Pink Sour escrita por Ray Shimizu


Capítulo 2
Host Club




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Eu tinha que me preparar psicologicamente para o trabalho, parte de mim estava empolgada, fazia dois meses que não conseguia arranjar um emprego. Os trabalhos que consigo geralmente pagam mal, então receber tão bem assim é tentador! Provavelmente o bom salário deve vir com vários ônus.

— Eu não falei que ir nessa festa ia ser produtivo? Você saiu com um emprego que paga muito bem! - GaEul demonstrava mais entusiasmo com o trabalho do que eu. O que é de se esperar, porque ela nunca vê as coisas pelo lado negativo.

— Tudo bem, mas não sei se percebeu, ele me contratou como um homem, não acho que foi uma boa ideia ter aceitado. Ainda tenho tempo de desistir.

— Não seja boba de perder uma oportunidade dessas! Você nem precisa fazer esforço para ser um homem, a única coisa que vai ter que tomar cuidado é na mulherada dando em cima de você! E pode deixar que como uma boa namorada ciumenta, eu não vou deixar ninguém encostar um dedo no meu namorado!

Me impressiono no modo simplista dela pensar, queria ser assim, mas só fico pensando na montanha de coisas que podem dar errado, e tenho certeza que nem consegui pensar em todas as possibilidades.

— Por que você não pensa nas coisas positivas que podem acontecer? Ser tão negativa não faz ninguém ir pra frente! - GaEul sempre reprovou meu lado pessimista, por outro lado, eu sempre achei ela otimista e sonhadora demais, o que sempre botava a gente em algum tipo de problema.

— Por eu pensar nas possibilidades dos problemas, que eu consigo resolver quando elas aparecem.

—Ah, acho que no fim somos uma dupla perfeita. Agora você tem um trabalho, e vamos ter dinheiro para pagar o aluguel desse mês! Podíamos comemorar e ir comer amanhã em algum lugar legal!

— Depois que eu receber meu dinheiro talvez, eu não conto com dinheiro que eu ainda não ganhei.

— Como sempre mão de vaca!

— Por eu ser mão de vaca que conseguimos pagar o aluguel desses dois últimos meses.

GaEul me encarava um pouco zangada, geralmente ela me olhava assim quando não conseguia argumentar de volta.

Um carro sedan rosa estava parado no canto da avenida, Parada ao lado do carro, parecia ser uma mulher com um vestido de festa.

— É a Nabi! - GaEul notou que era ela de longe, porque para mim, ainda era um ponto rosa. — Para o carro!

Obedeci, e parei o carro um pouco à frente

— Unnie, o que aconteceu? Está tudo bem?

— Estou, só o pneu do carro que furou. Eu tentei chamar o guincho, mas a bateria do meu celular acabou...Ainda bem que vocês apareceram!

A cada palavra que a Nabi falava, dava para notar que ela me encarava, e depois olhava para a Ferrari.

— Você tinha dito que veio com um acompanhante, ele foi embora e te deixou sozinha?É perigoso andar sozinha durante à noite! - GaEul perguntava em tom de preocupação, mas eu sabia que de preocupada ela estava era nada.

— Ah... Na verdade não sei o que aconteceu com ele, não o encontrei mais na festa, então só vim embora. Mas também não é como se fossemos namorados.

— Seu carro tem um estepe? Posso trocar pra você. - Se eu não interrompesse a conversa daquelas duas, provavelmente elas ficariam ali para sempre.

— Não sei. Nunca olhei. - Nabi realmente parecia não saber, e pela cara, não se importava com isso. — Você pode dar uma olhada para mim?

— Claro.

Quando abri o porta malas, tinha tanta coisa dentro, que já fiquei com preguiça. Nabi ajudou a tirar aquele monte de tralha, e para sorte ela tinha um pneu reserva novinho.

— Nossa, GaEul, que sorte você tem de ter um namorado que sabe fazer essas coisas! Hoje em dia os homens não sabem fazer mais nada! - Nabi falava impressionada, e para surpresa de zero pessoas, nenhuma das duas me ajudou na tarefa de trocar aquele negócio.

