Por Você escrita por AnnaP


Capítulo 1
Capítulo Único




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Eu estava na sala de leitura com Angela e Jessica, minhas damas de companhia e amigas. Falávamos sobre a vida alheia enquanto esperávamos o dia passar para nos arrumarmos para o baile de outono que meus pais dariam no castelo. Meu guarda pessoal, Ben, bateu na porta e me estendeu um envelope. Dentro, um papel dobrado sem nada escrito.

— Vai, Bella. – Angela rolou os olhos. – Estaremos aqui.

As duas não me tratavam de forma pomposa quando não estávamos em público. As famílias delas eram leais a mim e minha família desde que nossos ancestrais nasceram, e eu confiava minha vida a elas. Éramos amigas e nos tratávamos como tais.

Guardei o papel no bolso do vestido e segui as curvas dos corredores do castelo até o cômodo que apenas duas pessoas tinham a chave. Tirei a minha do bolso e abri a porta. Edward estava apoiado na mesa à esquerda com as mãos do bolso, quando me viu entrar, abriu os braços. Eu me encaixei neles de bom agrado.

— Achei que estivesse se enfeitando para o baile. Rosalie e Jane, e suas irmãs, estão deixando todos de cabelo em pé do outro lado do jardim. – Arregalou os olhos fingindo estar assustado.

O outro lado do jardim era a propriedade da família de Edward. O Reino dos Cullens. Éramos divididos por bons hectares de terras, uma hora de viagem se você não soubesse os segredos da floresta divisória e escolhesse pegar a estrada. Dois reinos vizinhos que conseguiam viver em paz e harmonia.

— Seria a primeira vez. – Rolei os olhos para ele.

Eu sempre me misturei mais com os meninos, minha idade igualava mais com a deles, por isso tivemos uma educação parecida. Não era difícil fugir dos meus afazeres e me juntar aos deles, muito mais sujos e divertidos.

Sem contar que não me interessava ficar horas me arrumando, o rapaz que eu queria impressionar já me vira coberta de lama, descabelada, em situações nada atraentes. E, mesmo assim, estava aqui me puxando contra ele enquanto uma mão subia e descia nas minhas costas.

— Decidi tudo de antemão: o mesmo vestido de sempre, uma trança. Sabia que haveria outras coisas com o que me ocupar hoje. – Corri a mão pelo peito dele por cima da casaca e o beijei.

Eu tinha dezessete anos, ele tinha dezoito. Namorávamos em segredo desde os doze anos, com os moradores dos dois castelos que conviviam diariamente conosco fingindo não saberem de nada. Não podíamos namorar em público enquanto meu irmão mais velho, Emmett, não se casasse com a irmã mais velha de Edward, Rosalie, o que aconteceria em alguns meses. Eles eram os herdeiros direto das coroas dos dois reinos e deveriam se casar primeiro.

Essa regra era culpa de algum documento real arcaico do meu reino que ninguém conseguia derrubar. As pessoas até gostavam dele, concordavam que os primeiros filhos mereciam toda atenção e mimos possíveis. Os outros que esperassem sua vez. Meus pais amavam fazer as vontades dos súditos, mantinham algumas tradições apenas para deixá-los felizes.

Até um milagre acontecer, eu e Edward nos encontrávamos em nossa sala secreta, ou no meu quarto na madrugada. Esse segundo detalhe ninguém sabia, ou teriam nos parado há muito tempo.

— Eu imaginei que você fosse estar emburrada com os preparativos e vim te alegrar. – A intenção dele era me alegrar com palavras, mas os lábios dele passeando pela minha orelha me alegravam de outras formas.

Eu não estava realmente emburrada. Com tantos convidados perambulando para lá e para cá para distraí-la, minha mãe havia esquecido de cobrar meus bons modos e minha presença. Era quase como se fosse um dia comum.

— Deixe de ser mentiroso, Príncipe Edward. Você só quis fugir dos ecos das vozes de um monte de mulheres pelos corredores do seu castelo.

— Eu não vou negar. Mas também não vou confirmar. Elas são suas irmãs e amigas.

— Você acha que eu ficaria chateada se reclamasse de minhas irmãs? – Segurei o rosto dele entre minhas mãos e aproveitei que ele me equilibrava com seus fortes braços em minha cintura para ficar na ponta dos pés e beija-lo. – Mais do que ninguém sei como podem ser inconvenientes. Está tudo bem.

— Que bom. Porque tive que fugir de lá. Estava ficando louco!

Edward abriu um sorriso brincalhão e recomeçou o beijo que eu havia interrompido.

Ficamos nos agarrando como os adolescente que éramos até o sinal de visitas real soar e eu precisar descer para receber algum convidado dos meus pais.

Angela e Jessica estavam na porta do meu quarto com alguns apetrechos para me arrumar enquanto descíamos as escadas para o salão de recepção.

— Pelos céus desse reino, aprendam a não desarrumar o cabelo. – Jessica reclamou atrás de mim refazendo meu penteado.

Chegamos ao salão e eu corri para a formação na qual todos os meus cinco irmãos me aguardavam em silêncio. Emmett, na minha esquerda, era o mais velho com vinte. Eu vinha logo depois com dezessete, Alice com quinze, Bree com quatorze, Alec com treze e Charlote com doze. Meus pais, Rei Charlie e Rainha Renee do reino Swan, estavam em seus tronos à nossa esquerda.

O som dos passos da comitiva real começou a soar no salão ao lado, mudando completamente o clima de paz que se apossava do local. Poucos eram os membros da realeza que exigiam ser recebidos com pompas e circunstâncias. Geralmente, os mais desagradáveis. O clima tenso piorou quando o Rei James Hunter, das terras geladas e brancas do Norte, se aproximou.

Ele passou cumprimentando um por um da fila sem dar muita atenção. Tratando os mais novos com visível nojo. Na minha vez, pegou minha mão para beijar e olhou intensamente para os meus olhos. Um arrepio subiu pela minha espinha. Um completamente diferente de quando Edward me olhava. Rei James segurou meu olhar até um barulho atrás de mim ecoar pelo salão roubando a atenção de todos.

— Oh… Merd- Desculpem!

Aproveitei a distração do monarca diante de mim para puxar a mão. Segurei minhas saias e segui até a voz que ainda soltava palavrões para si.

— Obrigada. – Agradeci a Edward, que fingia arrumar uma espada.

— Qualquer coisa por você. – Piscou, finalmente soltando a espada e me deixando colocá-la de volta na mão da armadura.

Rei James havia terminado a fila e falava com um nobre de minha corte. Voltei para meu lugar, ignorando as olhadas que Rei James me dava conforme a cerimônia de recepção seguia adiante.

Ao sermos liberados, corri para o meu quarto e pedi para os guardas responsáveis pela minha segurança não deixarem nenhum dos convidados chegarem perto do meu quarto.

V&XV

— Amo as decorações que sua mãe faz nos salões de baile! – Elogiei enquanto rodopiava no meio do salão enfeitado por folhas secas e tecidos com combinações de marrom, verde musgo e amarelo mostarda.

— E eu amo as comidas que a sua mãe inventa para os bailes! – Rosalie pegou um enroladinho de alguma coisa e enfiou na boca. – Quando eu me mudar para cá depois do casamento vou rolar por essas escadas de tanto comer. – Completou de boca cheia.

— Ela só cozinha o que você pede para que não desista de se casar com Emmett. Quando tiverem consumado e não tiver mais volta, vai comer a mesma coisa que todos nós. – Brinquei.

— Eu sei. Por que acha que estou demorando tanto para me casar? – Rose rolou os olhos azuis que faziam meu irmão comer na mão dela.

Como se tivesse sido invocado por tais olhos, Emmett se aproximou para chamar Rosalie para dançar.

— Não, por favor, não me deixem sozinha. – Implorei, segurando as mãos dos dois e impedindo que se afastassem.

