Retratos da família Inuzuka Aburame. escrita por Deby Costa


Capítulo 1
Capitulo 1- True Colors


Notas iniciais do capítulo

DESAFIO DE SETEMBRO DO GRUPO SHINOKIBA YAOI.
TEMA: uma imagem vale mais que mil palavras
* Linha: livre interpretação
ITENS OBRIGATÓRIOS:
01 - Apoio
02 -Uma cena baseada na imagem feita pela Tara (@rasqueria).

Essa capítulo da história pode contém gatilhos para pessoas que tenham sensibilidade com assuntos relacionados a depressão e o Suicídio. Estejam avisados.



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— Onde está a justiça? – Kiba resmungou do nada.

  Shino, que lia um livro tranquilamente, demorou para entender o motivo da frase totalmente fora de contexto.

— Hã?! 

Era domingo e os dois curtiam a praia com os filhos e Akamaru, o pet da família. Seu esposo estava sentado sobre a canga que minutos antes havia estendido sob a sombra do guarda-sol onde ele se encontrava, a poucos passos Sora e Himeko brincavam entretidos e alheios à conversa  dos pais. Aquele era o primeiro dia de folga do casal desde que tiveram inicio as férias de verão dos filhos. Shino só precisava corrigir algumas provas dos seus alunos adolescentes e participar de mais um, ou dois conselhos de classe antes de também tirar as suas merecidas férias. Já o Ômega, que estava concluindo a especialização em assistência social e estagiando na área, não tiraria as suas tão cedo. Os gêmeos estavam crescendo a olhos vistos e haviam entrado no Shogakko há alguns meses, o que os enchia de orgulho, no entanto, Kiba estava descontente com algo, ou melhor, fingindo estar descontente com algo. 

Vendo que ganhou sua atenção, Kiba continuou:

— O pobre Ômega carrega na barriga por meses e no processo, quase põe pra fora todos os órgãos internos a cada crise de vômito.  Sofre diariamente com gases fedidos e quentes, além de experimentar picos hipertensivos astronômicos, isso sem falar no ganho de peso que o faz parecer que engoliu uma melancia, uma não, duas, e para quê? – Kiba nem lhe deu  tempo para formular uma resposta  –Para esses feijõezinhos quando nascerem se parecerem com todo mundo, menos com ele. Esse mundo é muito injusto, puta merda!

Finalmente Shino compreendeu o porquê de todo aquele falatório logo cedo, afinal os gêmeos estavam cada vez menos parecidos com seu esposo e mais parecidos com “outros” que, como o Ômega gostava sempre de lembrar, não tiveram o mínimo trabalho de carregá-los no ventre. 

— É.

— É? – Indignado, Kiba se colocou de bruços sobre a canga e o encarou. – Não acredito, maldito! – praguejou antes de apoiar o braço esquerdo no tecido e levar a mão direita ao rosto.  – Meu filho, mesmo sendo um Ômega como eu, é a sua cara, minha filha é a cara da minha irmã. E "É", é a única resposta que consegue me dar? – acusou, em seguida alinhou os joelhos, dobrou as pernas e começou a balançar os pés no ar. Um biquinho, muito parecido com o que fazia quando esse assunto era colocado em pauta, surgiu em seu rosto.

— O que quer que eu diga?

A princípio a pergunta aparentou ofender Kiba, no entanto, era pura encenação, Shino já estava acostumado. Reclamações como aquelas sempre fizeram parte da rotina do casal, além de servirem de combustível para a implicância que Naruto e Hana nutriam pelo Ômega desde que ele deu à luz. Nas reuniões de família, o Uzumaki e a Inuzuka adoravam pegar em seu pé por causa da aparência dos filhotes, usando frases do tipo: "Sorte de meu afilhado, Sora, que puxou o pai Alpha. Nasceu bonito e tem saúde." Ou, “Himeko é abençoada, pois, nasceu Beta, como eu e a mamãe, pirralho. Minha sobrinha herdou o melhor da família Inuzuka."

