Confissão - JDD escrita por Leonardo Alexandre, Ash Albiorix


Capítulo 1
Capítulo Único - Confissão




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Sorte daquele homem que não havia mais ninguém na rua para vê-lo daquele jeito.

Imagine um ser gordinho de um metro e cinquenta e oito com uma franja ondulada cor de cobre caindo sobre seus pequenos olhos marrom-escuro, seu lábio inferior fino e róseo sendo nervosamente mastigado e as mãos, sim as duas, apertando o cabo do guarda-chuva lilás com muito mais força que o necessário.

Esse era Gabriel Costa (ou apenas Gabe, para os mais íntimos) caminhando sob a garoa que uma hora atrás era uma chuva que fazia parecer que o céu estava caindo. E, ok, ele já tinha quase o mesmo tom de um copo de leite em geral, mas naquele momento era seus pensamentos conturbados que o fazia ficar tão pálido.

“Será que ele vai querer a minha ajuda pra tomar um banho?” — perguntava a si mesmo, começando a ficar ofegante pela possibilidade.

“Não que passar sabonete nele pareça ser ruim. Nem um pouco ruim.” — o outro lado de sua mente respondeu, o fazendo sorrir por meio segundo antes de se repreender e balançar a cabeça.

“Droga. E se eu der banho nele, vou estar tirando proveito da situação? Como posso me forçar a não gostar disso?” — pensou sentindo a palma das mãos ficando meio úmidas de suor.

“Ok, Gabe, respira e relaxa. Seu melhor amigo tá precisando de você e você vai estar lá pra ajudar, só isso. Fica calmo!” — ordenou-se parando em frente à casa de muro laranja.

Laranja. Uma cor viva e alegre, além de bem chamativa em um bairro tão cheio de muros brancos, cinzas e azul bebê. E é claro que isso combinava demais com o homem que morava ali, o homem que fazia as pernas de Gabe tremerem e o coração acelerar desde que seus hormônios acordaram na adolescência. Aliás, Evan Collins conseguia fazê-lo sentir como se ainda fosse um adolescente.

No começo foi bem confuso se ver apaixonado pelo melhor amigo de uma forma física, depois percebeu que o amava desde que eram crianças construindo fortes de papelão e espadas com cabos velhos de vassoura. Agora aos vinte e dois anos ele sabia lidar bem melhor com seus sentimentos, disfarça-los com mais eficiência, mas eles ainda estavam ali e Gabe só podia torcer para não agir como o bobão apaixonado que era.

“Ele é só um amigo doente e você é só um amigo prestativo.” — disse a si mesmo com bastante ênfase na palavra “amigo”, respirando fundo e vestindo uma máscara de serenidade, só então erguendo a mão para tocar a campainha.

O primeiro som a sair do interfone foi uma tosse, depois a voz rouca de Evan. — Qual é a senha?

— Para de palhaçada, mané. tá vendo que sou eu pela câmera. — Gabe disse sorrindo e ao mesmo tempo revirando os olhos.

conhece as regras da casa, mocinho. Só entra com a senha. — incrível como dava para sentir o sorriso só pela voz de Evan Collins.

Gabriel bufou e revirou os olhos uma segunda vez, então retrucou. — Vida longa ao rei Evan. Tá feliz? Posso entrar agora?

— Você fica fofo tentando segurar o sorriso. — respondeu antes de apertar o botão para que o portão abrisse.

Enquanto entrava Gabe mentalmente amaldiçoava tanto sua pele muito branca quanto a mania de seu melhor amigo de dizer coisas que o faziam corar. E o pior é que nem havia tempo para voltar a sua palidez habitual já que Evan estava encostado ao batente da porta observando-o entrar no terreno.

Para disfarçar o quanto havia ficado mexido com o elogio, Gabe aproveitou que agora a chuva era só uma garoa fina para fechar o guarda-chuva e começar a dançar e cantar enquanto andava o caminho entre o portão e a varanda da casa.

— I'm singing in the rain, just singin' in the rain. What a glorious feeling, I'm happy again.

Evan riu e em seguida fez uma careta de dor e começou a tossir. — Para de fazer gracinha na chuva. Primeiro que foi assim que acabei gripado e segundo que eu não posso ficar rindo, a minha garganta tá doendo.

— Ah, mas isso é porque tem o sistema imunológico de uma pedra. Comigo não tem que se preocupar, amigo. — Gabe disse rindo e pendurando o guarda-chuva em uma cadeira de balanço na varanda. — E sobre a segunda parte, relaxa. Eu vou cuidar de ti e você vai ficar bom rapidinho.

— Tomara, amigo. Porque eu to só o pó. — respondeu, pigarreando em seguida. — Vem, vamos pro quarto. Eu quero voltar a deitar logo.

Enquanto entravam juntos Gabriel tentava não encarar o melhor amigo, mas era difícil. Evan não tinha mesmo jeito, naquele frio que castigava a cidade o garoto usava apenas um short de pijama nas cores da bandeira trans que já tinha há pelo menos um ano e meio, e esse detalhe fazia diferença por que foi mais ou menos nessa época que Evan começou a tomar testosterona e malhar, então as coxas estavam bem mais definidas e grossas enquanto o tecido continuava do mesmo tamanho, ou seja, aquelas pernas em um lindíssimo tom de marrom claro ficavam irresistivelmente destacadas.

