Luta Pela Liberdade escrita por Fanfictionwriter


Capítulo 6
O Início do Despertar do Dragão


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo nossa heroína enfrenta o desafio de uma força muito antiga dominando seu corpo.



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Acordou com o cheiro de ovos fritos saindo de fora da casa do sacerdote. Era Yoon preparando o café da manhã. Não se lembrava se tinha conseguido, de fato, dormir essa noite. Levantou-se preguiçosamente, lavou o rosto com a água de uma bacia próxima. Observou-se num espelho de mão que estava ao seu lado, enquanto penteava os cabelos rebeldes com os dedos. Perguntava-se até que ponto sua vida era influenciada pela alma do rei Hyriuu, se esses eram seus sonhos e desejos, ou se ela era apenas um corpo no qual habita um espírito antigo. Podia ela ser os dois? Passou a mão sobre a pele macia do rosto, se acariciando de leve. Sentiu a maciez sob seus dedos e lembrou do tempo em que sua maior preocupação eram os cremes de beleza que dava durante o dia. Ao sair sentiu o toque suave da brisa da manhã. Ainda era por volta das cinco horas, o dia mal amanhecia direito. Viu à sua direita seu estranho grupo sentado silenciosamente ao redor da fogueira. O clima era apreensivo, tenso, perturbador até. Ela sabia que eles queriam ter conhecimento de tudo o que se passava em sua cabeça, e que não a forçariam a responder suas perguntas. Finalmente estava pronta para responder.

— Yona-chan! Bom dia! - exclamou Jae-ha enquanto balançava o braço em sua direção, chamando-a para se sentar ao seu lado. - Bom dia pessoal! Obrigada Jae-ha. - Sentou-se e agradeceu pelo alimento. Comeram em silêncio, certos de que não falariam sobre o tão esperado assunto: o que o sacerdote havia dito a ela? Até que, ao final da refeição, a menina deu sinal para que seus colegas não se levantassem, pois tinha algo importante a dizer.

—Pode nos contar qualquer coisa princesa. - disse seriamente Kija. - Sempre. - complementou Hak. Zeno tinha ideia do que se tratava, então levantou-se e sentou ao lado dela, segurando sua mão enquanto olohava para o chão. Shin-ha acenou em concordância com a cabeça e Yun apertou apreensivamente as mãos em punho fechado. Após olhar todos começou a falar mansamente – Queridos… Ontem conversei com Ik-So. - respirou profundamente tomando coragem – Ele me contou a história dos dragões, mas sem cortes. Hoje sei que seus corpos, apesar de aparentarem grande força, não são capazes de suportar tamanho poder por tanto tempo, por isso o tempo de vida de vocês é reduzido. - Yona… - Jae-ha a olhou perplexo e interrompeu – do que você está falando? Não tem nada disso… - antes que pudesse terminar ela o olhou séria e continuou – Não precisam mais esconder de mim. - ele franziu o cenho desconcertado e olhou para baixo. - O que eu não sabia era que os descendentes do rei Hyriuu também estavam sucetíveis a isso, mesmo sem expressar nenhum poder sobrenatural. - todos arregalaram os olhos com medo de que ela sofresse desse mal – Não se preocupem! Não sou descendente dele. Mas Soo-Won é. E sofre da doença conhecida como Camesin. Sei que essa decisão não compete só a mim, por isso vim aqui conversar com todos. Não acho justo e creio que o rei Hyriuu também não acharia, que essa maldição esteja sobre a vida dos dragões que nascem, geração após geração, com o único fim de nos defender. E… Eu descobri uma forma de impedir que esse ciclo doentio continue. - A tensão era palpável no ar. - E como seria isso? - perguntou Kija – Não posso lhes contar tudo. Posso dizer apenas que… Apenas eu posso reverter essa situação. Mas pra isso vou precisar da ajuda de vocês. Estão juntos comigo nesse propósito? Em libertar seus povos de tanto sofrimento? - após um longo momento de silêncio todos, um a um acenaram em confirmação com a cabeça, com exceção de Zeno, que saiu sem dizer nada.

