R.I.P. escrita por MarcosFLuder


Capítulo 2
A jornalista


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui está o segundo capítulo. Os mistérios começam a ser desvendados. Os segredos começam a ser conhecidos. Divirtam-se.



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Não foi muito fácil convencer o xerife a soltar Mulder e Jerônimo, o que só foi possível na manhã do dia seguinte, ainda mais com Harold Cornor por perto, mas acabaram conseguindo. Como não parecia haver nenhum tipo de hotel na cidade o jeito foi aceitar o oferecimento de Jerônimo. A casa onde ele morava era bem simples e os quatro agentes trataram de acomodar-se do jeito que puderam. Todos estavam cansados dos últimos acontecimentos. Scully parecia ser de todos, quem estava mais esgotada, pois coordenou o transporte dos cinco homens para uma unidade de queimados em Washington, além do sujeito encontrado no buraco. Ela também teve que cuidar das queimaduras que Doggett sofreu ao tentar impedir que aqueles homens se auto-imolassem, nada muito sério, felizmente.

Havia algo que também não saia da mente daquelas quatro pessoas: como aqueles homens ainda estavam vivos depois do que aconteceu? Aquilo era algo que ia contra todas as probabilidades. Como um homem que deveria ter se afogado ainda estava vivo depois que 5 litros de água tinham sido tirados de seu pulmão? Como homens que tiveram praticamente 100% da superfície de seus corpos queimados ainda conseguiam estar vivos? Scully teve de aplicar altíssimas doses de morfina para aplacar as dores horríveis que eles estavam sentindo. Aqueles homens deviam estar mortos, mas não estavam; e ainda haviam os crânios. No final decidiram que eles seriam levados para Quântico. Ainda assim, teriam de aguardar um transporte adequado para isso e que só estaria disponível amanhã.

No caminho até a casa de Jerônimo eles puderam notar a mistura de ódio e medo nos olhares das poucas pessoas que encontravam no caminho. Mulder também notou, chamando a atenção de todos para o fato, as três pessoas que encontrou quando chegou na cidade. Elas faziam a mesma coisa de quando as viu na primeira vez. A mesma pessoa, concertando a mesma cerca, nos mesmos lugares que ele estava concertando antes. O mesmo homem, lavando o mesmo Ford T anos 40. Foi a agente Reyes quem notou para os gestos do sujeito. Em como era tudo muito estudado e repetitivo, quase que numa perfeição simétrica, como se aquele homem nunca tivesse feito outra coisa a vida toda. Pouco antes de chegarem à casa de Jerônimo, eles viram também a mulher que regava um jardim todo alagado e úmido, onde nada parecia capaz de crescer. Mulder também fez com que os colegas notassem a movimentação dentro da igreja, a mesma que havia notado quando chegara à cidade. Toda aquela aparente normalidade escondia alguma coisa muito grave, e Mulder foi o primeiro a expressar isso ao chegarem na casa de Jerônimo

— Chegou a hora da verdade Jerônimo, – Mulder foi enfático na indagação – o que as pessoas daqui escondem afinal?

— Um crime agente Mulder... – Jerônimo olha um pouco para cada um enquanto falava – algo tão vergonhoso que as pessoas daqui preferem ser eternamente amaldiçoadas a ver a verdade ser exposta, mesmo que a verdade seja a única chance de acabar com a maldição.

— O que quer dizer com isso? – Doggett perguntou.

— Vocês terão que descobrir sozinhos – a expressão dele ganhou um ar angustiado – eu não posso falar sobre isso. Os espíritos foram bem claros quando me falaram que vocês teriam de descobrir tudo por conta própria.

— Se você não nos falar nada certamente não vamos conseguir descobrir qualquer coisa com os outros moradores – foi a vez de Monica se pronunciar.

— Alguém vai ter de falar.

— Acredite agente Mulder, ninguém vai falar.

— Antes de mais nada Jerônimo, eu não sou mais um agente do FBI. Eu e Scully só estamos prestando uma ajuda.

— E essa ajuda não vai adiantar muito se não obtivermos a colaboração de alguém nessa cidade – disse Scully – e você parece a única pessoa disposta a isso

— Você tem que... – Doggett nem teve tempo de terminar a frase pois o toque de seu celular chama sua atenção e ele atende. Todos notam quando ele franze as sobrancelhas – é uma jornalista. O que deseja senhorita?

