Karaoke Night escrita por Foster


Capítulo 1
One


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Essa é minha última contribuição para o Fevereiro Drastoria e já estou com saudades! A história foi levemente inspirada em acontecimentos verdadeiros (o que você faria se um cara cantasse uma música com seu nome em um Karaokê? É flerte ou não é?), mas com muita dose de fanficagem, evidentemente. Dito isso, mando um beijo pra red hood!!!
Espero que gostem dessa farofa hihihi



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— Eu já disse que não preciso, Daphne — repetiu Astoria, reunindo toda a paciência do mundo que tinha para não elevar o seu tom de voz, pois sabia que tal atitude poderia desencadear uma reação exagerada da irmã e ela não estava nem um pouco afim de brigar em plena sexta-feira.

— Você está tentando se convencer de que não precisa, Ast, mas eu sei que você precisa espairecer. Ninguém termina e fica de boa.

Eu fico, pensou Astoria. Não havia se passado nem dois dias desde que rompera com Terence Higgs, mas estava tão indiferente agora quanto no momento em que o dispensou. A relação já não fazia mais sentido, ainda mais com todas as tentativas de Terence em controlar o que ela vestia, comia e com quem saía. Dessa forma, não havia motivos para sofrer. Ela superara muito bem, obrigada.

Então, não, Astoria não precisava ir a um karaokê afogar as mágoas. Primeiro porque não existia mágoa e em segundo porque o local estaria extremamente cheio e ela só queria assistir à Orgulho e Preconceito tomando um bom vinho. Era uma pessoa prática: se a relação não tinha futuro, não havia motivo para guardar mágoas.

Daphne sendo Daphne, a parte dramática da dupla de irmãs, achou aquele plano muito depressivo e garantiu que aquela era uma suposta evidência clara de que Astoria estava sofrendo. Astoria, contudo, chamava aquele plano de paraíso, ainda mais considerando o inferno que passava às sextas-feiras com Terence que, quando não escolhia sair para alguma balada ou restaurante ridiculamente caro e de péssimo gosto, acabava se apossando de seu sofá assistindo futebol.

Orgulho e Preconceito com Colin Firth era a melhor pedida para curtir a paz de seu lar - Matthew Macfadyen que perdoasse Astoria, mas primeiros amores eram marcantes por um motivo – e ela não estava disposta a abrir mão de sua primeira sexta-feira de conforto em mais de um ano.

Todavia, Astoria seria cega se não notasse os olhos marejados e suplicantes da irmã. Ela sabia que a mais velha estava passando por um período difícil tentando superar seu ex-qualquer-coisa-exceto-namorado, Theodore Nott. Aquele era o quinto “término definitivo” dos dois e Astoria já tinha atendido a pelo menos três ligações bêbadas da irmã e revirado os olhos para umas oito indiretas publicadas no Twitter e nos stories do Instagram de Daphne.

Portanto, foi com muita dor no coração que Astoria enviou um “até breve” mental para Colin Firth, um tanto quanto frustrada por não poder rever a cena de Mr. Darcy saindo do lago naquela noite, e aceitou sair com a irmã. Daphne, ao ouvir a boa notícia, já parecia renovada, falando sobre horários, opções de looks e a possibilidade de beijar alguém e cantar um dueto romântico.

 ♪

Quem conhecesse Daphne Greengrass no dia a dia, vestida com Prada e Gucci dos pés à cabeça, e sendo uma advogada séria de renome, jamais a identificaria na loira descalça, descabelada e bêbada que cantava “The Last Time”, de Taylor Swift, no palco. Astoria se repreendeu por não ter levado seus air pods para evitar escutar a tortura. Não que Daphne cantasse mal, contudo nessa música em questão a irmã soava muito como um animal com dor, já que aquele era o hino oficial do luto sempre que sua relação iô-iô com Theodore, que já durava desde os tempos da escola, entrava em crise.

