A fada que o escreva escrita por Creeper


Capítulo 32
Extra VI: O acidente das maldições - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Hi! E chegamos ao último capítulo da nossa história. Eu gostei muito de escrevê-la e agradeço a todos que acompanharam até aqui e favoritaram, fiquei imensamente feliz com cada comentário, saiba que me motivaram a continuar postando!
Tenham uma boa leitura e nos vemos novamente nas notas finais ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804314/chapter/32

Parte II

Um pulso torcido e uma maldição falha. Não consegui ver a névoa e ainda ganhei uma tala na mão humana. Francamente, não podia ter sido a mão de aço?

— Idiotas! – Aurora bateu com um pergaminho em minha cabeça e na de Dante. – Já falei para não compartilhar maldições com ele! – franziu as sobrancelhas.

— Ah, é? Experimenta ser casada com ele, depois de um tempo você simplesmente cede. – Dante cruzou os braços.

— Ei! – protestei encolhendo-me no banco. – Mas tudo bem, confesso que errei. – ruborizei.

— Errou! Errou feio. – a mulher bradou. – Porém, o Vulpecula errou ainda mais, não se compartilha maldições com quem não tem treinamento.

O exorcista pigarreou, desviou o olhar e prosseguiu:

— Acha que eu fiquei feliz por tê-lo machucado? Claro que n... Hã, pode pedir para suas irmãs pararem de me encarar?

Me endireitei no banco e foquei-me nas três garotas de tamanhos distintos que apoiavam os rostos nas mãos e suspiravam de amor por Dante. Todas eram mais novas que Aurora, tinham cabelos rosas com diferentes penteados e duas delas possuíam olhos dourados enquanto os da outra eram roxos.

— Não, é seu castigo. – Aurora bufou. 

— Quanto tempo vou ficar assim? – analisei meu pulso enfaixado.

— Íris? – a exorcista gesticulou.

Íris, a irmã de 20 anos com curtas madeixas e franja mal cortada, inspirou profundamente e respondeu abobada:

— Quanto tempo eles quiserem ficar aqui.

— Obrigado pela gentileza do Consultório Lince, mas preferimos tratar disso em casa. –  Dante pousou as mãos em meus ombros e assentiu.

— Lua, passe os comprimidos para ele. – Aurora pegou alguns frascos e os chacoalhou perto de seus ouvidos.

Lua, a de 17 anos e rabo-de-cavalo, caminhou lentamente até a estante de remédios, ainda que sem tirar os olhos de meu marido, o que a fez tropeçar na escrivaninha lustrosa e derrubar todos os seus bibelôs.

— E eu? 

— Flora, continue a castigar o inconsequente com seu olhar irritante. – a exorcista abanou a mão com descaso.

Então Flora, a de 14 anos e longas tranças, sorriu de orelha a orelha e balançou a cabeça enquanto cantarolava alegremente ao admirar Dante.

Revirei os olhos e apoiei o peso da testa na mão boa, ouvindo o aço ranger.

— Não se importe com a Aura, ela te trata assim porque não consegue ver o quanto você é bonito. – Íris afirmou.

Dante fez uma careta e trocou um olhar de soslaio comigo, o que fez a moça acrescentar agitando as mãos:

— Nada pessoal, Suichiro.

Cruzei as pernas e meneei com a cabeça como se não tivesse importância, fazendo questão de ignorar a pontadinha de ciúmes dentro de mim.

— Eu sei que ele é bonito, a última vez que o vi ele tinha vinte e um anos e se é verdade o que dizem, que homens envelhecem feito vinho, ele está ainda melhor. – Aurora entregou os frascos para Lua sem nenhuma delicadeza. – Mas pouco importa a beleza, se é um irresponsável.

— Diz isso porque gosta de mulher. – Lua provocou com um risinho.

Senti um estalo na cabeça ao lembrar-me de que Lissa havia saído para uma viagem há um mês e ainda não havia mandado sinais de voltar. Segundo ela, os fungos zumbis estavam crescendo em uma loja de caixões justamente em Dragonean. Como Aurora não lidava bem com viagens de barco, resolveu aguardar por sua esposa em Saintenia.

— Tem notícias da Lissa? – perguntei esperançoso.

— Ela mandou um bilhete que dizia… – a exorcista colocou as mãos na cintura e abaixou a cabeça.

— “Bem. Achei. Amo vocês!” – Flora completou como se já tivesse repetido aquilo diversas vezes.

Lissa definitivamente não gostava de gastar palavras. Mas se ela havia encontrado os fungos zumbis, eu estava feliz por ela. 

