Blindwood escrita por Taigo Leão


Capítulo 8
Estranho Infeliz


Notas iniciais do capítulo

Finalmente vou usar esse nome!!
Espero que gostem do capítulo.



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Elaine foi até o quarto de Agatha e após algumas batidas e alguns segundos de espera frente à porta, se convenceu de que não havia ninguém ali. Ela também foi até o quarto de Annabel, mas coincidentemente ninguém lhe atendeu novamente.
A mulher voltou para o seu quarto e quando estava quase fechando a porta, viu uma mão segurar a mesma pela lateral, impedindo seu fechamento. Elaine se assustou.
— Não se assuste. Veja, sou eu. Marco.
De início Elaine pensou que poderia ser a silhueta do andar abaixo ou talvez outra pessoa relacionada que o viu naquele lugar. Ela estava assustada e ficou mais tranquila quando percebeu que era seu conhecido, que não lhe traria mal algum. Pelo contrário, neste momento, Elaine agradeceu mentalmente por Marco estar em sua porta. Ela se sentia mais segura e calma agora.
— Você está bem? A tempo não lhe vejo. Se adaptou a este lugar? Me dê licença... – Marco entrou no quarto e se sentou na poltrona por convite da própria Elaine, que se sentou frente à ele.– estou aqui por dois motivos. Primeiro pelo trabalho do qual sou encarregado. Veja, a peça já chegou então Ivan fez o trabalho. Seu veículo já está em boas condições, mas existe algo aqui. Você já sabe, não é? Imagine que você dirija seu veículo tranquilamente pelas ruas. Você poderá bater em algo se for rápida e se for em uma velocidade mínima, é melhor ir andando, não concorda? Não pense que eu quero lhe dar regras sobre seu carro. Não! Isso nunca. Ele é seu e você sabe o que fazer. Estou apenas lhe orientando; dando uma dica. Algo que um... Amigo. Isso, algo que um amigo faz. Essa neblina é terrível, horrível para quem gosta de dirigir, mas com o tempo você se acostuma. E... veja! O vale não é tão grande, você pode atravessar as partes acessíveis andando tranquilamente. De toda forma, ele está estacionado no beco ao lado do trabalho de Sarah Bove. Fique tranquila, ninguém encostará um dedo nele. As chaves estão aqui, tome. Sobre o segundo motivo... Estou aqui para vê-la. Já são dois dias que não lhe vejo, você deve ter notado. Mas me conte, como foi a noite no Yoru?
— Yoru... Foi uma boa apresentação. Agatha realmente é uma grande compositora. Suas músicas são incríveis. Quando ela tocou Nostalgia Fúnebre... eu me senti realmente tocada por aquilo.
— Heh, heh... Eu conheço. Ela me mostrou essa música. Realmente, Agatha é ótima com suas melodias.
— No meio da apresentação, Sarah Bove foi embora dizendo que iria atrás de você e ao final da mesma, Agatha se reuniu a mim, mas um homem loiro apareceu e os dois foram embora juntos me largando naquele lugar.
— Oh, eu me sentia meio febril, então achei melhor não levantar da cama. Meu tio está mais tranquilo, obrigado, então permaneci em casa, com meu resquício temporário de paz. Sarah foi até lá, mas eu estava dormindo. Foi o que meu tio me disse. Ela entrou mas logo saiu. Hoje estou melhor.
— Marco. Você me disse que ajuda pessoas neste hotel. Agora estou aqui e lhe faço duas perguntas: você já foi até o terceiro andar? E... você conhece Maria?
Marco ficou em silêncio por alguns instantes, apertando parte de seu sobretudo.
