Ingênua deusa do amor. Boba Afrodite. Iludida e fútil personificação da beleza.

Por milênios, tenho acatado passivamente os sussurros e os risinhos. Dia após dia, fingindo não ser afetada pela forma como os autoproclamados “poderosos imortais” me tratam quase como uma deusa menor. Como se meus poderes fossem ilusão ou, no máximo, um truque de mágica barato.

É cômodo para eles todos, acredito, me enxergar como nada além de uma doida excêntrica a ser tolerada. Uma Barbie com apenas dois traços de personalidade: os gritinhos animados e o gosto por cor-de-rosa.

Pois deixe que me subestimem.

Que não vejam um palmo além das minhas unhas impecáveis, longos cabelos loiros e do piscar aparentemente inocente de meus olhos azuis.

Que não concebam que fui eu a romã que reuniu Perséfone a seu destino.

Que riam-se de confusões como a feita pelo elfo Puck em “Sonho de uma Noite de Verão”, sem perceberem que é sempre o meu poder encantando os mortais século após século. Neste caso, entrelaçando as vidas de Hérmia, Lisandro, Demétrio e Helena a meu bel prazer, até conquistar o resultado por mim desejado.

(Que convenientemente também se esqueçam do que houve com a homônima desta última. Princesa nascida em Esparta mas eternamente “Helena de Tróia” por conta de sua célebre história de amor.)

Pois que assim seja.

Esperei tempo demais e agora esses insolentes olimpianos irão aprender sua lição.

Preparem-se para o nascimento de Vênus, queridos.

É hora da renascença...