém ali, além dela e de Hordak. Naquele exato momento, Frosta percebeu que tinha inveja da sua coragem.

As serrinhas começaram a girar.

—Não! — Hordak protestou.

Entrapta ergueu a máscara, surpresa. Por um instante, todos acharam que o ex-líder da Horda eteriana tinha medo de serrinhas.

—É inútil. A princesa Perfuma pode regenerar as plantas assim que você as cortar. Pode reforçá-las. E vão prender você por alta traição — ele indicou Micah e as princesas com a cabeça.

—Ótimo! —Entrapta botou a máscara de novo —Vamos ficar presos juntos, já que nada do que fizermos mudará a opinião deles! Perfuma acha que eu continuo a mesma. Ela e Mermista até pensaram que eu ia trocar de lado de novo, só porque me viram falando com você!

Olhares constrangidos trocados entre os membros do grupo de salvamento. Quanto a Hordak, este sentia como se houvesse levado outro soco na cara. Então era por isso que tratavam Entrapta daquele jeito? Por causa da sua ligação com ele? Eu devia tê-la expulsado da Zona do Medo, pensou, Devia tê-la devolvido às outras princesas... Uma voz mais racional lhe dizia que não teria feito diferença nenhuma, porém os pensamentos sombrios falavam mais alto, como uma nuvem negra sufocante.

—Não importa o que elas pensam de você— Micah disse bondosamente — Sei que não é verdade. Você agora é uma heroína. Sem a sua ajuda, Adora nunca teria conseguido salvar Glimmer...

— Elas já devem ter voltado pra ravina, junto com Bow, Catra, o gato dela e o cavalo- pássaro — Entrapta cortou-o, sem olhar para ele — Vocês deveriam estar com eles, agora.

—De jeito nenhum vamos deixar você aqui — Mermista retrucou com firmeza — Olha, Princesa Nerd...

—O nome dela é Entrapta! — Hordak se indignou.

—Não falei com você, voz de poço. Escute, Prin... Entrapta, quer mesmo ficar com esse destruidor de reinos só porque ele é bom com máquinas? Você merece coisa melhor.

Entrapta suspirou tão alto que puderam ouvir por trás da máscara. As bases de seu penteado se arrepiaram, indicando irritação. Porém sorria quando mostrou o rosto:

— Mereço mesmo! E Hordak é o melhor! Ele entende tudo o que eu falo. Não me dá apelidos, que nem você. Não me interrompe. Não reclama das minhas risadas nem das minhas piruetas, que Perfuma chama de “saracotear”. Eu sei que são irritantes, mas às vezes preciso fazê-las pra me sentir bem — explicou, com a voz triste — E ele já salvou minha vida, outras vezes. Esta foi a... — contou “dedos” com o cabelo —... terceira. Mas compreendo se não acreditarem em mim. Afinal, o meu forte é a tecnologia. (soluço). Não sou entendida em amizade, como vocês— sua voz se embargou e ela se virou de novo para Hordak.

“Foi você quem me ensinou o que é amizade!” ele teve vontade de gritar. Tentou soltar sua mão para enxugar as lágrimas que escorriam pelo rosto dela, mas os cipós apertavam demais e ele estava exausto. Esticou a cabeça, tentando alcançar Entrapta; por fim, baixou-a, gemendo baixinho. Ela enxugou seu rosto com o cabelo; só então, Hordak percebeu que também chorava. Felizmente, Entrapta havia parado bem na frente dele com o cabelo arrepiado, a fim de que não o vissem tão vulnerável.

Frosta, contudo, suspeitou. Não era difícil imaginar porque Entrapta estava escondendo Hordak daquele jeito, depois que ela o vira contorcer o rosto para não chorar. Foi a gota d’água:

— Eu acredito em você! — virou-se na direção dos outros quatro — Não esqueci o que Hordak fez. Mas boas ações não contam, também? Ele quase morreu salvando Entrapta! Podia ter se poupado de todo aquele trabalho matando Perfuma pra extinguir a mágica, mas não quis! Até Shadow Weaver vocês tratavam melhor, e ela não passava de uma vigarista interesseira!

Sem esperar resposta, criou um facão de gelo, tão grande e assustador que fez os outros recuarem. Por um instante, seu rosto se iluminou, espantada com a facilidade com que seus poderes fluíam agora; depois, fechou de novo a cara e caminhou até o casal:

—Você vai quebrar esses brinquedos. Deixe comigo.

Entrapta olhou para ela, depois trocou um olhar hesitante com Hordak. Ele fez que sim com a cabeça. Ela deu um passo para o lado; porém, antes que Frosta experimentasse a arma nova, os cipós se afrouxaram e sumiram chão adentro. Hordak caiu de joelhos, prontamente amparado por Entrapta. Ele não se importou.

Frosta sorriu agradecida para Perfuma, que ainda tinha a mão levantada.

—Então vamos ficar, tipo, de boa com isso? — Mermista resmungou, vencida.

Netossa deu de ombros:

—A gente já aceitou a Catra, que também é ruim, talvez pior do que Hordak. Adora, Bow e Glimmer gostam dela e ninguém os chama de traidores.

—Vamos esperar o retorno deles, então — disse Micah —Enquanto isso, vou curar esse… o Hordak — carrancudo, aproximou-se do casal.

Apoiado em Entrapta, o clone o deteve com um gesto:

— Obrigado. Como você disse, ficarei bem com umas compressas.

A risadinha debochada de Catra se fez ouvir:

— Até parece. Entrapta vai insistir, você vai recusar de novo e os três vão ficar nessa lenga-lenga até amanhã. Estou exausta, com fome e não dou a mínima se você está tentando manter o que sobrou da sua dignidade!

                                                              *                                          *                                      *

Um pouquinho antes…

"Começo a pensar se Hordak não sugeriu que eu subisse aqui para ficar livre de mim," pensava Sea Hawk "Devia ter trazido a minha luneta."

Estava farto de ficar em cima daquela árvore. A única coisa boa era que ele podia cantar à vontade, sem que ninguém o mandasse calar a boca; mas depois de um tempo, até cantar cansa quando não se tem mais nada para fazer. Ainda por cima, precisava ir ao banheiro. Franziu a testa: parecia ter visto qualquer coisa brilhar, não muito longe dali.

Poderia ser reflexo do sol... só que a luz do sol não é roxa. 

—Até que enfim! 

Praticamente escorregou árvore abaixo:

—Hordak! Frosta! Avistei um brilho rosa! A rainha Glimmer está de volta!

Foi recebido pelo bater de asas de alguns pássaros espantados e pelo olhar indiferente de uma espécie de marmota, que parecia muito interessada no ninho que ele derrubara na cabeça de Hordak. Do Hordak, mesmo, nem sombra. Nem da Frosta.

—Ué? Cadê todo mundo?


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Notas finais do capítulo

Foi o capítulo mais difícil de escrever desta fic, por diversas razões que não devem ser difíceis de adivinhar. Emoções e inseguranças afetam profundamente a magia, isso fica bem óbvio quando Adora não consegue se transformar na Ilha da Fera e nos últimos episódios. Netossa é a mais segura do bando, por isso teve menos dificuldade, e o Micah precisou lembrar das primeiras lições de escola.



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