Além disso os ombros dele estavam mais largos, os braços e o abdômen mais definidos, sua cintura parecia bem menos curvilínea e havia uma linha de pelos que começava bem fininha no meio da barriga e ia ficando mais grossa conforme passava pelo umbigo e sumia dentro do short. Tudo isso eram coisas que Gabe achava muito sexys em Evan, mas o que ele achava mais sensual era a cicatriz discreta da mastectomia. Não só por achá-la bonita, e sim por se lembrar exatamente da expressão de felicidade estampada no rosto dele após a cirurgia. Aquela cicatriz era muito Evan e quanto mais Evan qualquer coisa fosse mais atraente era para Gabe.

Finalmente chegando ao quarto, Evan logo voltou a se deitar na cama e se enrolar todo em um cobertor (parecia quase o cosplay de uma panqueca). Já Gabriel largou a mochila perto da porta e foi em direção ao guarda-roupa do outro lado do cômodo.

sabe que não deveria estar praticamente pelado com uma gripe dessas, né garoto? — perguntou revirando as roupas bagunçadas do melhor amigo.

— Dá nada não, já viu a grossura desse edredom? — Evan desdenhou com um sorriso e ainda emendou uma piada. — Fala a real, me quer de roupa pra não acabar de pau duro, né?

“Maldita pele pálida!” — gritou Gabriel em pensamento, se enfiando ainda mais dentro de toda aquela zona do guarda-roupa para se esconder do olhar do outro enquanto dizia — Para de falar merda.

Evan gargalhou por uns dez segundos e soltou um gemido sofrido antes de ter uma crise de tosse que soltou um muco esverdeado de sua garganta, o qual ele cuspiu no cestinho de lixo ao lado da cama.

— Melhor eu aceitar pelo menos uma camisa, no estado que eu to não dá nem de eu te dar uma mamadinha solidária se levantar o bichão aí. — concluiu depois de se recuperar, rindo de forma mais controlada dessa vez (mesmo assim sentindo dor na garganta).

— Pelo amor da Deusa, garoto. Tua mente é mais poluída que um filme do Transformers. — Gabe replicou, negando com a cabeça enquanto jogava uma camisa preta de manga cumprida e uma calça de moletom cinza para o amigo. — Pronto, pega.

sabe que eu to só brincando, meu príncipe dos cabelos de fogo. Apesar de eu achar fofo, precisa ficar zangadinho não. — respondeu já se desvencilhando do lençol para se vestir.

Gabe podia sentir o coração disparar dentro do peito e seu rosto queimar ainda mais de vergonha. Ele não sabia se achava pior quando Evan fazia piadinhas com teor sexual ou quando era fofinho dizendo coisas como essa.

Na verdade ele sabia sim o que achava pior: o fato de que amava demais da conta ambos esses lados de Evan.

— Eu não fico “zangadinho”. — mentiu descaradamente, se aproximando da cama e se sentando na beirada. — Você tem tomado remédio direitinho?

— Tenho. — o outro mentiu de volta, recebendo um olhar de desconfiança. — Ok, tinha poucos remédios, então ao invés de tomar de oito em oito horas, eu to economizando tomando de doze em doze.

— Ah, e assim vai adiantar de muita coisa, né gênio? — Gabe revirou os olhos e tocou-o na testa para ver se estava com febre. — Tá só um pouquinho quente, acho que baixa sozinha. Se aumentar te dou alguma coisa. A tia Beth não sabia que tava acabando os remédios?

— Acho que sim, ela que tava me dando antes de viajar. — Evan respondeu franzindo as sobrancelhas grossas e bem desenhadas. — Mas ela não passou nenhum protocolo pra mim não, só mandou continuar tomando. Eu que dei uma fracionada pra durar até ela voltar. Como não trampei essa semana porque tava arriado fiquei liso real.

— Tem essa não. conhecesse sua mãe, se ela não falou nada é porque já tinha alguma ideia pra resolver o problema. Será que a ideia era eu? Mas... A tia Beth não mandou nenhuma mensagem sobre remédio, só pediu pra eu cuidar do bebê dela até ela voltar. — disse mais para si que para Evan.

— “Bebê” humpf. — resmungou ele, cruzando os braços. — Vinte e três anos. Um metro e oitenta e cinco de altura.

— É um bebê fofinho. Agora shiu. — replicou Gabe sorrindo enquanto checava o quanto a garganta estava inflamada. — Até que não tá tão ruim, mas imagino que deva tá incomodando.

— Até anteontem eu mal tava conseguindo beber agua, já melhorou bastante. Mas não vou negar, ainda incomoda pra porra. — dito isso, o garoto juntou as mãos em frente ao queixo (coberto por pelos pretos de uma barba que ele adorava conseguir cultivar) e fez um biquinho lindo demais naqueles lábios grossos. — Principezinho lindo com cabelos de fogo...

