E se... escrita por AnnaP


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Inhaí! Mais uma vez eu escrevendo para um POSO. Dessa vez, comemorando o aniversário da dona e proprietária Bella Swan. Vocês podem ver mais detalhes de como foi o Projeto lá no TT da POSO. Eu escolhi a música Slow Life - Grizzly Bear com Victoria Legrand. E escolhi escrever um angust. Coisa que eu nunca escrevi.
Curti fazer Bella sofrer um bocado, coitada. Mas sabendo o final, claro!
Essa é a minha ideia de uma angústia para a pobi Bellinha, espero que gostem.



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Segunda-feira

Edward me buscou em casa pela manhã, como sempre fazia, para irmos juntos para a escola. Eu sempre lhe dava um beijo de ‘bom dia’ que terminava em uma sessão de amassos rápida para nenhum vizinho fofoqueiro bater no vidro do carro.

Cada um tinha aula de um lado da escola, Edward se despedia de mim com um beijo na testa e nos dividíamos na mais perfeita tranquilidade.

No intervalo entre as aulas, eu estava no corredor quando vi Edward próximo ao próprio armário. Comecei a andar em direção a ele quando uma loira passou perto. Edward acompanhou os passos dela com a cabeça.

Eu não era ciumenta, mas achei estranho o interesse dele pela, eu percebia agora, aluna nova. Era raridade termos alunos novos em Forks, eles sempre viravam o centro das atenções, e Edward era mais um curioso para saber os motivos que levaram aquela bela loira até a pacata cidade de Forks.

Deixei a questão para lá, mas não fui até meu namorado, virei as costas e fui direto para a aula.

O dia transcorreu normalmente, e eu cheguei até a esquecer que achei o comportamento dele esquisito.

**

Terça-feira

Chegamos na escola mais cedo do que quaisquer outros alunos. O clima estava um pouquinho mais quente, ótimo para ficarmos dentro do carro no estacionamento ouvindo música e conversando enquanto esperávamos a hora de entrar.

Eu olhava para Edward sendo feliz apenas por sentar e apreciar uma boa música e conversar comigo, e pensava em como era sortuda por tê-lo. Ele gostava de coisas simples como eu.

No intervalo de uma das aulas, fui me encontrar com Edward no corredor. Ele estava acompanhado da aluna nova. Rosalie era o nome dela, e a achei bastante simpática quando fomos apresentadas. Edward contava entusiasmado que a nova amiga havia sido transferida do Texas e estava tendo problemas para se adaptar ao frio. Ambos riram de alguma piada sobre mudanças de temperaturas que eu só entendi por motivos óbvios. Enquanto esperava os dois rirem sem parar, eu me senti deixada de fora de alguma coisa.

Edward passou a aula de biologia que fazíamos juntos falando sobre Rosalie. No início achei fofo o entusiasmo dele em ter feito uma nova amizade, mas quanto mais ele ria sozinho de alguma coisa e mais curiosidades tinha para falar sobre ela, mais eu ficava incomodada. A última vez que vi Edward se importar tanto com outra pessoa foi quando nós começamos a conversar há mais de dois anos atrás.

Eu cheguei perto do carro de Edward na hora de ir embora, encontrando Rosalie de pé apoiada na traseira.

— Ele me prometeu uma carona. – A loira disse quando me viu.

Sorri e me encostei ao lado dela para esperar Edward chegar.

Ele veio abrindo caminho entre os outros alunos, os cabelos cor de bronze balançando com uma leve brisa. Desencostei do carro, girando na direção dele aguardando por um beijo que não veio. Atrás de mim, Rosalie não parava de falar:

— Nossa, um Volvo? Mas o seu carro é muito pequeno. Você tem certeza que cabe dentro dele?

Olhei bem para Edward esperando a reação dele. Ele amava aquele carro pequenininho e ficava bravo quando faziam graça dele. Esperei novamente por algo que não veio. A chamada de atenção que eu achei que ele fosse dar nela nunca existiu. Talvez ele tenha ficado sem graça de brigar com ela na frente dos outros alunos e ia esperar para falar alguma coisa dentro do carro.

Fui até a lateral e me posicionei para abrir a porta do carona para Rosalie entrar. Antes que eu a abrisse, a loira abaixou a cabeça e olhou pela janela para o interior do veículo.

— Eu não vou caber aí dentro. – Reclamou.

Olhei incrédula para ela. E depois mais incrédula ainda para Edward quando ele falou:

— Vai no banco da frente, tem mais espaço.