— Veja, eu ajudo pessoas aqui sim. Eu também ajudo amigos. Você me pede respostas como uma pessoa do hotel ou como uma amiga? Como turista não poderia lhe falar, mas em valor a sua amizade comigo e seu apreço, responderei tudo que posso lhe dizer.– Ele começou a falar mais baixo a partir de agora.– o terceiro andar é um lugar... Curioso. Sim, usarei essa palavra. Veja, existem coisas lá que eu mesmo não conheço e pessoas que vão e voltam muitas vezes, mas elas não saem de lá. Você entende o que eu digo? Elas desaparecem de lá, mas não saem daquele andar. Elas não passam pela porta das escadas! O terceiro andar é como um mundo a parte. Lá você estará perdida, mas você se achará. Lá existem muitas pessoas, mas também não há ninguém. Os desalmados. Os perdidos. Os do outro lado. Lá é Blindwood... Você entende? – Marco se levantou.– me perdoe, eu não posso lhe falar mais do que lhe digo. Sei que é confuso. Sou seu amigo, Elaine, mas realmente preciso encerrar esse assunto aqui. Você precisa estar lá, apenas lá você conhecerá de verdade. Eu, aqui de fora, não posso contar mais do que já lhe disse. Mas agora me conte, você esteve lá?
Elaine sentia que podia confiar em Marco então disse tudo que lhe aconteceu. Desde o sonho, Luke (ela não disse seu nome) e até sobre as cartas (não disse o conteúdo). A outra parte que ela escondeu foi a silhueta que apareceu e lhe assustou. Marco manteve o silêncio e o olhar fixo no chão, como se estivesse desatento, mas ele prestava atenção em cada palavra e compreendia a situação.
— Então você conheceu alguém de lá... Sorte, você teve sorte! Se alguém de fora lhe acha naquele lugar... Você estaria perdida! Sim, eu não mentiria para você. Estou lhe contando tudo que posso, mesmo que eu não deva. Veja, aquele é um lugar perigoso. Eu o evito. Agora tenho medo de que você não consiga mais retornar para nós. Tome cuidado, Elaine Campbell, tome cuidado. Permaneça em segurança. Ao menos... Você conheceu um deles. Se ele lhe tratou bem... Bom, é isso que importa. Fique em segurança. Agora vamos ao segundo questionamento. Maria?... – Marco pensou por alguns instantes.– existe uma garota com este nome, mas quase nunca a vejo. Ela sempre está correndo pelos corredores. Ela vive aqui. Você a conhece? Não? Entendo. Você pode tentar falar com ela. Ela é uma criança bem calada e sempre foge das pessoas. Sabe, como uma criança... Agora eu preciso ir. Até mais, Elaine.
Marco saiu.
Elaine refletiu em tudo que escutou de Marco e nesse momento não conseguia nem ao menos se sentir feliz por ter seu veículo de volta. Essa notícia não lhe valia de nada agora. Nesse momento algo estava remoendo em sua mente. Era mais uma situação que lhe atormentava com muitas dúvidas que vinham atrás. Ela só tinha um jeito de avançar em busca de ao menos uma resposta. Ela foi até o terceiro andar novamente.
Elaine usou as escadas de emergência para voltar até aquele lugar. Em seu trajeto ela não viu uma única pessoa: nem em seu andar, nas escadas ou no terceiro, que ela entrou após usar sua chave. A porta estava fechada dessa vez. Elaine trancou a porta quando entrou e caminhou até o quarto de Luke tomando cuidado para não fazer barulho. Novamente ela havia esquecido seu celular, então caminhava enquanto seus olhos ainda se acostumavam com a escuridão.
Quando entrou no quarto, Luke ainda estava em pé frente a janela, dizendo algo em voz baixa para si mesmo como um mantra. Era o seu nome. Ele ainda se abraçava. Elaine se sentou em sua cama.
— Luke. Eu voltei.
— Elaine... Campbell. Você voltou mesmo... Encontrou o que procurava? .– ele ainda repetia seu nome para si.
— Sabe, eu encontrei algo. Não encontrei a mulher de meu sonho e nem Maria, mas encontrei algo peculiar. Encontrei cartas que a mulher de meu sonho mandava para Maria. Elas se conheciam.
— Ora... Nós nos conhecemos. Todos nós. Mas... Se as cartas eram para Maria, por quê elas estavam no 328?
— Eu não sei. Apenas estavam todas juntas dentro de uma gaveta. E... Algo entrou naquele quarto com passos pesados. Parou na entrada e logo foi embora. Eu me assustei. Na hora que ouvi os passos, senti que devia me esconder e o fiz.