Yona o seguiu e, quando já estavam longe o bastante de todos, o rapaz começou a falar em tom áspero – Nunca vou concordar com isso… - Mas Zeno… - a garota tentou o interromper, mas ele continuou – Eu vivi milênios à sua espera. Acha que não sei o que pretende fazer? - Virou-se na sua direção e foi caminhando lentamente até poucos passos à frente dela – Acha que nunca pensei em uma forma de impedir que meu sofrimento se prolongasse? Que nunca fui atrás pra saber como fazer meus irmãos não precisarem morrer ainda na juventude? Bem… Eu fui. E não havia nada que eu pudesse fazer. - Yona o encarava fixamente e disse – Então sabe que só eu posso fazer isso. - Yona… Você é preciosa demais para isso. Não pode se humilhar dessa forma! NÓS VIVEMOS PARA TE PROTEGER! - dizia entre gritos – NÃO VOU TE ENTREGAR PARA ELE! NÃO PARA AQUELA RAPOSA MALDITA! - parou apenas quando sentiu as mãos da ruiva sobre as suas – Zeno… - A mansidão em sua voz fez o garoto lembrar com quem estava falando. Sabia que seu mestre agia contra a razão, que seus sentimentos gritavam mais do que qualquer coisa no mundo. Sabia que nada que dissesse ou fizesse a faria mudar de ideia. Era assim que o dragão vermelho era… E nunca mudaria. Abaixou a cabeça envergonhado e permitiu que algumas lágrimas teimosas caíssem de seus olhos. - É nosso destino te proteger… não o contrário. - falou ainda olhando para o chão. - Eu nunca deixaria vocês sofrerem por mim. - encostou suas testas e esperaram até se acalmarem. Partiram então em direção à casa onde todos estavam terminando de arrumar as coisas pra a partida.

Com tudo pronto para saírem, foram se despedir do sacerdote, que deu-lhes uma última palavra – A luta que vão enfrentar de agora em diante é muito nobre e salvará milhares de vidas. Não tem haver só com os dragões, mas com todo o povo de Kouka. Apesar de parecer algo grande demais para ser alcançado, os deuses estão com vocês nessa jornada. Yona, seu desejo agrada os céus e o poder que antes fora investido no dragão vermelho estará sobre a sua vida até que se cumpra o que deve fazer nessa missão. Quando Hyriuu abriu mão de seus poderes para vir à terra como homem, eles ficaram guardados pelas divindades para que não se perdessem. Agora elas os confiam a você. Há possibilidade de o seu corpo não suportar tamanho poder, ocasionando sua morte. Por isso precisará ser forte e persistente em alcançar seus sonhos. A fé é o alimento da alma, nunca se esqueça disso! Devem partir em direção ao norte da Tribo do Fogo, na região montanhosa que faz divisa com o Império Kai. Lá saberão o que fazer.

Durante a caminhada Yona começou a se sentir estranha, aos poucos suas pernas foram perdendo a força mais rápido do que o normal. O grupo passou a fazer pausas com mais frequência, sempre estranhando o estado da moça. Se perguntavam o que seria esse despertar que Ik-So havia mencionado, pois mesmo Zeno não tinha visto nada do gênero. Os dragões já nasciam com a marca do dragão e aos poucos seus poderes aumentavam. Será que ela teria alguma mudança corporal? Teria ela a força bruta do branco e do verde, ou o olhar do azul? Sua pele seria resistente como a do amarelo?

Pouco mais de meio dia de travessia e a moça caiu sobre seus pés de cansaço, desmaiada. Aparentava estar em sono profundo. Hak a carregou até a sombra de uma árvore, ajeitou seu vestido e seus cabelos, tendo certeza de que estaria bem. Depois analisou os braços e pernas pra ver se havia algum hematoma, mas não observou nada demais. Montaram a barraca e, assim que o almoço ficou pronto, sentaram-se para discutir o que seria feito.

— Tem alguma ideia do que esteja acontecendo com a princesa? - perguntou Kija ao Zeno – Não irmão… Infelizmente não posso ajudar em nada agora. Quando estava com o rei Hyriuu ele não demonstrava nenhum poder sobrenatural, era um ser humano comum. Parece que a batalha que nossa mestra decidiu travar é mais penosa que a do meu antigo senhor. Tanto que os deuses decidiram dividir seu poder com ela, para que seja capaz de cumprir sua missão. - todos esperaram em silêncio por um momento, até que Jae-ha se manifestou – Independente do que aconteça, é obvio que ela está muito fragilizada agora. Podemos carregá-la durante o percurso de volta para a tribo do fogo, mas levará no mínimo uma semana para chegarmos. - todos pareceram compreender onde ele queria chegar – talvez o mais seguro seja eu levá-la na frente. - Yun então mostrou o mapa que estava observando há algum tempo – acho uma ótima ideia! Mas onde vão ficar? Mesmo que vão pelo céu, deve levar no mínimo 2 dias de viagem. - Podemos confiar em Tae-Yun nesse momento – complementou Hak. - Ele mora no castelo da tribo do fogo, lá têm vários médicos capazes de ajudá-la nesse momento. E, mesmo que sejamos inimigos deles agora, creio que ele vai fazer das tripas coração para cuidar da Yona. E além do mais, fica próximo da região que Ik-So mencionou. -Apesar de apreensivos, todos concordara. - Conheço um atalho que leva direto ao castelo, estive estudando ele pelos pergaminhos nessa última semana. - mostrou o pequeno ao grupo e decidiram então seguir com esse plano.