— Ah, valeu!

Rosalie abriu a porta do carona e empurrou o banco para frente para eu entrar. Os movimentos dela foram naturais como se fizesse aquilo todos os dias.

Ainda em estado de choque, eu entrei no banco traseiro. Passei o caminho inteiro em silêncio, tentando entender se estava ficando maluca ou realmente aquele dia estava acontecendo daquele jeito.

Parecia que nenhum dos outros ocupantes do carro se lembrava da minha presença, eles brincavam e conversavam como se fosse uma amizade de anos.

Quando chegamos na minha casa, esperei Edward descer do carro para me levar até a porta para se despedir.

— Eu saio, não tem problemas. – Rosalie parou Edward quando ele fez menção de descer.

Ele não reclamou.

Desci ainda em estado de tupor e me abaixei pela janela de Rosalie para acenar para o meu namorado. Ele jogou um beijo de dentro do carro e saiu.

Naquele dia eu me ocupei durante a tarde para não pensar no que tinha acontecido. Preferi não ficar repetindo as cenas na minha cabeça, ia acabar vendo coisa aonde não tinha. Não queria dar atenção demais para aquilo e no dia seguinte ser tudo normal novamente.

Quando dormi, não consegui segurar algumas lágrimas que caíram no travesseiro. Apesar de tentar me manter positiva, tive medo do dia seguinte.

**

Quarta-feira

Parecia que o dia anterior tinha sido só um sonho.

Segui minha rotina na manhã pensando que era besta pensar que alguma coisa mudaria. Forks continuava fria, a chuva fina caía do lado de fora, e eu e Edward nos amávamos.

Abri a porta de casa empolgada para encontrar meu namorado, não esperando encontrar Rosalie no banco do carona.

Murchei no mesmo instante.

A loira mais uma vez saiu do carro para eu entrar e Edward apenas existiu ali no meio, parecendo alheio a minha presença.

O tempo que teríamos longe de todos não existiria. Talvez, quando chegássemos na escola, Rosalie sairia do carro e nos deixaria sozinhos.

Não aconteceu. Chegamos cedo como sempre, mas ficamos os três juntos dentro do carro. Eu no banco de trás, sentindo meu humor ficar cada vez pior, meu namorado e a beldade loira mexendo no rádio e conversando sobre músicas.

Eu nunca pensei que fosse me sentir desconfortável perto de Edward, ele ainda era a minha pessoa preferida no mundo, mas era como eu estava me sentindo naquele momento. Era como se eu estivesse presa com dois estranhos. O carro começou a ficar pequeno, as vozes dos dois altas demais.

Menti que precisava ir ao banheiro e saí para o ar puro, correndo para longe daquilo.

Não encontrei Edward novamente até que fosse a aula de biologia.

Abri um sorriso enorme para ele quando entrou na sala, Edward respondeu da mesma forma. O gesto aqueceu meu coração como sempre, tudo ia ficar bem.

Na hora de ir embora, novamente a dupla se fechou em uma bolha, olhei pela janela do carro o caminho todo, não reconhecendo a playlists que embalava a viagem.

— Algum problema com o som do carro, Edward? – Perguntei genuinamente curiosa.

Quem respondeu foi a nova porta voz oficial dele.

— Não, eu estou colocando umas músicas diferentes para ele ouvir. Chega de música clássica na chuva, essa cidade é depressiva o suficiente.

Edward amava qualquer tipo de música, tendo uma predileção pela clássica para dirigir por não gostar de música muito agitada na estrada. Que era exatamente o que estava tocando.

— Você vai conseguir dirigir assim? – Insisti, querendo instigar alguma reação dele à intromissão dela.

— Eu me acostumo. – Ele deu de ombros.

Engoli meus pensamentos e voltei a me distrair com a paisagem.

Depois de mais uma despedida seca pela janela, liguei para Alice, minha melhor amiga, e contei o que estava acontecendo.

— Eu não quero achar que ele está me afastando, Alice, mas o que mais eu vou pensar? Sempre que ela está por perto ele não me vê. Eles inclusive se encontram pela escola nos intervalos.

Eu os vi perto da cafeteria no outro dia, Edward me apresentou a ela como se fossem amigos há anos. Ela foi bem simpática.

— Ela é. – Bufei. – Quer dizer, ela não fez nada, a gente não conversa, o diálogo é todo entre eles. Ela fez piada com o carro dele e as músicas que ele ouve, e ele não se importa. E aí eu fico pensando se ela é chata, ou eu que simplesmente não me importei e fiquei acomodada. Não tentei apresentar coisas novas para ele. Eu estou muito incomodada com isso tudo, Alice. Ele parece que não me vê. – Resmunguei no ouvido da minha amiga.

