Feeling 22 escrita por Saori


Capítulo 1
It's Miserable and Magical.




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It feels like a perfect night
To dress up like hipsters
And make fun of our exes

It feels like a perfect night
For breakfast at midnight
To fall in love with strangers

 

 

Se eu pudesse dividir a minha vida em fases, eu diria que existem apenas duas: a fase antes dos dezoito anos e tudo o que aconteceu depois que eu alcancei a maioridade. Até eu atingir os meus dezoito, eu diria que foi tudo perfeito. Claro que tive algumas decepções por vez ou outra, mas os momentos bons certamente superavam os ruins. Era tudo intenso demais, mas de uma forma boa. Ao contrário do que aconteceu nos quatro anos seguintes, quando tudo pareceu rolar ladeira abaixo.

As pessoas diziam que quando nos formássemos em Hogwarts, as coisas melhorariam ainda mais, e que a escola era apenas uma pequena parte do mundo gigante que ainda tínhamos para vislumbrar. Elas não estavam erradas, só esqueciam de mencionar que esse universo tão vasto podia ser cruel às vezes. Sinceramente, acho que fui escolhida como uma de suas vítimas. Depois que me formei na escola, aprendi a colecionar fracassos. Estou sendo dramática? Talvez. Vamos aos fatos: estou desempregada, terminei o meu namoro exatamente no dia do meu aniversário de dezoito anos e, mesmo assim, ainda lembro desse desgraçado todas as vezes que vou completar mais um ano de vida e, por isso, simplesmente tenho horror à data do meu próprio nascimento. Além disso, estou prestes a ser despejada e, por isso, vou ter que me mudar para a casa de um amigo. Também briguei com a minha família e não falo com eles há anos. Ah, e para completar, está tendo uma infiltração no meu apartamento atual e meu inquilino quer que eu pague o conserto com o dinheiro que eu certamente não tenho. Então, é, talvez você entenda isso como um drama, mas eu chamo de azar, karma e qualquer sinônimo que mostre o quão fodida eu estou.

De repente, despertei de meus pensamentos melodramáticos assim que ouvi o estrondo de algo batendo contra a porta. No momento eu soube quem era, não havia como me confundir. Pela primeira vez naquele dia, um sorriso surgiu nos meus lábios. Corri até a porta e a abri sem pensar duas vezes, deparando-me com Sirius do outro lado.

— Então, o que está fazendo? — o rapaz perguntou e, logo depois, jogou o seu corpo contra o sofá velho da casa.

— Empacotando as coisas? — respondi, como se fosse óbvio. A minha casa estava lotada de caixas de papelão.

— Podendo usar magia, você está empacotando? — Ele ergueu as sobrancelhas, e eu revirei os olhos.

— Ajuda a me distrair. — Dei de ombros.

— Sabe, é deprimente que você esteja fazendo isso justamente hoje — ele comentou, do jeito mais Sirius possível, em um tom altamente debochado.

— Deprimente é você que está me assistindo fazer isso — retruquei.

— Qual é, Lene, é seu aniversário, tem que no mínimo aproveitar. — Ele suspirou, frustrado. — Já tem quatro anos, acho que está na hora de superar esse trauma. Vamos lá, como está se sentindo?

— Estou me sentindo com vinte e dois anos — respondi, levemente irônica.

Sirius levantou do estofado velho e empurrou a caixa de papelão que eu estava prestes a fechar para longe. Olhei para ele com raiva, mas o rapaz pareceu pouco se importar.

— Pelo amor de Merlin, Marlene, eu não vou te deixar nesse estado deprimente por mais um aniversário. Já está na hora de superar esse seu ex-namorado. Já tem quatro anos! Nesse meio tempo, muita coisa aconteceu, e você ainda fica preso a ele? Você tem que aproveitar o seu aniversário, não é todo dia que se completa vinte e dois anos.

Houve um pequeno momento de silêncio. Eu entendia a preocupação de Sirius, ele era o meu melhor amigo e me conhecia melhor do que qualquer pessoa no mundo, mas, mesmo assim, eu continuaria detestando o meu aniversário, não importava o que ele dissesse. E o que havia de especial em fazer vinte e dois anos, afinal? Era uma idade meio merda, se parasse para pensar. Você é adulto o suficiente para ter suas próprias responsabilidades, mas, ao mesmo tempo, vive em um limbo, porque ainda é como se adolescência não tivesse passado de fato. E às vezes você até deseja voltar a ser adolescente, porque o mundo adulto consegue ser ainda pior. Então não havia nada para se comemorar.