— Melhor não dizer nada, vai que tu para solta um: mas no branco dos olhos e nas marcas do seu clã, nossos filhos são idênticos a você. — Kiba riu da própria piada, desfazendo a carranca e retornando a falar, mas dessa vez de jeitinho mais suave —  Né, Shino... A verdade é que nossos filhotes são a combinação perfeita do que há de melhor na gente, não é? — afirmou convicto. Kiba reclamava, mas tanto Himeko quanto Sora tinham herdado muito de sua personalidade, inclusive o que havia de melhor nela. A alegria. 

— Sim, eles são. — A voz de Shino encheu-se de emoção ao concordar.

Estando imerso naquele cenário onde, o já idoso Akamaru tirava um cochilo na cadeira reclinável a sua direita, Himeko estava radiante em seu lindo maiô azul e ao lado de sua princesinha, Sora, seu garotinho arteiro, enchia de areia um baldinho plástico. Não havia como Shino não sentir-se um homem privilegiado.

Como se tivesse lido sua mente e imaginado por quais memórias ela transitaria logo em seguida, Kiba lhe dirigiu um sorriso cúmplice, daqueles que iluminava e coloria tudo ao redor, o qual Shino retribuiu erguendo o canto dos lábios.  Naquele instante,  Alpha e Ômega  compartilhavam um imenso sentimento de gratidão ao tempo, principalmente por ele ensiná-los que momentos como o atual eram preciosos e únicos...

 

“Shino estamos grávidos. Vamos ter um filhote."  Kiba disse num final de tarde de uma sexta-feira. 

“Era para ser.” Mesmo que sentindo-se atordoado, Shino respondeu.

“Precisamos ser responsáveis, agora. Nossos filhos precisarão muito da gente. ” Felizes, Alpha e Ômega disseram juntos.

A descoberta da gravidez na adolescência foi um choque. Saber que seriam gêmeos então, quase levou os dois à loucura. Eles haviam tomado todas as precauções na primeira vez que fizeram sexo, ou melhor, que fizeram amor. Porque tudo entre os dois se resumia a amor, o mais puro e belo amor. Contudo, mesmo diante de todos os cuidados e todo o amor, ainda assim, a inexperiência e o nervosismo falaram mais alto.

“Uma camisinha mal colocada fodeu com a porra toda.” Kiba costumava brincar nas reuniões da família, mesmo, que por conta disso, tivesse levado incontáveis puxões de orelhas da mãe.

Os meses que se seguiram à descoberta não foram os mais fáceis para os papais de primeira viagem. Gravidez adolescente. De Ômega macho. Gemelar. Ouviram tanta coisa.

"É uma gravidez arriscada, mas com pré-natal e cuidados adequados não há com que se preocupar.“ Foi o alerta de Senju Tsunade, obstetra renomada, que ficou feliz em ser procurada para cuidar da gestação de Kiba.

A felicidade de estarem gestando novas vidas contagiou tudo e todos ao redor, em especial Kiba, que se viu envolto em viço e cor.

"Vocês terminarão o ano letivo. Pronto, sem discussão." Foi exigência de Tsume. 

"E também farão as inscrições para a faculdade, mesmo que Kiba-kun só se junte ao curso um tempinho depois do nascimento dos bebês."  Shibi, seu pai, foi taxativo.

"Eu te arrumo um arubaito na lanchonete onde 'tô 'trampando, Shino. Fralda e leite 'tão pela hora da morte."  Implicou Naruto, que sabia do que falava, pois estava na mesma situação.  Sasuke, seu namorado, estava próximo a dar à luz a primeira filha do casal.  Muitos disseram que Shino e Kiba tiveram inveja deles, por isso fizeram igual.

"Precisamos pensar no chá de bebê. ” Hana-nee, rendendo-se a tradição de que toda tia é coruja, sugeriu empolgada.

“Não, de revelação. ” Hinata, a melhor amiga dos dois, foi quem deu a ideia.

“Deixa com a gente! ” Ino e Sakura, amigas de longa data, ou seriam inimigas de longa data? Propuseram em uníssono, já pensando nas zoeiras que iriam aprontar com os dois.