— Ele te viu? Não? Fique tranquila. Você está em segurança agora.
— Quem é ele?
— Eu não sei quem você viu. Mas se ele não te viu, você está em segurança. Vocês de fora não deveriam estar aqui. Eles andam por aqui procurando por nós, já que alguns aparecem aqui mas logo somem enquanto outros aparecem em outros quartos. Você nunca sabe, eles também não sabem, então procuram por nós. Mas fique tranquila.
— Por quê se abraça? Está com frio? Sente fome?
— Frio? Como não sentir frio neste lugar? Veja seu casaco, você também está com frio! A fome... A fome dói! Possuo fome, sim. Mas não fome de alimentos. Não fome de coisas físicas como você tem. Algo aqui dentro, não sei o que ao certo, clama por isso. Possuo fome de alguém! Fome de companhia! Anseio por alguém que chame por meu nome. Eu quero uma companhia, quero alguém que fique comigo. Não quero mais me sentir sozinho. Aqui é escuro demais... Por quê você está aqui?
— Estou aqui porque quero entender.
— Mas o que você quer entender? Você não pertence a Blindwood. Você deveria fugir!
— Eu não posso. Agora que comecei, preciso terminar. Quero entender o que ocorre aqui. Agora tenho muito interesse sobre a situação deste andar. Luke, veja, estamos apenas eu e você aqui agora. Por favor, me conte... Eu preciso saber.
Luke manteve o silêncio por um minuto inteiro, ainda frente a janela. Ele se virou e começou a caminhar pelo quarto, se aproximando da porta e voltando para a janela. Ele parecia agoniado mas Elaine não conseguia compreender o motivo, parecia ser mais profundo do que ela poderia imaginar. Ele se sentou na outra ponta da cama, virado para frente e não para a jornalista.
— Veja Elaine... O que vou lhe contar é algo inimaginavelmente terrível! Algo ruim, ruim. Você pode não acreditar em mim, mas lhe contarei mesmo assim. Peço que não me interrompa, eu não poderei manter a sinceridade e a coragem de lhe contar se você me interromper. Veja, tudo que lhe direi é a mais pura verdade e após escutá-la, você não poderá esquecer isso. Sim, esse é o seu destino. Você está aqui agora e também será assim com você. Mas um adentro: lhe contarei apenas sobre mim. O resto você poderá descobrir com o tempo. Não tenho permissão para lhe contar sobre outras pessoas, imagine só. Lembra-se das definições que lhe dei sobre mim em nosso primeiro encontro? Mas quero falar sobre apenas uma: os desalmados. Lembra-se disso? Sim, não tenho uma alma. Elaine Campbell, eu não tenho alma. Eu não sou nada. Eu não sou como você. Não possuo uma alma. Tudo que tenho é meu nome. Eu... Estou morto. Sim, não me olhe espantada! Essa é a verdade, estou morto! Não me recordo quando morri ou como aconteceu. Todas as minhas memórias são aqui dentro, neste lugar. Sinto que nasci um adulto neste andar e permanecerei aqui eternamente. Eu não posso sair deste andar, não posso. Algo me impede disso. Este é o meu mundo, este andar e o outro. Mas... Desculpe, você não sabe sobre o outro? Existe um outro lugar aqui, mas não é aqui. É exatamente como este lugar, mas não é aqui. É deveras perigoso. Eu vou para lá às vezes e às vezes permaneço aqui. Os outros também fazem isso, por isso aparecemos e desaparecemos. Seria esse o pós vida? Eu não sei. O que posso lhe dizer é que... Aquilo não é o céu. Poderia ser o inferno!, Este andar também é o inferno, mas é um lado mais pacífico dentro, por isso fico aqui. Você me compreende?
— Sim... Estou entendendo... Então isso é Blindwood?
