Cravado em sua pele escrita por FoxyBlanc


Capítulo 1
Cravo


Notas iniciais do capítulo

Camarada, eu espero que você aproveite a leitura e que minhas descrições meia boca possam te animar. Optei pelo AU porque a wiki não me ajudou, e assim nunca vi fullmetal, deus me elimine.
E você é um desgraçado pela escolha de palavra. Boa leitura!!!!



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Uma parte de Riza gostaria que fosse verdade — que existisse o céu na terra, porém sabia que apenas o contrário dessa afirmativa era real; estava marcada em si, desde o acordar à mudança de estações.

As armas que carregou trouxeram calos irreparáveis à sua essência tão jovem e pequena. Vidas deixaram muitos corpos por seus disparos, e cada bala foi contada sem muito esforço em seu coração. Até que a culpa se tornou uma amiga de longa data, escorada em suas costas enquanto guiava Riza a atitudes que pudessem reparar um pouco de cada catástrofe feita. Era, e sempre seria, sua responsabilidade.

Ela continuou ali por certo tempo. Fosse por sua culpa, ou por sua crença de que alguma coisa mudasse. Ainda que não mudasse, Riza sabia: sempre continuaria ao lado dele. Não por necessidade, muito menos escolha, mas pelas cicatrizes que Roy também possuía por conta dos inúmeros cortes de guerra. Nada parecido com as suas próprias, mas similares, tão resilientes quanto.

Cruelmente admiráveis, na verdade. Uma visão deturbada, talvez, ao achar belo, ou minimamente bom, as escolhas que fizeram para se manterem sãos.

Apesar das vidas inocentes pintadas em suas almas, ambos sabiam que ternura brilhava com timidez de suas ações. Assim como a vontade um tanto utópica — fracassada, muitos diriam — de tornar o mundo um lugar melhor, mesmo que perdas ocorressem. Achavam melhor tentar até o último suspiro; no fim, quando voltassem para casa para sempre poderiam se inebriar por uma causa dada como boa.

O irremediável aconteceu. Decerto, a falta de uma perna não impediria Roy de continuar apertando o gatilho, mas ele não era mais jovem, tampouco seria possível. O fim doía, não por acabar, mas porque a casa que dividiam ainda era assustadora. No fim do dia, não se mover trazia lembranças, e a culpa se tornava grande o suficiente para destruir a ilusão perfeita de dever cumprido.

Mesmo com os apertos tenros de Riza em seu ombro lembrando-o de não se martirizar, era irremediável. Assim como para ela.

Cravar outras histórias na pele de soldados era desafiador. Tal fato impulsionou Riza a afastar-se da linha de frente, indo contra os olhares obstinados de Roy, afinal, ele não era uma obrigação dela, ela poderia continuar aquela “nobre” luta. Até ele entender que o tempo os envelheceu rápido demais, se quisessem reparar o pouco que restou, a vida deles deveria prevalecer.

Riza entendeu isso depois que percebeu o tanto de existência que escapou de si depois de tantos anos.

A luta por um mundo melhor serviu de alicerce como sempre, pois havia outras formas de lutar por isso — um dia aquela casa poderia ser aconchegante afinal. Desvincularam-se daquele mundo em parte, pois o cerne sempre habitaria, e os pesadelos seriam rotina até que novas perspectivas preenchessem a residência.

Os cravos que Riza se viu tentada a comprar fez um pouco desse papel — um presente curioso dado pela criança Winry que passeava no bairro vez ou outra.

Quando menos esperava, Riza já havia criado o hábito de trazer aquelas flores de boa sorte e livros que falassem sobre animais para Roy — cada vez mais apegado a curiosidades a respeito de espécies diversas, mérito da cadela de sua companheira.

As pequenas trivialidades afloraram aos poucos, substituindo o tremor de fogos; a agonia de acordar no inferno novamente. O toque carinhoso no ombro alheio passou a ser suficiente para um pavor imensurável deixá-los em paz.

A prótese na perna de Roy ainda marcava muitas lembranças, e a cicatriz nas costas de Riza também. A partir dos risos pequenos, no entanto, que a humanidade quase perdida se reforçava. Cravada na pele com sentimentos bons, ainda não mencionados, mas que foram visíveis na ida de Riza a cada consulta, e nas conversas furadas não tão planejadas de Roy que a faziam sorrir.

O entrelaçar de dedos, hábito antigo, nunca foi embora — comprovando o passado, renovando o presente. Trazendo esperança para uma vida nova, bonita em sua plenitude, não por vieses de batalha. Um dia depois do outro, um cravo na pele a cada dia com novas histórias.

A responsabilidade ainda estava ali, jamais a esqueceriam, entretanto naquele momento podiam conversar, rir sem culpa e soltar trivialidades tão banais que não tinham graça, de fato, mas o privilégio de conseguir tê-las era trágico e vital.

“Capivaras sabem nadar...” comentou como sempre enquanto passava a folha do livro, mais para si do que para alguém.

Riza pairou seu olhar nele de imediato, pousando o regador, Roy a inquiriu franzindo as sobrancelhas, e ela riu... depois de tantos anos. Ele soube que ali estava uma parte de sua esperança, que sempre o lembrava que eles eram, e sempre seriam, dignos de felicidade.


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Notas finais do capítulo

Contextualizando, Luscas, eu queria manter uma ambientação de soldados que eu vi que ambos personagens têm, então mantive isso no au pra conseguir te entregar algo similar, mas nem tanto. Porque sinceramente tava com medo de cagar no pau do canon, coitado. Então espero que esteja minimamente apresentável. Deus no comando.

Se o drama ficou cagado por causa da caceta da capivara, sinto muito, Lucas.



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