— Já sei o que vai pedir, nem precisa puxar meu saco. Eu faço vitamina pra você.

Gabe havia visto em algum lugar que vitamina de morango com mel era bom para tratar garganta inflamada e, como Evan tinha um sistema imunológico ruim e ficava gripado com certa frequência, ele decidiu testar. Além de funcionar Evan adorava o sabor, então Gabe sempre fazia algumas para ele quando ficava doente. Essa tradição já durava quase oito anos.

— Obrigado, amigo. Por isso que eu te amo. — maldita frase que fazia o coração de Gabe disparar no peito toda santa vez.

— Por isso e muitas outras coisas, você quis dizer, né? — porém tratou logo de disfarçar, fingindo um tom convencido e inflando o peito.

— Pior que eu não posso nem negar. — Evan replicou rindo.

— É, eu sei. — respondeu sorrindo e levantando da cama — Vai escolhendo um filme aí enquanto vou bater sua vitamina, quando eu voltar a gente vê junto.

— Tá bom.

Gabriel saiu do quarto como se apenas estivesse sendo ágil e prático como sempre, mas só não queria ficar com aquela expressão abobalhada na frente de sua maior paixonite.

Claro que havia tido um ou outro romancezinho com outros garotos, afinal já tinha vinte e dois anos e não podia se manter preso a um amor que jamais passaria do nível “melhor amigo”. Mas nada foi forte o bastante para mudar o que sentia por Evan.

Como podia amar a mesma pessoa por quinze anos? Pior! Como podia amar a cada dia mais a mesma pessoa por quinze anos?

Aquelas reflexões não apagaram o sorriso bobo de seu rosto enquanto pegava o leite, o mel e os morangos guardados em lugares que ele já conhecia muito bem naquela cozinha. Ainda se lembrava da primeira vez que precisou pegar algo ali e ficou com vergonha. Evan não poupou a revirada de olhos ao dizer “Deixa de bobeira, menino. Você é meu melhor amigo, pode ficar à vontade. Oh, as tigela fica aqui e as colher aqui, na próxima já sabe” e lhe serviu cereal. Desde então os Collins eram como uma segunda família.

Elizabeth Collins era energética, prática e muito divertida, Gabe demorou pouquíssimo tempo para aprender a amá-la e começar a chamá-la de tia Beth (o que ela gostou, pois também adorava o garoto). Já Raymond Collins era um tanto mais contido e observador, mas sempre que soltava uma piadinha ou brincadeira eram perfeitas para o momento e faziam todos ao redor rir de gargalhar, o que logo lhe rendeu o status de tio Ray também.

Pena que nem sempre o sangue passa o caráter junto. O irmão mais velho de Evan, Axel, parecia fazer questão de ser antipático e rabugento, e assim que ficou maior de idade arranjou um emprego e saiu da casa dos pais sem fazer o menor esforço para manter um relacionamento próximo com a família. Gabe preferia nem lembrar da existência dele. Ao contrário da irmã mais nova, Ramona, que era lembrada com muitíssimo carinho apesar te ter morrido cedo, com oito anos apenas.

Um semblante de tristeza passou muito rápido no rosto de Gabriel ao pensar na menina, mas logo voltou a sorrir tendo em si a certeza de que ela partiu sabendo que era muito amada.

Finalizando a vitamina, o ruivo sacodiu a cabeça para tirar tudo isso da mente e foi pegar um copo com canudo para levar para Evan.

No quarto, o anfitrião gripado já havia escolhido um filme e estava só o esperando para apertar o play.

— Sério? Filme sem música? — Gabe desdenhou ao olhar para a tela da TV. — Viado, já foi melhor que isso.

Evan fez um falso riso em ironia e respondeu. — sabe que eu não me aguento e acabo cantando junto, mesmo quando não posso. Se for pra foder minha garganta hoje eu prefiro que seja de outro jeito.

Gabe se engasgou com nada ao ouvir isso, causando riso no outro garoto. Demorou uns instantes para se recuperar e conseguir tomar ar para responder, mas antes que tivesse tempo o som de um alarme o interrompeu.

— É o horário do teu remédio?

— É.

— Eu pego agua pra ti.

Às vezes Gabriel se perguntava se não mimava Evan demais quando ele ficava gripado, mas gostava de fazer todas essas coisas pelo melhor amigo, então apenas continuou.

Depois de entregar o copo e os comprimidos, sentou-se na cadeira da escrivaninha ao lado da cama e ficou arranhando sutil e nervosamente o tecido no interior do bolso do casaco. Enquanto tentava olhar só para a televisão, seus olhos insistiam em desviar para o amigo. Se ele já era lindo quando usava Black Power agora que estava com o cabelo raspado dos lados e atrás, e com dreads em cima parecia ter chegado ao ápice da perfeição.

— O que tá fazendo, mocinho? — Evan perguntou, como ele temia. — Você conhece os procedimentos para filmes por aqui.

— Isso é mesmo necessário? — Gabe indagou o que já sabia a resposta.