— Sirius Black, eu te amo, mas por que caralhos eu tenho que comemorar mais um ano de derrotas e fracassos? Porque assim será a partir de agora. E também foi assim quando eu fiz vinte e um e vinte e dezoito. Então, não, eu definitivamente não quero comemorar. — Suspirei, sem ânimo algum. — E, sim, eu odeio meus aniversários por causa do Dan. Eu fui completamente humilhada quando peguei ele me traindo na minha festa, então todas as vezes que esse dia chega, eu só consigo lembrar disso. Não quer dizer que eu não o superei, por mim, ele poderia explodir que eu não ligaria! — Sirius arregalou os olhos, um pouco surpreso. — Mas eu odeio me lembrar de como me senti naquele dia, não quero me sentir daquele jeito nunca mais.

— O Dan era um babaca, mentiroso e idiota. Ele nunca mereceu você, Marlene. — As palavras dele aqueceram um pouco o meu coração, e um esboço de sorriso surgiu em meus lábios. — Você sempre foi péssima para escolher garotos, mas nesse aí você se superou.

Eu gargalhei. Sirius sempre sabia como fazer com que eu me sentisse melhor. Não importava a situação, ele sempre me fazia sorrir.

— Olha quem fala! Lembra daquela garota que você namorou na época da escola? Como era mesmo o nome dela? Anna? — falei, ainda em meio à risada. — Durou uma semana, aí ela terminou com você, porque disse que você tinha cheiro de cachorro molhado.

— Ah, você tinha mesmo que lembrar disso?! — ele resmungou, em meio a uma risada descontraída. — Ok, você acabou de tornar essa noite cem por cento mais deprimente. Vamos mesmo ficar trancados aqui, sentados naquele sofá velho, — ele apontou para o móvel — esperando a noite acabar? Vamos fazer alguma coisa divertida, Lene!

— Podemos assistir algum filme — sugeri, mesmo sabendo que ele não aceitaria a proposta.

Sirius bufou.

— Ou podemos sair por aí e só voltar amanhã pela manhã. Não pode deixar o Dan estragar o seu aniversário para sempre. Vamos, Marlene, eu quero me divertir, e você merece um pouco de diversão.

— Não me parece uma boa ideia.

— Mas você me prometeu que ia tentar esse ano, lembra? No seu aniversário do ano passado.

Droga. Sirius estava jogando sujo, muito sujo. Ele sabia que eu detestava quebrar promessas, e eu realmente havia dito algo assim quando completei vinte e um, quando ele quis tentar me levar para sair. No entanto, havia dito isso apenas considerando que ele esqueceria no percorrer do ano. Quão burra eu havia sido? Agora, querendo ou não, eu precisava aceitar a sua proposta. Se tratava de uma promessa, afinal. E Marlene Mckinnon nunca quebrava uma promessa.

— Ok, você venceu. — Rolei os olhos de um lado para o outro. — Eu vou trocar de roupa.

 

 

Yeah, we're happy, free, confused and lonely at the same time
It's miserable and magical
Oh, yeah, tonight's the night when we forget about the deadlines
It's time

 

— Para onde está me levando?

— Para o melhor bar da cidade. Onde mais seria? — perguntou retoricamente e deu uma piscadela.

Eu ri baixinho, pensando em como Sirius Black era um convencido e, ao mesmo tempo, em como ela estava certo. Depois que saímos da escola, Sirius, junto com James, Remus e Peter abriram um bar chamado Marauders. Todos eles tinham cargos no Ministério da Magia, exceto Sirius, que cuidava daquele bar como se fosse a sua própria vida. Confesso que sempre admirei a coragem dele. Sirius Black sempre foi assim, destemido. Desses que se joga no mundo sem se importar com as consequência. Tipicamente, aquela pessoa que prefere se arrepender de ter tentado do que de não ter feito nada. Ser assim exigia coragem, e Sirius era a pessoa mais corajosa que eu conhecia.

— Você é um grande convencido, mas não está errado. — Pisquei de volta, sorridente.

— Ok, regra número um sobre a noite de hoje: sem prazos, só vamos voltar para casa de manhã.

— Ah, não comece. Você e as suas regras estúpidas — resmunguei, mas ele apenas riu.