Após um momento de descanso após o almoço, Jae-ha pôs suas coisas numa mochila e se preparou para a viagem. Hak e Yun arrumaram as de Yona, entregando-as ao rapaz. Acharam que seria mais seguro levá-la sobre suas costas, ainda que ela estivesse desmaiada. Passaram ao redor dela e do homem de cabelos verdes uma corda, que os prendia um no outro firmemente. Assim ele teria os braços livres, caso houvesse algum imprevisto no caminho. Os outros os alcançariam em 6 dias. Kija pôs a mão sobre seu ombro direito e o olhou intensamente, como quem pede de todo o coração para que cuide do que está levando consigo. Hak fez o mesmo sobre seu ombro esquerdo. E assim ele partiu, prometendo dar sua vida por ela se preciso fosse.

Jae-ha saltou em direção ao castelo e seguiu com toda a sua força. Durante os incansáveis saltos se lembrara de quando carregou sua mestra a primeira vez em Awa. Os dois contemplaram o oceano juntos, aquele tempo parecia tão distante agora. Se lembrava de como sua vida mudara completamente desde que a garota entrara nela. Antes era um pirata, mulherengo e pouco confiável. Fazia um dia por vez, sendo sempre fiel à sua tripulação. Nunca imaginara se apaixonar perdidamente pela moça que agora carregava desacordada em suas costas. Não a amava apenas pela aparência única, nem pelo sangue que corria em suas veias, mas pela determinação que ela tinha em sempre lutar pelo bem das pessoas, independente de qualquer circunstância. Ela não tinha força física, mas a força de seu coração a tornava gigante. Queria vê-la feliz, segura e completa ao lado do seu amado Hak. Mas algo em seu peito lhe dizia que dias mais difíceis viriam pela frente. Ao menos por agora podia senti-la junto ao seu corpo e ter certeza de que estaria protegida.

Yun havia embalado algumas frutas e um pouco de arroz, o suficiente para todo o trajeto. Já de noite decidiu parar e montar uma tenda para os dois. Pôs a moça sobre sua capa, protegendo-a do chão molhado pela chuva. Após acender a fogueira para se aquecerem, levantou a pequena tenda sobre suas cabeças e sentou para comer. Tentou alimentá-la, mas ainda não acordara de seu sono profundo. Não tinha noção de quanto tempo havia passado apenas a observando, rezando para que ela estivesse bem, até que a viu se mexer e balbuciar alguma coisa. Correu ao seu encontro, aproximando seus rostos para ouvi-la. As palavras não tinham muita lógica, era como se falasse uma língua estranha, mas de vez em quando entendia que ela dizia “fome”. Ele sentou encostado na árvore que usava de apoio, a posicionando entre as suas pernas, encostando as costas dela no seu peito. Com uma mão sustentava sua cabeça e pescoço, ajudando-a a abrir levemente a boca. E com a outra levava a comida até Yona, com toda a paciência do mundo. Ela conseguia dar pequenas mordidas no bolinho de arroz e, com muita dificuldade, engolia. Entre uma mordida e outra ele lhe dava água, afim de ajudá-la. Levou mais de uma hora para que conseguisse comer um pouco, pois vez e outra caia no sono novamente e ele, pacientemente, a despertava com cuidado. Ao terminar ele a deitou novamente, ajeitando o cobertor sobre ela. Deitou-se ao seu lado, de frente para ela, o que lhe deu tempo o bastante para vê-la o quanto quisesse. Ela estava sempre ocupada, correndo de um lado pro outro. Seja ajudando o Yun, treinando sozinha com o arco ou espada com Hak. Eram raros os momentos que ele podia vê-la serena e calma assim, de pertinho, como se nunca mais houvesse um amanhã. Claro que a preocupação em seu coração era enorme, mas, por um instante, decidiu esquecer de tudo e se importar apenas em gravar cada ondinha de seus caxos vermelhos na memória. A forma como eles desenhavam seu rosto pequeno e bochechas redondas e rosadas. Ela era linda aos seus olhos, a mais linda que já vira. Ficou admirando sua amada até cair no sono.