Não queria ficar sozinha, era como se sentisse que algo ia acontecer comigo. Um sentimento ruim se apossara de mim desde aquela tarde. Eu me sentia observada, perseguida, intimidada dentro da minha própria casa.

— Ben está atrás de você. – Emmett apontou.

— Infelizmente ele não vai conseguir impedir Rei James de me tirar para dançar.

— Tente sair de fininho e voltar para o quarto. Não seria a primeira vez que faz isso, ninguém notaria. Eu te cubro com a mãe. – Meu irmão piscou para mim, e Rose acenou em concordância.

— Estão criando um plano para fugir do baile? – Edward apareceu ao meu lado. – Contem comigo. O que preciso fazer?

— Dançar com a Bella até a saída mais próxima.

Meu irmão e a noiva se aproveitaram da minha distração para sair de perto. Fiquei observando as costas dos dois enquanto se afastavam.

— Bella, está tudo bem? Parece que eles acabaram de levar seu filhotinho de dragão para longe.

Sorri para ele.

— Dragões não existem, Edward.

— Diga isso para Leah. O tataravô dela matou o último dragão que tentava queimar nosso castelo.

— A não ser que esse dragão tenha tataranetos escondidos em alguma caverna tramando vingança, você mesmo acabou de me dizer: Dragões. Não. Existem.

Edward olhou em volta antes de tocar meu cotovelo e aproximar a boca do meu ouvido.

— Eu realmente não me importo. Só queria fazer você sorrir de novo.

Meu interior se aqueceu com as palavras dele. Eu era muito feliz por ter Edward comigo.

— Agora você me deve uma dança, Princesa Swan. – Ele fingiu um tom de ameaça.

— Uma desculpa para me abraçar a você na frente de todos sem medo? Absolutamente sim!

Dancei com Edward, outros nobres, e fui obrigada a dançar com Rei James. Foi a pior dança da minha vida. E olha que eu dançara com alguns aldeões bêbados em festivais. Edward e Ben nos observaram como toda atenção enquanto eu me deixava ser carregada de má vontade pela pista de dança. Foi a primeira vez que eu vira meu namorado realmente aborrecido com alguma coisa. Mais um motivo para odiar Rei James: tirar o sorrido do rosto de Edward.

Deitei para dormir naquela noite e ouvi um barulho no armário. Levantei da cama quentinha e afastei os vestidos para Edward sair pela passagem secreta em meia parede.

— Estava dormindo? – Fiz que não com a cabeça. – Acho que hoje sim seu pai ouviu minhas batidas.

As paredes do castelo eram grossas, mas Edward jurava que um dia meu pai ia pega-lo no quarto comigo e nos obrigar a casar.

— Pedi para minha segurança ser reforçada. De novo. – Bufei. E nem assim me sentia segura. – É mais fácil meus guardas ouvirem e te acertarem um machado na cabeça.

— James? – Edward questionou o motivo da segurança.

— Não diz o nome dele. – Estremeci.

Edward abriu a boca, obviamente para brincar comigo e dizer o nome mais uma vez, dessa vez coloquei a mão na boca dele antes que falasse.

Ele me puxou e me levou até uma otomana amarelo mostarda ao lado do armário, sentando comigo de lado no colo.

— Quer ficar com a minha família enquanto ele está aqui?

— Tentador. – Segurei o queixo dele e o beijei. – Mas eu não consigo nem pensar em uma desculpa para meus pais, nossos pais, - ressaltei – aceitarem isso.

— A verdade. Não precisa pensar em desculpas, Bella. Ninguém nunca te obrigaria a ficar desconfortável na sua própria casa. Só precisa contar aos seus pais. Ou aos meus.

— Eu vou me manter longe dele. O castelo é grande o suficiente para cada um estar de um lado. Eu posso me ocupar, posso me esconder atrás de uma parede... Tem aquela sala próxima à cozinha, posso fazer dela o meu quarto.

— Minha companhia está a sua disposição. – Edward começou a distribuir beijos pelo meu pescoço.

— A melhor companhia possível. Agora use seu dom de mudar de assunto, por favor. Distraia minha mente.

— Seu desejo é uma ordem, minha princesa. Conte-me mais sobre sua teoria de que dragões não existem. Eu preciso saber dos seus argumentos para rebatê-los todos. Daqui a pouco vai estar dizendo que a terra é plana.

— A terra é redonda. E dragões não existem.

— Prove, Isabella. – Comecei a abrir a boca para defender minha teoria, Edward foi mais rápido e falou primeiro. – Que dragões não existem. Não que a terra é redonda, sabemos disso faz séculos graças aos estudo greco-romanos. Quem acha o contrário é tão absurdo que não sei nem do quê chama-los

— Podemos chamar de James? Aposto qu-

— Isabella, me ajude a te ajudar. Dragões. Nós vamos conversar sobre dragões. Aqueles serem gigantes que cospem fogo, com asas, caudas e dentes afiados.

Olhei para Edward enquanto ele falava empolgado sobre as histórias de dragões que ouvíamos desde pequenos. Ele seria um ótimo pai um dia. As histórias da hora de dormir sem dúvida nenhuma ficariam a cargo dele.

— Uma vez quando eu era criança perguntei ao avô da Leah se os dragões também soltavam fogo por outras partes do corpo. Sabe, os peidos? Perguntei se era fogo, só fumaça, como era.

— Eu não sei se quero saber a resposta.

— Ele não respondeu. Deu com a bengala na minha cabeça e me mandou respeitar os mais velhos.

Eu ri tão alto que achei que chamaria a atenção dos soldados do lado de fora do quarto.

E, assim, fui distraída noite adentro.

V&XV

Três dias haviam se passado e ninguém entendia os motivos da comitiva de James ainda não ter ido embora. Eu não tinha mais o que fazer naquele castelo nem nos povoados ao redor. Estava pensando em me intrometer no terreno do vizinho e perguntar se eles não tinham nada para eu fazer pelas terras deles. Angela e Jessica não aguentavam mais me acompanhar aleatoriamente enquanto eu fugia de Rei James.

— Vossa Alteza? – Girei nos calcanhares, esperando o jovem na minha frente levantar de sua reverencia. – Sua presença está sendo solicitada no salão de visitas verde.

Entrei na sala puxando minhas damas de companhia comigo. Elas logo foram afastadas de mim. Os nobres mais importantes do meu reino estavam em suas posições ao redor da sala, assim como a comitiva real de Rei James. Depois que todos os cumprimentos foram trocados, apenas os homens do meu reino se levantaram e esperaram para se sentar depois de mim, meu pai pediu que eu me sentasse ao lado dele. Eu estava ficando ansiosa quanto a necessidade da minha presença ali. Então, o pior aconteceu, James expôs suas intenções de me cortejar.

— Qual a razão para tal cortejo? – Eu não havia dado nenhum indício de que compartilhava do interesse dele. Se havia alguma outra razão para ele estar propondo tal coisa, eu deveria saber para minar as expectativas.

— Vossa Alteza roubou os meus pensamentos desde que cheguei aqui. – Eu quis vomitar com tal declaração. – Nada mais justo me oferecer algo em troca.

Enquanto falava, Rei James movia a cabeça para os lados e franzia os olhos, não sei se tentando ser charmoso, ou se para me assustar. A segunda opção estava ganhando.

— Peço desculpas, essa nunca foi a minha intenção. Vou me manter afastada para que seus pensamentos possam voltar ao normal.

— Tarde demais.

Meus conselheiros pessoais e minhas amigas estavam todos atrás de mim, fora do meu campo de visão. As únicas pessoas que eu conseguia ver eram meu pai, que não expressava reação alguma ao meu lado, e a corte de Rei James atrás dele. Eu queria ver um rosto conhecido que pudesse me passar uma expressão melhor do que as que eu via na minha frente agora.