Torune, primo de Shino, quase um irmão, na verdade. Ficou calado, pois Torune era desses, mas concordou que apoiaria em toda e qualquer decisão, porém com uma condição:

“Se tiver uma menina, serei padrinho, e vocês chamarão-na de Himeko. ”

 "Ó!"  Kiba exclamou e Shino sorriu para o irmão de criação.

"Que nome lindo." Shino e Kiba disseram juntos, encantados pelo nome.

O término do ano letivo aconteceu sem maiores contratempos, mesmo Kiba parecendo que engoliu um balão, como o Ômega vivia resmungando aos quatro cantos.  As inscrições para a faculdade foram feitas. Shino, mesmo sentindo-se culpado, entrou primeiro. Naruto realmente arranjou o arubaito para o Alpha, que constatou, ao fazer compras para os bebês no primeiro pagamento, que o Uzumaki não mentiu quando lhe advertiu sobre fraldas e leite.  Um puxadinho no quintal da casa onde o Aburame cresceu foi erguido para abrigar a jovem família, embora Inuzuka Tsume tenha torcido o nariz.

"Vocês poderiam esperar um pouco mais. Morar junto é coisa muito séria." A mãe de Kiba ainda tinha receio, contudo, Alpha e Ômega queriam dar aquele passo. Estavam confiantes que daria certo. 

Seu primo Torune ajudou, tanto em verba para a construção do puxadinho, quanto carregando pedras em dias de sua  folga.  E não foi só ele que ajudou, também Naruto, Shibi e alguns amigos de infância, como Rock Lee, Chouji e até o preguiçoso do Shikamaru.  Todos somaram esforços em prol do lar doce lar do casal.

“Tudo está indo bem. ” Shino falou certa vez ao acariciar o barrigão de Kiba, imaginando o futuro incrivelmente feliz que estava reservado a sua família, todavia o Alpha não podia prever o futuro.

A imensa felicidade que acompanhou a preparação para aquela que era para ser a época mais feliz na vida deles, não impediu que logo nos primeiros dias após o parto de Sora e Himeko, o Ômega sofresse com uma profunda e inexplicável tristeza, que chegou de mansinho e foi se instalando no seu coração, trazendo consequências graves, tanto para ele,  quanto para os recém-nascidos carentes de proteção.

Tudo começou quando o Ômega não conseguiu amamentar. Algo que era perfeitamente normal, segundo a obstetra e também Sasuke, que  passou pela mesma dificuldade.

“Kiba, a doação de leite, assim como de sangue, é um ato de amor em favor de Ômegas como nós dois. Não é preciso pensar muito. ” O Uchiha foi compreensivo. Foi Sasuke quem explicou e sugeriu que procurassem um banco de doação de leite, contudo, Kiba ficou chateado por não ser capaz de dar de mamar. Ele chorou junto com Sora ao senti-lo procurar no seu peito algo que jamais conseguiria encontrar.

Dias depois o Ômega não entendeu o porquê de um choro repentino de Himeko. O porquê da pequena não conseguir dormir, perturbando assim o sono do irmãozinho e fazendo-o chorar também.

” Shino, diz-me o que ela tem! ” Kiba soou desesperado, Shino não estava diferente, principalmente por não ter respostas. Naquela madrugada tiveram que recorrer à experiência de Tsume pela enésima vez. 

“São as cólicas. Recém-nascidos quase sempre as têm. Kiba, ensinar-te-ei um segredo. ” A matriarca explicou tudo carinhosamente enquanto colocava uma tranquila Himeko sobre o próprio abdômen.

Com destreza invejável a avó  os ensinou a fazer massagens que ajudariam a bebê a dormir melhor e consequentemente a Sora também. Ela falou sobre algo que mais tarde o casal nomearia como: reação em cadeia. Quando um gêmeo sente algo e o outro sofre do mesmo mal. O que era para ser uma troca entre mãe e filho, fez com que Kiba se sentisse inútil, por não saber lidar com as necessidades da própria filha. 

“É assim mesmo, não nascemos com um manual de instrução, meu filho. ” Shibi passou as mãos pelos cabelos do genro, no entanto, Kiba não acreditou no sogro. Se calou. Um dia, dois, três.