— Regras são regras, príncipe dos cabelos de fogo. Reclame com quem criou a tradição, não com quem segue a risca. — respondeu com um sorriso largo e muito lindo.

— Você que criou essa tradição. — replicou erguendo uma sobrancelha.

— Ah é. — a risada rouca soou pelo quarto, seguida de um pigarro. — Então não reclama com ninguém não. Só cala essa sua boquinha linda e segue o protocolo.

Gabriel revirou os olhos e levantou da cadeira, puxou o lençol de cima de Evan e deitou entre suas pernas (malditas pernas grossas e macias), então ajeitou o cobertor de forma a cobrir ambos deixando sua cabeça de fora.

Evan sorriu satisfeito e deu o play, em seguida largou o controle e embrenhou os dedos nos ondinhas lindas e cheirosas do cabelo ruivo do melhor amigo para fazer um cafuné. Essa era a sua parte favorita de ver filmes com ele.

Já para Gabe era uma mistura equilibrada e enlouquecedora de relaxante e estressante. Claro, quem não relaxa com um cafuné feito pelo amor da sua vida? Quem não fica nervoso com o toque do melhor amigo por quem é secretamente apaixonado?

Para sua sorte (e azar, pois estava gostoso), Evan parou em mais ou menos uns quarenta minutos, pois os remédios o deixaram com sono e ele acabou cochilando na metade do filme.

Gabe levantou com todo cuidado do mundo para não acordá-lo e foi pegar o notebook na mochila para dar uma adiantada num trabalho da faculdade até ouvir o silêncio na televisão quando o filme acabou, então se espreguiçou, coçou os olhos e fechou o notebook, colocando-o em cima da escrivaninha. Provavelmente Evan levantaria com fome, nesse caso era melhor ter algo pronto, por isso foi fazer uma sopa.

Não muito tempo depois que o ruivo foi para cozinha, Evan deu uma acordada bem de leve e logo teria virado para o outro lado e voltado a dormir se não tivesse sentido a falta de seu melhor amigo no quarto. Ao invés disso despertou de vez e percebeu o som distante de Gabriel cantando na cozinha, o qual decidiu seguir.

E lá estava ele de fone de ouvido todo concentrado em descascar alguns legumes.

— ... you with me in my heart, you make it easier when life gets hard, lucky I'm in love with my best friend, lucky to have been where I have been, lucky to be coming home again.
Ooooh... — cantava despretensiosamente.

— Gabriel Costa. — Evan disse bem baixinho, puxando uma cadeira devagar para sentar ali sem chamar atenção. — Você tinha que ser tão fofo? — perguntou sem esperar uma resposta enquanto apoiava o queixo na mão e cotovelo na mesa. — Até de costas é todo lindinho.

— ...Lucky we're in love in every way,  lucky to have stayed where we have stayed, lucky to be coming home someday. Ooh, ooh, ooh, ooh, ooAAAAAAA! — finalmente Gabe o notou ali e deu um grito de susto, fechando os olhos com força e colocando a mão sobre o peito para se recuperar, dando tempo para Evan mudar de posição. — Há quanto tempo tá aí?

— Não muito, infelizmente. — respondeu com um sorrisinho cheio de charme.

— Não sei porque você curte ficar me vendo cozinhar e cantar. — resmungou voltando a se virar para os legumes a fim de disfarçar a vermelhidão no rosto.

— Para de ser fofinho que paro de te olhar, é simples. — Evan disse como se não fosse nada de mais, fazendo-o corar ainda mais. — Mas e aí? tá fazendo o que?

— Sopa.

— Sopa. A tua é a única que eu gosto, sabia?

— Sabia. — Gabe sorriu convencido. — Isso é porque eu sou o mestre dos temperos.

— É, vou ter que concordar contigo. Ainda acho que devia trampar com alguma coisa relacionada a comida. — já era a provável milésima vez que Evan dizia aquilo só aquele ano.

— Eu vou repetir até entrar nessa sua cabeça dura: pra mim cozinhar é um prazer, não quero transformar em um trabalho. Vai tirar toda a magia. — murmurou sem parar de sorrir.

— Tu é muito besta, isso sim. Trabalhar com o que ama deve ser maneiro. — constatou, tamborilando a mesa com os polegares.

— Ah, eu não teria escolhido a minha facul sem gostar do negócio também, né? Mas são prazeres diferentes. — Gabe explicou, se virando para pegar algumas coisas no armário. — Você não devia estar deitado de repouso?

— Quer se livrar de mim fala logo, ruivinho. — Evan brincou, fazendo-o corar de novo.

— Não é isso, só me preocupo com você. Chato. — revirou os olhos, mas sorrindo.

Evan riu alto e tossiu outra vez. — Eu to em repouso tem dias, posso ficar meia horinha vendo meu melhor amigo lindo preparar uma sopa.

— Como queira, mas eu vou botar o fone de volta pra me concentrar. — Gabe informou dando de ombros.

— Por mim tudo bem.

— Beleza.