— Veja, o problema é que eu não tenho intenção alguma de ser cortejada. Então, para que tudo volte ao normal na mais santa paz para mim e para Vossa Majestade, não há outra solução possível.

Por mais que meu pai não tivesse se intrometido ainda, e aquilo significasse boa notícia, eu queria muito que alguém me desse um sinal de que estava indo pelo caminho certo.

Era sempre complicado ter que lidar com outros nobres, com seus jeitos mimados, cheios de vontade. Eu nunca sabia o que dizer, vivia pisando em ovos. Mesmo não sendo a próxima ao trono, nem do meu nem em um possível casamento com Edward, o que eu agradecia imensamente, passei minha vida com tutoras para aprender a me portar. Nenhuma delas gostou muito dos meus resultados.

— Vossa Alteza não está entendendo o que está acontecendo aqui. – Dessa vez eu entendi o tom de intimidação na voz e nos olhos semicerrados dele. Não importaria o que eu dissesse ou como eu dissesse, ele estava resoluto em me cortejar. – Achas que esta reunião cheia de testemunhas é apenas encenação?

— Não mesmo. – Não me rendi a intimidação dele. – Posso chamar até mais testemunhas, se assim for necessário, para que todos saibam que ofereci minha recusa com respeito e Vossa Majestade insistiu contra minha vontade. Podemos até ir para a praça do vilarejo, os populares sabem espalhar uma notícia como ninguém.

Eu vi uma veia pulsar na mão de James antes dele se impulsionar com raiva da poltrona e se aproximar de mim.

— Garotinha insolente. Não te dão educação nesse lugar?

— Não há nada de errado com a minha educação. Fui educada pelas melhores tutoras que uma criança poderia ter. – Respondi sentada fingindo toda calma que não sentia. – Muito obrigada pela preocupação de Vossa Majestade.

— Pois Vossa Alteza é tão fraca de educação e existência quanto esse reinado em que vive. – Abriu os braços. – Isso aqui é uma piada. – Deu uma risada de escárnio. – A única vez que vi alguém falar como gente foi nessa reunião. Parecem um bando de porcos grunhindo quando tentam formar uma simples frase. Ninguém se trata pelos títulos. Não perderei nem o meu precioso tempo falando sobre o desperdício de dinheiro que é o imposto baixo desse vilarejo. Vocês vivem na pobreza como os porcos que criam.

Foi a minha vez de me levantar da cadeira. Não tive uma poltrona confortável para sentar como nosso convidado que nem a merecia.

— Não ouse vir até minha casa desonrar o trabalho de meus pais na minha frente. Se não está satisfeito, ponha-se daqui para fora com sua comitiva. – Fui ensinada de que apontar para as pessoas era falta de educação. Para provar a esse ser repugnante que havia aprendido alguma coisa, mantive minhas mãos agarradas à saia do vestido. A vontade era de enfiar um dedo bem no meio do rosto dele para pontuar cada palavra que saia com raiva de minha boca. – E sinta-se liberado de qualquer obrigação de pisar aqui mais uma vez. Se é o melhor para a sanidade de Vossa Majestade, finja que eu e meu reino não existimos. Pois tenha certeza de que assim o faremos quanto sua existência.

— Ah, mas eu realmente não pretendo voltar aqui. Não como estão pensando. Guarde suas palavras, Princesa Isabella— falou meu nome com nojo. – Eu vou querer ouvi-las novamente, com muitos tons de arrependimento.

Dei um passo para frente e ouvi o barulho de espadas sendo desembainhadas.

— Não ouse fazer ameaças, Rei James. – Repeti o mesmo tratamento de nojo que havia recebido com meu nome. – Ainda está sobre nosso solo. Sob nosso teto.

Uma mão pesada envolveu o meu antebraço e me puxou para fora do salão.

— Ben, solte-me agora! – Puxei meu braço do aperto do meu guarda.

Vi com o canto do olho quando Edward saiu depois da gente pela porta e sumiu atrás de um quadro.

— Não estou sob suas ordens, Vossa Alteza, e sim de Vossa Majestade.

— James? – Sussurrei assustada, achando que o homem de alguma forma havia dado um golpe e eu estava sendo levada para um calabouço por meu próprio guarda. – Rei Charlie. – Ben respondeu escondendo o riso, e respirei aliviada.

Deixei a porta do armário aberta e sentei na cama com as costas apoiada na cabeceira.

— Como estão as coisas lá fora? – Perguntei apressada quando Edward surgiu por entre meus vestidos.

— É estranho que você não se assuste nem um pouco ao ver um homem sair de dentro do seu armário.

— Você é único a fazer isso. Por isso tenho tanta confiança. – Abri um sorriso fraco. – Mas não tente me distrair agora, diga como estão as coisas.

Edward sentou de lado com as pernas para fora da cama e levou minhas mãos para seu colo.

— Não vou mentir. Estão horríveis. Vou ficar mais tranquilo se sua segurança for reforçada essa noite, Bella. De novo.

Levantei o travesseiro e mostrei as duas adagas que me faziam companhia toda noite.

— Era só uma, mas eu já aumentei tanto minha guarda desde que James chegou, não temos mais soldados o suficiente. É pouco, mas foi o jeito que encontrei de me sentir mais segura sem precisar colocar um deles dentro do meu quarto me vigiando.

— Venha para o meu castelo comigo e traga sua guarda. Eu somo os meus homens aos seus e tudo vai ficar bem. – Edward acariciou o meu rosto.

— Eu jamais colocaria sua família em perigo dessa forma, Edward. Eu já estou me sentindo culpada o suficiente pelo que acabei de fazer, não conseguiria viver também bagunçando sua vida.

— Bella, você é a minha vida. Eu faria qualquer coisa por você.

— Eu sinto o mesmo por você. Mas nesse caso é apenas um estresse desnecessário que vamos gerar para todos. Está tudo bem. Eu vou ficar aqui mesmo, recebendo muitas visitas suas na madrugada.

— Eu posso me mudar para cá. Temporariamente. E assim teríamos mais guardas, e menos perigo para minha família.

— Vão achar que é exagero. Nunca vão permitir.

— Eu os convenço. Eu fujo com você e nos escondemos. Qualquer coisa para que você fique sã e salva, Bella.

— Você é o amor da minha vida todinha, sabia?

— Faço uma ideia. – Ele abriu um sorriso torto.

V&XV

Ninguém aceitou que Edward se mudasse para um dos quartos vagos do castelo. Por motivos óbvios, não havíamos dado a opção dele se mudar para o meu quarto. Com Rei James de volta ao seu próprio reino e longe mais uma vez, acharam nossa preocupação desnecessária, mesmo com a ameaça que ele fizera. Eu me mantinha dormindo com minhas adagas escondidas, com a segurança reforçada, e aproveitando ainda mais a companhia de Edward.

Decidimos contar de uma vez para todos que namorávamos. Ninguém se surpreendeu, nem mesmo fingiram surpresa. Pela minha virtude, meu pai foi obrigado a me ceder mais guardas ainda. Era constrangedor saber que agora eu estava cercada de homens para atacar Edward se ele tentasse se aproximar de mim de forma inapropriada, mas foi o jeito que encontrei para me sentir mais segura. Eu estava ficando paranóica achando que Rei James apareceria a qualquer momento para me raptar.

Sete dias depois recebemos uma “segunda chance” de Reis James: se eu pedisse desculpas por tê-lo enfrentado, ele esqueceria nosso confronto. Nós começaríamos do zero, e eu aprenderia a ser uma Rainha obediente ao seu Rei, em um lugar muito mais civilizado. Palavras dele.

O homem encarregado de trazer a carta ficou em uma pousada do vilarejo até que eu tivesse uma resposta para ele levar de volta.

Infelizmente eu não pude apenas pedir para que aquela carta fosse enrolada e enfiada em um buraco daquele monarca asqueroso onde o sol não batia. Tive que ser o mais doce possível para recusar, mais uma vez, os avanços daquele ser desprezível à minha pessoa.