— Qual é, Marlene, é seu aniversário de vinte e dois anos, juro que essa idade é melhor do que as anteriores, mas você precisa dar uma chance para descobrir.

— O que tem de tão especial? Eu já fiz vinte e dois, foi às nove da manhã do dia de hoje, e tudo parece que estou em uma montanha russa, uma avalanche de sentimentos. Por que você acha tão especial?

— Eu não sei, só é. Sei lá, nós nos sentimos livres, felizes, é tudo meio confuso e… — ele pausou, pensando em como continuar.

— Solitário — retruquei, mesmo sem saber se era isso o que ele queria dizer. — Isso é meio miserável, sabia?

— É mágico — ele me corrigiu, sorrindo. — Vamos entrar.

Sirius segurou a minha mão direita firmemente e entrelaçou os nossos dedos. Em seguida, ele começou a andar em meio à multidão, guiando-me para o bar. O Marauders estava sempre cheio, mas nas sextas-feiras, no período da noite, era quase insuportável. Assim que chegamos no balcão de madeira, sentei-me em um dos bancos livres. Sirius pediu duas doses de tequila para nós dois e, assim que a bebida chegou, virei-a, sentindo o líquido descer quente pela garganta.

— Mais uma, por favor — Sirius pediu ao barista, que o respondeu com um sorriso.

A música alta ecoava em meus ouvidos e era quase impossível de ouvir as pessoas ao meu redor, a não ser que elas estivessem berrando. Meus olhos percorreram todo o local, mas era difícil identificar qualquer um naquele amontoado de pessoas. Particularmente, eu também não estava procurando nada em especial. No entanto, mesmo contra a minha vontade, acabei encontrando.

— Merda, merda, merda. Eu falei que sair de casa não era uma boa ideia — resmunguei para Sirius, que contraiu as sobrancelhas, confuso.

— O que houve? — indagou ele, até que seus olhos repousaram sobre o mesmo homem que eu estava encarando.

— Você não disse que superou? É sua hora de provar — Sirius proferiu, voltando o seu olhar para mim.

De longe, Dan, meu ex-namorado, se aproximava. Sirius, pegou uma das minhas mãos e apertou com força, mas apenas o suficiente para que eu me sentisse segura. Eu sorri para ele, sentindo-me grata. Peguei a dose de tequila que o barista colocou sobre o balcão e bebi toda de uma vez. O problema não era o Daniel em si. Eu de fato já o havia superado. Eram as lembranças, a humilhação, a tristeza. No fundo, o fantasma dele ainda me machucava, mas não porque eu o amava, e sim porque um dia eu o amei. E o passado, ainda que tenha acabado, ainda machuca. As memórias nunca vão embora.

— Marlene, é você mesmo? — ele perguntou de um jeito bobo, e logo de cara eu quis esganá-lo. Era óbvio que ele sabia que era eu.

— Dan, oi. — Dei um sorriso forçado e, com o canto de olho, encarei Sirius, que parecia querer rir.

— Então quer dizer que vocês estão juntos agora? — Dan sugeriu, e eu o encarei com uma feição confusa, até perceber que ele estava olhando para os nossos dedos entrelaçados.

— Nós não… — fui bruscamente interrompida por Sirius.

— É isso mesmo, estamos juntos e muito felizes, não é, amor? — Sirius piscou para mim, com um sorriso nos lábios e envolveu a minha cintura com o braço esquerdo.

Fiquei sem reação por um segundo, até que percebi que Dan estava me encarando, à espera de uma resposta. Não entendi exatamente porque Sirius estava fazendo aquilo, mas embarquei no jogo dele.

— Sim, acho que eu sou a pessoa mais feliz e sortuda do mundo — falei, sorridente.

— Ah, fico feliz por vocês — ele proferiu, um pouco sem jeito.

— Bem, agora nós vamos dançar um pouco, vem, Sirius.

 

I don't know about you, but I'm feeling 22
Everything will be alright if you keep me next to you
You don't know about me but I'll bet you want to
Everything will be alright if we just keep dancing like we're 22, 22

 

Segurei a mão dele novamente e o puxei para longe, em passos apressados. Quando finalmente perdi Dan de vista e julguei estar longe o suficiente, parei, com a respiração ofegante e encarei meu amigo, como se exigisse uma explicação, mas tudo o que ele fez foi gargalhar bem alto, de maneira quase exagerada. Sem conseguir me controlar, eu fiz o mesmo.