Se ao menos Daphne incorporasse o significado da letra e aquela realmente fosse a última vez, Astoria não teria problemas em ouvir a irmã cantar, mas ela conhecia todas as etapas e, se estivesse certa, no fim da noite, Daphne ligaria para Theodore completamente bêbada, o que poderia ocasionar em uma recaída ou só em uma vergonha magistral caso ele resolvesse deixá-la no gelo por mais um tempo antes de definitivamente voltarem.   

Por isso, já ciente de cada entonação que Daphne colocaria em todos os versos da música, Astoria se levantou e foi em direção ao bar, agradecendo por ter uma distração até a tortura terminar. Escolheu uma gin tônica e respirou aliviada ao ouvir as palmas quando “The Last Time” chegou ao fim. Pouco tempo depois, Daphne se juntou a ela com uma careta.

— Se você não subir logo no palco eu vou cantar The Last Time de novo.

— Pelo amor de Deus, não. Mas você vai junto comigo e vai jogar essa tristeza pra longe — gemeu Astoria, pegando a bebida e dirigindo-se até a mesa.

— Quem disse que eu estou triste? Estamos aqui pra animar você, caso tenha se esquecido.

Astoria rabiscou rapidamente “Wannabe” em um pedaço de papel e ergueu os olhos azuis para a irmã, arqueando a sobrancelha.

— Quantas vezes você me viu sofrer após terminar um relacionamento, Daph?

— Você é um poço de frieza — murmurou Daphne, pegando o papel da mão da irmã com um pouco mais de força e lendo a música escolhida. A loira sorriu, batendo palminhas. — Coloca o seu nome no papel, porque tenho a impressão de que o cara do karaokê vai me deixar de molho por algumas rodadas.

Astoria riu baixinho, porque de fato observou o responsável por organizar a ordem das músicas revirar os olhos algumas vezes enquanto Daphne concedia uma performance sofrida no palco. Ao assinar seu nome, ela caminhou até o homem baixinho, que a olhou com uma sobrancelha erguida ao perceber de qual mesa a mulher havia saído.

— Não vai ser nada sofrido, eu prometo.

— Pelo amor de Deus, tente convencer a sua amiga a só cantar coisas animadas pelo resto da noite — resmungou o homem, parecendo aliviado ao ler o nome da música escolhida.

Astoria piscou em concordância e sorriu, afastando-se para retornar para sua mesa. Contudo, não deixou de ficar intrigada ao ouvir os primeiros acordes de “My Way”.

Ela virou o tronco levemente e observou um homem alto e magro dirigir-se até o palco. Inconscientemente Astoria franziu o cenho. Nunca havia visto um cabelo loiro tão claro quanto o dele, portanto passou alguns instantes tentando descobrir se seus fios eram descoloridos ou não.

Então, quando ele subiu ao palco e ficou de frente para ela, Astoria perdeu a linha de raciocínio. Pouco importava se o homem era ou não loiro natural. O fato é que ele era de tirar o fôlego. E estava olhando diretamente para ela.

Quando os primeiros acordes tocaram, Astoria desviou os olhos das orbes acinzentadas do loiro e voltou para sua mesa como se não tivesse o encarado sem pudor algum. Sentindo-se subitamente constrangida, a morena sentou-se e olhou fixamente para o catálogo de músicas à sua frente.

— Ele vai cantar “My Way”? — questionou Daphne, indignada, enquanto roubava alguns goles do gin tônica de Astoria. —Detesto quem escolhe músicas difíceis em karaokês. Ou ele tem uma voz incrível e quer se exibir, ou é prepotente demais e não consegue admitir que, na verdade, nem é tão brilhante assim.

No fundo, Astoria sabia que se tratava de um pouco de dor de cotovelo de Daphne, mas não podia deixar de concordar um pouquinho com a irmã, ainda mais depois que erguera os olhos e observara o loiro ainda a encarando, sem precisar conferir as letras da música no telão quando o primeiro verso veio.