Não feliz em receber seu segundo ‘não’, Rei James decidiu que a melhor coisa a fazer era declarar guerra ao meu reino. Por mim. Ele queria passar por cima do reino frouxo do meu pai para se vingar de mim e me dar uma lição: se ele me queria, ele ia ter.

Ele poderia ter chamado Edward para um duelo. Chamado meu pai. Qualquer um. Seria uma ideia igualmente estapafúrdia, o ideal mesmo seria ele me esquecer de vez, mas pelo menos com um duelo teríamos um número menor de pessoas envolvidas.

Eu gritei e esperneei para meu pai não aceitar a guerra. Infelizmente, não era assim que as coisas funcionavam. Se ele se recusasse a participar, era mais fácil me entregar de uma vez para meu carrasco. Seria uma guerra de um lado só, e nós seríamos massacrados. Com certeza aquele ser desprezível não teria medo de acabar com toda a nossa corte mesmo sem mostrarmos resistência.

Estávamos a mercê de um Rei Louco.

Era madrugada quando a porta do meu guarda-roupas abriu.

Puxei a coberta e Edward se aconchegou ao meu lado. Por alguns segundos foi como se nada tivesse mudado. Estávamos seguros e escondidos no meu quarto enquanto todos pensavam que ele estava se divertindo em alguma taberna aleatória madrugada adentro. A paz durou até ele abrir a boca.

— Também não consegue dormir? – Perguntou.

— Como vou dormir sabendo a besteira que fiz?

— Você não fez besteira nenhuma, Bella. O problema todo é James. Ele não aceitou ouvir sua recusa e começou uma guerra.

— Não adianta vocês me dizerem isso dia após dia, eu sigo me sentindo culpada e achando que deveria ir até ele.

— E fazer o que? Bella, você não pode estar pensando em ficar com aquele monstro. – Edward levantou o rosto, se mostrando indignado.

— Eu não posso deixar os homens irem para a guerra por minha causa. Meu pai, meu irmão, os familiares das outras mulheres, todos eles podem morrer por minha causa, Edward.

— E nós não nos importamos com isso. Todos estão dispostos a dar suas vidas para te defender. Para defender o reino. Defender suas casas. Nós vamos fazer o melhor para voltar e não termos mais que nos preocuparmos com isso.

Repassei rapidamente o que Edward havia dito, somente agora notando que ele estava se incluindo na história.

— O que você quer dizer com ‘nós’?

— O que? Bella, acha mesmo que eu não vou lutar por você?

— Não? Não! Você não vai, Edward. – Remexi na cama, fazendo se sentar. – Você não pode fazer isso.

— Pode ter certeza de que eu vou, Bella. Não vou ficar assistindo esse homem desonrar a mulher que eu amo. Vou matá-lo com minhas próprias mãos.

— Nem pensar! Edward, eu já terei que me preocupar com todos os outros que vão, não faça isso comigo. Eu achei que você fosse ficar aqui me apoiando.

— Serei muito mais útil lá.

— Não para mim!

— Para você! Para nós! Eu vou matar esse homem, Bella. E nunca mais teremos que nos preocupar com ele. Voltaremos a viver em paz e a minha mente vai voltar a ter paz.

— Não, você não vai. Você não pode fazer isso, Edward. Eu não vou deixar você ir.

— E vai fazer o que para me impedir?

Eu levantei da cama e corri pelos corredores do castelo até o quarto dos meus pais. Os guardas ficaram assustados pela correria e pela presença de Edward atrás de mim me chamando.

Fiz minha batida na pesada porta, esperando a ordem para entrar. Fiz mais duas vezes sem resposta, então comecei a socar a madeira até finalmente ouvir que podia entrar.

— Pelos céus desse reino, Bella! Não precisava desse escândalo todo, limpe seus ouvidos, você já podia entrar.

— Vocês não podem deixar Edward ir para a guerra! – Ignorei minha mãe.

— Oh… Minha filha.

— Não! Pai, você pode proibi-lo de ir junto. Você pode pedir para Carlisle trancá-lo em casa. Mãe, converse com Esme. De uma mãe pra a outra. Sei que também não quer que Emmett vá. – Apelei. – Por favor! Vocês não podem deixá-lo ir em frente com essa loucura. Ele não pode fazer isso.

— Bella, Edward está irredutível. Todos conversaram com ele.

— Então eu sou a última a saber? Todos concordaram com isso e não pensaram em me contar? Em pedir ajuda a mim para mudar a cabeça dele? – Eles me olharam sem resposta. – Agora sou eu sozinha para fazê-lo ter juízo enquanto vocês todos já aceitaram. Ótimo. Muito obrigada por nada.

Saí batendo a porta antes que eles tentassem falar mais besteiras.

Corri de volta para o meu quarto com Edward no meu encalço. Fiz questão de esperá-lo entrar para bater a porta atrás dele.

— Desde que você desconte sua raiva apenas nas portas, tudo bem.

— Não venha fazer piadas agora, Edward. – Fui para longe dele. – O que você tem na cabeça?

— Eu não posso deixar existir uma chance daquele homem ganhar, Bella. Se existe uma possibilidade dele ter você, eu vou estar lá para acabar com ela. E eu sei que você queria ir para essa guerra, – Edward ergueu uma sobrancelha para mim, reprovando o pedido que fiz a meu pai e achei que ninguém soubesse – mas foi proibida. Então eu vou por você.

— Não. Por favor. – Fui até ele e o abracei pela cintura, seus braços prontamente me apertaram.

— Espero que você me entenda e me perdoe um dia, Bella.

Ficamos de pé no meio do quarto enquanto eu chorava agarrada a Edward.

— É um motivo tão estúpido para uma pessoa querer matar outras pessoas e tomar o reino delas. Só porque ele me quer?

— Isso quer dizer que você não começaria uma guerra por mim? Sinto-me ofendido.

— Eu iniciaria uma revolução, uma guerra, enfrentaria dragões se eles existissem.

— Eles existem.

— Partiria em uma caça ao monstro do mar por você, Edward. Por amor. Porque eu te amo. – Segurei o rosto dele e o beijei. –  Esse homem não me conhece. Ele quer atender a um capricho dele. Os motivos dele vêm todos daquela mente egoísta, egocêntrica, para provar alguma coisa para si. Não fazem sentido. Ele não tem sentimento nenhum por mim.

— Eu começaria uma guerra por você. Acho um motivo excelente para uma guerra.

— Novamente, porque você me ama. E eu entenderia.

— Então você entende porque eu estou indo nessa guerra. – Edward estreitou os olhos, achando que tinha ganho a discursão.

— Não. Eu disse que entenderia, não que eu concordaria e o deixaria seguir adiante com uma maluquice sem tamanho.

Edward foi até minha cama e levantou meu travesseiro.

— Posso levar? – Ele brincou com minhas adagas.

— Não. – Respondi emburrada. Mas é claro que eu deixaria.

— Bella… Não tem nada que você possa fazer para me convencer a ficar.

Pensei em voltar para o quarto dos meus pais e deixá-los ver Edward comigo. Se fôssemos forçados a casar, talvez Edward não pudesse ir. Ou James desistiria ao saber que me uni a outra pessoa.

Na verdade, meu pai talvez apenas expulsaria Edward do castelo e nos proibiria de nos encontrarmos.

— Você vai sair batendo as portas de novo? – Olhei para Edward, questionando a pergunta dele. – Como se eu não te conhecesse, Isabella. – Ele rolou os olhos. – Eu vou te amarrar nessa cama para você não sair desse quarto e voltar ao quarto dos seus pais.

Eu poderia fingir que não entendia o que ele estava falando. Mas de nada adiantaria. Ele sabia que estava certo.

O que ele não sabia, é que eu poderia mudar minha tática. Eu nunca saberia o que meu pai faria se não tentasse. Montei no colo dele, puxando as saias do meu vestido para que nos encaixássemos mesmo ainda vestidos.