— Apenas espero que ela não volte com alguma doença desses fungos. – Aurora murmurou. – E quanto a vocês, peguem os remédios e vão embora.

E Aurora definitivamente não levava jeito para ser médica, era melhor continuar como exorcista.

Com essa educada despedida, agradecemos as irmãs Lince e deixamos o rebuscado consultório de três andares fundado pela mãe delas.

— Você está bem? – Dante indagou receoso e fitou meu pulso.

— Não é isso que vai me parar. – agitei a cabeça. – Então... Você chamou mesmo a atenção delas. – ajeitei minha franja.

— Não me sentia assim desde a época da guilda. – ele soltou o ar e ergueu o rosto. – Mas falando em chamar a atenção… 

A alguns passos de distância, vindo na direção oposta à nossa, um grupo de quatro pessoas caminhava em uma linha horizontal, esbanjando imponência e elegância. Arregalei os olhos e paralisei no lugar, reparando que os cidadãos ao redor prestavam curtas reverências.

— São os… – sussurrei.

— Superiores. – Dante puxou-me para um canto.

Os superiores. Cada classe tinha os seus e só havia dois jeitos de conseguir aquele cargo: dar a vida pela guilda com grandes descobertas e estudos ou simplesmente herdá-lo. Mas ambos só aconteciam de décadas em décadas, apesar de que o segundo era mais recorrente.

O primeiro membro do grupo era um senhor com uma vistosa barba branca e boa postura, cujo nome era Lifenen. O segundo era Finn, um homem esguio de cabelos vermelhos e semblante esnobe.

— Esse é o tio da Aurora. – meu marido cochichou. – Por ele, Aurora teria sido removida do cargo de exorcista naquele acidente que a deixou cega. 

Cerrei levemente os dentes e tentei disfarçar minha expressão de indignação. Família não era muita coisa para algumas pessoas mesmo.

O terceiro integrante era uma mulher chamada Kaira que possuía um olhar apático por debaixo dos óculos retangulares. E no final estava uma figura esbelta de longos cabelos ruivos.

— E essa é… – Dante comentou a contragosto.

— Minha mãe.

Demos um sobressalto no lugar e nos viramos bruscamente para encarar a imagem risonha e presunçosa de Dereck Still apoiada em uma árvore atrás de nós. A única coisa que havia mudado nele era… Bom, sinceramente, não consigo identificar nada que tenha mudado.

— Excalibur Still. – ele cruzou os braços e indicou com o queixo. – E algum dia eu vou estar no lugar dela. – riu convencido.

Ao passarem por nós, cumprimos nossa reverência e os superiores retribuíram com breves acenos de pura educação. Porém, o que mais me surpreendeu foi que Excalibur franziu as sobrancelhas, torceu o nariz e exclamou:

— Dereck, tem um exorcismo para ser feito em Rumus. Por que você ainda está aqui?

— Sim, senhora, já estou indo! – o rapaz ficou pálido e assentiu rapidamente.

Excalibur semicerrou os olhos e meneou com a cabeça, ordenando ao filho que fosse naquele exato momento. O rapaz engoliu em seco, ficou cabisbaixo e correu para longe de nossas vistas.

A superior bufou, jogou seus cabelos para trás e pressionou o polegar e o indicador no canto dos olhos.

— Ele vai melhorar. Algum dia. – Kaira ajeitou seus óculos.

— Eu deixei o pai mimá-lo demais. – Excalibur cruzou os braços e empinou o queixo. – Agora são dois preguiçosos para colocar na linha.

— Convenhamos, ele é incapaz de herdar seu cargo. – Finn riu com desdém.

— Não tenha ideias erradas, Lince. Levarei o tempo que for preciso para transformá-lo em um homem decente, mas ele terá esse cargo. – a ruiva bufou. – Os Still devem continuar como superiores.

Eu e Dante seguimos discretamente o grupo com o olhar até que suas vozes já não fossem mais ouvidas. Era impressionante como eles falavam de nepotismo tão abertamente.

Antes de virarem uma esquina, Excalibur olhou para trás por cima do ombro e eu senti um arrepio se espalhar por minha espinha. Quando ela sumiu de nossas vistas, disparei:

— Assustadora, assustadora, assustadora.

Dante soltou uma risada abafada, passou o braço por meus ombros e guiou-me pelo percurso até nossa casa.

— Se Dereck tem uma mãe dessas, como pode ser tão… Ele? – fiz uma careta.

