Capítulo 15 - Revelations

Acordei abruptamente, ofegando e suando muito; o pesadelo que tivera havia sido tão real.

Tom e Matthew estavam na porta da escola me esperando, sorrindo exageradamente e com roupas parecidíssimas com a do Alex em Laranja Mecânica¹.  Quando cheguei mais perto, eles sorriram ainda mais – se é que era possível – e então começaram a disparar contra mim, com duas espingardas velhas – que surgiram não sei de onde. Antes que eu pudesse ser acertada, acordei do pesadelo.

Tomei um banho rápido – ainda estava cedo – e depois coloquei minha regata do Grateful Dead e uma calça jeans. Fui para a cozinha – onde vovó Dul já estava fazendo waffles – e sentei para comer meu cereal, sem deixar de pensar em Tom e em Matthew por sequer um segundo. Vovó Dul me deu um beijo no rosto e ligou o rádio de pilha da cozinha;  logo ouvi a voz melodiosa de Johnny Rivers – seu cantor favorito – cantando “Do you wanna dance?”.

- Você está bem Liz? – questionou vovô J entrando na cozinha todo sorridente e sentando ao meu lado para comer seus waffles – Está com cara de irritada; vai acabar formando rugas nesse seu rostinho lindo. – passou a mão no ponto da minha testa que estava sendo contraído, no que eu relaxei.

- Só um pouco... preocupada – o telefone tocou na sala e vovó Dul foi atender – Mas mudando de assunto, recebi uma carta de meus pais!

- É mesmo? – perguntou interessado – E o que eles dizem?

- Nada de muito interessante – dei de ombros – Estão contentes porque conseguiram exterminar uma família de fantasmas de uma casa velha, e vão ter de sair do Alabama por causa da polícia, mas isso são coisas rotineiras. Disseram que talvez a próxima carta venha do Maine e que eles sentem nossa falta.

- Também sinto a falta deles – disse pensativo – Mas eles não mencionaram o Benjamim na carta?

- Nada – disse olhando surpresa para ele – Desde quando você o conhece? – qual é, até meu avó conhece caçadores?!

- Ele era o melhor amigo do seu pai, oras. Quem você acha que o levou pra esse caminho? – disse e foi colocar o prato sujo na pia – Você não vai pra escola? Vai acabar se atrasando – colocou sua jaqueta jeans favorita e foi para o andar superior, falando qualquer coisa sobre buscar uma chave.

- Querida – começou vovó Dul voltando da sala – Era Tom ao telefone, disse pra você ir com seu avô, porque ele teve de ir um pouco mais cedo. Também disse que não vê  hora de te encontrar, acho que você arranjou um namorado, Liz! – falou rindo, mas logo voltou a cantarolar Johnny Rivers, se esquecendo totalmente da minha presença.

Existem três possibilidades para Tom não ter me esperado:

1-       Matthew contou tudo, e Tom nunca mais olhará na minha cara, com o bônus de que ele ainda contará pra escola inteira (a que eu acho mais plausível)

2-       Ele aceitou de boa e deve ter chego mais cedo somente porque tinha de pegar/devolver algo na biblioteca (como é bom sonhar!)

3-       Ele brigou com Matthew por tudo o que ele disse (se ele disse) e agora quer tirar satisfações comigo quando me encontrar ( o que não deixa de ser provável, mas não condescende com Tom)

E a única razão de eu estar pensando essas bobeiras, é porque estou muito nervosa e ansiosa. Que merda terá acontecido com Matthew?

- Então você vai comigo huh! – Vovô J bateu na minha testa (surgiu de não sei onde) acabando com meus devaneios e me forçando a pegar minha mochila – Temos de pensar em comprar algum carro para você me bem, não podemos ficar à mercê do Tom – disse enquanto caminhávamos em direção da garagem.

- Mamãe e Papai mandaram algum dinheiro junto da carta, acho que dará pra comprar algum carro usado ou coisa assim – falei sem vontade – Matthew disse que ia me ajudar.

- Que saco, eu que queria te dar o carro – disse desanimado enquanto dava ré para sair da garagem – Que seja, terei de me contentar a te ajudar na reforma do carro que escolher, se você quiser é claro.

Assenti com a cabeça enquanto ele guiava em direção da escola.  O caminho foi feito em silêncio, ou quase isso. Vovô J colocou sua coletânea de Johnny Cash para tocar – ainda um pouco irritado– e foi sussurrando as canções por todo o trajeto.

Começo a achar que a minha família tem algum tipo de tara pelo nome Johnny, não é possível! Meu pai é Johnny, meu avô é Johnny, o cantor favorito da vovó é Johnny (Rivers), o de vovô é Johnny também (Cash) e sem contar que minha mãe ama o Johnny Depp e meu pai assiste até hoje Johnny Bravo. Acho que sou a única da família que não tem esse problema.

- Tchau meu bem – disse vovô J parando em frente à escola, já um pouco mais calmo - Tenha um bom dia! – disse enquanto eu saia do carro, no que ele tratou de voltar para o trânsito da via escolar.