— Quer me amarrar na cama? – Levei os lábios ao ouvido dele, deixando-os raspar na pele dele enquanto falava. – Não vai me ver dizendo ‘não’ a isso.

Movi o quadril enquanto o beijava, fazendo-o perder a cabeça. Quando eu achei que estava ganhando o que eu queria, suas mãos me pararam. Ele me segurou no lugar por alguns segundos antes de me tirar delicadamente do colo.

— Então, você já foi expulsa do próprio quarto? Estou pensando em fazer isso. Pensando seriamente.

— Será que eu consigo trazer meu pai aqui antes de você sumir pelo túnel?

— Esquece. Você fica, eu saio. – Falou sério.

— Não. Desculpa. – Envolvi o braço dele, impedindo-o de sair. – Não precisa ir.

— Comporte-se, Bella. Ou vou embora.

— Ainda está cedo para que volte para casa.

— Eu fico vagando pelo jardim. Eu pego o caminho mais longo.

— Edward, desculpa. Não fica chateado comigo.

— Não estou. Pelo menos não mais do que você está chateada comigo.

— Não mesmo.

— Vai dar tudo certo, Bella. Você confia em mim?

— Confio. É claro que eu confio.

— Eu vou voltar para você. Eu vou acabar com Rei James. E, então, nós vamos voltar a nos esconder pelo castelo enquanto não podemos ficar juntos.

— Emmett e Rosalie são os próximos a assumir os tronos, não nós. E eles ainda vão se casar! Vão reinar os dois reinos juntos! Quer algo mais perfeito para todos do que isso? Acho injusto que tenhamos que esperar. Nada disso estaria acontecendo agora se esse monte de gente tomasse conta da própria vida e nos deixassem ser felizes juntos.

— Falta pouco tempo, Bella. Quando você menos esperar, eu vou estar jogando minhas botas cheias de neve no tapete limpo do nosso castelo.

— Isso foi muito específico, Edward.

— Meu pai fez isso uma vez. Ele teve que dormir no quarto de hóspedes por um tempo.

— Mal posso esperar para reclamar da sua sujeira no nosso castelo.

V&XV

Eu tentei fazer Edward mudar de ideia até o último segundo possível. Quando os portões do castelo se fecharam atrás dele, eu sentei no chão e chorei até alguém me buscar de lá.

Funcionei como uma fantasma por dias até a chegada da primeira carta dele.

Espero que você me perdoe pela minha decisão. Você precisa entender a minha escolha. Não está sendo fácil nem para mim conviver com ela, mas é o melhor a ser feito. Vou deixar minha barba crescer. (E o cabelo vai demorar para receber uma atenção.) Calma, por favor, não venha até aqui. Está tudo bem. Ela ainda não está muito grande, mas há de ficar. Eu sou um príncipe, tenho meus confortos no meio dessa confusão de lama e espadas, mas você não faz ideia do trabalho que é manter qualquer tipo de higiene em um acampamento de guerra.

Falei demais.

Por favor, não me confunda com o porco da ceia quando eu voltar. Eu serei aquele sem uma maçã na boca.

Espero que esteja usando o cordão que eu te dei e não esteja chorando toda vez que olha para ele. Apesar de acreditar quando disse que seria a única coisa que conseguiria fazer quando olhasse para ele. Use-o e sinta todo o meu amor por você. Eu deixei o meu coração com você, Bella, cuide bem dele. Lembre-se dos peidos dos dragões quando olhar para ele, lembre-se de como você foi feliz rindo as minhas custas naquela noite e em tantas outras.

Com amor,

Seu Edward.

Eu comecei a ler a carta chorando de desespero, terminei sorrindo de saudade.

Antes de ir embora, Edward veio ao meu quarto na madrugada se despedir. Foi como uma noite normal como outra qualquer, ele se recusou a aceitar que seria triste. Antes de ir embora pela manhã, me entregou um cordão de ouro com um coração de cristal. Eu realmente sentia um nó na garganta sempre que via o delicado pingente no meu pescoço. Mesmo pensando nas dúvidas que Edward tinha acerca das flatulências dos dragões.

Escrevi a minha carta para ele, mas fiquei com medo dela se perder pelo caminho e ele nunca a ler. Escrevi outras três iguais. Alguns dias depois a resposta chegou.

Nada de bom acontecendo nesse castelo que você chama de lar? Três cartas iguais, Isabella? Sério? Quando eu voltar vou precisar te descolar da cadeira da sala de leitura? Vá ser picada por uma abelha no jardim, mulher! Vá pisar em uma pedra pontuda no lago, sentar em um formigueiro no campo. Levante-se dessa cadeira e vá exercitar esse corpo.

Pelos céus, como eu sinto falta desse corpo. (Espero que ninguém leia essa carta.)

Nunca ficamos tanto tempo separados. Eu estou pensando em criar uma boneca com os travesseiros e as cobertas e fingir que é você. O que acha? Será que vai ser muito estranho te pedir algumas mechas de cabelo e peças de roupa? Se sim, por favor, finja que nunca te pedi nada. Se não, aguardo ansiosamente a próxima carta.

Volto logo! Se Rosalie continuar a ser má com você, revide e escreva suas respostas na próxima carta. Não se esqueça que ela odeia porcos. Os animais, não eu.

Se bem que ela deve estar me odiando também.

Com amor,

Seu Edward

Ps: se você me fizer chorar mais uma vez com a próxima carta eu vou dar um jeito de alguém te arrastar dessa sala para o lado de fora. E quando você voltar para dentro, sua cadeira preferida vai estar no meio do lago. Eu tenho uma reputação a manter com os soldados, Bella.

Eu tentei melhorar o humor das cartas seguintes, mas era difícil sem Edward aqui. Era ele que trazia a alegria para a minha vida. Eu sempre tive uma tendência a ser mais séria, a querer provar para todos que eu era útil no reino. Edward não se importava com isso, Rosalie herdaria a cora e ele estava bem em ser o segundo filho que é esquecido para cuidar de sua própria vida nos bastidores.

Por falar em Rosalie, a futura Rainha dos dois reinos estava brava comigo, me culpando por Edward e Emmett terem ido para a Guerra. Eu entendia que era o jeito dela expressar a saudade deles, e a deixava em paz, mas esse entendimento não impedia que as palavras que ela jogava para mim me magoassem e me deixassem mais para baixo do que já estava. Quando a saudade e a preocupação apertavam, eu mesma achava que ela tinha razão. Nos dias bons eu não me arrependia de ter agido daquela forma com Rei James, nos dias ruins, queria ter aceitado a proposta dele e dado um jeito de envenena-lo um pouquinho a cada dia para ter o prazer de vê-lo definhar aos meus olhos.

Eu estava ficando louca.

V&XV

Nunca, nem por um segundo, duvide que eu te amo, Bella. Eu não sei o que estão dizendo para fazer você duvidar da gente, mas não acredite. Lembre-se que eu nunca realmente estive em tabernas e prostíbulos como todos acham. Eu estava com você! No seu quarto, na sua cama. (Mesmo que não tenhamos feito nada demais. O que também me arrependo.) Não estou aqui para fugir de obrigações, para fugir de você ou para me fazer de rebelde por não ter a coroa. Não sei de onde começaram com esses absurdos. Eu sei que você não está acreditando em nada disso, mas eu precisava desabafar.

Não preciso de coroa. Tudo o que eu quero é você. O que me trouxe aqui foi você. É tudo por você. Por nós dois.

Sabe o que me mantém são aqui? Pensar na sua cara quando me vir de barba e cabelo grande. Acho que você vai curtir a barba. O cabelo eu não sei. Vamos descobrir quando eu chegar.