Vai ver é porque ela é nova. Deixa pegar intimidade para você ver como ele vai reclamar com ela também.

— Mais intimidade, Alice? – Eu disse, horrorizada só de pensar.

Você entendeu, Bella. Conversa com ele e conta tudo que está me contando. Se eu notar alguma coisa diferente entre eles eu te aviso.

— Obrigada, amiga. Vou chamá-lo para vir aqui no fim de semana enquanto Charlie estiver viajando para pescar.

Bella, não é assim que você vai resolver as coisas. — Alice riu, fingindo estar horrorizada.

— Não é nada disso Alice. – Mas, pensando bem, poderia ajudar. – Eu só quero um tempo com ele longe de qualquer pessoa. Longe dela.

Faz isso, então. E me conta depois.

**

Quinta-feira

Eu estava no banco de trás novamente. Estava até acostumada a ter aquele espaço todo só para mim e a minha mochila. As mochilas dos outros estavam caídas no chão depois de uma curva fechada. Oops.

Eu estava decidida a agir como se tudo estivesse normal entre mim e Edward. Como se ele não estivesse agindo diferente, como se Rosalie fosse uma velha amiga. Infelizmente meu plano não deu certo. Parecia que os dois tinham um dialeto só deles que eu não conseguia entender. Eu ria na hora errada da história, fazia piadas sem graça, perguntava tudo… Foi horrível! E ver Edward olhar para mim como se eu estivesse atrapalhando o clima foi o pior.

Novamente disse que precisava ir ao banheiro e saí voando do carro.

Quando chegou a hora de encontrar com Edward na aula de biologia, eu estava desanimada. Triste. Edward era o meu oposto, empolgado demais, feliz demais, falando sobre várias bandas e músicas que conhecera e eu deveria ouvir. Em nenhum momento ele percebeu que eu evitava olhar para ele e apenas o respondia com murmúrios.

Aquilo para mim foi como um soco no estômago. Edward sempre foi atencioso, sempre notava quando algo estava estranho comigo.

Perguntei se poderia voltar na frente naquele dia, Rosalie disse que não havia problemas.

Quando sentei no banco, ele estava completamente desregulado para o meu tamanho. Mexi na configuração para ficar mais confortável, percebendo Edward e Rosalie como duas estátuas olhando para mim.

— O que? – Perguntei, com medo, achando que tinha quebrado alguma coisa.

— Você vai tirar tudo do lugar. – Rosalie falou. – Depois vai ser horrível arrumar de novo.

Minha garganta ficou apertada. Senti os olhos pinicarem, mas segurei firme. Deixei o banco como estava, o mais afastado possível do painel, e fiquei feliz por pelo menos estar ali na frente de novo.

Foi como se eu não estivesse. Rosalie ficou pendurada entre os bancos, mexendo no rádio e conversando com Edward.

**

Sexta-feira

Não cumprimentei ninguém quando entrei no carro. Edward só perguntou se estava tudo bem e deu a partida no carro quando resmunguei qualquer coisa.

Antes de irmos para a aula, toquei no braço dele e pedi para que esperasse.

— O que foi? – Indagou como se tivesse achado estranho que eu quisesse falar com ele a sós.

— Charlie vai viajar para pescar novamente esse fim de semana, vai lá em casa amanhã. Faz tempo que a gente não faz nada juntos.

Eu depositei toda minha esperança naquele pedido, estava certa de que íamos conversar, finalmente, e tudo voltaria ao normal.

Edward fez uma careta.

— Eu marquei de ir em La Push com Rosalie, vou mostrar a nossa ideia de praia para ela. Você quer ir?

Ele havia marcado o programa e não havia me incluído. Só agora estava comunicando e perguntando se eu queria ir. Será que eu deveria negar? Insistir que ele procurasse outro dia para ir com ela e ficasse comigo?

— Queria a sua companhia para dobrar as roupas. – Fiz uma piada que meu pai sempre fazia quando sabia que estávamos os dois sozinhos em casa. – Vocês não podem ir outro dia?

— Temos que aproveitar o tempo bom, Bella. Sabe como é difícil aqui em Forks. Até Charlie sabe.

— Entendi. Claro. – Fiquei emburrada. – Bom passeio para vocês.

— A gente marca outro dia. – Ele me deu um soquinho na barriga. – Se der eu passo na sua casa no domingo.