Então Evan ficou ali observando o ruivo cozinhar. Era difícil não sorrir demais, mas estava se esforçando. Claro, não demorava muito tempo para fazer uma sopa, porém o que durou valeu a pena olhar. Tão fofo.

Gabe serviu dois pratos com a sopa ainda bem quente e colocou em uma bandeja junto a dois copos de suco de limão, sem precisar chamar ou fazer qualquer sinal para ser seguido até o quarto.

— Você quer jogar algum jogo depois de comer? — perguntou Evan enquanto colocava um episódio de Brooklyn Nine-Nine na televisão.

— Claro, pode ser.

E foi isso o que acabaram fazendo. Evan tinha muitos jogos de tabuleiro em casa e Gabe adorava jogá-los, então os dois passaram várias horas entretidos com cartas e dados até que a noite caiu. Eles pediram pizza para jantar e deu outra vez o horário de Evan tomar os remédios que o deixavam sonolento. Acabou que ambos dormiram cedo, Evan pelos remédios e Gabe por Evan ter insistido em lhe fazer cafuné.

Pela manhã Gabriel foi o primeiro a acordar. Às vezes para o bem, as vezes para o mal, seu relógio biológico não era de falhar. Outra vez precisou se levantar com muito cuidado para não acordar o melhor amigo, em seguida não foi até mochila, e sim à sua parte no guarda-roupa de Evan (que era a única parte organizada), para pegar uma muda de roupa e ir tomar um banho.

A melhor parte de tomar banho ali era ficar coberto pelos cheiros de Evan, o shampoo que ele usava, o condicionador, o mesmo sabonete... É claro que era bem mais gostoso no corpo dele, mas ainda assim ficar com esses cheiros em si o deixava com um sorriso no rosto.

O dia não estava tão frio quanto o anterior, então Gabe vestiu só uma calça de moletom e uma regata sem um casaco por cima, penteou o cabelo deixando com o aspecto bagunçado e bonito de sempre, e foi para a cozinha preparar o café da manhã, dessa vez usando só um lado do fone de ouvido para não ser pego de surpresa outra vez.

Já estava quase terminando quando ouviu os passos de Evan se aproximando.

— Boa dia, belo adormecido. — desejou em voz bem alta e animada.

— Garoto, como tu fica tão pra cima de manhã cedo? — perguntou entrando na cozinha esfregando os olhos.

Gabe o encarou apenas por cinco segundos. Evan ficava tão sexy vestindo apenas a calça do pijama, deixando o abdômen completamente de fora com aquela linha de pelos parecendo formar um caminho para sua perdição. Era tentador demais para olhar por muito tempo.

— Quem garante que eu fico, reizinho do meu coração? — brincou sorrindo e tentando se concentrar só na frigideira. — Vai ver eu apenas adquiri a habilidade de fingir.

— Então ensina que de manhã eu to só o pó. — Evan respondeu puxando uma cadeira para sentar e observar.

— Não é algo que dá pra ensinar, gatinho. Sinto muito. — lamentou com uma expressão bem cínica de tristeza irônica.

— Putz, que pena. — imitou-o fazendo um biquinho, em seguida deu de ombros. — Um dia eu chego lá, vou dar uma praticada.

Gabe riu e disse. — Boa sorte.

Evan também riu, então o ajudou a por a mesa ao perceber que ele já havia acabado de cozinhar. Os dois continuaram brincando um com o outro enquanto tomavam café, depois Evan se ofereceu para lavar a louça, mas Gabe não deixou.

— Não vou insistir pra lavar louça porque não sou besta. Mas só pra deixar esclarecido, foi tu que disse “não”.

— Eu sei, garoto. Te preocupa não. — Gabe revirou os olhos e sorriu. — Já mandou uma mensagem pra Tia Beth hoje?

— Putz. Bem lembrado. — Evan respondeu cerrando os dentes. — Se ela perguntar, confirma que eu acabei de acordar.

Gabe riu negando com a cabeça. — Eu mentir pra Tia Beth? Me respeita, garoto.

— Porque você me odeia? — Evan fez um tom de drama, saindo da cozinha.

Depois de mais um riso Gabriel começou a tirar a louça suja da mesa para colocar na pia e foi nesse momento que a campainha tocou. Como sua casa não tinha um sistema de câmeras, Gabe foi direto para o portão verificar quem era.

— Axel? — perguntou retoricamente olhando para aquele embuste.

— Costa. — cumprimentou com um sorriso cínico. — Que desprazer revê-lo.

— Não tanto quanto o meu, pode ter certeza. — Gabe replicou, cruzando os braços. — Tá fazendo o que aqui?

— Mamãe me mandou aqui porque a Evie não passou dos sete anos e não sabe comprar a porra de um remédio sozinha. — a maçã pobre dos Collins respondeu erguendo uma sacolinha de farmácia que estava em sua mão.

— Esse não o nome dele. — praticamente rosnou, cerrando os punhos.

— Eu não ligo, só faz ela tomar. — resmungou, empurrando a sacola no peito de Gabe.

— Ele! — enfatizou irritado.

— Axel? — a voz surpresa de Evan soou as costas de Gabriel.