Sonho principalmente em ficar com você para sempre. Em dar um fim a essa guerra, a essa perseguição insana que esse homem criou e ter paz ao seu lado. Vou conversar com seu pai sobre nosso casamento. Eu não preciso de grandes festas, de anúncios, somente de você. Faça seus esforços. Uma vez que todos sabem sobre nós, podemos formar uma dupla muito boa mexendo com a cabeça deles para concordarem com o casamento. O que acha? Concorda em ser minha parceira de crime?

(Vi um fogo estranho por trás de um morro na madrugada de ontem. Acho que eram os dragões se aquecendo para a vingança deles. Bem que você falou. Vou até lá ver o que se passa no reino dos dragões, deseje-me sorte. Dragões existem, tudo é possível. Confie em mim.)

Perdão se essa carta chega até você com os parágrafos confusos (como meus pensamentos nesse lugar). Eu tive que reescrevê-la, e algumas coisas fugiam da minha mente, coloquei na ordem que me lembrava delas.

A anterior ficou borrada pela chuva que chegou aqui sem aviso.

(Por chuva eu quero dizer lágrimas.)

Estou escondido para que não vejam meus olhos vermelhos. Cada dia que passa eu perco um pouco mais do respeito que esses homens deveriam ter por mim. (Muito obrigado por fazer parte disso. Muito mesmo.)

Sei que o problema são eles, não vou jamais deixar de demonstrar meu amor por você, ou deixar de me emocionar com suas palavras.

(Mas você está pegando pesado, meu amor. Você está me fazendo sofrer aqui, pensando em você sofrendo aí.)

Vamos lá, levante agora dessa cadeira, vire-se para a porta e saia. Largue essa carta aí mesmo no meio do corredor e apenas tenha momentos felizes com nossas famílias e amigos. Quando eu voltar quero ouvir histórias boas sobre você.

Ainda está lendo?

Pois então pare.

Vá ser feliz, Bella! Por favor! Eu vou voltar logo e vou saber se você ficou enfurnada chorando. Aliás, nas próximas cartas da minha família talvez eu tenha essa informação. Seja forte por mim. Seja forte por você.

Com amor,

Seu Edward

Ps: Vá!”

 

Guardei a carta e fui para o jardim. Jessica e Angela estavam lá com as damas de companhia de minha mãe e Esme enquanto as rainhas conversam e cuidavam das flores.

— Bella, querida, que milagre vê-la do lado de fora! – Esme me saudou, esticando sua mão para que eu a segurasse.

— Edward provavelmente vai perguntar a todos em suas próximas cartas se eu estou saindo do quarto. Vou poupar a todos de mentir para ele por mim e… sair. – Dei de ombros.

— Você faz bem. – Minha mãe segurou minha outra mão por um segundo e a largou. – E se ele se desse o trabalho de perguntar para a minha pessoa, eu não mentiria. Vocês dois que se resolvessem depois.

— Ele não está errado, Bella. Você precisa acreditar que ele vai voltar. Que todos eles vão voltar, e tudo vai ficar bem.

— Que os céus desse reino te ouçam, Esme.

Algumas semanas depois, as cartas pararam de chegar. Eu não sabia se era porque a Guerra havia começado, se era porque eles estavam muito distantes, se alguém as havia interceptado. Uma agonia sem fim tomou conta de todo o castelo. A corte dos Cullen nos apoiava como conseguia enquanto também se preocupava com Edward.

Os dias ficaram iguais, eu desisti de acompanhar o que acontecia. Tudo o que eu havia progredido saindo para espairecer nos jardins fora por água abaixo.

Em um desses dias repetitivos, o sino de aviso de visita real começou a soar incessantemente, me fazendo congelar no meio do quarto. Ou eles estavam voltando da Guerra ou…

Peguei a adaga que sobrara sob meu travesseiro e coloquei na faixa do vestido. Estava me preparando para pegar uma armadura completa quando alguém bateu na porta do meu quarto. Era a batida de Alice.

A primeira coisa que ela notou foi a adaga. Delicadamente, tirou-a da minha cintura. Depois me puxou pela mão sem cerimônias. Um dos guardas teve que trancar a porta do quarto por mim.

Os portões do castelo se abriram antes da comitiva sequer estar à vista. Olhei ao redor preocupada. Será que eles não tinham medo de ser atacados?

— Eu sei o que você está pensando, Bella. Se fossem inimigos, os arqueiros da torre teriam atirado, não tocado o sino. Leah fez questão de vir na frente de todos eles avisando que eram boas notícias.

Olhei para onde a amazona braço direito do meu pai e de Carlisle estava sendo abraçada por todos. A atmosfera em volta dela era tão boa que eu me contagiei também. Quando a comitiva começou a aparecer no horizonte, eu estava com o rosto doendo de tanto sorrir.

Então, vi meu pai e Emmett sobre seus cavalos. Respirei aliviada por vê-los sãos e salvos. A culpa deixando o meu corpo a cada abraço que minha família reunida dava. Minha mãe governou esse lugar enquanto a guerra acontecia com a presença do próprio marido e do filho. Ela teve toda a força que eu não tive.

Distraí-me com a recepção deles e não percebi os portões se fechando. Não tinha mais ninguém para entrar. Ainda faltava gente ali.

Comecei a procurar por Esme e Carlisle, encontrando-os mais afastados, conversando com Leah. Carlisle abraçava Esme, enquanto ele mesmo recebia tapinhas no braço de Leah.

— Edward.

Minha respiração acelerou, eu já não enxergava nada. Saí empurrando quem via pela frente, ouvindo o lugar ficar em silêncio à medida que eu chegava perto dos três.

Leah me viu e olhou em dúvida para Carlisle, que olhou para além de mim.

— Eu sinto muito, Bella.

Foi a última coisa que ouvi antes de ser abraçada por Leah e afastada de todos.

Se James já não estivesse morto, eu enfrentaria o que fosse, iria aos confins do mundo para matá-lo com minhas próprias mãos. Mesmo sabendo que ele estava provavelmente entrando em estado de decomposição nesse momento e não podia mais fazer mal a nenhum de nós, eu sentia ódio dele. Morreu e ainda conseguiu levar Edward consigo. O alívio de saber que ele estava morto parecia brincadeira. A qual preço?

V&XV

Um dia.

Dois dias.

Três dias.

Eu não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém. Eu pegava as cartas de Edward e as relia, tentando sentir algum tipo de felicidade na minha vida. Eu quase podia fingir que ele ainda estava na guerra e ia voltar.

Ao contrário do que muitos pensaram, o casamento de Rosalie e Emmett não seria adiantado para acontecer em meio a celebração da vitória. As pessoas não conseguiam nem pensar em celebrá-la. Cada um fez sua comemoração discreta, respeitando a dor de Esme e Carlisle, e a minha. Depois de bancar uma guerra, o dinheiro que restara não era muito e a vida precisava continuar.

Um mês se passara com os dias se arrastando. A neve pesada do inverno cobria toda superfície que tinha coragem de encará-la.

Era hora do baile de inverno, que fora postergado, mas não adiado. Era o baile no qual a maioria dos casamentos dos povoados eram arranjados. Os solteiros aproveitavam a oportunidade para oferecer e procurar alguém para esquentar os pés nas noites frias.

Enquanto todos estavam com suas melhores roupas coloridas, fazendo suas danças do acasalamento e se destacando na decoração nívea, eu estava com meu vestido branco tentando mesclar com ela. Queria ficar invisível, mas parecia estar no centro das atenções. Sempre que um casal passava por mim, eles baixavam os olhos e sussurravam entre si.

Eu não aguentava mais o cuidado que todos estavam tendo comigo. Não sei do que todos tinham medo. Queriam que eu me recuperasse, mas não me deixavam tentar ter a vida normal de antes. Nas semanas dos preparativos para o baile eu cheguei a me sentir sufocada. Era sempre alguém me perguntando se eu estava bem, me levando para longos passeios cansativos e inúteis longe dos castelos, nos quais eu não conseguia conversar sem que a outra pessoa não tivesse medo de abrir a boca e me ofender de alguma forma. Se eu pudesse, fugiria para longe por algum tempo.