Daphne soltou um muxoxo e balançou a cabeça negativamente.

— Ok, ele pelo menos canta bem.

Astoria quase quis rebater dizendo que o loiro misterioso cantava mais do que bem, que cantava muito bem, contudo ela não tinha certeza se diria algo coerente. Ela nunca fora de ficar desconfortável diante do olhar de estranhos, mas não era imune a caras bonitos cantando com os olhos fixos nela.

O contato visual não durou muito, já que o loiro, após um pequeno deslize na letra, voltou os olhos para o telão e os manteve por lá até o final da música. Passado o choque da troca de olhares, Astoria se recompôs e seguiu o coro de aplausos. Ela até tentou checar discretamente se o loiro olharia novamente na direção dela, mas ele não o fez; apenas retornou para a mesa que ocupava com mais dois homens e uma mulher.

— Acho que já posso inscrever mais uma — opinou Daphne após algum tempo e Astoria percebeu que a irmã olhava a lista de músicas da Adele. Ela precisou segurar um gemido de terror.

— Hoje a intenção não é superar relacionamentos? Que tal ficarmos só nas músicas felizes?

— Achei que você não precisasse superar nada — rebateu a loira, arqueando as sobrancelhas. Astoria imitou o gesto.

— Você sabe muito bem que é você que precisa superar. E mais do que na hora, eu diria.

Daphne desviou os olhos da irmã e suspirou. Sem dizer uma palavra, levantou-se e foi até o bar. Pouco tempo depois, retornou com quatro doses de tequila. Astoria arregalou ligeiramente os olhos, já imaginando o rumo caótico que aquela noite teria. Talvez não fosse uma má ideia permitir que Daphne se esgoelasse com músicas tristes.

— Vamos, dois para cada antes de “Wannabe”.

— Daph...

— Astoria, é sexta-feira­, eu estou sofrendo por um idiota que eu já deveria ter dado um pé na bunda anos atrás e preciso de uma dose de coragem extra pra encarar o palco depois do showzinho do senhor exibido ali. Então é tudo ou nada — a loira agarrou um dos copinhos e o ergueu, virando-o. Ela fez uma careta, mas soltou um gritinho animado. Astoria riu de leve, sabendo que iria se arrepender caso mantivesse o ritmo de Daphne, mas pegou um copo e virou-o também.

Ao ouvirem o nome de Astoria ser chamado e os primeiros acordes de “Wannabe” tocarem, as duas irmãs pegaram as doses restantes e viraram em questão de segundos, praticamente correndo até o palco.

Nenhuma das duas eram cantoras promissoras, mas se havia algo que ambas sabiam entregar era uma excelente performance. Portanto, bastou apenas uma troca de olhares para que acordassem silenciosamente que incorporariam os passos que inventaram durante a infância.

Tentar reproduzir com fidelidade movimentos de dança e cantar “Wannabe” sem ficar sem ar era quase impossível, mas as duas não poderiam ter se divertido mais. Em determinado momento, outras mesas estavam fazendo coro para a música e ambas mais riam do que cantavam. De repente, eram crianças novamente e não havia homens idiotas e corações partidos.

Astoria gostava de ver a irmã assim, feliz e se divertindo. Há muito tempo que só a via estressada ou triste e, embora tenham sido bastante próximas, Astoria nunca sabia como de fato abordar o assunto. Da última vez que tentara alertar a irmã sobre o Nott acabara se excedendo na raiva e, pouco tempo depois, ficou sem saber onde enfiar a cara quando os dois voltaram. Era complicado ter que agir como a irmã mais velha, sendo que era a caçula. Felizmente, as coisas pareciam finalmente estar voltando aos eixos e, talvez, só talvez, existisse uma chance genuína de Daphne não voltar para Teodore Nott.

Ao fim da performance das irmãs, boa parte do bar aplaudiu com fervor e Daphne cochichou no ouvido da irmã:

— Viu? Muito mais aplaudidas que o exibido ali, para provar que performance conta muito mais do que uma boa voz.