Fui em direção à entrada – ainda um pouco temerosa ao ver todas aquelas pessoas extravagantes que falavam alto – e vi Matthew e Tom me esperando na porta e sorrindo, exatamente no mesmo local que estavam no meu sonho, mas sem as roupas estranhas. Estanquei a uns 300m deles, surpresa com a coincidência, mas eles começaram a vir na minha direção.

O sinal para entrar soou, e enquanto todos entravam correndo na escola, eu recuava dos dois garotos. Sabia que se Tom quisesse fazer algo comigo eu (com toda a certeza) daria conta do recado; mas Matthew já é uma outra história, visto que estamos praticamente em pé de igualdade no quesito luta.

- Liz – Tom disse – vem logo aqui, só queremos conversar!

Cheguei perto dele – ainda desconfiada – e então Matthew recuou um pouco. De repente, quando eu estava quase encostando em Tom, ele levantou o braço, fechou o punho e desferiu um soco na minha direção, mas eu desviei facilmente.

- Mas o quê?! – exclamei surpresa.

Ele não parou de investir, alternando entre socos e chutes que não possuíam técnica alguma, tanto que eu desviava de todos sem fazer esforço algum. Já estava cansada de todo aquele joguinho, então no momento em que ele tentou me dar uma rasteira, desviei e segurei sua perna, fazendo com que ele caísse; e logo posicionei meu pé em seu pescoço, apertando levemente com a bota, o que o fez sufocar um pouco, mas logo tirei o pé do local.

Ele levantou do chão engasgando bastante e sorvando o ar em lufadas, enquanto que Matthew – que havia sentado no chão – rolava de rir.

- Qual é o problema de vocês? – questionei indignada.

- Relaxa Elizabeth – Matthew respondeu, se recuperando lentamente do ataque de risos – Ele só estava tentando confirmar tudo o que eu disse, com um método muito estúpido, diga-se de passagem.

- Como você pôde bater no seu melhor amigo? – Tom disse fingindo indignação, o que não deu muito certo porque a sua voz estava estrangulada, devido ao ocorrido de antes.

- Você quem veio pra cima – disse tentando me esquivar.

- Então é tudo verdade mesmo, certo? Vocês são caçadores “aposentados”. Isso é tão legal! – ele disse, ainda com a voz estranha e com os olhos brilhando de excitação.

Eu já tinha certeza de que Tom tinha sérios problemas mentais, mas agora ele passou dos limites. LEGAL? LEGAL? Legal vai ser o manicômio em que eu vou interná-lo.

- Como você pode ver- Matthew começou – ele aceitou tudo o que eu disse muito bem, mas quis testar conosco – sorriu maldosamente e apontou para a perna esquerda de Tom (que estava  com um roxo enorme) e para o pescoço, que agora estava com uma coloração vermelha onde eu pressionara com a bota – para saber se realmente sabemos lutar.

- Sabe, você bate mais forte do que ele Liz! – Tom disse sorrindo lindamente.

Comecei a rir – mais por estar aliviada do que pelo comentário – no que Matthew expressou sua indignação batendo fortemente na cabeça de Tom.

- Quando vocês vão me ensinar a lutar e caçar como vocês? – Tom questionou esfregando a cabeça.

- Como assim te ensinar? Você só pode estar brincando!

- Mas Liz, eu posso ser muito útil combatendo o mal – disse e parecia um nerd aficionado por algo – Imagine só, um vidente, uma gatinha e... Matthew, combatendo o mal do mundo. Seríamos o trio de caçadores mais famosos do mundo!

- Como é bom sonhar hein cara. – Matthew debochou – Mas você só se esqueceu de que não fazemos mais isso, sua anta.

- Vocês vão voltar, tenho certeza disso – disse maliciosamente – Tive uma visão com algumas pessoas daqui da cidade morrendo, mas não sei o que as matou. A quantidade de sangue derramado foi tão grade, que foi possível desenhar um pentagrama de sangue no chão. Sei que será no futuro e que nós três estávamos lutando contra algo; logo eu terei de ser treinado – finalizou sorrindo.

- Ótimo - disse chateada - Tudo o que eu queria!

- Como você sabe o que é um pentagrama? – Matthew questionou, parecendo estar se lembrando de algo.

- Internet – Tom respondeu rápido – Vamos entrar para a segunda aula?

- Claro – Matthew respondeu ainda olhando desconfiadamente para Tom.

Entramos na escola e fomos à secretaria, onde Sam também estava, porque havia chegado atrasada. Dei oi para ela, que estranhou eu estar com aqueles dois, mas mesmo assim, estava excitada demais para contar as novidades.

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Como é fácil enganá-los, até o pior ator do mundo conseguiria esse feito.

Estou alcançando todos os meus objetivos e creio que não irei precisar de mais tempo para completar a missão. Tudo está saindo conforme o esperado; espero vê-lo logo senhor e mestre, quem sabe talvez daqui a alguma semanas. Até o próximo relatório.

Com todo respeito e adoração

Midgard