Fênix escrita por Gabs


Capítulo 1
Capítulo 1




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Scorpius Malfoy estava prestes a completar 40 anos e por algum motivo a proximidade da data o fazia lembrar de Rose Weasley.

Sentado sozinho em seu escritório observava o jardim da sua mansão. Rose amava jardins. Amava todo o tipo de flores. Ele se recordava de como ela gostava de deitar nos jardins de Hogwarts nas noites de lua cheia e ficar admirando o céu, filosofando sobre o quanto somos pequenos diante da imensidão do universo.

Por que ele nunca tinha mostrado os jardins da Mansão para ela?

Por que ele nunca tinha mostrado a Mansão para ela?

Afastou esses questionamentos. Não havia porquê buscar respostas para coisas que já haviam passado.

Seu pai, Draco, odiava falar sobre o passado. Sobre a guerra bruxa, sobre seu tempo em Hogwarts. Scorpius destetava isso. O irônico é que finalmente estava começando a entender seu pai.

Na verdade, nos últimos anos ele percebeu que cada vez mais se tornava seus pais. Por vezes, se pegou com as mesmas manias de limpeza que outrora o fazia discutir com Astoria ou mesmo com o toque de mexer em um velho isqueiro como seu pai. Seriam esses hábitos consequência da saudade? Ou, talvez, quem sabe, seja uma prova de que todas as pessoas que passam na nossa vida deixam um pedaço delas na gente?

E se for o caso, o que Rose Weasley teria deixado nele? Além de arrependimentos.

Pensando bem, ele claramente se esforçava nas aulas de Hogwarts para chamar a atenção dela. Um plano que nunca deu certo, porque ela sempre fez questão de detestá-lo desde a primeira viagem de trem para Hogwarts.

Lembra-se perfeitamente de como foi até o vagão em que ela estava sentada e perguntou se podia sentar, Rose o encarou de cima a baixo e num tom muito petulante para uma criança de 11 anos disse: “Cabelos loiros, veste de primeira mão... você deve ser um Malfoy. Meu pai me falou sobre você, me mandou ficar longe” e fechou a porta na cara dele.

O irônico é que Scorpius, por algum motivo, sempre gostou de Rose.

A viu pela primeira vez quando foi comprar seus materiais escolares, ela tinha acabado de ganhar um gato de presente dos pais e parecia imensamente feliz, chegou a dar um grito de felicidade.

Durante os primeiros anos em Hogwarts, Rose agia como se odiasse Scorpius e ele acreditava plenamente que o único jeito de a conquistas seria mostrando que era inteligente. O tempo mostraria que aquela não tinha sido a tática certa, no entanto, hoje, com quase meio século de vida ele era considerado um dos homens mais inteligentes de sua geração e tudo isso tinha começado com ela.

...

Rose Weasley foi a primeira mulher que partiu o coração dele.

Alguns diriam que foi a única.

Lembra-se perfeitamente do dia em que deixou de acreditar no amor pela primeira vez.

Ele e Rose estavam “ficando” por três anos, desde que saíram de Hogwarts. No início não era nada sério, ficavam quando conseguiam folga do st. Mungus e do Ministério da Magia. Com o decorrer do tempo os encontros foram se tornando mais frequentes e estavam claramente apaixonados um pelo outro.

Porém, enquanto Scorpius aceitou esse fato de peito aberto, Rose se fechou com medo da intensidade dos sentimentos que tinha por ele. Rose pensava em como fugir daqueles sentimentos. Scorpius pensava em como pedi-la em namoro.

Se fechasse os olhos, mesmo anos depois, ele ainda podia ver o olhar assustado de Rose quando ele fez a proposta. Ainda podia sentir o coração trincando quando ela se vestia rapidamente dizendo que sentia muito, mas que ele tinha confundido as coisas. Horas depois ele bebia em um bar qualquer dizendo a si mesmo “confundido as coisas? Eu? Ela que está fugindo das coisas”.