Passado quase um mês.  Quando Shino chegou do arubaito, ele encontrou os bebês aos prantos em seus cestinhos Moisés, bem como um Kiba inerte sentado no sofá ao lado deles. Um vidro de calmante pela metade estava nas suas mãos. O Ômega observa os filhotes, mas não os via. As suas olheiras estavam escuras, a pele não possuía mais viço algum, o seu semblante estava profundamente infeliz.

“Kiba o que você fez?!"  Shino questionou, porém, não obteve nenhuma resposta, teve que agir rápido. Xingou a si mesmo, se culpou, se responsabilizou.  

Como não percebeu os detalhes sutis no cotidiano? Como pode ser insensível ao ponto de achar que alguém tão cheio de vida e sorridente quanto Kiba jamais sofreria de depressão? Foi um tempo difícil, aterrorizante até, mas o apoio da família e dos amigos foi imprescindível, fundamental.

“Estamos aqui.” Todos disseram, Até gente que mal conheciam, mas que amava o sorriso do Ômega. 

Torune, que quase sempre não dizia nada, disse certa vez: 

 “Onde eu e Fū somos voluntários, atendemos casos assim. Kiba está passando por depressão pós-parto... Seu esposo ficará bem. Shino, acredite. "

O tempo foi passando. O casal foi levado até  um grupo de pessoas especiais que atuava num lugar chamado Centro de Valorização da Vida, no qual Shino e Kiba encontraram ajuda especializada. O tempo foi passando, Alpha e ômega foram colhendo os frutos daquela busca pontual por ajuda. Seu esposo foi superando, ambos foram ressignificando todo o sofrimento vivido, e o mais importante de tudo. Se perdoando por experimentarem um mal do qual ninguém teve culpa  ou  pode controlar...

“Shino, os nossos filhos são fodas. ” Kiba disse na primeira festa de aniversário dos gêmeos.

Data importante para todos que estiveram com eles no último ano, incluindo alguns psicólogos e voluntários do CVV com os quais criaram mais afinidade durante o processo de recuperação. Todos queriam festejar com a família Inuzuka Aburame. 

“Sim. Eles são. ” Shino concordou “Tal qual o pai Ômega que os carregou no ventre... ”

 

 

— O Que?  — Shino não anotou a placa do caminhão de areia que o atingiu, todavia assim que despertou do breve devaneio, viu quem era o motorista que  o pilotava.

— Óe, maldito! — Kiba estava usando Sora e Himeko de escudo quando Shino lhe dirigiu o olhar. Claramente havia sido o Ômega quem lhe atirou  areia. — Nós viemos à praia para… — Kiba se calou ao ver Shino lentamente deixar o livro sobre a canga onde anteriormente ele estava deitado.

— 1… 2…3… — Shino começou a contagem sério e sem alardes como lhe era característico, dando tempo para que Kiba pudesse fugir dele. 

— PESTINHAS, DEU RUIM, O TSUNAMI ABURAME SE APROXIMA DA COSTA.  — Kiba afastou-se lentamente dos filhos e preparou-se para correr

— Tsunami Aburame? Do que você me chamou? — Shino simulou estar ofendido e um minuto depois elevou tanto o tom de voz que ele próprio mal se reconheceu. — ISSO! FUJA, SEU COVARDE! ESSA ONDA GIGANTE IRÁ PEGAR VOCÊ E NADA IRÁ ME IMPEDIR. 

O Alpha deu a deixa sabendo que os filhotes sairiam em defesa do outro pai. Dito e feito, foi só começar a correr atrás dele que escutou os latidos de Akamaru unindo-se  aos grito de guerra dos gêmeos: 

— ATAQUE DOS GÊMEOS! 

 Shino sentiu os primeiros punhados de areia quente  em suas costas, areia esta que certamente provocaria estragos em sua pele sensível, mas por ora não se importaria com isso. Certamente mais tarde seu Ômega lhe passaria um remedinho todo especial.   

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
One inspirada na canção True Colors de Cyndi Lauper, na Fanart linda que a Tara fez da família Inuzuka Aburame ( a mesma que está como capa dessa fanfic) e também em gostosos papos que costumamos ter em nosso grupo de whatsapp.

O CVV (Centro de Valorização da Vida), existe e realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Tel 188



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