Eu não podia nem ter a sombra de Ben durante o baile, ele estava em algum lugar se engraçando com Angela. Eu não podia culpar o homem por querer ficar longe de mim.

Mas eu precisava de companhia. Os homens solteiros se sentiam intimidados por eu ser a Princesa deles e com certeza não se aproximariam de mim nem nesse, nem em baile algum de inverno. Não que algum deles pudesse ser como Edward. Ninguém nunca seria. Mas eu esperava poder, pelo menos, quebrar um pouco de toda a tristeza que habitava o meu coração desde que ele se foi.

Eu morreria solteira. Minha linhagem real acabaria aqui. No futuro, quando algum historiador contasse a história da nossa família, meu papel seria da tia muito afeiçoada aos sobrinhos. A segunda filha que tinha tudo para ser feliz, mas chegou ao fundo do poço sem uma corda para ajudá-la a sair de lá.

Um par de braços envolveu o meu corpo e me aninhou contra si. Reconheci o perfume almíscar familiar e me deixei ser abraçada de bom agrado.

— Não era para você estar chorando.

— Não era para ninguém estar vendo. – Minha voz saiu abafada e tremida.

— Bella, todos estão vendo. Todos os olhos estão em você.

— Eu sei. E não era para ser assim. Eles que cuidem de suas vidas.

Leah riu e ficou calada enquanto eu terminava meu lamento e me recompunha.

— Estão todos me tratando como uma pobre coitada, Leah. Eu não consigo cruzar o olhar com o de ninguém sem ver pena. Eu tento seguir em frente, mas ninguém deixa. Nem Esme recebe o mesmo tratamento que eu. – Olhei para a pista de dança onde a Rainha Cullen dançava plena e sorridente com o padeiro. – Hoje está sendo o pior dia. Quanto mais eu tento me esconder, mais sinto olhos em minha direção.

— Ambas sabemos que não sou de palavras bonitas. Vou ser bem direta com você.

— Por favor.

— Pelos céus desse reino, Isabella, você só não pode ficar igual a uma moribunda escondida ao lado dessa pilastra. Está desperdiçando um belo vestido, penteado e essa tiara linda! – Ela ajustou a joia na minha cabeça. – Agora prepare-se, vou te puxar desse lugar para o outro lado do salão.

Respondi que não queria ir, mas com um solavanco fui tirada do lugar para o meio da bagunça.

— Agora é só esperar. Dragões existem, tudo é possível. Confie em mim.

Eu estava parada no meio do salão de boa e olhos abertos. Aquela frase era de Edward. Ele a escrevera em uma das cartas. Será que alguém realmente lia nossas cartas como Edward suspeitava?

— O que? Leah! Leah, volte aqui, de onde você tirou isso?

Ela entrou no meio dos convidados e sumiu de vista antes que eu pudesse alcança-la. Girei no lugar, encontrando vários pares de olhos me observando de pé sem entender o que estava acontecendo.

Cansada de ser feita de boba mais uma vez, levantei minhas saias e me preparei para sair dali.

— Sei que não estou na minha melhor forma, mas não sou um fantasma, não precisa fugir de mim.

Tropecei nos meus próprios pés, sendo amparada por braços trêmulos. Eu me segurei naqueles braços e os apertei como se minha vida dependesse daquilo.

— Ai? Escrever tanto te deu algum tipo de força extraordinária nas mãos?

Finalmente tive coragem de desviar os olhos do chão e olhar para cima.

Lembro-me de ver o sorriso choroso de Edward antes de tudo ficar escuro.

V&XV

Remexi na cama me sentindo quente demais. Ainda de olhos fechados, tentei tirar o pesado cobertor de cima de mim, mas ele não queria sair e meu braço bateu em algo no processo.

— Segunda vez que você me agride, e um desmaio ao olhar para mim. Esperava uma recepção melhor, confesso.

Abri os olhos e me joguei em Edward, que estava sentado ao meu lado na cama como sempre fazia nas madrugadas que passava escondido aqui. Eu não conseguia parar de chorar. Eu sentia o cheiro dele, o toque dele, a quentura dele, se fosse um sonho, desejava nunca mais acordar.

Ouvi Edward fungar e não pude deixar de rir, lembrando de quando me contava o estado melancólico que ele dizia ficar depois de ler minhas cartas.

— O que? – Perguntou com a voz rouca.

Finalmente o encarei. Edward estava sem a casaca que usava no baile, apenas com a camisa branca fina que estava por baixo. Ele estava magro e cansado, a barba e o cabelo, que não fazia desde que fora para a Guerra, foram cortados e devidamente higienizados, mas as olheiras debaixo dos olhos eram enormes. Eu via cicatrizes e hematomas pelo pescoço e no rosto, um dos olhos ainda com um inchaço, o nariz torto. As mãos também estavam com cortes e hematomas.

Era surreal vê-lo na minha frente depois de tanto tempo achando que estava morto.

Afundei novamente o rosto no pescoço que tantas vezes me consolara, e chorei mais uma vez. O alívio e a felicidade que eu sentia naquele momento eram imensuráveis.

— Espero que esse choro não seja decepção depois de perceber que não sou o porco que você esperava encontrar.

Abri o primeiro sorriso verdadeiro desde muito tempo.

Como eu senti falta do bom humor dele.

— Você ainda não fugiu, vou entender como um bom sinal. – Eu ainda estava um pouco em choque para conseguir falar alguma coisa. Tinha medo de quebrar o encanto e descobrir que estava sonhando. – Bella?

Edward começou a se mexer, me obrigando a falar alguma coisa. Mas só consegui gemer o nome dele.

— Vamos nos comunicar por grunhidos agora. Bom. Muito bom.

— Eu senti sua falta. – Choraminguei.

— Meu Deus, Bella! – Ele soltou o ar, como se estivesse respirando aliviado pela primeira vez. – Meus dias sozinho naquele lugar foram um inferno. Assim que eu ficar bom nós vamos nos casar. Então eu vou te trancar em uma das torres do nosso castelo e somente eu vou poder te ver. Nenhum outro homem vai poder te cobiçar. Vou criar um dragão para ficar de sentinela sobrevoando a torre. Quem tentar se aproximar vai virar torrada com Rei James.

Era incrível que Edward estivesse falante como sempre. Alguém poderia pensar que estávamos apenas deitados conversando em um dia comum.

— Se isso impedir que passemos por esse inferno de novo, eu me isolo na torre feliz. Até finjo que dragões existem. Mas pare de tentar me animar, Edward, aonde você estava? O que aconteceu?

Edward se ajeitou na cama, sentando melhor contra a cabeceira. Ajeitei-me junto.

Ele ficou em silêncio olhando para as velas que iluminavam o quarto, levou um tempo até que começasse a falar.

— Eu não fiquei no acampamento com eles, como você já deve saber. – Eu ficara sabendo dessa ideia estapafúrdia que ele tivera. Não aguentei ouvir toda a versão quando me contaram, doía demais saber que se afastar dos outros provavelmente o matara. Mas agora, com ele são e salvo na minha frente, eu precisava ouvir tudo. Entender como ele estava falando comigo quando havia sido dado como morto. – Encontrei uma cabana de caça com uma gruta por perto, levei minhas coisas para a casa, e criei um kit de sobrevivência na gruta para viver lá. Eu sabia que os oficiais de James não me encontrariam com os outros e acabariam por achar a cabana. Quando soube que ele descobriu o nosso relacionamento, vi minha chance de atraí-lo até mim, isola-lo dos outros e acabar com tudo.

— Emmett contou que vocês brigaram quando ele descobriu seu plano. Charlie também não ficou satisfeito.