Instantaneamente Astoria procurou o loiro misterioso, que a observava com um sorriso enigmático de canto. Ela franziu o cenho e arqueou levemente uma sobrancelha. Ele estava sorrindo para ela ou rindo dela? Astoria não saberia dizer. E, sinceramente, não se importava. Estava mais preocupada em conseguir pensar em um bom setlist para performar com a irmã e em quais drinks iriam pedir.

Alguns drinks mais tarde e pelo menos mais duas performances animadas depois – “Dancing Queen” e “You’re The One That I Want”, em homenagem a dois dos filmes musicais favoritos das duas -, Daphne e Astoria estavam quase sem voz, porque não bastava cantarem apenas suas músicas, tinham que fazer coro para todas as outras músicas.

Daphne estava desaparecida há alguns minutos e Astoria estava quase indo procurá-la quando a loira praticamente desabou em cima dela, rindo alto.

 — Ok, mudança de planos.

— Daph... O que você aprontou?

— A pergunta correta seria com quem — sorrindo maliciosamente, a loira indicou um homem alto que se dirigia até o palco. Ele fazia parte da mesa do loiro misterioso e, apesar de ter uma voz incrível, não escolhera músicas exibicionistas como o amigo. Astoria quase soltou um gritinho ao ver o homem piscar para a irmã, que respondeu enviando um beijo no ar.

— Em que momento isso aconteceu?

— Há uns... Cinco minutos? Nos topamos na fila do banheiro e eu disse que a mesa dele era uma mesa de gostosos.

 — Daphne! — Astoria riu alto, olhando para a tal mesa e percebendo que a irmã talvez estivesse com o julgamento um pouco afetado. O cara do palco, o loiro e a mulher poderiam, de fato, serem considerados “gostosos”, mas Astoria não tinha muita certeza quanto aos outros dois.

— Mas então eu disse que o fato dele ser o único que não se exibe com a voz incrível o tornava mais gostoso que todos ali.

Quando a irmã disse aquilo, Astoria não se controlou e começou a gargalhar. Não que Daphne estivesse errada, pois não estava – afinal, as luzes coloridas pareciam deixar a pele negra do homem reluzente, seu sorriso era de tirar o fôlego e sua atitude em cima do palco era hipnotizante. Astoria só não poderia deixar de se surpreender com a atitude da irmã, que agora havia levantado e estava na frente do palco, dançando ao som de “Are you gonna be my girl”, que o homem cantava com fervor.

Ao fim da música, o homem – que Astoria descobriu se chamar Blaise após sua mesa de amigos ovacioná-lo -, foi em direção à Daphne e, sem trocarem uma palavra, os dois se beijaram.

Percebendo que provavelmente passaria o resto da noite sozinha, Astoria foi em direção ao bar, tentando decidir se aquele seria seu último ou penúltimo drink, já que estava chegando em seu limite alcóolico.

Ela não compreendeu muito bem o nome e a música que foram chamados, mas percebeu que se tratava do loiro misterioso. Apesar de todos de sua mesa terem vozes muito bonitas, a dele se destacava pelo tom ligeiramente rouco. Astoria não conhecia a música e, apesar de achá-la interessante, não considerava que fosse uma boa escolha para se cantar em um karaokê. Até que ela ouviu algo que lhe chamou a atenção.

Astoria se virou lentamente, achando ter escutado mal. O nome "Astoria" não era tão comum assim e já era uma sorte tremenda ter dado título a uma música. Mesmo assim, ao se virar para o palco, viu o loiro tímido da voz poderosa com os olhos fixos sobre si enquanto cantava, proferindo seu nome no refrão com tal intensidade que a deixou sem ar. O loiro gostoso do karaokê estava cantando para ela.


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Notas finais do capítulo

O que acharam dessa primeira parte? Serão apenas duas, devo postar o próximo neste final de semana ainda. Espero que tenham gostado hihih Beijos ♥



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