Lá na minha cidade, eu sempre trabalhei com meu tio, e ele é tão ou mais pão duro do que eu. E foi com ele que aprendi a fazer várias coisas, dentre eles a mexer em um carro. Meu tio sempre falava, que se a gente mesmo faz, faz bem feito e ainda economiza uma grana. Bom, errado ele não tá.

— Acho melhor a gente ir embora logo. Vai dirigindo, que eu vou seguindo seu carro até em casa. Assim você não fica sozinha.

— Agradeço a preocupação, mas agora já tá tudo bem, e eu nem moro tão longe daqui! Mas a gente se vê em breve.

Nabi sorriu, e sem avisar, beijou minha bochecha.

— Ei! Nabi, ele é meu namorado! Não pode fazer essas coisas! - GaEul falou nervosa, realmente, as vezes até eu acredito que sou namorado dessa garota.

— Não seja ciumenta, não foi nada demais! Tchau tchau!

— É por isso que eu não gosto dela, ai que raiva! - GaEul bufou, era nítido que ela tinha ficado irritada. Entramos no carro, e seguimos caminho, e ela continuou reclamando.

— Você gasta muita energia com ela, por que só não ignora?

— Hoje eu poderia estar trabalhando na maior empresa de moda da Coréia, se ela não tivesse roubado meu projeto e vencido o concurso no meu lugar! Como eu posso deixar pra lá? E lembra de quando eu trabalhava na Riacho Modas? Ela sempre quis me sacanear! Você teve sorte de não ter conhecido essa mocréia antes.

Enquanto ela gritava na minha orelha, lembrei que já tinha ouvido o nome da Nabi antes, quando ainda morávamos no interior, Nabi e GaEul estavam participando de um concurso de moda, e quem vencesse poderia estagiar na Zzarii e teria direito a lançar uma roupa para a marca. A GaEul na época estava bem animada, mal dormia fazendo o tal projeto. Se minha memória não estiver ruim, a Nabi trabalhava com ela, mas o período foi tão curto, que eu nem cheguei a conhecer. Ainda bem.

Assim que chegamos em casa fui tomar banho, porque além de ter me sujado toda trocando o pneu do carro da Nabi, ainda tinha meio quilo de produtos na minha cara e no meu cabelo. Quando eu saí, GaEul estava exatamente do mesmo jeito que chegou, nem tirou os sapatos, babava e roncava na cama dela.

Eu deitei na minha. Aquele quarto era pequeno para uma pessoa, mas por algum desafio da física coube duas camas de solteiro e um armário, onde cada uma têm direito a metade, só que na verdade, eu tenho só uma porta com três gavetas, enquanto GaEul tomou conta do resto. Como eu não tenho tanta roupa assim, nem ligo.

Mesmo cansada ainda fiquei algum tempo acordada, e com a GaEul roncando feito um trator, dificultou ainda mais eu conseguir dormir.

A sensação que eu tive no dia seguinte, foi como se tivesse dormido por uma semana, olhei para o relógio, quase infartei ao ver que já tinha passado do meio dia.

Sentia meu corpo todo reclamando, e demorei para levantar, eu só saí da cama porque senti um cheiro ótimo vindo da cozinha.

— Bom dia! Levantou bem na hora do café da manhã! - GaEul falava sorridente e parecia muito feliz. — Meu oppa tem que se alimentar bem para ir trabalhar com energia!

Por um breve momento eu havia esquecido da furada que eu entrei na noite passada.

— Nem me lembre disso.

— Não faça essa cara! Você vai ganhar muito bem, vai tirar a gente desse sufoco!

Suspirei, não tinha muito o que fazer, me concentrei no prato na minha frente, realmente aquelas panquecas estavam deliciosas.

— Que horas tem que estar no host?

— As cinco.

— Certo!

A garota sumiu da cozinha e foi para o quarto, não deu dez minutos e ela começou a falar sozinha e gritar empolgada.

Depois que eu comi, lavei o resto da louça e fui para o quarto, GaEul já estava me esperando com várias roupas espalhadas na cama.

— Deve ter um uniforme lá, mas acho importante você chegar já arrasando!