— Agente Doggett – a mulher pode ser vista falando no celular enquanto dirige um carro – eu fui informada que está à frente desse caso que envolve a descoberta de vários crânios, e sobre homens que deviam ter morrido queimados e afogados, mas ainda estão vivos.

— Eu não posso falar nada a respeito desse caso senhorita...

— Janeth, Janeth Crane – ela “adoça” um pouco a voz antes de continuar – você pode me chamar de Janeth se quiser.

— Senhorita Crane, volto a afirmar que não posso dizer nada sobre o caso em questão.

— Tudo bem agente Doggett, talvez os moradores da cidade sejam mais receptivos, na verdade, eu estou quase chegando – ela desliga o celular ao avistar as primeiras casas.

— Ela disse que está chegando na cidade – Doggett se volta para todos ali enquanto fala – acho que vai interrogar cada morador daqui.

— É melhor você ir falar com ela antes que se meta em encrenca. – disse Mulder.

— Tem razão – disse Doggett, já se dirigindo a porta.

— Espere John! – o tom ligeiramente mais alto na voz de Monica chamou a atenção de todos – Eu vou com você. – ambos saíram juntos e Mulder não resistiu em dar uma boa olhada para Scully antes de falar.

— Parece até alguém que eu conheço quando aparecia alguma mulher no horizonte. – ele disse sorridente, e sem se importar com o olhar duro de Scully, enquanto Jerônimo parecia alheio ao fato.

***********************************

Doggett e Reyes não precisaram andar muito para encontrar a tal jornalista. Ela estava na mesma rua em que eles haviam chegado e perguntava freneticamente a todos que passavam por alguma informação. A maioria olhava para ela como se estivesse diante de um ET. Janeth já estava ficando irritada com aquilo até ver o casal que vinha ao seu encontro. A jornalista não precisou de muito esforço para concluir quem era o homem, antes mesmo de vê-lo colocar a mão no bolso do paletó e pegar o distintivo:

— Sou o agente Doggett e essa é a minha parceira, a agente Monica Reyes – Doggett se dirigiu a Janeth Crane – não vai conseguir nada com esse tipo de abordagem senhorita.

— A não ser ir para cadeia – disse Reyes.

— É um prazer conhecê-lo agente Doggett – Janeth apertou a mão dele com entusiasmo, ignorando Reyes.

— Acho melhor nos acompanhar senhorita Crane. – Monica deu um passo à frente, ficando praticamente entre Doggett e Janeth. Ele não notou nada de mais, mas naquele código secreto de comunicação existente entre mulheres, ficou claro para Janeth o que aquele gesto significava – Você vai se meter numa grande encrenca se continuar a fazer perguntas para as pessoas dessa cidade.

********************************

Jerônimo foi até o poço pegar água para fazer o almoço. Ele tinha esperança de que finalmente toda essa maldição acabasse. Os espíritos haviam dito que chegara a hora de tudo terminar, e que pessoas vindas de fora fariam isso. Tudo o que Jerônimo podia fazer era esperar que elas entendessem o que estava acontecendo aqui. Ele tinha acabado de pegar um balde quando ouviu o som sibilante atrás dele. Virou-se lentamente e viu o par de olhos amarelos fixados nele, o bote pronto para ser dado. Jerônimo não estava assustado, não ia ser a primeira vez que ia ser picado por aquela cobra.

EXATAMENTE NO MESMO INSTANTE...

Scully se levanta lentamente da cama. Ela tentou dar um cochilo antes do almoço, mas foi impossível. Havia muitos pernilongos, zumbidos e outros barulhos que lhe incomodaram demais. Ao final, ela acabou desistindo do cochilo e foi em direção a sala onde encontra um solitário Mulder.

— Como vai bela adormecida, – diz o agente – conseguiu tirar o seu cochilo?

— É claro que não Mulder! Doggett e Reyes ainda não chegaram?

— Não Scully, eles devem estar fazendo um tour pela cidade com a tal jornalista.

— Onde está Jerônimo?

— Ele foi no poço atrás da casa, buscar água para fazer o almoço.

— E você ficou aqui para...

— Para poder beijar a minha ruiva favorita - os dois começam a se beijar loucamente como se seus lábios não conseguissem mais se desgrudar.

— Sabe de uma coisa Scully.

— O que é Mulder.

— Já reparou que nossa vida poderia ser uma maravilha.

— Como assim?

— Eu tenho você, um trabalho perfeito, amigos que são quase uma família. Se não fosse a ausência do nosso filho a nossa vida seria perfeita.