— Fui para lá contra a vontade dos dois. Seu pai ameaçou proibir o nosso namoro. – Ele riu, como se duvidasse que meu pai fosse cumprir a ameaça.

— Não tem graça. Isso poderia ter dado errado de verdade, Edward. – Briguei com ele, que ficou sério e pediu desculpas. – Eles se sentem culpados por sua morte. Por não terem te amarrado em um cavalo e enviado de volta para casa.

— Tudo aconteceu como eu planejava. Não estava errado em imaginar que ele queria me matar com suas próprias mãos, do mesmo jeito que eu queria fazer com ele. Quando chegou, eu o ataquei sem dar chance dele fazê-lo primeiro. Ele falou absurdos sobre você, sobre sua casa. Fiquei com tanta raiva que me desconcentrei e por pouco não consigo estar aqui hoje. – Segurei as duas mãos dele entre as minhas e as apertei. Eu precisava sentir mais dele, saber que era real. – Eu me recuperei e joguei todas as velas que tinha à mão nele. Óbvio que não foi a melhor das ideias, e toda aquela madeira logo começou a pegar fogo. Seu pai e Emmett chegaram quando as labaredas lambiam o que encontravam pela frente e a casa caía sobre nós. Eu não ia conseguir conviver comigo se algo acontecesse a eles, então os fiz sair de lá e ir para longe, disse que estava com a situação sobre controle. Eles acreditaram em mim e o fizeram, ficaram do lado de fora assistindo a briga pelas pequenas janelas, gritando para que eu saísse. O fogo se espalhava rapidamente e nos pressionava a um campo de luta mínimo, eu larguei o corpo de James depois de mata-lo e saí.

— Como eles não te viram sair?

— Saí pela porta nos fundos que dava para o rio. Fui me arrastando pela grama até o rio, depois até a gruta. Não tinha como alguém saber desse caminho, eles acharam que eu tinha morrido com James. – Abri um sorriso ao ouvir novamente sobre a morte do Rei Louco. Edward murmurou um louca, também sorrindo. – Eu não ouvia ou via ninguém por conta do fogo, não sabia se me veriam ali, mas também não podia esperar, o fogo estava vindo pelo mato e eu estava debilitado, tinha que me aproximar do lago, tinha que voltar para um lugar onde pudesse me curar e procurar por eles depois.

— Leah contou que vasculharam o terreno, os escombros procurando os corpos, mas ainda havia muito foco de incêndio dificultando o trabalho. Ela contou que choveu e nevou sem parar depois, os cavalos e os homens começaram a ficar cansados… Eles se deram por vencidos e vieram embora. Acreditando que… você tinha morrido.

— Eu fiquei na gruta esperando minhas forças voltarem, rezando para não ser azarado e morrer afogado com a maré subindo, ou virar um bloco de gelo. Não parava mais de nevar e eu não tinha como sair sem arrumar uma doença. Vivi de água e migalhas. Quando finalmente o tempo melhorou, segui o rio até onde eu achava que tinha uma estrada, e achei frutas. Foi o que comi até o padeiro passar por ali voltando de uma viagem e me encontrar.

Por isso Esme dançava tão feliz com ele? Por que ela não me contou que Edward estava de volta? Por isso que todos estavam agindo de forma tão estranha ao meu redor? Eram tantas perguntas para fazer que fiquei confusa, meu cérebro tentava ordená-las, enquanto minha boca mexia sem som algum, não sabendo qual questionamento fazer primeiro.

Edward soltou minhas mãos, que ainda apertavam as dele, e segurou meu rosto.

— Respire, Bella. Vamos lá. – Ele puxou o ar e soltou, pedindo que eu o imitasse. – Nós temos todo o tempo do mundo.

Mas eu não queria lidar com essa história por todo esse tempo. Queria enterra-lá e esquecer que um dia passei pelo pesadelo de viver em um mundo no qual Edward estava morto.

— Como você o matou?

— Eu enfiei sua adaga no pescoço dele. Ele tirou minha espada, mas eu estava com a adaga presa na bota. – Sorriu orgulhoso de si.

— Você girou a adaga como Leah ensinou?

— Com certeza. Talvez com muito mais satisfação do que o aceitável. – Foi a vez dele abrir um sorriso e eu chamá-lo de louco. – Eu esperei o corpo dele começar a queimar para sair da casa. Eu queria ter toda a certeza possível de que aquele homem nunca mais atrapalharia a nossa vida. – Edward respirou fundo. – Pelos céus desse reino, como eu falei!

Entrelacei os braços no pescoço dele, apertando-o forte contra mim.

— Obrigada!

— Eu faria tudo de novo por você, Bella.

— Eu sei. Eu te amo, Edward. Eu não sei se falo ou mostro o suficiente, mas eu te amo. Eu faria a mesma coisa por você. Eu faria qualquer coisa por você.

— Bella, você algum dia parou de chorar desde que eu parti? Tem pelo menos bebido água para repor todo esse líquido?

Eu gemi uma risada.

— E voltamos a comunicação por grunhidos.

— Eu estou rindo, seu tolo.

— Não, aquilo não era uma risada. Talvez a imitação de um dos nossos jumentos? Mas tudo bem, pelo menos você não está chorando.

— Não. Chega de chorar. Talvez eu realmente tenha ficado desidratada nesse meio tempo.

— Amanhã nós vamos levar essa carcaça seca ao lago. – Ergui uma sobrancelha e olhei para os ferimentos que a espada e as mãos de Rei James fizeram pelo rosto dele, com certeza ele tinha muito mais desses pelo corpo, desafiando-o a se aventurar até estar completamente curado. – Ei, ei, pare de cobiçar meu corpo. Espere pelo casamento. – Piscou um olho para mim.

— Eu não… – Sacudi a cabeça, sentindo meu rosto queimar, mas sem conseguir tirar os olhos dele. – Edward, eu não estava pensando em você dessa forma.

Estava mesmo era chocada imaginando o quão perto da morte ele realmente esteve. O quão machucado ele estava por baixo dessas roupas. Lembrei-me dos braços trêmulos que me seguraram no salão.

— Bella, eu vou te dar o tempo daquela ampulheta. – Ele estreitou os olhos e apontou para a minha mesa de cabeceira. – Você pode me olhar, chorar, procurar bichos no meu cabelo se não acredita que realmente tomei banho. – Ele foi muito específico nessa. Afastei-me dele, que começou a rir. – Você devia ter me visto quando cheguei. Merecia um quadro na parede principal do nosso castelo.

— Realmente tinha bichos aí?

— Se eu confirmar, isso vai te fazer ir embora?

Nunca. Depois de tudo o que ele fez por mim, por nós, não seriam insetos que me manteriam longe dele.

— Não. Eu não vou jamais sair de perto de você. Nunca mais. Príncipe Edward Anthony Masen Cullen, saiba que Vossa Alteza acabou de ser sentenciado a passar o resto de sua vida comigo.

Ele abriu os braços e me chamou para me aconchegar.

Tudo estava bem novamente. Eu finalmente ia ter o meu final feliz.

— Espera! – Afastei rápido dele, que ficou sem entender nada. – Edward! Quando você voltou? Como? Por que ninguém me contou nada? Eu vou matar todos esses-

Edward me puxou e me calou com um beijo.

— Realmente te importa? Eu estou aqui, não estou?

— Sim. Isso é tudo que importa.

FIM


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Notas finais do capítulo

Amei o unicórnio no combo 1, mas quando eu vi Mary e Francis fiquei muito feliz, Maiah! Eu tinha que fazer o combo deles. Você não tem ideia do quanto me segurei para não dar um pio sobre a série no Twitter esse tempo todo e não me entregar. Quando vi qual música seria, fui assistir o seriado de novo e ter ideias. E aí saiu o Edward gado demais pela Bella. Amei fazer uma história de época assim!

Espero que você tenha gostado, fiz com muito carinho! Que o próximo ano seja maravilhoso para você! Bjo!



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