Fazia mais de dois anos, quase três, que não via seu irmão mais velho, então tê-lo parado em seu portão era um grande choque.

— Evelyn. — Axel pronunciou o que nunca deveria ser dito, seguido de algo ainda mais grosseiro. — O que fez com seu corpo?

— É Evan! — Gabe gritou vermelho de raiva, acertando os remédios com força no nariz de Axel e fazendo um filete de sangue escorrer. — Cai fora e leva essa merda com você! O Evan não precisa de nada que a sua energia ruim tenha tocado!

Sem dar qualquer espaço para resposta, fechou o portão com força na cara metida dele. Claro que não dava para ver com o portão fechado, mas tanto Gabriel quanto Evan conseguiam imaginar perfeitamente Axel ajeitando a gravata e empinando o queixo antes de sair dali.

“Não tem que me defender”, Evan disse em língua de sinais, sorrindo largo.

“Claro que tenho”, Gabe retrucou também usando as mãos.

“Sabe que tenho o dobro do seu tamanho?”, perguntou rindo.

“Foda-se. Eu te defendo até de quem tenha o triplo”, constatou, sorrindo também.

“É por isso que eu te amo.”

Involuntariamente o sorriso de Gabe foi diminuindo. Claro que era bom ouvir (ou ver, no caso) um “eu te amo” de quem mais amava no mundo, porém essa era uma frase que doía por saber que nunca se amariam do mesmo jeito.

— Ei, o que foi? — Evan percebeu e se aproximou para abraçá-lo. — O Axel é um idiota, eu não esperaria algo diferente dele.

— Eu sei, eu só... — Gabe suspirou fingindo ser de cansaço emocional (não de alívio por Evan ter lhe dado a desculpa perfeita). — é o cara mais incrível do mundo. Um babaca como aquele não devia nem chegar perto de ti com esses pensamentos tão atrasados e estúpidos.

— Puff. Relaxa, meu príncipe dos cabelos de fogo. Eu sou forte, aguento o embate com esse tipo de gente tosca. — respondeu, beijando os cabelos ruivos. — Mas valeu por tomar meu partido nessa intensidade. Tu é foda, eu te amo real.

— Sempre. é o meu melhor amigo. — murmurou, afundando o rosto no peitoral dele. — Eu to contigo, reizinho do meu coração. Mas enfim... Eu ainda tenho que terminar te lavar a louça e tals.

— Ah é. — Evan concordou, passando o braço por cima dos ombros dele para entrarem juntos. — E eu tenho que mandar mensagem pra mãe perguntando que ideia tosca foi essa de mandar o Axel pra cá.

— Pode crer. Ah! Quando eu terminar com a louça preciso ir à farmácia.

— Ou eu posso voltar a tomar remédio de doze em doze ao invés de oito em oito.

Gabe sorriu e revirou os olhos. — Ah, para de falar merda. Se eu to aqui, eu vou te cuidar direito, zé mané.

Evan riu daquela declaração agressiva de cuidado e preferiu concordar para não deixar o baixinho invocado.

Fora aquele momento desagradável com aquele Collins que só podia ter sido trocado na maternidade, o dia correu bem normal. Gabe deixou Evan bem alimentado, medicado e tentou convencê-lo a se manter agasalhado, mas só de birra o garoto tirou até a calça, ficando só com uma cueca boxer branca que fazia um contraste muito sensual com a pele negra.

Foi aí que a mente do ruivo quase entrou em colapso tentando decidir se ficava feliz ou amargamente arrependido de insistir tanto para Evan colocar um casaquinho ou ao menos uma camiseta.

— Não tem necessidade disso. — resmungou tentando não encarar as pernas grossas e definidas. — Põe a calça de volta.

— Não ponho. Isso é pra você aprender a parar de ser chato. — Evan disse maduramente dando língua.

— Só to cuidando de ti. que é chato. — retrucou dando língua também.

— E mesmo assim tu me ama. — constatou rindo de forma maldosa.

— Quem te garante? Lembra do que eu falei hoje cedo? Eu tenho a habilidade de fingir.

Evan ergueu o queixo e sorriu convencido. — Nem tenta fazer essa aí colar. Tu pode até saber fingir, mas ninguém ia fingir amor tão bem, príncipe dos cabelos de fogo. Confessa que tu me ama assim chato e teimoso mesmo.

— Confesso, confesso. Eu te amo, seu mané. — disse, dando um suspiro acompanhado de um sorriso tímido. — Tá feliz, reizinho? Era isso que queria ouvir?

— Pior que era. Só não desse jeito. — Evan admitiu, mordendo o lábio inferior com muita força logo em seguida.

— Que quer dizer com isso? — Gabe foi desfazendo o sorriso aos poucos ao perceber o nervosismo atípico.

— Eu queria que você fosse apaixonado por mim como eu sou louco por você. — disse quase em um sussurro, puxando a coragem bem do fundo do peito para por aquilo para fora.

— O... O que? — Gabe murmurou atônito.