Por muitos anos ele desistiu de confiar nas mulheres, até conhecer Yvonne Asimov. Uma bruxa russa, elegante, inteligente e linda que conheceu durante suas férias. Ela era direta, não fazia joguinhos, dizia o que sentia, o que a incomodava, o que a agradava e Scorpius ficou encantado, por um longo tempo achou que estava apaixonado. Os dois se casaram em Londres, em uma grande festa na Mansão Malfoy.

Os dois primeiros anos de casamento foram perfeitos... até o dia em que ele reencontrou Rose. Foi em um dia qualquer de um mês qualquer, completamente ao acaso, os dois andavam na Londres trouxa.

Ele tinha ido pegar um café perto do trabalho ela corria para não chegar atrasada em um encontro às escuras. Eles se esbarraram no meio da calçada. Ela sorriu, como sempre sorria quando a via e ele ficou olhando-a bobamente com o coração descompassado vendo-a se afastar correndo mais uma vez.

Rose ligou pra Scorpius no dia seguinte. Ela dizia a si mesma que não era nada demais, que o descompassado em seu coração era nervosismo por encontrar um velho amigo, um velho conhecido, um quase ex-namorado. Mas, no fundo ela não conseguia tirar Scorpius da cabeça desde o “reencontro” no dia anterior.

Ele era casado. Não ia acontecer nada.

Três semanas depois se encontraram pela primeira vez em anos.

Scorpius dizia a si mesmo que tinha ido apenas para vê-la, para contar sobre a vida. Mas bastou dez minutos de conversava para começarem a se beijar e não pararam por alguns meses.

Rose odiava o papel de amante. Detestava não poder falar com ele quando bem entendesse ou que sempre se encontravam em horários aleatórios, em lugares estranhos, mas nunca pediu ou mesmo insinuou que o Malfoy devesse se divorciar.

Era arriscado remexer naqueles sentimentos que ela durou tanto para superar, no entanto, não conseguiu dizer “não” ou simplesmente terminar com aquela situação... Por pior que fosse o antes e o depois não havia nada melhor do que aqueles poucos momentos, em que os dois esqueciam todo o resto e preocupavam-se apenas em dar prazer um ao outro.

Scorpius sentia culpa. Odiava-se por enganar sua esposa. Odiava-se por não ter a força de terminar o casamento e sobretudo odiava-se por não ter a coragem para se declarar para Rose.

A verdade é que por mais que amasse Yvonne aqueles poucos momentos com Rose estavam sendo muito melhores que todos os anos de casamento. Yvonne era incrível, maravilhosa, era a mulher perfeita. Infelizmente, para os dois, Rose provoca um turbilhão de sentimentos em Scorpius, quando estavam juntos era como se o resto do mundo não existisse, eles se perdiam um no outro...

Ele achava que todos aqueles sentimentos, aquelas sensações que Rose tinha provocado anos antes estavam mortos e enterrados dentro de si, mas bastava um olhar, um sorriso e pronto todos renasciam, como uma fênix.

Talvez o amor entre Rose e Scorpius fosse isso. Uma Fênix. Algo que nunca morria, poderia eventualmente torna-se cinza, mas renasceria, imortal, eterna.

Yvonne soube, antes mesmo de saber, que seu marido a estava traindo. E sabia que era com ela. Ninguém mais seria capaz de fazê-lo trair.

Quando Scorpius chegou em casa após três turnos seguidos no St. Mungus as malas dela já estavam prontas. E ele odiou-se por ter partido o coração de uma mulher tão maravilhosa quanto Yvonne.

“Eu espero, de verdade, que você consiga a garota, Scorpius”.

Foi a última coisa que ela disse antes de sair da Mansão Malfoy e nunca mais voltar.

Mas, ele não ficou com a garota.

Lembrou-se de uma velha frase de seu pai: “Scorpius, não importa o que seja se algo começa errado não tem como terminar certo”.

E, não terminou certo. Ele tinha destruído seu casamento e na hora da raiva discutiu com Rose, de uma forma que nunca tinham discutido antes.

 Colocou a culpa nela.

Se ela não tivesse aparecido com aquele maldito sorriso encantador. Se ela não fosse tão... tão... tão Rose.