— Você enlouqueceu? — questionei, de repente.

— O que? Achei que você fosse a mulher mais feliz do mundo — disse ele, em um tom de voz brincalhão.

— Não começa. — Fiz uma careta que o fez rir novamente. — Mas eu não menti, sou a pessoa mais feliz do mundo por ter você na minha vida.

— Não comece, se não eu vou chorar — falou, sarcástico. — Você é azarada para caralho, Marlene. Não acredito que foi encontrar esse cara justamente aqui e no dia do seu aniversário.

— Eu tentei te avisar que sair de casa não seria uma boa ideia, você não quis me escutar. — Dei de ombros.

— Agora já é tarde demais, estamos aqui e precisamos aproveitar, não acha?

— Tem certeza? — fiz questão de perguntar, mesmo tendo certeza de que ele não desistiria tão fácil. Sirius Black nunca desistia.

— Absoluta — retrucou, convicto.

— O que vamos fazer então?

— Você não disse que iriamos dançar? Então vamos dançar. — De repente, Sirius começou a pular no ritmo da música.

— Ah, não. Foi uma desculpa, eu só queria sair de lá, eu sou péssima dançando e você sabe disso — proferi, soando um pouco desesperada.

— Você não é péssima, Marlene. — Sirius rolou os olhos de um lado para o outro. — E não é tão difícil. Me dê as suas mãos.

Ergui ambas as mãos na direção dele, conforme o pedido. Sirius as segurou e começou a movimentá-las no mesmo ritmo dele e da música. Aos poucos, soltei o meu corpo, que acompanhava o compasso ditado pelo meu parceiro. Sem nem mesmo perceber, eu estava dançando. Mesmo que fosse péssima nisso, mas estava. Tudo era mais fácil na minha vida quando eu tinha Sirius ao meu lado para me ajudar, desde as coisas mais banais, como dançar, até as coisas mais importantes, como quando eu briguei com os meus pais. Ele foi o primeiro a me apoiar e a dizer que ficaria tudo bem. Provavelmente porque, acima de tudo, ele me entendia. A relação dele era péssima com praticamente toda a sua família.

Eu não queria ter saído de casa, é verdade, mas eu estava grata, porque, depois de muito tempo, estava me divertindo de verdade. Estava feliz. Eu nunca menti quando disse que Sirius Black me fazia a pessoa mais feliz do mundo, porque apenas ele era capaz de colocar um sorriso nos meus lábios no dia do meu aniversário ou em qualquer outro dia que eu considerasse ruim. Apenas ele. E não importava o que aconteceria daqui para frente, nem mesmo o que acontecera no passado, eu sabia que se eu o tivesse comigo, então estaria tudo bem.

Subitamente, senti o meu corpo rodopiar, assim que Sirius, em um impulso, girou-me ao segurar uma das minhas mãos. Não estava esperando por esse movimento, então acabei me desequilibrando. Eu estava prestes a cair no chão, até que senti as mãos firmes dele apertarem a minha cintura. Minha cabeça ainda estava girando quando eu pisquei algumas vezes, na esperança da minha visão voltar ao normal. Quando finalmente pareci enxergar bem, meu olhar recaiu sobre Sirius, que fitava-me preocupado.

— Desculpa, você está bem?

Assenti, movimentando a minha cabeça para cima e para baixo.

— Quer sair um pouco daqui? — ele sugeriu, e eu aceitei sem pensar duas vezes.

 

 

It seems like one of those nights
This place is too crowded
Too many cool kids, ah, ah, ah, ah
It seems like one of those nights
We ditch the whole scene
And end up dreaming instead of sleeping

 

Depois de conseguirmos atravessar aquele mar de pessoas pulando juntas, Sirius me levou até o terraço do local. Nós gostávamos de ir lá, era como um hábito nosso. Era o nosso lugar. Era onde íamos quando sentíamos que havia algo errado ou quando queríamos comemorar alguma coisa. Não era algo que compartilhávamos com James ou Lily, era realmente algo só nosso. Talvez fosse algo bobo, mas eu gostava disso. Da sensação de compartilhar um lugar que apenas nós conhecíamos. O nosso segredo.

— Acho que aqui está um pouco melhor para respirar — falou ele, com um sorriso.

— Definitivamente. Lá embaixo está um pouco cheio.

— Marlene, se você pudesse estar em qualquer lugar do mundo agora, onde estaria? — perguntou, de repente.