Se der.

Edward abriu um sorriso torto e saiu. Eu me segurei para não me deixar ser afetada pelo sorriso dele como sempre.

**

Sábado

Depois de chorar até dormir, acordei disposta a fingir que não tinha um namorado.

Pronto.

Eu não ia chorar por ele, por mim, por nada.

Arrumei a casa, dancei, cantei, li, caí da escada e ri sozinha.

O sábado se transformou no domingo, que logo acabou e deu espaço para mais uma segunda-feira. Assim que acordei enviei uma mensagem para Edward dispensando a carona para a escola.

“Vou com meu próprio carro hoje.”

Fui o mais sucinta possível, sem paciência para possíveis conversas.

Ainda funciona?

“Muito bem.”

“Tudo bem.”

Ele pareceu ter ficado bastante feliz por não ter detalhes. Engoli a decepção por achar que ele fosse insistir para vir me buscar.

Agora que eu estava fora da equação, não fazia ideia se Edward chegaria cedo para ficar à toa no estacionamento. Acabei chorando quando o imaginei sozinho dentro do carro com Rosalie, sem a minha presença zumbi para atrapalhar.

Fiquei com um humor melhor quando cheguei ao estacionamento, não encontrando o Volvo prata em canto algum.

Corri para o meu armário e depois para a minha primeira aula. E corri pela escola o resto do dia evitando Edward. Não que eu achasse que ele estava me procurando, Alice passou por ele algumas vezes e ele não perguntou por mim.

— Vamos matar a aula de biologia? – Perguntei para Alice.

— Eu nem faço essa aula com você, Bella. Mas não me importo de fingir problemas femininos e exigir sua companhia para matar Educação Física.

Depois de chorar na enfermaria fingindo que não conseguiria ficar sem mim, Alice se deitou em uma maca com uma bolsa de água quente no abdômen.

— Você não me contou sobre o fim de semana. – Alice sussurrou. – Desaprendeu a usar o telefone?

— Não. É que não tem o que contar. Ele foi para La Push com Rosalie. Se desse, passava lá em casa no domingo. Só sei que está vivo porque enviei uma mensagem dispensando a carona mais cedo.

— Ai, Bella. Eu sinto muito. – Ela apertou minha mão. – Você terminou com ele?

— A sensação que eu tenho é a de que ele terminou comigo primeiro. Só não teve coragem de me avisar. Esperou que eu percebesse sozinha e me afastasse por mim mesma.

— E você vai deixar isso assim? Exige conversar com ele. Vocês são namorados, são amigos. São dois anos juntos, se impõe, amiga.

— Eu não sei nem se isso tudo é coisa da minha cabeça. E se eu o confrontar e a gente acabar brigando? Pelo menos agora nós apenas estamos afastados, mas ninguém se odeia.

— Ninguém se odeia, mas você está magoada. Bella, não é possível que você ainda ache que é coisa da sua cabeça. Ele está sendo covarde de não te chamar para se explicar. E você merece brigar com ele sim. Edward está merecendo ouvir poucas e boas.

— Por que não ouvi meu pai e fui para um convento? – Respirei fundo. Seria tão mais fácil. – Mas, sinceramente, Alice, não consigo olhar para a cara dele agora. Em compensação, também tenho medo de não falar logo e perder a oportunidade de consertar as coisas.

— O que você precisar, eu vou te apoiar. Faça o que te deixar em paz de novo. Estou odiando te ver toda tristinha.

— Eu também estou me odiando assim. Consegui me distrair sozinha no fim de semana, mas hoje quando lembrei que Rosalie teria Edward só para ela no carro de manhã, desanimei mais uma vez.

— Não pensa nisso, Bella. Deixa eu te distrair e te colocar em dia a respeito das últimas aventuras da minha mãe no surfe.

Meu humor só piorou quando não ouvi falar de Edward pelo resto do dia. Eu me deixei chorar até dormir. Se era isso que ele queria, ser livre, então eu deixaria. Que fosse feliz. Eu ia me preocupar em viver a minha vida e ser feliz também.

Mas agora, choraria toda a dor de perder meu melhor amigo e namorado.

**

Terça-feira

“Sua picape velha vai aguentar a viagem hoje?”

Guardei o celular no bolso sem responder e girei a chave, torcendo para o universo estar do meu lado pelo menos nessa e fazer o carro pegar.

— Qual vai ser nossa desculpa hoje para faltar biologia? – Alice perguntou entrelaçando o braço ao meu.