— Porque na maior parte do tempo ela está ocupada na guilda. A vida dela é lá. – o exorcista bocejou. – Talvez quando passar o cargo para o Dereck, ela consiga aproveitar a aposentadoria no Recanto das Cartas e Corujas.

— Espero que ela e a sogra se deem bem. – ri baixinho.

Meu marido parou por um momento, ergueu as sobrancelhas e questionou:

— Você não sabia que Júpiter é mãe de Excalibur e não sogra?

Fiquei tão boquiaberto que tive medo de alguma mosca entrar pela minha garganta, então tossi surpreso e berrei:

— O quê?! Como?!

O exorcista deu de ombros, esboçou um sorriso amarelo e convidou-me a continuar a andar. Fitei minhas próprias botas, perguntando-me como as três gerações de Still podiam ser tão diferentes entre elas.

Ao escutar alguns passos próximos de nós e vozes infantis, levantei a cabeça e sorri ao avistar a menina de curtos cabelos pretos e olhos de cores distintas que cintilavam de felicidade. 

— Nara! – acenei animado.

Nara e seus amigos interromperam sua brincadeira de pega-pega e me rodearam eufóricos, pulando sem parar e repetindo a mesma coisa:

— Tio, você deixa a gente ver o Sea?

Ri sem jeito, massageei minha nuca e analisei suas expressões manhosas.

— Outro dia. Hoje não estamos muito bem para visitas... – apontei para meu pulso enfaixado.

— Oh, você estava no consultório da família da mamãe? – Nara levantou as sobrancelhas. – Viu o que me deram? – exibiu seu antebraço de aço novinho em folha.

— Wow, ficou incrível! – exclamei admirado.

— É, mas agora ninguém vence ela no arremesso! – a amiga dela protestou.

— Mas ela ficou tão bacana assim… – o amigo suspirou apaixonado.

Nara ruborizou e puxou parte de meu sobretudo para esconder seu rosto. Senti uma pontada dentro de mim e olhei de minha afilhada para o garoto de maneira incrédula, contudo, antes de dizer qualquer coisa, fui cortado por Dante:

— Certo, pirralhos, querem brincar de algo legal?

— Sim! – as crianças responderam em uníssono.

— Meninas brincam de ficar longe de meninos porque eles cutucam o nariz. – o exorcista afastou as garotas do garoto.

— Ei, mas é só às vezes! – ele corou.

— Eca! – elas riram e entrelaçaram seus braços. – Tchau, tio Sui! Tchau, tio Dan! – e saíram saltitando.

O garoto choramingou e correu atrás delas, alegando que limpar o nariz com os próprios dedos era um ato saudável. Dante suspirou pesadamente, colocou as mãos na cintura e fechou os olhos por um instante.

— “Tão bacana”. – soltou um muxoxo. 

—  Uau, raramente vejo esse seu lado ciumento. – provoquei.  – Se é assim com os filhos dos outros, imagine com os nossos.

O exorcista arregalou os olhos e me encarou estático. Com as bochechas salpicadas de vermelho, dei uma risada abafada e coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— É uma ideia para o futuro. – encolhi os ombros e sorri timidamente.

Dante esboçou um sorriso sincero, depositou um beijo suave em minha testa e sussurrou olhando nos meus olhos:

— É, é sim.

 

 

“Caro melhor amigo,

Você provavelmente não vai conseguir ler essa carta quando ela chegar em Hibisc, por motivos de que acabei de sair daí e você estava desmaiado depois de tanto vinho e cervejas de pistache. Não se preocupe, eu e Oliver te colocamos na cama (você vai se perguntar como chegou até ela quando acordar, eu sei).

De qualquer forma, tomei a liberdade de te contextualizar:

Há poucas horas, eu estava com você em nossa festa de aniversário de 20 e 21 anos, que foi incrível, caso não se lembre. Dante não me deixou beber muito e mesmo assim eu pensei que estivesse bêbado quando cheguei em Saintenia. Ou que havia ficado louco e estivesse vendo coisas.

Ao chegarmos em casa, havia água por toda parte e nossos armários de comida estavam revirados. Depois de um tempo tentando entender a situação, encontramos Sea dormindo no sofá.

Não com seu pelo, rabo e estrelas de costume. Agora ele tinha pernas, braços e um rosto humano. No meio de seus cabelos brancos, havia uma mecha azul e seus olhos imitavam a cor do mar quando se abriram.

Aparentemente, as lendas sobre eles serem transfiguradores eram reais.