— Por que essa pergunta?

— Por nada, só me responda.

— Eu não sei… — Abaixei o meu corpo e sentei-me no chão. Em seguida, vi Sirius fazer o mesmo e se sentar de frente para mim, com um olhar um pouco apreensivo. — Eu gosto de estar aqui, mas eu também gostaria de conhecer a Itália. Dizem que é um lugar incrível. E você?

— Eu queria viajar toda a Europa. Já imaginou? Mas eu queria fazer como os trouxas fazem. A Lily me falou que eles usam aquelas enormes caixas metálicas com asas, como é mesmo o nome? É com a letra “a”… — Ele fechou os olhos, como se quisesse resgatar a informação do fundo da sua memória. — Avião!

— Ah, eu lembro disso, eu também nunca entrei em um! Parece empolgante.

— Por que não fazemos isso?

Eu o encarei, incrédula. Sirius estava mesmo sugerindo aquilo? Ele sempre foi um sonhador inconsequente, mas até mesmo eu sabia que aquela não parecia uma ideia viável, mesmo que eu gostasse dela.

— Porque a nossa vida toda está aqui. Seu emprego, nossa história, nossos amigos, nossa…

— Nossa família? — ele completou, e eu concordei. — Eles não estão nem aí para a gente.

— É, eu sei, mas e as outras coisas?

— Será que nós não podemos sonhar um pouquinho? A gente está sempre pensando em tudo, sempre pensando nas outras pessoas, parece que nunca pensamos em nós.

 

Yeah, we're happy, free, confused and lonely in the best way
It's miserable and magical
Oh, yeah, tonight's the night when we forget about the heartbreaks
It's time, oh, oh

 

As palavras de Sirius atingiram-me como lâminas afiadas. No fundo, eu sabia que ele estava certo. Nós estávamos acostumados a ceder pelas outras pessoas. Nós fazíamos tudo por aqueles que amávamos, então talvez fosse a nossa vez de agir de forma egoísta. Mas algo me causava certo incômodo. Eu não conseguia imaginar a vida sem as minhas saídas semanais com a Lily ou sem o Reumus me perturbando praticamente todos os dias. Parecia errado. De repente, toda aquela avalanche de sentimentos me inundou novamente, porque sentia-me dividida. A utopia da qual Sirius falava, me agradava. E se fôssemos livres de verdade pela primeira vez? Se viajássemos o mundo, de maneira trouxa ou não trouxa, se vivêssemos a nossa própria vida da maneira como realmente queremos, será que seríamos mais felizes? Não que fôssemos tristes, porque nós não éramos. Entretanto, nossos corações estavam partidos há muito tempo. Não por questões amorosas, mas primeiro porque perdemos nosso principal alicerce ainda jovens, nossas famílias. Segundo, porque nós não éramos exemplos de bruxos a serem seguidos. Uma desempregada e o dono de um bar. As críticas eram tantas que, embora fingíssemos não ouvir, guardávamos dentro de nós.

Eu estava confusa, mais do que jamais estivera em toda a minha vida. A proposta de Sirius era tentadora, mas, diferentemente dele, eu sempre preferi ter os pés no chão. Sempre tive medo de me arriscar. Por isso eu o admirava tanto. Porque Sirius sempre ia atrás dos seus sonhos, então mesmo que eu negasse aquela ideia insana, eu sabia que ele arriscaria tudo por ela. E eu não imaginava uma vida sem Sirius Black.

— O que foi? — Ele ergueu uma das mãos e tocou o meu rosto, como se quisesse me acordar de meus devaneios. Funcionou.

— Não é nada, eu só estou… confusa, eu acho.

— Por quê?

— Porque eu sei que você vai fazer isso, mesmo que eu não queira. — Suspirei. — E eu não sei se eu quero, Sirius, de verdade, mas eu sei que não quero ter que acordar todos os dias sem você estar aqui para me fazer sorrir. Eu não consigo nem imaginar. Eu sei que soa egoísta, mas… Eu simplesmente não consigo imaginar.

Sirius não respondeu de primeira. Na verdade, ele se levantou e estendeu as duas mãos na minha direção. Segurei-as e as usei como apoio para que eu me levantasse.

— Fecha os olhos.

— O que?

— Anda logo, só fecha os olhos.

— Ok. — Dei-me por vencida e fiz exatamente o que ele pediu.