— Eu tenho que encarar a aula hoje, Alice. Não posso me prejudicar e nem te prejudicar por causa dele.

— Muito bem. Assim que eu gosto. Dá um ultimato para ele. Eu estarei aqui te apoiando no que precisar.

Fui direto falar com o professor sobre minha falta no dia anterior. Apesar de ter sido liberada pela enfermeira responsável, fui dar uma satisfação a ele e pedir desculpas. Era um modo de adiar o momento de me sentar ao lado de Edward.

— E aí? – Que exemplo de saudação.

Respirei fundo para não ser infantil e ignora-lo.

— Oi. – Segui arrumando minhas coisas sem dar atenção a ele.

— O que está acontecendo, Bella?

Tudo estava acontecendo.

Aproveitei a abertura que ele deu e perguntei se poderíamos conversar hoje.

— Claro, eu levo a Rosalie para casa dela e passo na sua, pode ser?

— Eu tenho hora marcada na biblioteca para fazer trabalho em grupo de espanhol. Estava pensando em conversar no fim da aula mesmo, antes de ir embora.

— Rosalie precisa dessa carona para voltar para casa, Bella.

Fiquei furiosa ao ouvi-lo colocar as necessidades dela na frente das minhas. Olhei para o professor na frente da sala e respirei fundo para me acalmar um pouco.

— Sério? Ela não pode esperar? Você é motorista dela, por acaso?

— Não fala assim. – Edward era a calma em pessoa. – Eu combinei com ela, não posso dar para trás e deixá-la na mão.

Ele tinha que lembrar de honrar os compromissos dele logo agora?

Pena que não aquele que tínhamos juntos.

— Ah, você não pode deixá-la na mão? Pobre Rosalie que não pode arrumar outra carona para casa.

— É claro que ela pode, mas não tem necessidade nenhuma quando eu posso muito bem cumprir o combinado e depois conversar com você.

— Edward, você não percebe o que está fazendo? Você acabou de perguntar se está tudo bem comigo, eu te chamo para conversar e explicar que não estou bem e você recusa. Você realmente quer saber se está tudo bem, ou foi uma pergunta de cortesia?

Edward riu.

— Espera, você está com ciúme de mim com a Rosalie? Bella, não tem cabimento.

Como ele não conseguia enxergar?

— Quando você tirar a cabeça de dentro do rabo e quiser conversar, me avisa. Enquanto isso, me deixa em paz. Continua fingindo que eu não existo.

— Bella?

— Presta atenção na aula.

**

Edward estava apoiado na porta da minha picape quando saí da biblioteca.

— Sou todo seu. – Abriu os braços.

Era agora.

Pensei se o chamaria dentro do meu carro e contaminaria o ambiente com o cheiro dele, ou se me embriagaria com o cheiro dele dentro do Volvo. Escolhi deixar meu carro intacto. Sentei no banco do carona ainda na configuração mais confortável para Rosalie, sentindo o perfume dela ao meu redor.

— Por que você está fazendo essa cara de nojo? – Edward perguntou.

— Lembra quando eu usava seus casacos e ficava puxando a gola para sentir seu cheiro?

Parecia um século atrás, quando, na verdade, eu havia feito isso apenas duas semanas atrás.

— Você uma vez fez eu me deitar no seu travesseiro antes de viajar, para ficar sentindo o meu cheiro quando eu estivesse longe. Eu estou fedendo? É isso?

— Não. – Ri sem humor. – Eu nem sinto o seu cheiro. Só sinto o de Rosalie.

— Bella, você me chamou para conversar para ficar falando do seu ciúme pela Rosalie?

— Edward, eu não sinto ciúme dela. Acho que esse foi o meu erro. Eu deveria ter marcado mais o meu território, mostrado que eu era a sua namorada. Mas deixei a amizade de vocês crescer mais do que a nossa.

— Eu ainda estou aqui, eu ainda sou seu amigo, Bella.

— Não, Edward, não é. Quando foi a última vez que nós ficamos sozinhos? Que conversamos? Quando foi a última vez que nos beijamos? Tirando um cumprimento no qual você me deu um soco na barriga, a gente sequer se tocou em sei lá quantos dias. Se você não enxerga o quão errado isso é, eu sinto muito, mas eu não posso mais ficar com você.

— De onde você tirou isso? A gente se vê e se fala todo dia. Você que ficou longe esses dias e eu deixei, te deixei ter seu espaço. Você está terminando comigo por suposições? Coisas da sua cabeça?