— Eu sei Mulder – havia tristeza em sua voz e Mulder se repreendeu por tocar no assunto.

— Desculpe ter feito você lembrar disso Scully.

— Esquece isso Mulder.

Os dois voltam a se beijar. Enquanto faziam isso um grande barulho vindo de onde Jerônimo estava chamou-lhes a atenção. Ambos quebraram o beijo e foram até lá. Jerônimo estava caído no chão e eles ainda puderam ver a cobra deslizando de volta para o mato de onde veio. Scully foi direto até Jerônimo.

— Oh meu Deus! Fale comigo Jerônimo.

— Está tudo bem agente Scully, não precisa se preocupar.

— Como assim não preciso?

— Eu vou ficar bem, não se preocupe.

— Você precisa ir para um hospital, – disse ela – precisa tomar um antídoto para veneno de cobra!

— Eu só preciso é ir para minha cama. Amanhã tudo vai ficar bem.

— Não se brinca com veneno Jerônimo.

— Ele sabe o que está fazendo Scully – Mulder tinha se mantido calado até então. A mente tomada por várias ideias – vamos levá-lo para o quarto.

— Pelo amor de Deus Mulder, – ela parecia indignada – ele precisa de cuidados médicos.

— Eu acho que não Scully – ele ajudou Jerônimo a se levantar e foram em direção a casa sem se preocupar com os protestos de Scully – confie em mim – foi tudo o que ele disse.

MEIA-HORA DEPOIS

Janeth Crane tinha vindo para esse lugar esquecido por Deus movida apenas pelo seu faro pessoal. Seu editor achou a ideia uma bobagem e recusou-se a bancá-la. Ela estava sozinha e sem um fotógrafo. Felizmente sabia como mexer com uma câmera e já tinha tirado várias fotos, inclusive uma do agente Doggett. Se a reportagem não desse em nada pelo menos teria algo para sua coleção particular. Não tirou qualquer foto da mulher que insistia em ficar entre ela e o agente do FBI, ainda mais depois de ter visto os dentes cerrados em sua direção. Ficou imaginando que tipo de relacionamento havia entre os dois, se fossem íntimos tinha que admitir que disfarçavam bem. De qualquer forma aquela agente do FBI não pareceu muito disposta a esconder sua antipatia. É claro que isso só fez com que notasse ainda mais a figura do homem que caminhava ao seu lado. Ela tratou de aproveitar quando Monica afastou-se um pouco dos dois, para tentar um diálogo com ele.

— A algo mais entre você e sua parceira agente Doggett?

— Como assim senhorita?

— Por favor! Me chame de Janeth – ela deu o seu melhor sorriso ao falar aquilo.

— Não entendo o porquê de sua pergunta senhorita Crane – ele fez questão de acentuar as duas últimas palavras, uma clara indicação de que não queria abrir a guarda.

— Pura curiosidade feminina.

— Eu e a agente Reyes somos parceiros e também bons amigos.

— Só isso?

— É só o que você precisa saber.

Janeth não deixou de notar que ele não perdeu Reyes de vista em nenhum instante durante a conversa e foi para junto dela quando a viu perto de uma das casas. Janeth notou o olhar que os dois deram um para o outro e ficou espantada ao notar um diálogo silencioso entre eles. Ambos bateram palmas, uma mulher chegou até a porta, mas ao ver os dois fechou-a de imediato.

— A boa e velha hospitalidade do interior. – o tom sarcástico de Monica era evidente.

— Esta já é a terceira vez que isso acontece. – disse Janeth – O que vamos fazer?

Doggett e Reyes não pareciam ter ouvido a pergunta, ambos estavam mais concentrados na casa e em tudo à sua volta. Foi ali que eles haviam visto a mulher regando o quintal, era a mesma que havia batido a porta na cara dos três a pouco. Não escapou a nenhum dos agentes o aspecto do terreno e como este estava úmido, como se ele tivesse sido regado todos os dias por anos a fio. Não foi a única coisa que chamou a atenção de ambos. O aspecto antigo do lugar também os confundia. Havia algo de estranho na maneira como tudo parecia estar conservado. Doggett olhou para a cerca de madeira imaculadamente branca à sua frente e tocou-a, nem precisou dar atenção ao que Janeth dizia, pois Monica a calou com um gesto. Passou a mão pela madeira tentando entender o porquê de estar tão cismado até que apertá-la com força, com esta partindo-se com facilidade. Doggett, bem como Monica e Janeth puderam ver que por baixo de sua brancura ela estava totalmente podre.