— Ah, qual é, Gabriel? Vai se fazer de desentendido a essa altura da nossa amizade? — Evan desdenhou com um sorriso cínico para disfarçar sua ansiedade. — Eu flerto com você vinte e quatro por sete, cara.

— É, mas... faz isso desde que eu me entendo por gente. Achei que era só o seu jeito, não que era a fim de mim real oficial! — enfatizou ainda com a expressão de choque no rosto.

— Porque eu sou apaixonado por ti desde... Tipo assim, sempre. — replicou erguendo uma sobrancelha como se fosse óbvio (e de fato era). — Caralho, mano! Como que isso nunca te passou pela cabeça? Ontem mesmo eu tava com a maior cara de tonto te vendo cantar. E ali eu tava era me torturando porque queria você cantando exatamente aquilo pra mim. “Que sorte eu estar apaixonado pelo meu melhor amigo”.

— Tu vai me julgar mesmo, Evan? Sendo que tu não percebeu que eu também sou louco por ti. — Gabe se declarou com um sorriso se espalhando devagar pelo rosto.

— Não brinca comigo, garoto! — pediu, sentindo o coração disparar dentro do peito.

— Que brincar o que? Não sei nem como tu tá surpreso. — constatou dando uma risada. — Não é como se isso fosse bem um segredo. Eu tento muito disfarçar, mas dá pra ver a uns dez quilômetros de distância como eu fico bobo quando você me elogia ou faz piadinhas sexuais. Eu falto virar uma pimenta de tão vermelho.

— É, só que eu achava que isso era só o seu jeitinho tímido de ser. Eu sempre achei fofo e por isso continuei. Não achava que me via desse jeito. — confessou sorrindo. — Até porque você meio que é gay, né?

— “Meio que” não. Eu sou gay. E você é homem. — foi a vez de Gabe dizer o óbvio.

Foi a primeira vez na vida que Gabriel viu Evan Collins ficar corado.

— É. Claro. Eu sei disso. — respondeu todo acanhado. — É que me conheceu criança e a gente cresceu junto. Não é como se eu não tivesse cogitado a ideia, tu reage aos meus flertes. Mas como nunca retribuiu propriamente dito, eu não sabia se você conseguia me ver desse jeito.

— Evan, Evan, Evan. — murmurou negando com a cabeça e dando um dos sorrisos mais sinceros que já havia dado. — Eu lembro de quando pediu a primeira vez pra eu te chamar assim. Tínhamos dez anos e desde lá eu te vejo exatamente como tu é. Acho que via até antes, só não sabia seu nome. Eu seria apaixonado por você sem a barba, sem mastectomia, sem um pingo de testosterona no corpo. Aliás, eu não só seria como fui por muito anos. E eu continuei te amando conforme mudava. Isso porque eu não só te vejo, Evan. Eu te enxergo. E te amo exatamente por ser você. Tão você.

 — Porra, mano. Tu quer mesmo rasgar minha cara num sorriso é? — Evan reclamou em tom bem humorado, ficando ainda mais vermelho que antes.

— Não. Só quero que sabia o que eu sinto. Que eu sou louco por ti do jeitinho que você quer, reizinho do meu coração. — Gabriel sorria também, sentindo uma onda de calor e euforia exalar de seu coração.

— Se você é louco por mim e eu sou louco por você, só falta uma coisa. — dito isso, Evan saiu a cama e sem qualquer cerimônia sentou no colo do melhor amigo. — O beijo.

Gabriel mal teve tempo de ficar tímido, seus lábios logo foram cobertos pelos de Evan e assim ele soube que valeu muito a pena esperar tanto tempo. Aquele encaixe entre suas bocas parecia impecável, suas línguas se buscavam com a mesma gana sem se deixarem afobar, o que deu ao momento a intensidade perfeita. A forma como os dedos de Evan se embrenhavam em seu cabelo lhe causava arrepios e fazia seu coração acelerar, mas não mais que descer as mãos da cintura para as coxas dele e lembrar do detalhe que Evan estava só de cueca, se roçando em seu colo. Aí sim seu corpo pareceu querer entrar em combustão.

Porém, de tão envolvidos que estavam com esse beijo, ambos praticamente pularam de susto na cadeira quando um alarme soou, arrancando os dois daquele momento mágico.

— Acabei de perceber que eu gripado tava enfiando a língua na sua boca. — Evan disse, dando uma risadinha tímida (quem diria?) e saindo do colo do melhor amigo.

— Credo. — Gabe riu, sentindo o rosto muito corado. — Mas já disse que não tem que se preocupar com isso. Meu sistema imunológico dá uma surra no seu.

— Isso quer dizer que eu posso te beijar mais depois de tomar os remédios? — indagou, mordendo o lábio inferior.

— Se você fosse meu namorado não precisaria pedir. — murmurou sentindo o coração disparar no peito ao dizer aquilo em voz alta.

— Isso foi um pedido? — Evan sorriu o máximo que cabia em suas bochechas.

— Foi só... Uma constatação. — Gabe brincou, imaginando o quão vermelho seu rosto devia estar naquele momento.