— Agora, imagina. Estamos na Itália, eu e você, caminhando pelas ruas de Roma. Você me pergunta se podemos ir até uma fonte jogar uma moeda. Eu digo que é besteira, porque não acredito nessas coisas. Superstição é uma besteira. — Eu ri baixinho imaginando a cena. Parecia tão verdadeira, quase palpável. — Mas você é teimosa e vai mesmo assim. Ao invés de jogar uma moeda só, você joga duas e diz que fez dois desejos, um por você e um por mim. Eu fico o dia inteiro te perguntando quais foram os desejos, mas você não me conta, porque se não eles não se realizam. Consegue imaginar?

Eu conseguia imaginar perfeitamente. Cada detalhe de cada cena. Os aromas, as expressões de Sirius, o som da sua risada, as ruas perfeitamente limpas, as flores ao redor, a fonte. Absolutamente tudo. E eu me sentia feliz. Mais do que nunca. Porque Sirius Black era tudo o que eu precisava para ser feliz.

Abri os olhos, enquanto um sorriso largo de estendia por todo o meu rosto. Sirius estava próximo de mim. Perto até demais. Prendi a minha respiração por um milésimo de segundo. Não imaginava que ele estivesse tão próximo. Ele sorriu de volta para mim, e senti como se o meu coração estivesse prestes a derreter.

— Consegue imaginar, Lene? — perguntou ele novamente.

— Perfeitamente — concordei, ainda sorrindo.

— Acha que poderia ser feliz assim?

A pergunta dele me pegou desprevenida, então não soube o que responder de imediato. Fiquei quieta por alguns segundos, apenas ponderando sobre as ideias completamente insanas que passeavam pela minha mente. Dentre todas elas, escolhi a mais doida de todas. Em um ato de coragem, sabendo que estaria colocando tudo em jogo, aproximei-me de Sirius, enlacei os meus braços ao redor do seu pescoço e colei os nossos lábios. Ele retribuiu o beijo e colocou as mãos na minha cintura, aproximando ainda mais os nossos corpos.

Quando finalmente nos afastamos, ele tinha um sorriso em seus lábios, o que fez com que eu me sentisse aliviada. Aparentemente, ele havia gostado tanto do beijo quanto eu. Não sei exatamente em que momento meus sentimentos por Sirius surgiram, mas eu tinha certeza, eu o amava com todo o meu coração, e ele realmente me fazia sentir como se eu fosse a garota mais feliz do mundo, mesmo quando éramos apenas melhores amigos.

— Acho que fazer você sair de casa foi uma ótima ideia, afinal. Ainda está convencida do contrário? — perguntou ele, brincalhão.

— Nem um pouco. — Eu ri baixinho, divertida. — Acho que esse foi o melhor aniversário de todos.

— Finalmente. — Sirius levou uma das mãos até os meus fios de cabelo, bagunçando-os, e eu fiz uma careta. — Você está feliz, Marlene?

— Muito feliz, Sirius Black — respondi, com um sorriso largo nos lábios. Em seguida, aproximei-me dele para roubar um beijo rápido. — E serei feliz para sempre, desde que você continue ao meu lado.

Foi naquele instante que eu percebi que, na verdade, eu nunca fui infeliz. Bastava ter Sirius ao meu lado para que tudo ficasse bem. Era assim desde a época da escola. Naquela noite, nós dançamos juntos até o amanhecer, sem nos preocuparmos com nada, e foi a primeira vez que não me senti sozinha em tanto tempo. A sensação de liberdade era avassaladora e extremamente boa. Minha serotonina parecia ter atingido o seu nível mais alto em tempos. Eu sentia como se pudesse ficar dançando com Sirius daquela forma para sempre.

Talvez 22 anos não fosse uma idade tão ruim, afinal. Eu estava feliz por ter Sirius comigo e por saber que ele me amava da mesma forma que eu o amava. Sentia-me livre por finalmente me desamarrar daquela maré de azar que eu mesma havia inventado na minha mente. E confusa, porque não sabia como seriam os meus próximos dias. Era assustador e mágico ao mesmo tempo. E, embora toda essa loucura me assustasse, eu sabia que ficaria tudo bem, porque Sirius estaria ao meu lado.

 

I don't know about you, but I'm feeling 22
Everything will be alright if you keep me next to you
You don't know about me, but I'll bet you want to
Everything will be alright if we just keep dancing like we're 22, 22

I don't know about you
22, 22

 


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