*************************

Doggett, Reyes e Janeth estão chegando de uma exaustiva caminhada por toda aquela cidade e Janeth comenta com a dupla do FBI.

— Sabe, eu tenho para mim que esse pessoal ficou preso no filme “Feitiço do tempo”.

— Isso não é um filme senhorita Crane. – Reyes não consegue evitar o tom ligeiramente agressivo da resposta, simplesmente não suporta mais o ar sonso da jornalista.

Doggett está totalmente calado, evitando dar palpite nesse conflito de egos de Reyes e Janeth. No entanto assim que entram na casa eles são surpreendidos por um grito desesperador de Scully que diz:

— Agente Doggett, Agente Reyes, me ajudem.

Aquelas palavras são o bastante para fazer os dois entrarem em alerta e a correr para o quarto de Jerônimo. Ao chegar no cômodo, eles notam Scully, Mulder e Jerônimo, este deitado na cama, como se tivesse sido ferido.

— O que houve agente Scully? – indaga freneticamente Doggett.

— Foi o Jerônimo, ele foi picado por uma cobra. Acho que os efeitos do veneno começaram a se manifestar no seu corpo. Só que ele se recusa a tomar qualquer antídoto ou ser levado para um hospital.

— Ele está certo Scully – diz Mulder para o espanto dos demais – não é necessário se preocupar. Ele ficará bem melhor enquanto estiver aqui.

— Mulder! Ele pode morrer com o veneno. Como você pode delirar desse jeito.

— Não é delírio meu Scully, você viu um homem sair de um buraco cheio de agua. Como os pulmões dele aguentaram a falta de oxigênio? E como pessoas que tiveram quase 100% do corpo queimados podem ter sobrevivido?

— Mulder, isto não é hora para teorias infundadas suas. Eu sou médica, não posso ficar de braços cruzando enquanto uma vida está em risco.

— Scully, o que quer que aconteça nesse lugar, impede as pessoas de morrerem. Acho que não alivia a dor e o sofrimento, mas impede que elas morram.

— Doggett, Monica, me ajudem a convencer Mulder por favor! – é uma aflita Scully que se dirige aos dois.

— Agente Mulder, Scully está certa, lugares amaldiçoados podem esperar, primeiro precisamos impedir que o veneno se alastre no corpo dele. – Dogget responde, enquanto Jerônimo continua a afirmar que não é necessário aquilo.

— Bom se cada um está dando aqui sua opinião, eu concordo com o Mulder – Diz Reyes.

— Você não pode estar falando sério Monica. – Fala Doggett.

— John, mesmo que Mulder estivesse errado, nós não podemos leva-lo daqui. A movimentação só leva a distribuição do veneno no corpo, enquanto ele estive imobilizado, e com essa faixa amarrada na perna, ficara mais difícil o veneno circular. Além do mais, eu não estou vendo a cobra que o picou, como nós podemos usar um antídoto se não temos a serpente.

— Existem antídotos que são universais, agente Reyes.

— Nem sempre Dana.

— Vocês dois estão dizendo que as pessoas nessa cidade não podem morrer? - Janeth olhava para Mulder e Reyes alternadamente?

— Ainda não há nada que confirme isso senhorita Crane – disse Scully – e eu não pretendo arriscar com Jerônimo.

— Eu não vou a lugar nenhum agente Scully. – mesmo enfraquecida pelo veneno, a voz de Jerônimo é firme em dizer isso.

— Jerônimo por favor...

— Você ouviu o que ele disse Scully – Mulder olhou para ela, e num diálogo silencioso, tratou de encerrar a questão – você pode ficar no quarto com ele, o resto de nós vai se acomodar nos outros cômodos.

O dia seguiu sem qualquer surpresa. Os agentes acharam melhor não circular pela cidade e preocuparam-se em vigiar o estado de Jerônimo. A comunicação com o exterior teve que ser feita por celular e mesmo este apresentava uma enorme dificuldade de funcionamento ali. Eles também tiveram que segurar o ímpeto de Janeth Crane, pois ela queria entrevistar todo mundo da cidade. No final das contas, aquele fora um dia perdido e todos ficaram felizes quando terminou. Cada um tratou de acomodar-se na pequena casa enquanto Scully ficou no quarto vigiando o estado de Jerônimo. Ela ainda estava irritada com Mulder por não tê-la apoiado na decisão de procurar um antídoto.