— Para e pensa um pouco, Edward. Faz um esforço e você vai ver que eu tenho razão. Eu também achei que fosse coisa da minha cabeça, queria muito que fosse. – Respirei fundo para segurar o choro. A última coisa que eu queria era que ele visse o quanto eu estava sentida em ter que me afastar dele. – Nossa, Edward, o que eu mais queria agora era que você rebatesse cada coisinha e me mostrasse que estou errada. – Fiquei em silêncio esperando-o dizer alguma coisa. Vê-lo sem palavras para se defender me quebrou. – Só que você não pode. Não consegue porque sabe que tenho razão. Se está cansado de mim e não sabe dizer, eu facilito para você.

— Bella, não é nada disso. Você está ficando maluca.

— Você não me contradizer já me diz tudo. – Respirei fundo e abri a porta do carro.

— Bella…

— Eu espero que você seja feliz, Edward.

**

Foi estranho estar na escola o resto da semana e não interagir com Edward. Nós nos evitávamos pelos corredores, para o prazer dos outros alunos que não tinham mais o que fazer e amavam fofocar a vida dos outros. Para a minha sorte, o senhor Molina não passou trabalho em dupla.

Sexta-feira, eu estava indo embora com Alice quando Edward e Rosalie me pararam no corredor.

— Bella, vamos conversar.

Rosalie ainda servia como porta voz de Edward.

— Não, não vamos. Eu não tenho nada para conversar com vocês.

— Bella, é sério. – Edward rolou os olhos sem paciência. – Vai ficar de birra agora? Depois não reclama que a gente não consegue conversar.

— Combinei com Alice de dar uma carona para ela. Não posso quebrar a minha palavra, deixá-la na mão. Imagina só se ela tiver que se virar sozinha para ir embora?

— Você é motorista dela? – Rosalie tentou fazer piada.

— Eu deixo o Edward responder essa.

Mais tarde naquele dia, Edward apareceu na minha casa. Ele sentou na escadinha da porta ao meu lado. Eu não sabia nem o que estava fazendo ali, mas fiquei em silêncio esperando-o falar.

— Você realmente terminou comigo ontem. – Disse encarando o chão. – Achei que você só estivesse com raiva de mim.

— Não. Eu realmente terminei com você. Eu nunca achei que tivesse que ser sua prioridade, Edward. Nós nunca fomos assim, sempre tivemos nosso espaço para fazer coisas separados. Mas não ser nada para você também já é demais. Nós passamos três dias sem nos falar, matei uma aula de biologia e você nem procurou saber se estava tudo bem comigo.

— Eu ouvi que você estava na enfermaria com a Alice.

— E sabia o motivo?

— Não.

— E não quis saber.

— Não. Eu sabia que você estava bem.

— Sabia? Virou adivinho? O que está acontecendo com você? Qual é o seu problema? Desde que Rosalie chegou nós não nos falamos mais. O nosso namoro terminou quando ela pisou em Forks. Você terminou comigo quando ela apareceu. Só esqueceu de me avisar. Ou estava ocupado demais com seu novo brinquedinho e não se importou mesmo. – Dei de ombros.

Eu nunca iria saber o que falei ali para ofendê-lo tanto, nunca iria saber o motivo de Edward ter fechado a cara e se transformado como fez naquele momento.

— Quer saber qual é o meu problema? – Ele levantou do degrau, andando de um lado para o outro na minha frente. – Eu cansei, Bella. Quer saber, é isso. É, eu cansei. Nada do que eu digo te faz parar de me perturbar. Você não acredita em nada do que eu falo. Colocou na cabeça que tenho alguma coisa com Rosalie e nada faz essa cisma sair da sua cabeça. Quer terminar comigo? Tudo bem, estamos terminados. Não vem chorando depois sentindo a minha falta, vai ser tarde demais.

Olhei para ele sem reação para a repentina mudança de atitude. Tentei abrir a boca para perguntar o que estava acontecendo, mas só recebi pedradas de volta.

— O que? Vai ficar me olhando com essa cara? Você pediu por isso, Bella. Vai lá chorar com seus livros. Vai reclamar que eles te enganaram e o amor não é aquela coisinha bonitinha que você fica o dia inteiro lendo. Para mim chega!

Edward entrou no carro e saiu cantando pneu.

****

Eu senti alguma coisa no meu cabelo, nos meus braços, mas não identifiquei o que era. Remexi incomodada, começando a acordar e me situando do ambiente ao meu redor.

— Bella, você está bem? Olha o seu estado! Toda descabelada. Está ficando amarrotada.

