Yah’ymir era a inevitável senhora do fim, a quem o caminho de todos estava destinado a cruzar, e hoje, mais uma vez, o som dos passos da dama solitária eram sua única companhia quando ela adentrou o subsolo, para recolher a alma dos tolos que pensando serem heróis e, novamente, haviam desafiado a escuridão.

Mas alguém estava faltando…

Ela olhou em volta, às vezes alguma alma desgarrada tentava escapar.

Seguiu seu caminho, embrenhando-se mais profundamente na terra até deparar-se com uma cena que chocou inclusive a sombria deusa da morte: Anlaraph, o deus da escuridão, em lágrimas, embalando uma mortal.

Ah… Yah’ymir conhecia aquela mortal, ela fora a última veneta do irmão.

Claro que todos perceberam que acabaria daquela forma.

Exceto Anlaraph.

—Afaste-se Morte. — ele rosnou-lhe ao percebê-la.

Sem intimidar-se, Yah’ymir estendeu-lhes a mão esquálida, pois nenhum deus poderia interferir nos domínios de outro… e todas as almas mortais eram seu domínio.

—Ela é minha. — Anlaraph agarrou-se a mortal.

—Não mais. — viu-se obrigada a explicar, com voz enrouquecida. — É chegada a derradeira hora.

—Ela será minha por toda a eternidade!

Yah’ymir abaixou a mão, estudando-os, Anlaraph sequer permitia que a alma desprendesse-se do corpo.

Mas quão resignado estava a mantê-la?

Anlaraph percebeu o chispear malicioso nos olhos dela, antes de Yah’ymir falar:

—A vida tem se espalhado progressivamente pelo mundo, a morte também precisa se espalhar, mas inclusive eu tenho dificuldades para estar em tantos lugares simultaneamente. Somente você pode recobrir o mundo com escuridão e criar sombras vivas. Esse é o tributo exigido em troca de abençoar tua amada com imortalidade: Faça-me um manto sombrio.

Quando Yah’ymir abandonou o subsolo, portava um manto que produzia sombras de formas humanas, animalescas ou monstruosas, e todas, gentil ou vorazmente, iriam buscar aqueles que lhe eram devidos.

Pois eram vassalos da Morte.