— Blindwood é algo terrível! Você não entende. Não poderá entender. O vale é fechado para o mundo exterior. Somos um mundo a parte, somos um mundo próprio. Você que veio de fora não pode entender isso. Você pode tentar o quanto quiser, mas não conseguirá compreender essa complexidade, que também é algo simples. Algo que qualquer um aqui entende, mas não falarão a você. Você já deve ter percebido, não percebeu? Todos sabem. Até as crianças sabem. Você não pertence a esse lugar. Por quê você está aqui novamente? O que você faz aqui? Você precisa ir, precisa ir! Eles já devem saber que você está aqui.
— Eu quero lhe ajudar. Quero fazer o possível. Eu estou aqui para isso. Não apenas para tentar entender, mas se eu estiver no meio de algo, quero ajudar. Se a corda está passando pelas minhas mãos eu quero ajudar a puxá-la.
— Pois então puxe! Puxe essa corda! Você pode puxá-la, ninguém lhe impedirá de fazer isso. Mas saiba de algo, você precisa saber: essa corda pode estar envolta do seu próprio pescoço, você precisa estar ciente disso.
Passos pesados foram escutados no corredor do andar, eles estavam longe mas vinham se aproximando.
— Oh não, é ele! Ele está aqui. Se esconda, Elaine. Salve sua vida!
— Quem é ele?
— O Ceifador.
Elaine não tinha onde se esconder. Não havia um guarda-roupa ali. Tudo que havia era a cama suja, mas não havia um pano na mesma, então mesmo que ficasse embaixo dela, qualquer um que entrasse poderia lhe ver. Luke desapareceu de repente como se nunca estivesse ali no mesmo instante em que a porta se abriu. Elaine fechou os olhos com força.
— O que faz aqui? Não lhe disseram para ficar longe deste andar?
Elaine reconheceu a voz e abriu os olhos. Ela já havia escutado aquela voz uma vez antes. Sim, uma única vez, mas já vira aquela pessoa outrora. Era o homem bonito de terno branco e louro. Era o homem misterioso que desaparecia às vezes; era o amigo de Agatha.
— Ora, o que você faz aqui?
— Eu não acabei de lhe perguntar isso? Vamos, saia. Este andar está proibido até segunda ordem. No lugar de onde você veio não escutavam regras?
— A porta estava aberta então eu entrei.
— Que seja, agora saia daqui. Volte para o seu andar.
O homem acompanhou Elaine até o quarto andar do hotel sem dizer uma única palavra e trancou a porta do terceiro andar quando passaram pela mesma. Quando chegaram no andar de Elaine ele disse a ela que o terceiro estava fechado pelo mofo e para reforma, por isso não havia luz, e pediu severamente para ela não ir mais até aquele lugar, pois era perigoso já que não havia como enxergar. Na verdade ele disse que não queria mais ver Elaine naquele lugar. Ele pegou o elevador e Elaine entrou em seu quarto, mas assim que ela trancou a porta, escutou batidas na mesma e após olhar no olho mágico e não ver ninguém, pensou que estava louca, mas logo escutou as batidas novamente e abriu a porta.
Era uma garota de cabelos escuros com um vestido azul. Elaine já viu aquela garota antes.

A garota estava sentada frente Elaine, no pequeno sofá ao lado da mesa de centro. Ela apoiava seus braços no pequeno sofá e balançava suas pernas no ar olhando para os lados como uma criança comum. Elaine olhava fixamente para a garota se perguntando por quê aquela menina estava ali agora.
— Hmm, você chegou aqui agora, não é? Qual o seu nome?
— Eu me chamo Elaine Campbell. E você, pequena?
— Eu gostei do seu quarto! É animado, acolhedor. Dá pra sentir que alguém vive aqui.
A pequena viu o celular de Elaine embaixo da mesa de centro e o pegou, colocando em cima da mesa. Elaine se surpreendeu e agradeceu a garota; ela não tinha visto que ele estava ali. Finalmente havia encontrado o seu celular, mas ainda estava sem sinal.
— Elaine... Elaine Campbell.– a pequena franziu o cenho como se estranhasse aquele nome.– eu queria te conhecer. Por isso estou aqui agora. Você conheceu Luke, não é? Ele é uma boa pessoa.