Alice? O que ela está fazendo aqui?

— Em que outro lugar eu estaria? – Ela acariciou meu cabelo, acho que mais para colocar algum fio no lugar do que me consolar. – Você precisa levantar e sair. Está na hora já. – Ela me olhou e fez uma careta. – E eu ainda tenho algumas coisas para arrumar aí.

Eu ainda estava meio atordoada, doída de tudo o que havia ouvido sair da boca de Edward e de todas as imagens dele com outra na minha frente. Foi horrível assisti-lo andar abraçado com Rosalie para lá e para cá. Os dois estavam felizes esfregando o relacionamento na minha cara.

Gemi, enfiando o rosto na almofada para abafar o choro que chegava e me rasgava o peito.

— Bella, quer que eu chame o Edward?

Abri os olhos rapidamente e comecei a me agitar.

— Não! Não o chame aqui!

Minha melhor amiga riu enquanto arrumava minha roupa.

— Você estava chamando por ele, xingando, para ser mais exata. Acho que ele precisa te-

— Não. – Eu a interrompi. – Edward não precisa nada.

— Tudo bem. Tudo bem. – Ela levantou as mãos, se rendendo. – Quer conversar comigo, então? Você precisa sair desse sofá, mas eu não posso deixar você sair em público nesse estado deplorável. Desabafa comigo.

— Ai, Alice. – Limpei as lágrimas dos olhos.

Contei tudo o que tinha se passado para ela, toda a mágoa que eu guardava. Alice ouviu tudo de olhos arregalados, segurando o riso.

— Isso que você está me contando é a mais louca história que eu já ouvi! – Ela levantou, ainda segurando o riso, e me jogou um roupão. – Edward precisa ouvir isso!

Tentei segurá-la e implorei para que não fizesse nada, mas fui completamente ignorada.

Vesti o roupão e fiquei andando de um lado para o outro do quarto enquanto Alice não voltava. Esperava que Edward estivesse muito ocupado para conseguir vir junto.

Parei de frente a minha estante de livros, agora sem meus romances bobos. A vida realmente não era um mar de rosas como eles mostravam, eu sabia disso, mas eles eram, e sempre foram, o meu conforto e a minha fuga da realidade.

Fiquei tanto tempo relembrando as várias histórias que embalaram a minha adolescência que tinha esquecido o que estava acontecendo no presente. A batida na porta me assustou ao ponto do meu coração disparar e eu me agachar no chão para me recuperar.

— Bella? – A última pessoa que eu queria ver nesse momento colocou a cabeça para dentro do quarto.

Quando me viu no chão, ele veio correndo até mim. Eu estava com tanta vergonha que não consegui responder que estava bem enquanto ele me examinava a procura de machucados.

— Bella, fala comigo. O que foi?

— Não foi nada, Edward.

Ele me ajudou a ficar de pé e ir até a cama, apesar dos meus protestos para ir até o sofá.

— Alice disse que você tinha algo para me contar.

Com um grunhido de revolta, escondi o rosto no travesseiro. Eu ia matar aquela fedelha! Edward esperou pacientemente, fazendo carinho na minha perna. Quase a puxei para longe dele, mas lembrei que não havia motivo para tal e ele ficaria magoado com o gesto.

Depois de um tempo, finalmente tirei o travesseiro da cara e olhei para ele.

— Finalmente. Achei que fosse te perder sem ar aí atrás.

— Eu fui tirar um cochilo enquanto esperava Alice tomar banho, aí sonhei com você. – Falei finalmente. – Com a chegada da Rosalie em Forks quando éramos adolescentes. – Expliquei melhor.

— Ok? – Ele franziu as sobrancelhas sobre os belos olhos verdes. – E por que Alice foi correndo até a casa dos meus pais e me fez fazer todo o caminho de volta até aqui? O que mais tem nesse sonho?

— É que não foi isso. – Gemi, escondendo o rosto nas mãos. – Foi um pesadelo, na verdade. Bem longo e angustiante.

Mesmo vendo Edward preocupado comigo ali na minha frente, era estranha a sensação que ainda estava na minha cabeça de que ele havia me trocado por ela. Ele pegou a minha mão e a apertou.

— Lembra que ela pediu carona e queria ficar mexendo no som do carro? E ali você ficou emburrado e não deu mais atenção para ela? No sonho, você disse sim para ela. E eu fui expulsa por vocês para o banco de trás e ficava perdida sem entender as conversas. Ela até fez você ouvir heavy metal para dirigir.