— Aff. Tá bem, eu peço então. — revirou os olhos e sorriu, então se ajoelhou aos pés do melhor amigo e segurou ambas suas mãos. — Meu coração já é seu, eu não quero esperar mais pra te chamar de meu namorado. Quer me chamar assim também?

— Com certeza! — Gabriel nem tentou disfarçar a empolgação, envolveu os braços no pescoço de Evan e o beijou apaixonadamente por alguns segundos até lembrar. — Opa, os seus remédios. Vou pegar agua pra você.

— Obrigado por cuidar tão bem de mim. — Evan murmurou com os olhos brilhando ao encarar diretamente os dele.

— Pra que servem os melhores amigos e namorados? — Gabe respondeu sem dissipar a vermelhidão no rosto.

A parte engraçada sobre o fato de que agora Evan e Gabriel eram um casal oficial é que da primeira pessoa a quem contaram (Elizabeth Collins, é claro, não eram nem doidos de contar para outra pessoa antes dela) até a última reagiram da mesma forma, com frases como “Nossa, finalmente” ou “Já tava na hora, né?”. Pelo visto só aqueles dois tontos não haviam notado que eram loucos um pelo outro.

Quase três anos depois...

Gabriel tinha acabado de se formar na faculdade e os Collins se juntaram aos Costa para comemorar na lanchonete favorita do ruivo, que também era um karaokê. Todos estavam rindo e conversando, até que chegou a vez de Gabe cantar e as duas famílias começaram a assobiar e gritar “arrasa, seu lindo! Urruuuu”.

O microfone era sem fio, então ao invés de cantar no palco, Gabe foi andando com ele pelo salão, cantando e sendo seguido pelo holofote. — Do you hear me, I'm talking to you, across the water, across the deep blue ocean, under the open sky oh, my, baby, I'm trying. — ao chegar perto de Evan, estendeu sua mão o chamando para dançar, ao que ele aceitou com um sorriso enorme. — Boy, I hear you in my dreams, I feel you whisper across the sea, I keep you with me in my heart, you make it easier when life gets hard.

— Lucky I'm in love with my best friend. Lucky to have been where I have been. Lucky to be coming home again. Ooh. — o refrão os dois cantaram juntos, se olhando nos olhos e com a voz falhando um pouco por estarem dançando ao mesmo tempo.

— They don't know how long it takes. Waiting for a love like this. Every time we say goodbye. I wish we had one more kiss. I'll wait for you, I promise you, I will — Gabe continuou, fazendo Evan girar sob seu braço, o que ficou meio cômico já que seu namorado era bem mais alto que ele.

— Lucky I'm in love with my best friend. Lucky to have been where I have been. Lucky to be coming home again. Lucky we're in love in every way. Lucky to have stayed where we have stayed Lucky to be coming home someday. — de novo cantaram juntos, seus sorrisos exalavam amor e aqueciam os corações de todos que olhavam.

— And so I'm sailing through the sea. To an island where we'll meet. You'll hear the music, feel the air. I put a flower in your hair. — dessa vez foi Evan a cantar, fazendo o namorado girar e depois o puxou de costas para encostar em seu peito, balançando seus corpos juntinhos. — Though the breeze is through the trees. Move so pretty, you're all I see. As the world keep spinning round. You hold me right here, right now.

— Lucky I'm in love with my best friend. Lucky to have been where I have been. Lucky to be coming home again. Lucky we're in love in every way. Lucky to have stayed where we have stayed. Lucky to be coming home someday. — uniram as vozes pela terceira e última vez.

Ao invés dos dois terminarem com os últimos “ooooooh”, Gabe aproveitou que a plateia estava batendo palmas ritmadas e cantarolando para falar fora do microfone.

— Reizinho, eu não quero te constranger se quiser dizer não, então vou perguntar só pra ti antes de tirar a aliança do meu bolso e tornar isso público. Quer casar comigo?

— O que? Você escolheu fazer isso hoje, seu bobo? — Evan repreendeu sem conseguir esconder um sorriso radiante. — Esse dia é pra ser sobre você.

— É, e você é o amor da minha vida. — Gabe constatou, também sorrindo. — Só me diz “sim” ou “não” de uma vez, a música já tá quase acabando.

— Mais do que isso, seu doido! Eu digo “sim”, “com certeza”, “sem dúvida”, “é claro” e todos os sinônimos possíveis. Eu te amo!

— Eu também te amo. — Gabe respondeu tentando não chorar porque ainda tinha que fazer o pedido oficial, então se ajoelhou e trouxe o microfone para perto da boca outra vez. — Evan Collins, quer casar comigo?

A expressão de Evan já gritava sim, por isso mal deu de ouvir quando ele realmente disse já que não só os Collins e Costas começaram a aplaudir e assobiar, como todos os clientes ali na lanchonete, que logo em seguida começaram a fazer um corinho de “beija, beija, beija” quando Gabe tirou a aliança do bolso e colocou no dedo do, agora, noivo.

Ao selar esse momento com o tão pedido beijo, não era só mais um nem para Gabriel e muito menos para Evan. Aquele era o primeiro instante de todo um sempre que eles mal podiam esperar para viver juntos.


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