Você E Eu Somos Inevitáveis escrita por Lady Murphy


Capítulo 2
Meu Amor É Minha Droga


Notas iniciais do capítulo

"Lord, save me, my drug is my baby.
I'd be usin' for the rest of my life." (Don't Blame Me, Taylor Swift)



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Katniss usava botas de combate e uma jaqueta de couro folgada quando ele a viu pela primeira vez. Peeta trabalhava na biblioteca da faculdade três vezes por semana. O salário era pouco, mas bem vindo para ajudar a pagar o aluguel no fim do mês. Ela estava devolvendo alguns livros e havia uma taxa de atraso em sua ficha. Ele informou o valor da multa e eles discutiram porque ela se recusava a pagar. Algo sobre impostos e democratização da leitura. Ela cedeu ao perceber que todos ao redor estavam olhando para os dois, não sem antes lhe enviar punhais com os olhos. Quando ela saiu, Peeta analisou os livros deixados sobre sua mesa. Porra, ela devia parar de ler sobre anarquismo.

Ele a encontrou de novo na cafeteria uma semana depois. Os cabelos dela estavam soltos sobre os ombros magros e seus olhos eram impossivelmente prateados à luz do dia. Ele achou que ela era bonita mesmo quando ela gritou com ele na biblioteca. Mas, parada ali, rindo do comentário da amiga, ela era deslumbrante.

Sentado mais tarde na mesa contra a parede, Peeta se assustou ao vê-la deslizar para a cadeira à sua frente. Suas bochechas exibiam um tom sutil de vermelho, algo que não parecia possível para a pele morena dela. 

"Um pedido de desculpas." Ele franziu as sobrancelhas para o cupcake que ela lhe entregou. "Pelo outro dia na biblioteca. Eu fui uma idiota com você."

"Hum. Obrigada."

"Não foi culpa sua. Eu só estava estressada com as aulas e saber que tinha que pagar uma multa por atraso não ajudou muito. Então, mais uma vez, me desculpa."

Ele a observou voltar à sua própria mesa, mordiscando o cupcake com cuidado. Podia estar envenenado. Não estava. Na verdade, era bem gostoso e ele sorriu na próxima vez que ela entrou na biblioteca.

Depois disso, foi fácil como eles entraram quase que em uma rotina. Peeta chegava às duas da tarde para seu turno e Katniss apareceria às três para passar o tempo até a aula seguinte. Ele descobriu que ela fazia biologia porque gostava do seu professor na escola e porque olhar coisas no microscópio era legal. Seu drama sobre largar a faculdade de administração contra a vontade da mãe para fazer artes foi recebido com empatia por Katniss que tinha seus próprios problemas familiares.

Seu coração bater acelerado toda vez que ela tocava seu braço ou ter que se controlar à noite para evitar pensar nela enquanto estava sozinho em seu quarto, era o que estragava o clima de camaradagem entre eles. Ela estava tão alheia à sua atração ridícula que Peeta temia que se ela percebesse a amizade deles acabaria.

Thom, seu colega de quarto, insistia que ele devia fazer um movimento. "Chame ela para sair, seu idiota. Não aguento mais ver você definhando por essa garota."

Peeta revirava os olhos lhe mostrando o dedo do meio, mas parte dele sabia que o amigo estava certo. Ele devia fazer alguma coisa. Qualquer coisa. 

E ele tentou. Seu plano foi arquitetado e melhorado durante toda a semana. Eles iriam ao cinema no sábado junto com uma amiga dela, Johanna, e quando fosse deixá-la em casa, ele a convidaria para jantar. Perfeito.

"Eu tenho um namorado." Ela respondeu. "Me desculpa. Achei que você soubesse. Eu devo ter te contado em algum momento. Pelo menos, eu deveria."

Peeta ficou imóvel por alguns instantes. Na realidade, ele estava mortificado. Tudo o que mais temia, aconteceu. Por que ele foi escutar seu estúpido colega de quarto? Ele devia ter ficado de boca fechada até que aqueles malditos sentimentos fossem embora. Eles sempre iam, não é. Droga. Droga. Droga.

"Ah. Eu não- quer dizer, claro. Sinto muito por isso. Foi bobagem minha. É claro que você tem namorado…"

"Peeta…"

"Tudo bem. Vamos apenas esquecer isso. Eu tenho que ir. Boa noite, Katniss"

"Peeta, espera." Ela tentou mais uma vez, hesitante em sair do carro. Ele segurou o volante com firmeza, olhando para qualquer lugar menos para ela.

"A gente pode conversar sobre isso, por favor?" A voz dela era baixa e tão cheia de cuidado que Peeta queria diminuir de tamanho assim como a Alice no país das maravilhas e com alguma sorte desaparecer.

"Sim, nós podemos. Só não essa noite, tudo bem? Eu só quero ir para casa agora."

"Okay." A porta do carro se abriu em um clique suave e ela deslizou para fora." Boa noite, Peeta."

Ele desabou no sofá como um homem exausto e humilhado. Quando Thom surgiu da cozinha ávido por notícias, Peeta silenciosamente lhe mostrou o dedo do meio e vagou até seu quarto.

