Os Dois Lados da Moeda escrita por Jotagê


Capítulo 2
Azáfama


Notas iniciais do capítulo

Azáfama (atividade intensa, muita pressa ou intensidade na realização de algo).



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A melhor parte do dia de Álvaro era, sem dúvidas, quando relaxava com o celular firme em sua mão para ler os quadrinhos e gibis compilados em seu grupo favorito do Facebook, cujo único objetivo era compartilhar histórias.

Uma pausa necessária em sua rotina cheia de azáfama, deadlines a cumprir e designs a entregar para quem contratasse seus serviços. O rapaz agradecia aos céus por não ter escassez de trabalhos e poder pagar suas contas (apesar dos calotes ocasionais), claro, mas gratidão nunca impediu estafa.

É óbvio que suas leituras favoritas, dentre as inúmeras opções, seriam as revistinhas que alegraram sua infância. Aquela turma que o acompanhou desde quando ele começou a ler, até os momentos recentes em que entrava na internet e preferia nunca ter aprendido.

Mas havia um passatempo melhor do que ler gibis.

Ser trolão.

Há uma alegria imensurável em zoar na internet e ele sabia bem. Álvaro dedica boa parte do tempo livre, um pouco do tempo ocupado, e todas as habilidades de edição para criar memes de Turma da Mônica.

Não há prazer maior do que observar centenas de curtidas e reações em um shitpost, subir a página e encontrar sua foto de perfil sobre a postagem.

O rapaz sempre tirava um momento para observar sua própria imagem, analisando como os cabelos loiros tingidos enquadravam seu rosto firme, desde o sorriso nos lábios cheios até os olhos estreitos e angulados (os monólidos que evidenciam sua herança nipônica). A foto capturando sua satisfação ao lado da estátua do Cebolinha merecia esse carinho.

Alguns chamariam isso de vaidade, mas ele não acha atípico gostar do próprio rosto. Não estava tão diferente de como estava naquele momento em seu quarto, a diferença é que fora da tela, sua cabeleira lisa estava com mais frizz e ele estava com menos roupas.

Enfim, se dependesse de insultar personagens ou jogar deboche em um lado do fandom para zoar, Álvaro não se acanharia.

Veja bem, sua filosofia é que nem todos os personagens são criados iguais. Alguns são insuportáveis desde a concepção, e não há por que esconder. Em sua lista de desafetos fictícios, estava a tirana rubra que aquele fandom parecia idolatrar e ele não entendia o porquê.

Já em sua lista de desafetos reais, estava Enrico. Sempre que o loiro comentava algo, o outro aparecia minutos depois com uma resposta contrária.

Álvaro não admitiria, mas já vasculhou o perfil do moreno mais de uma vez para tentar descobrir seu problema. Afinal, alguém que é tão insistentemente chato contra seus comentários anti-Mônica e desrespeita o Deus Cebola não deve bater bem, e é sempre bom conhecer seus inimigos. Em sua cabeça, era um pirralho, três anos mais novo — Álvaro tinha vinte-e-três, Enrico tinha vinte — e dez vezes mais ingênuo.

Mas todo esse papo de superioridade vai pelos ares quando chega uma notificação com o nome “Enrico Lúcio Nogueira”. Álvaro estala seus pulsos e começa a digitar incessantemente em resposta ao Monicafã.

Quem ele acha que é, o dono da rua?


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