Ele entende palavras humanas e até fala algumas delas. Apesar disso, Sea não ficou na forma humana por muito tempo, logo se transformou novamente em mimicon, talvez por ser muito novo e não ter energia o suficiente para manter a transfiguração.

De todo modo, achei melhor te avisar que agora eu tenho um filho, isto é, quando ele resolve se transformar em humano.

 

Com carinho,

Um pai de primeira viagem muito confuso.

(Dante está em estado de choque até agora!)”

 

“Querido Gaspar,

Não me recordo direito da cena, apenas me lembro que foi uma das coisas mais perturbadoras que já vi. E um dos momentos em que mais precisei ser forte.

Dante foi chamado para fazer um exorcismo em um casal que morava em uma região pobre de Azalea junto com seus filhos, sendo eles um menino de 12 anos chamado Marco e uma menina de 7 anos chamada Lucy, que estavam encolhidos na entrada da casa, sujos e assustados.

Quando Dante entrou no lugar, ele já sabia que os pais não haviam resistido e estavam mortos. Ele conseguia ver a névoa preta. E mesmo assim, ele se manteve calmo na frente das crianças para passar-lhes segurança.

Por mais que Marco tenha relutado em ir para o orfanato e alegado que se viraria bem com seu emprego de caçador de ratos, nós o convencemos a acompanhar Lucy.

Lucy que não queria nos soltar de jeito nenhum. No momento em que ela apertou meu sobretudo com sua feição chorosa em busca de auxílio, eu desejei que nunca mais soltasse. Eu me senti pai dela naquele instante e quis protegê-la de tudo pelo resto de sua vida.

Demos início ao pedido de adoção e você é a primeira pessoa para a qual estou contando, por motivos óbvios de que se tudo der certo, você será tio (de novo)!

Agora preciso contar para Lissa e Aurora que serão as madrinhas, pois o insano sistema de adoção exige uma figura materna na criação das crianças, mas não me importo com a burocracia, apenas quero Marco e Lucy conosco.

 

Atenciosamente,

O homem mais ansioso do mundo.

 

“Prezado melhor inventor de Hibisc,

Ainda não acredito que Oliver lhe pediu em casamento! E acredito menos ainda que você tenha negado. Você tem um parafuso a menos ou o quê?

Não responda. Te conheço o suficiente para saber que você irá dizer que morarem juntos já é o bastante e que o ama com ou sem anel no dedo. E que também não são puritanos como eu que precisam esperar o casamento para fazer certas coisas.

De qualquer forma, lhe dou a bronca completa quando nos vermos pessoalmente.

Agora eu queria reclamar sobre Sea estar em uma fase delicada chamada adolescência. Eu nem vi os anos passarem, em um dia ele era um filhote/criança fofinha e de repente sua forma mimicon se assemelha a um tigre e ele é quase tão alto quanto Dante. Com 16 anos!

Eu seria a menor pessoa dessa família se Lucy não existisse. Mas de acordo com ela, seus pais biológicos eram altos e como ela ainda tem 13 anos, está em fase de crescimento. Aliás, ela está pensando em entrar para a turma de magos no ano que vem.

Voltando ao problema do Sea, ele só quer saber de banhos de gato e toda vez que fica irritado, suas garras e presas aparecem inconscientemente. Recentemente ele até arranjou briga em sua turma de exploradores.

Quanto ao Marco, ele está com um complexo de altura em relação ao Sea, segundo ele, por ter 18 anos, devia ser o mais alto. Ele está indo muito bem nos estudos de exorcismo, o que me preocupa mesmo é como ele procura desesperadamente por uma namorada. De alguma forma, Marco se parece mais com meus irmãos nesse aspecto do que comigo e Dante?

Outra coisa que preciso lhe dizer é que sairei para uma exploração daqui três dias. A guilda quer que eu resgate o último casal de chinchilas douradas localizadas na Ilha de Hasi, então pensei em levar as ‘crianças’ junto, elas vão amar rever o avô e meu pai parece gostar da ideia de aproveitar uma aposentadoria com netos.

Como as coisas são, não?

 

Com amor,

Suichiro Whitlock.”

 

  Fim dos extras 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim com um tanto desse de pirralhos! Quem apostava que Suichiro e Dante teriam três filhos? Não se esqueçam de me contar o que acharam ♥
Enfim, agradeço novamente por tudo, quando eu entrei no Nyah! ainda sequer estava no ensino médio e agora eu irei para a faculdade, então não sei quando postarei uma nova história, mas fico contente em ter postado essa.

Se cuidem e até uma próxima vez.
Beijos.
—Creeper.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A fada que o escreva" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.