Senti um deja vu com aquele repeteco de provar roupas e ela fazendo meu cabelo e maquiagem, ela poderia muito bem trabalhar na produção das celebridades, mas esse mundo não é assim tão receptivo. Depois de sei lá quanto tempo, ela terminou de me arrumar, e saiu andando.

— Me espera um pouco pra gente sair juntas! Tenho que ir trabalhar também! — ela pegou uma toalha e foi para o banheiro.

Quando deu quatro horas saímos. O host club ficava a um quilômetro de casa, então dava para ir a pé mesmo. O bar que ela trabalhava era mais perto.

Enquanto a gente andava pela rua era notável olhares em nossa direção, a maioria eram de garotas. Algumas ainda soltavam comentários. Eu não sei se ria ou chorava com aquilo.

Olhei para GaEul que ria daquela situação, era óbvio que se divertia às minhas custas.

Deixei ela no bar e segui meu caminho, sempre passo por essas ruas, mas não me lembro de ter um host. Por mais que olhasse ao redor não achava, onde devia ser o local, estava escrito bem grande o nome de um salão de beleza. Será que eu errei a rua? Para minha sorte, vi DongHae se aproximando, ele sorriu ao me ver e acelerou o passo em minha direção.

— Você deve estar pensando que está no lugar errado, né? — DongHae manteve o sorriso maroto. — Quando vim pela primeira vez também achei que estava no lugar errado, e demorei duas horas para achar o local, isso porque o chefe veio me procurar.

— Então quer dizer, que estou no lugar certo, mas ele tá meio escondido? 

— Exatamente! É meio disfarçado porque vai gente muito influente no host. E tem gente aqui que você nem imaginaria...

Entramos no salão de beleza, funcionava normalmente, passamos pelo corredor e entramos em uma porta mais escondida. A entrada não tinha tanta iluminação, mas dava para enxergar, logo cheguei em um salão enorme. Mesas e poltronas que pareciam ter saído os dois olhos da cara, mais ao canto tinha um bar, e provavelmente era ali que eu ficaria.

— O chefe me pediu para chegar mais cedo para te ensinar o que precisaria, sorte que já te vi na entrada! — DongHae tinha o sorriso adorável, era até estranho saber que ele trabalhava em um host club.

— Eu nunca trabalhei nem entrei em um lugar assim, então não sei nada mesmo.

— No começo estranhei, mas agora eu já tô mais acostumado. Aliás, sua namorada não achou ruim você trabalhar aqui?

— Pra ser sincero, a gente não tem muita opção no momento, ela tá é feliz de eu estar trabalhando... Mesmo que seja em um host.

— Entendo, também vim por necessidade... — DongHae mostrava o salão, e depois fomos para ala interna, como a cozinha, banheiro dos funcionários. E umas das coisas que eu temia, aconteceu. Apesar de ter box com privada, os chuveiros eram abertos, tipo... Privacidade zero. As chances de eu ser descoberta aumentaram muito. Bom, eu teria que dar um jeito. — Ah, os uniformes ficam nesse armário, está separado por tamanho. Como você vai ficar no bar, seu uniforme são esses que ficam mais no canto. Depois que acabar o expediente, você deixa o uniforme usado naquele cesto. 

— Certo.

— Vou adiantando umas coisas no salão, depois que se trocar eu te explico o que falta.

Para minha sorte, DongHae saiu do banheiro sem eu precisar dar nenhuma desculpa. Quer dizer, ao menos por enquanto, estou segura.

Entrei no box, precisava botar aquele uniforme, agradeço muito por não ser nada estranho.

Fiquei mais de uma hora com o DongHae me ensinando o que eu precisava. Conforme chegava o horário do host club abrir, outros funcionários chegaram. Não foi surpresa em saber que os funcionários eram em sua maioria composta por homens. Tirando eu, que em tese sou um cara. Quem cuida da manutenção do banheiro feminino e do andar superior que tinha alguns quartos é uma mulher, e tem outras duas na cozinha.

Olhei o menu de drinks da casa, não tinha nada que eu não soubesse preparar, e ainda tinha um "drink do dia" que eu poderia inventar uma bebida. O host funciona durante à noite e uma parte da madrugada. Minhas folgas deviam ser as quartas, mas como não tem ninguém para ficar no meu lugar ainda, preciso trabalhar todos os dias. Na verdade eu não ligo, assim ganho mais dinheiro.