De repente todas as coisas não ditas do quase namoro dos dois voltaram. E eles disseram coisas que não deviam ser ditas para ninguém, magoaram-se profundamente.

“Não é porque eu estava confusa com meus sentimentos que eu não te amava, seu estúpido”

Foi a última coisa que Rose disse antes de ir embora.

Scorpius se remoeu por semanas pensando se devia ir atrás de Rose ou não. No fim, optou por não ir. Não tinha mais o que fazer. Não depois das coisas terríveis que tinham dito naquele dia.

Agora, décadas depois, Scorpius se perguntava se aquela tinha sido a decisão certa. Será se ele tivesse ido atrás de Rose hoje aquela Mansão estaria cheia de pequenos ruivos correndo de um lado para outro?

Afastou aqueles pensamentos.

Não importa mais, não mais.

...

Rose odiava ir ao médico. Principalmente por uma burrice dela. Que ideia estúpida. Jogar quadribol com os primos depois de tantos anos sem subir em uma vassoura. Era claro que aquilo não ia dar certo. E agora ela estava no St. Mungus esperando ser atendida, porque o babaca do James, apesar de ser um auror super renomado, tinha errado o feitiço de consertar braço e agora ela estava sem nenhum osso no braço esquerdo.

Com o passar dos anos a gente vai deixando de ter idade para certas coisas e jogar quadribol com os primos idiotas com certeza é uma dessas coisas.

Quando finalmente foi chamada para ser atendida pelo medibruxo de plantão ficou surpresa quando viu o nome dele na porta. Scorpius Malfoy.

Ela sabia que ele tinha envelhecido bem, o via as vezes em reportagens do Profeta Diário que ora mencionava sua vida filantrópica e ora mencionava sobre sua super badalada vida social, geralmente marcada por cantoras/modelos conhecidas.

O sorriso assim que o viu foi inevitável. Scorpius estava mil vezes melhor do que nas reportagens do Profeta. Tinha deixado uma barba crescer. Continuava com um corpo musculoso. Tinha marcas de riso no rosto. Os cabelos estavam curtos.

Os dois ficaram ali se avaliando por um bom tempo, até que ele notou o braço dela.

—Então você é a mulher com o braço gelatinoso – Scorpius comentou sorrindo – Isso é tão típico.

Rose se sentou enquanto Scorpius analisava cuidadosamente o braço dela.

Era estranho estar em um ambiente sozinha com ele.

Da última vez que o vira eles tinham tido a pior e mais violentar briga da história. Ela lembra-se o quanto tinha ficado magoada naquele dia. Scorpius tinha sido o único homem que tinha quebrado o coração dela.

Rose tinha finalmente conseguido arranjar coragem para pedi que ele largasse a esposa para que os dois ficassem juntos, como devia ser., mas a esposa dele já tinha terminado o casamento. Ele a culpava. A culpava por reaparecer na sua vida e depois a culpava por não ter amado ele quando os dois quase namoraram na juventude.

O tempo, porém, era algo engraçado. Apesar das coisas horrendas que tinham falado um para o outro na última vez que tinham se visto... ali estavam eles, agindo amistosamente, como se não fossem mais que velhos conhecidos da escola.

—Isso vai doer um pouco.

Disse Scorpius levantando-se e indo para o outro lado da sala. Rose notou que ele estava verificando um armário de poções.

—Não vai me dar uma poção, não é?

Ele gargalhou com uma poção nas mãos.

Enquanto acrescentava outros ingredientes na poção pré-pronta sorriu internamente questionando-se como podia lembrar detalhadamente todas as sardas das costas da ruiva e ter esquecido que ele tinha horror a poções.

—Merlim – comentou ela quando ele se aproximou novamente – essa é sua vingança, não é? Todos esses anos planejando e vai ser baixo usando uma poção?

Scorpius segurou o riso, o olhar de Rose era de total desespero.

—Rose – falou no tom mais doce que conseguia – você está sem nenhum osso no braço. Não tem feitiço para crescer osso. Só poção.