— Nossa, que pesadelo! – Edward debochou, recebendo em troca minha cara feia.

— Ela tinha conseguido levar você de mim. E foi tudo muito real. Eu acordei assustada depois de ver vocês dois se beijando na porta da sala de biologia.

— Por que você sonhou com essa merda, Bella?

— Não sei, Edward. Eu sabia que voltar hoje aqui para Forks traria lembranças, mas eu achei que fossem as boas. Nunca imaginei que meu subconsciente fosse puxar essa memória e distorcer tudo. Logo hoje, um dia tão feliz. Foi angustiante viver aquilo tudo, te perder para ela. Sentir tudo o que eu imaginei naquela época, naquele dia de drama adolescente que eu achei que fosse te perder para sempre enquanto era apresentada a sua linda amiga loura. – Eu soltei um bufo com a minha própria história, enquanto Edward rolou os olhos, se lembrando de como eu me senti insegura quando conheci Rosalie na nossa realidade. – Eu acho que te perder nem foi o pior, e sim o modo como eu fui tratada por você. Foi… doloroso. – Respirei fundo, meus olhos se enchendo de lágrimas. – Você fingia que eu não existia, e me machucava de propósito depois quando já estavam juntos.

— Não fica assim, Bella. – Edward se aproximou e me puxou para ele em um abraço. Se Alice visse que nenhum dos dois estava tomando cuidado com as roupas, ela ia morrer. – Eu estou aqui. Foi um pesadelo.

— É, eu estou bem ciente disso. Mas assim como eu te ataco de manhã quando tenho um sonho erótico, esse sonho foi real, com muitos detalhes, ao ponto de me deixar triste como se tivesse acontecido hoje. Eu sei que foi um sonho. – Insisti, sendo redundante na minha explicação. – Mas a Alice não precisava ter te arrastado até aqui.

— Ela não me arrastou, ela não veio, ficou lá nos últimos preparativos com sua mãe. Nós dois vamos voltar juntos. – Ele riu de alguma coisa, mas não me contou o que era. – E, sobre o que você falou de me atacar nas manhãs, assim como eu te ajudo no seu tesão matinal, estou aqui para te ajudar na tristeza... – Ele parou para procurar uma palavra. – triste. – Não encontrando nenhuma.

Isso me fez sorrir e aliviou um pouco o clima.

— Bella, eu te amava com dezessete anos quando namorávamos no estacionamento da escola, eu te amo agora com trinta me casando com você. – Edward falou segurando o meu rosto. – Voltar para Forks hoje para o casamento despertou essa sua insegurança, mas saiba que não tem motivo nenhum para ela existir.

— Eu sei que não tem, Edward. – Coloquei minhas mãos sobre as dele e as levei para o meu colo. – E não é por duvidar de você que fiquei nervosa com o sonho, foi a sensação que ele deixou. Alice nem precisava ter feito você vir até aqui, tudo ia passar. Mas a ridícula se divertiu com a minha desgraça e achou que seria interessante repassar o entretenimento adiante. Eu sabia que você ia ficar preocupado, achando que tinha algum significado por trás. E eu juro, não tem. Eu te amo, e confio em você.

Edward abriu um sorriso torto para mim.

— Se você me ama mesmo, que tal se casar comigo?

— Desculpa, mas eu não posso. – Falei séria. – Você vê, eu já estou vestida para casar com alguém. – Alisei o roupão que cobria o vestido amassado.

— É. – Edward pressionou os olhos fechados e os abriu de novo. – Eu passei esse tempo todo evitando seu corpo do pescoço para baixo. Mas, olha que coincidência incrível, eu também já estou vestido. – Ele riu, e olhamos os dois para o terno dele.

— Você está absurdamente gostoso e eu não evitei olhar para você um só segundo.

Sentei no colo dele, beijando-o. Eu ainda estava com a sensação ruim do sonho presa na minha mente e queria trocá-la por uma muito melhor. Edward leu minha mente.

— Nós vamos chegar muito atrasados.

As mãos dele subiram a saia do vestido até a minha cintura.

— E muito amarrotados.

— Nada vai acontecer se não estivermos lá. – Abri a calça dele. – Eles esperam.


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Notas finais do capítulo

Deu para notar que qualquer coisinha mínima entre dois é angústia para mim, né? E que eu não consigo deixá-los separados.

É isso! Obrigada quem leu! Até a próxima, comentem aqui e nas outras histórias!

Ah, e parabéns para a mulher mais sortuda desse universo! Desculpa te fazer sofrer no seu aniversário.