O pessoal daqui está sendo bem legal, me deram várias dicas, inclusive de como lidar com clientes que podem dar algum trabalho. O começo da noite até que foi tranquilo, até porque muitas já eram clientes conhecidas do host, e elas já tinham seus atendentes favoritos.

Uma mulher sentou-se no balcão do bar, era bonita, jovem, por alguma razão que eu desconheço, ela me parecia familiar. Está há quase uma hora sentada, e bebeu um monte, só abria a boca para pedir mais bebida. Com certeza está passando por algum problema, mas não sei se seria uma boa ideia eu me meter.

— Quero outra! — ela mal conseguia falar, com certeza já tinha passado do limite.

— Tem certeza? A senhorita não me parece bem. — Resolvi perguntar, antes que ela vomitasse na bancada.

A mulher só balançou a cabeça afirmativamente, apenas obedeci e dei outra bebida. Perguntei para o DongHae se ele conhecia a mulher, e ele respondeu que não, era cliente nova.

Depois de mais uma hora, a mulher havia desmaiado de tanto beber, até tentei fazer ela parar, mas ela insistia. Um dos rapazes a levou para um quarto e a deixou deitada. Inclusive, fiquei sabendo naquele momento, que era normal as clientes dormirem nos quartos do host, porque muitas bebiam até não aguentarem mais. E a diária daqueles quartos eram uma pequena fortuna.

Tirando aquela cliente que bebeu e desmaiou no balcão, minha noite seguiu tranquila, e assim que não tinha mais cliente no salão eu podia ir embora.  Fiquei enrolando para ser a última a usar o banheiro, assim poderia trocar de roupa em paz.

Foi meu primeiro dia e eu estava exausta, queria poder tomar um banho, mas achei melhor e mais prudente tomar banho em casa. Troquei de roupa correndo, peguei a minha mochila e saí. Como fiquei enrolando, achei que eu seria a ultima a ir embora, mas DongHae ainda estava no salão, arrumando algumas coisas.

— Nossa, você tá aqui ainda? - DongHae perguntou surpreso — Achei que já tinha ido.

— Ah... Não. — Pensei no que eu poderia falar. — É que eu tenho uns problemas de intestino, e às vezes acabo demorando, mas não é nada grave, não precisa se preocupar.

Apesar de meu intestino funcionar que é uma beleza, eu tive que inventar alguma coisa, não poderia falar que só estava enrolando para não ser flagrada como mulher no banheiro.

— Bom, já que ainda está aí, me espera... Eu já estou saindo.

— Claro, sem problemas.

Quase quatro horas da manhã, eu estava morta de sono, só queria a minha cama, vi que GaEul havia me mandado várias mensagens, mas eu não tava nem um pouco com vontade de responder, depois eu falava com ela em casa.

— Consegui recentemente alugar um apartamento mais perto do host, antes eu pegava ônibus. E na maioria das vezes eles já tinham parado de circular, e eu acabava esperando em uma loja de conveniência até poder pegar ônibus de novo.

— Sei bem como é isso. — respondi sincera, mas nem era tão ruim assim.

A gente foi conversando, e notei que cheguei no prédio quando DongHae parou em frente dele.

— Estou morando aqui. Você ainda está longe de casa ?

— Na verdade, eu moro nesse prédio também.

ÓTIMO... meu colega de trabalho, está morando no mesmo prédio que eu, como se não pudesse ficar pior, ele está no apartamento ao lado.

— Que bom saber que somos vizinhos! — DongHae parecia genuinamente feliz, em saber que somos vizinhos, mas acho que não demonstrei a mesma empolgação.

Como não sabia o que responder, apenas sorri. 

— Eu vou dormir que eu estou morrendo de sono, até amanhã. 

— Até. 

Agora eu tenho mais essa para me preocupar, ter o triplo de cuidado para ele não me descobrir... 

 

—----

O que será agora da Mina ? Espero que tenham gostado, tá sendo bem divertido pra mim! Até a próxima!


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