— Sim, realmente. Mas fomos interrompidos e tive que voltar para cá.
A pequena deu risada.
— Ora, eles te acharam lá?! Ele desapareceu na mesma hora, não foi? E imagino que te trouxeram até aqui, não foi? Você se sentiu como uma criança ficando de castigo. Ha ha ha, uma adulta como você em uma situação como essas! Eu não esperava por isso.
— Por quê você me trancou lá?
— Eu...?
— Não finja que não sabe do que estou falando. Estava escuro mas eu sei que foi você.
— Está bem, está bem... Eu... Não foi por mal. Você teve um sonho, não teve? Por isso você foi até aquele lugar. Você precisava ver! E não diga que eu fiz uma maldade! Deixei a chave para você. Você encontrou, não foi? Estou vendo em cima de seu divã. São as cartas.
— Como você sabe sobre meus sonhos? E por quê eu precisava ver essas cartas?
— Ora, você precisava ver por conta de seu sonho! Apenas isso. Ela queria que você soubesse. Agora você entende um pouco sobre ela...
A pequena olhou para o chão, seu cenho pareceu triste por um instante, mas logo ela sorriu e olhou para Elaine novamente.
— Você não pode esperar que tudo caia em seu colo nesse lugar. Você quer respostas e precisa ir atrás delas. Eu posso lhe dar um empurrãozinho vez ou outra, mas você precisa buscar por si mesma.
— E você está aqui agora para falar sobre ela?
— Podemos falar sobre isso! Eu queria te ver, na verdade. Eu já tinha te visto antes, mas queria dessa forma, como adultos. He he he, Queria conversar com você.
— Você pode aparecer aqui sempre que quiser.
— Irei aparecer! Você é uma jornalista, não é? Gostaria de saber como é.
— Como você sabe o que eu sou?
— Elaine... Vou te dar uma resposta agora, apenas uma, sobre uma situação. O nome dela é Helena! A mãe dela veio com ela para o vale quando ela era um pouco mais velha do que eu sou agora, mas a mãe voltou para o exterior e deixou ela aqui, aos cuidados do homem mal. Mas ele não era mal ainda! O homem mal cuidava dela e ela tinha uma vida como todos deste vale, mas as pessoas não aceitavam ela. Diziam que ela era diferente e defeituosa, por isso eles ignoravam ela. Até alguns mais velhos a tratavam dessa maneira. Sabe por quê? Porque ela não conseguia falar. Sim, ela não consegue falar como nós, mas o que isso muda? Ela não é como eu, você e todos eles? Na verdade não como todos eles... Ela era compreensível, eles não foram. Eles não tentaram entendê-la. Então o homem mal trancou-a no quarto e manteve lá, dizendo que era para o bem dela. No começo ele trazia comida e tentava conversar com ela. Ele sabia que ela conseguia escutar então lhe fazia perguntas que ela respondia balançando a cabeça, sabe? Coisas triviais, tentando se sentir melhor por deixá-la ali. Ele era gentil e lhe deu um caderno para escrever. Mas ele foi mudando. Parou de vir, não fazia mais perguntas. Ele a tratava como se fosse um animal, assim como todos os outros. E você acredita que quando soube que eu me comunicava com ela através de cartas ele arrancou o caderno dela? Você viu, ela escreveu sobre isso! No fim ela ficou sem alimentos e sem velas. Sem companhia, não tinha nem um pouco de luz. Ela não tinha mais nada. Ela morreu assim, esquecida no escuro.
— Por quê você parou de escrever para ela?
— Eu tive um motivo! Na verdade... eu escrevi para ela! Eu escrevi, juro! Mas minhas cartas não chegavam! Tínhamos nossa forma de comunicação. Eu colocava as cartas em um certo lugar e chegavam até ela. Ela fazia o mesmo e chegavam até mim. Mas minhas cartas pararam de chegar até ela, eu juro! Quando eu soube, quando consegui retornar, ela já estava morta.
— E quanto ao homem mal?
— Ah, ele morreu também. No incêndio.
— Você sabe sobre o incêndio?
Maria sorriu.


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