Nos dois dias que se seguiram os acontecimentos foram muito parecidos, ela vez e outra acordava atordoada, sem saber onde estava ou quem era e logo adormecia novamente. Ele a ajudava a comer e beber, a carregava com todo o cuidado do mundo. Não tiveram grandes imprevistos no caminho, com exceção de uma chuva e outra. O que o preocupava é que cada vez mais a temperatura da garota parecia subir, como se estivesse com febre. Yun lhe dera um remédio para isso, umas gotinhas que despejava na água que dava a ela, mas não parecia trazer grandes resultados.

Na noite do segundo dia, já no jardim do castelo, escondeu Yona entre uma mata baixa e observou o movimento ali. De longe percebeu o homem de cabelos prateados que conhecera, Tae Yun, seu aliado. Tomou a moça em seus ombros novamente e sorrateiramente foi se aproximando, aproveitando a escuridão e as moitas para prosseguir. Notara antes que o quarto dele ficava virado para onde estavam escondidos, e com um salto estava apoiado em sua janela. O rapaz tomara um susto enorme, mas abafou o grito com as próprias mãos ao reconhecer Jae-ha. - O que está acontecendo? - perguntou ainda atordoado e acenando para que entrasse. Depois de checar de havia alguém lá embaixo que pudesse tê-los visto, fechou a janela. Reparou então na moça que agora estava sendo deitada sobre sua cama – Yona! - exclamou exasperado e correu ao seu encontro, pondo as mãos sobre seu pequeno rosto. - O que houve com ela? Está fervendo! - Jae-ha então respondeu – Precisamos da sua ajuda. É uma longa história. - Tae-Yun então o guiou para um sofá que ficava à frende da cama, entendendo que o assunto demandaria algum tempo. - Não poupe nenhum detalhe, por favor! - pediu seriamente. - Como você já sabe, a lenda dos dragões de Kouka é real. Eu, Kija, Shin-ha e Zeno carregamos em nossos corpos a marca dos dragões verde, branco, azul e amarelo, respectivamente. Mas a outra parte da história também é real. - o rapaz sentiu a garganta secar, apreensivo com o que tinha a descobrir pela frente – Yona é a reencarnação do rei Hyriuu, o dragão vermelho, que abriu mão de seu poder e glória para ajudar a humanidade a se libertar da tirania das demais divindades que governavam o mundo, entre elas, o senhor de Kai. Não sei te dizer exatamente quais são os planos da Yona-chan, nem cabe a mim forçá-la a dizê-los, mas sei que envolve a libertação de muitas pessoas. Os deuses que apoiaram a decisão de Hyriuu também deram apoio à Yona e agora confiaram a ela o poder do dragão vermelho. Não sabemos como irá se manifestar nela, nem se irá suportar tamanha força… - apertou os punhos com raiva e angústia, o que foi rapidamente entendido por Tae-Yun – Quer dizer que ela pode morrer a qualquer momento? - recebeu um aceno afirmativo e um olhar intenso. - Mas não se desespere. Sei que ela não foi escolhida a toa. Yona não parece, mas é extremamente forte. O que precisamos agora é dar todo o suporte para que ela consiga enfrentar essa batalha sozinha. - Quer dizer que só vamos ficar aqui sentados, dando remédio vez e outra, esperando que ela melhore? - perguntou desesperado ao rapaz de cabelo verde, que novamente acenou um sim. - Qualquer coisa além disso está fora do nosso alcance. Os outros nos alcançarão em quatro dias para partirmos rumo às cadeias montanhosas, onde o sacerdote orientou que fossemos. - Impossível! - exclamou o platinado – há dois dias o vulcão que fica entre as montanhas entrou em atividade depois de séculos, senão milênios! É perigoso demais nos aproximarmos de lá. - Jae-ha teve o medo estampado em seus olhos novamente, mas ao invés de deixar o desespero tomar controle de si, sentou ao lado da cama de Yona, segurando-lhe a mão e disse – Cabe a nós confiar que os deuses sabem o que estão fazendo.


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Notas finais do capítulo

Estarei ansiosa pelos comentários ♥



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