DIA SEGUINTE

O dia seguinte raiou como se tudo estivesse perfeitamente normal naquela cidade. Scully ficou a noite toda junto a cabeceira de Jerônimo, enquanto este contorcia-se em febre. Ela queria buscar um antídoto, mas Mulder insistiu para que fizesse o que Jerônimo pediu. Ela achou tudo aquilo um absurdo, mas nada que se comparasse ao que viu ao acordar de manhã. De início ela não viu Jerônimo na cama, tudo o que seus sentidos captaram foi um cheiro de café da manhã sendo feito. Scully saiu do quarto e entrou na sala; passou por Janeth Crane deitada num sofá, e não conseguiu evitar um sorriso ao ver Doggett e Monica bem juntos num canto. Ela foi até a cozinha e viu Mulder sentado enquanto Jerônimo preparava algo num fogão bem velho.

— Eu não te falei para fazer como ele disse Scully – Mulder tinha um sorriso nos lábios ao dizer aquilo. Ela sabia o que havia naquela cabeça. De alguma forma ele já estava começando a entender o que acontecia naquela cidade e sua atitude na noite anterior tinha haver com tudo isso.

— Como isso é possível? – ela dirigiu a Jerônimo – você devia estar prostrado numa cama ou...

— Morto? – disse Mulder – é assim que ele deveria estar não? Ele e os outros caras.

— O que quer dizer com isso Mulder?

— As pessoas nessa cidade são imortais não é Jerônimo? É esse o grande segredo que todos aqui querem esconder não é mesmo?

— Isso é impossível Mulder – Scully falou naquele seu tom professoral e científico – o corpo humano não foi feito para imortalidade, nossas combinações de Carbono não nos permitem semelhante privilégio.

— Oba! Eu adoro esses embates entre ciência e paranormalidade que nós travamos. Eu diria que é a melhor parte do nosso trabalho – Doggett, Monica e Janeth apareceram na cozinha. Os dois primeiros pareciam ligeiramente encabulados, mas todos ficaram surpresos ao ver Jerônimo de pé como se nada tivesse acontecido. 

— Sentem-se. – disse Jerônimo – Eu já vou botar o café.

— Graças a Deus – disse Janeth – eu estou morrendo de fome. Mas que história é essa de imortalidade?

— Eu vou fazer a barba – disse Doggett, indo direto para o banheiro.

— A hora da refeição é sagrada! Vamos comer primeiro, depois vocês discutem. – o tom de voz de Jerônimo não admitia contestação. Dava para notar que ele olhava Mulder e Scully ao dizer aquilo. Os dois ficaram quietos.

***********************************

John Doggett terminou de fazer a barba, mas isso não diminuiu a estranha sensação que oprimia o seu peito. Ele sempre via com certa incredulidade quando Monica tinha seus pressentimentos, nunca gostara muito disso. Sempre fora um homem que não acreditava nessas coisas. Nunca deixou de ter um pé atrás com algo que não pudesse ser visto e comprovado. Mas a estranha sensação não ia embora. Sentia que havia algo errado naquela cidade. Era muito claro para ele que todos ali pareciam esconder um segredo. Tentou espantar tudo isso ao se olhar no espelho. A barba feita sempre o deixava mais à vontade. Ele abriu o pequeno armário em busca de algo, mas nada encontrou.

Foi quando o fechou que os viu. Eram várias crianças, cujas imagens estavam refletidas pelo espelho. Doggett virou-se rapidamente e ficou espantado ao não ver ninguém. Teria sido uma alucinação? Tudo indicava que sim, mas ele viu nitidamente aquelas crianças. O que mais chamou a sua atenção nelas foi o olhar vazio e sem vida, o rosto extremamente pálido, como se fossem fantasmas – “bobagem” – ele pensou. Doggett nunca acreditou em fantasmas. Ainda assim, ele já viu coisas demais desde que entrou no Arquivo X para descartar qualquer possibilidade e ainda tinha aquela sensação estranha que não o abandonava. Talvez não houvesse fantasma algum nessa cidade, mas ele não tinha dúvida de que algo muito sério estava sendo escondida pelas pessoas daqui.


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Notas finais do capítulo

Espero que quem ler venha a gostar. O próximo capítulo está marcado para ser postado no domingo que vem. Aguardem.