Evitá-la não foi nada difícil. Ele pediu para mudar de turno na biblioteca para não esbarrar com ela. A cafeteria duas ruas abaixo servia bolinhos melhores e ele não correria o risco de ser pego desprevenido por Katniss enquanto tomava seu café sem açúcar. E era uma coisa boa que seus cursos fossem diferentes o bastante para que eles não tivessem que dividir nenhuma aula.

Obviamente, seu ego foi ferido. Mas seu coração estava partido e ele não sabia como consertá-lo. Ele sentia falta dela. Da risada abafada no seu ombro. Do cheiro de lavanda que saltava sempre que ela mexia nos cabelos. Das mensagens de texto com emojis que apenas pais usavam. Ele sentia falta de conversar com ela. De ser amigo dela. E foi sua culpa ter estragado tudo isso quando convidou uma garota que já tinha namorado para sair.

Peeta a vê novamente em uma festa na casa de Delly. Ele nem sabia que a amiga conhecia Katniss. Do contrário, ele teria ficado em casa pateticamente comendo pizza e assistindo televisão. Ela conversava do outro lado da sala, muito envolvida na discussão do grupo para percebê-lo. Então, ele aproveitou a oportunidade para sair para a varanda.

Ele estava alto o bastante com um cigarro que aceitou de um cara mais cedo para não recuar quando ela apareceu alguns minutos depois e sentou ao lado dele nos degraus.

"Você é a pessoa mais difícil de se encontrar, ultimamente. O que é? Está se escondendo de mim?" Ela brincou com os nós dos dedos, parecendo meio incerta do que fazer consigo mesma. Ele riu porque era a única reação que seu cérebro chapado conseguia processar.

"Quer dizer, que você estava procurando por mim?"

"Talvez."

O som da festa estava abafado pelas portas fechadas à suas costas, apenas o latido do cachorro do vizinho cobrindo o silêncio que se seguiu entre eles. Peeta queria dizer mais. Falar que estava com saudades e que foi um idiota por se afastar dela sem aviso. No entanto, sua língua parecia lixa na boca e sinceramente ele não confiava em si mesmo no momento para não cuspir todas as bobagens românticas que pensava sobre ela.

"Eu terminei com meu namorado." Ela disse de repente e ele quase engasgou com o chiclete que mascava para disfarçar o cheiro de maconha da boca.

"Oh, Katniss. Sinto muito. Eu não…"

"Relaxa. Não foi por sua causa. É só que relacionamentos à distância são uma merda." A bota dela tinha uma mancha estranha e ela se curvou, tentando removê-la com as unhas curtas.

"Ele não está na cidade?" Peeta perguntou. Ele estava surpreso, mas também um pouco curioso sobre o namorado dela. Bem, ex-namorado.

"Não. Gale achou uma boa ideia entrar em um programa da Marinha do outro lado da porra do país."

"Eu não tinha percebido que você xinga como um pirata velho." Ela riu e isso enviou uma onda de calor por seu peito. Ele sempre achava uma vitória quando a fazia rir.

"É a bebida. Álcool me deixa um pouco estranha."

Alguém dentro da casa gritou em comemoração e um coro de vozes se juntou, fazendo o ambiente vibrar com o barulho. Peeta podia dizer que o efeito da maconha estava passando quando voltou a ficar inquieto na presença de Katniss.

"Então, Peeta, o que você vai fazer?" Ele a encarou, confuso.

"Como assim?"

Ela bufou e se pôs de pé com os braços cruzados sobre o peito.

"Qual é, Peeta. Eu vim atrás de você mesmo depois de você me evitar por semanas e acabei de te contar que terminei com meu namorado. Você pode estar agindo como um idiota, mas você com certeza não é um."

Ele estava inteiramente sóbrio naquele instante. Katniss parecia brava com ombros rígidos e a testa franzida. Ela errou em achar que ele não era um idiota, porque ele sentia exatamente assim por não ligar os pontos antes. Culpe a erva que bagunçou sua cabeça e a insegurança que ele nutria desde que seus avanços foram esmagados naquela fatídica noite. Mas ela estava bem na sua frente, com as mesmas botas de combate que usava quando gritou com ele na biblioteca, perguntando o que ele faria a seguir. Então, ele mostrou a ela.

Peeta levantou em um salto, cruzando os metros que os separava em dois passos. Ela suspirou surpresa quando seus lábios se encontraram e as mãos dele pousaram em sua cintura. A surpresa rapidamente se transformou em desejo no instante em que seus dedos alcançaram os cachos da nuca dele e ele a empurrou contra o lado da casa.

Eles exploraram um ao outro com os golpes de suas línguas e o movimento frenético de suas mãos até que estivessem cientes que não poderiam terminar o que começaram no quintal de Delly. Suas bocas se separaram em um estalo e Peeta a segurou perto com as testas ainda coladas. Ele manteve os olhos fechados e esperou que sua respiração se acalmasse assim como a dela.

Azul e prata se encontraram quando ela sorriu, os dedos se demorando sobre a barba rala dele. Seria eufemismo dizer que ele se sentia no topo do mundo. E Deus o ajudasse porque ele estava irremediavelmente apaixonado por aquela garota.


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