A ruiva assentiu com a cabeça. Nunca mais ela subiria em uma vassoura. Nunca mais.

—Quem está com você? Vou pedi para a enfermeira avisar a pessoa que você terá que dormir aqui.

—Por favor não.

Suplicou Rose.

Ela odiava hospitais. Odiava dormir em hospitais.

—Desculpa, Rose. Você só poderá ir para casa depois que o efeito da poção terminar. São as regras do hospital.

—James. Eu vim com James.

Após alguns minutos Scorpius informou que James Potter já tinha ido embora.

—É claro que o maldito foi embora. Mas, quando esse braço tiver bom ele vai ver o que vai acontecer com ele. Na hora de jogar o balanço em mim ele não pensou duas vezes.

—Bom, a culpa não é toda dele.

Rose deu uma olhada mortal em Scorpius.

—Nós não temos mais idade para subir em vassouras jogando quadribol, Weasley.

A ruiva sorriu.

—Merlim. Eu tinha esquecido o quanto você consegue soar petulante e mandão.

—Algumas coisas não mudam.

Scorpius retrucou sem conseguir deixar de encarar os olhos dela.

—Eu espero mesmo. Principalmente aquele seu lado quebrador de regras de Hogwarts, lembra? O que são as regras do St. Mungus para quem desafiou as regras de Minerva McGonnal?

O loiro riu.

—Eu não lembrava do seu terror por hospitais. Vai ser a mesma coisa que passar a noite na Enfermaria de Hogwarts, até mais animado depende do tour das enfermeiras.

—Quando minha mãe adoeceu... – Rose disse após algum tempo – meu pai... demorou um pouco para cair a ficha dele. Então Hugo e eu nos revessamos para passar o dia no hospital com ela. Desde então eu odeio hospitais.

Merlim. É claro. Como ele tinha sido estúpido. Hermione Granger Weasley tinha adoecido há anos.

—Como ela está agora?

—Bem. O pior já passou. Ela não corre mais risco de vida. Pelo não por causa de alguma doença.

Os dois se encaram por alguns minutos.

—Você quer ir para a minha casa? Quer dizer... – explicou ele com o olhar assustado de Rose – Para você não ter que passar a noite aqui no hospital. Tem vários quartos. Eu já te forcei a tomar uma poção, já te fiz relembrar um péssimo momento com sua mãe.... E, tem um lindo jardim.

Scorpius perguntou lembrando de como se arrependia de nunca ter levado ela lá.

— E as regras do hospital?

— Tecnicamente eu posso te deixar ir se você tiver um médico que se comprometa a ficar de olho em você em casa.

Rose ponderou por um tempo. Ela podia ligar para Dominique ou Fred II, que também eram medibruxos, no entanto, ao encarar os olhos cinzentos de Scorpius ela não tinha dúvidas que iria com ele para onde ele quisesse.

...

O primeiro lugar que Scorpius levou Rose assim que chegaram foi ao jardim. Ele sorriu encantado quando ela olhou admirada para todas as flores que tinham ali e como se revivesse uma memória antiga... ela deitou-se entre as tulipas observando a lua. A lua estava crescente e ele interpretou como se aquilo fosse o início de algo. Ou o reinicio. O renascimento da fênix.

...

Na manhã seguinte, Rose não pôde deixar de comentar em como a Mansão Malfoy era totalmente diferente do que ela imaginava.

—Esperava mais verde e cinza?

Perguntou ele divertido.

E os dois riram juntos.

Scorpius confessou que antes de Yvonne o verde predominava. Rose engoliu em seco quando o nome da ex-mulher dele foi mencionado. E de repente, ali estava o elefante branco em cima da mesa. No entanto, ao contrário da última vez, não houve gritos, não houve ofensas, não havia ressentimento deles. Os dois acertaram os ponteiros.

Ambos tinham errado, mas nenhum dos dois tinham se arrependido dos poucos momentos em que passavam juntos.

E sorriram juntos mais uma vez ao perceberem que daquela vez estavam na mesma página.


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