Conforme as semanas foram passando, Luca foi ficando mais confiante no que sentia, o que era um motivo de tristeza foi se tornando um motivo de alegria. A cada ligação que fazia para Alberto, era uma certeza a mais de que estava tudo bem entre os dois e que a distância era algo passageiro que iriam se acostumar de algum jeito.

Como Luca sempre viveu no mar, não sabia que existia as estações do ano, pois não é algo perceptível no fundo do oceano. Em uma das aulas na escola, a professora explicou sobre as estações do ano e como funcionavam. Luca ficou surpreso em ver como as plantas e a cidade mudavam tanto a cada estação. E que o inverso estava se aproximando.

Durante o tempo livre que tinham, Giulia, sua mãe e Luca foram comprar roupas de frio para ele, já que ele nunca precisou no mar. Luca ainda não compreendia muito bem como era o inverno mas aceitou as roupas. Algumas semanas se passaram e o inverno começou a chegar.

Luca ficou encantado com a neve já que era a primeira que a via. Giulia mostrou para ele uma das coisas que ela mais gostava de fazer durante essa época. Ir a biblioteca, pois era um lugar aconchegante e calmo. Ela sempre aproveitava para ler livros que eram diferentes do que a escola exigia. Os dois passaram boas horas lendo, quando Giulia notou que estava escurecendo e que precisavam retornar para casa antes que a temperatura caísse mais. Entretanto, Giulia tinha esquecido de avisar que a neve era água congelada, Luca acabou se transformando no caminho, assustando algumas pessoas, mas com uma boa conversa a situação foi resolvida.

Nessa noite de inverno, Luca, Giulia e sua mãe ficaram embaixo das cobertas assistindo televisão enquanto tomavam uma bebida quente para se aquecer. O telefone toca e era Alberto do outro lado da linha. Não tinha um padrão, as vezes Luca telefonava, as vezes era o Alberto. Dessa vez Alberto que telefonou porque queria saber como que estavam no frio, já que em Portorosso a temperatura não caía tanto, e pelo Massimo tomou conhecimento do quanto esfriava em Genova.

Esse foi telefonema foi marcante para os dois. Já fazia 6 meses que estavam separados e ainda conversavam como bons amigos e aqueles sentimentos permaneciam os mesmos. Ainda que não tinham revelado esses sentimentos, só de se manterem tão próximos era suficiente para saber que tinha algo além da amizade entre eles. Assim foram levando ao longo de vários meses. Através de telefonemas e algumas lágrimas, mantinham contato frequente.

6 meses depois na estação de trem em Gênova.

A mãe de Giulia levou Luca e ela na estação de trem, já que estavam de férias e era verão novamente. Apesar de saber que voltaria em breve, Luca não deixou de se emocionar na despedida. A mãe de Giulia foi uma verdadeira mãe para ele durante esse tempo, além disso ele não estava acostumado com despedidas. Era um misto de sentimentos, uma parte dele queria ficar e uma parte queria voltar, já que fazia um ano que não via Alberto. Embora mantiveram contato durante o ano, ter a pessoa por perto é melhor do que meros telefonemas.

Depois que entraram no trem, Giulia consolou Luca, dizendo que as despedidas não são para sempre.

— Luca, a gente vai voltar depois. - Giulia disse, abraçando ele.

— Eu sei que vamos, é que foi bom, sabe. - Ele disse chorando no ombro dela.

— Entendo. - Ela respondeu, calmamente. Depois que Luca se acalmou um pouco, ela perguntou. - Tá, preparado para encontrar o Alberto?

— Acho que sim. - Ele respondeu secando algumas lágrimas. - A gente tem muito o que conversar.

— Tem mesmo. - Ela respondeu se sentando ao lado dele.

Depois de duas horas, o trem chegou em Portorosso. Quando os dois desceram, Massimo e Alberto estavam esperando por eles. Alberto foi em direção a eles e os abraçou, do mesmo jeito que Giulia tinha abraçado na despedida do último verão. Após esse abraço emocionante, Giulia foi de encontro ao seu pai, enquanto Luca e Alberto permaneceram abraçados.

— Vamos, temos um verão pela frente. - Alberto disse, limpando algumas lágrimas.

— Como da última vez. - Luca sorriu para ele.

Então, antes de passar um tempo a sós com Alberto, Luca foi ver seus pais. Foi um encontro no fundo do mar, já que no momento em que chegou na cidade, os dois estavam lá. Luca estava muito feliz de estar de volta e emocionando também. Disse a sua mãe que tinha alguns assuntos inacabados com Alberto e que voltaria mais tarde. Daniela respondeu que não tinha problema e que já sabia. Luca ficou sem entender o que ela já sabia. O que ele não sabia é que as mães conhecem seus próprios filhos e que ela tinha notado que Alberto não teria feito o que fez por pura amizade, tinha algo a mais.

Assim durante o dia, Luca e Alberto aproveitaram o dia juntos, fazendo algumas coisas pela cidade, mas depois foram para o mar onde nadaram a pularam até cansar. Até que Luca alcançou Alberto e pegou em sua mão, o que o fez parar e olhar para Luca . Os dois foram deixando as águas os levaram enquanto colocavam para fora o que estava escondendo esse tempo todo.

— Alberto. - Disse Luca, olhando nos olhos dele.

— Você não tem ideia do quanto eu senti sua falta. - Alberto respondeu o abraçando e depois retribuiu o olhar.

— Eu também senti sua falta. - Luca respondeu.

— E tem uma coisa que queria te falar esse tempo todo. - Alberto disse, emocionando.

— Não precisa, eu sei o que é. - Luca respondeu.

Luca colocou sua mão na bochecha de Alberto, sem dizer uma palavra, apenas olhando nos olhos, deu o que seria um rápido beijo, mas que Alberto prolongou ainda mais. Depois que terminaram, se olharam mais uma vez. Eles não precisavam de palavras para descrever o que sentiam um pelo outro. Permaneceram abraçados por um tempo enquanto nadavam pelo mar aproveitando a companhia um do outro.

Eles tinham um verão inteiro pela frente e a certeza de que distância alguma alteraria o que tinha entre eles. Acima de tudo, agora sabem o que são aqueles sentimentos que não entendiam antes. Eles não precisam esconder mais o que sentiam, e os amigos e familiares já tinham notado que eram mais do que amigos desde o início. Era o começo de uma vida inteira em boa companhia.

Tudo estava bem.