de red & prongs para carter

Para os budistas, os arco-íris significavam a ponte que fez Buda descer dos céus para o mundo. No catolicismo, ele simboliza a aliança de Deus com os homens, além do fim do sofrimento e nascer da esperança. Os gregos também interpretavam o fenômeno de cores como um aviso divino. 

E por fim, para, Remus Lupin, eles significavam Nymphadora Tonks. A mulher que carregava o espectro de cor nos cabelos. Talvez os deuses tivessem de fato colocado-a em seu mundo como um sinal.

Afinal, a essa altura da vida, Remus jamais imaginaria se apaixonar novamente, ou estar questionando sua sexualidade. Esse tipo de coisa era para ser sentido e investigado na juventude, quando ainda se é uma página em branco, sem manchas, mágoas e feridas permanentes.

Mas mesmo assim, ali estava ele, tremendo como um adolescente em seu casaco, enquanto se arriscava a imaginar como seria dizer para Tonks como se sentia. Talvez, ele pensou com uma risada triste, a tremedeira fosse apenas um resquício da tempestade que Sirius havia sido em sua vida. Ele tinha lhe deixado há tão pouco tempo, e suas torrentes ainda estavam deixando marcas em cada osso de Remus.

Não que ele estivesse comparando os dois, isso era praticamente impossível. Honrava esse pedaço da sua história, os anos que passou amando Sirius como mais do que seu amigo, e Tonks era algo completamente diferente.

Remus era uma bagunça total e tudo que ele queria era se esconder. Esconder seus sentimentos, seus problemas, suas dores, até que o tempo fizesse ele se acostumar com a dor ou a amenizasse. 

Mesmo com a ausência física de Sirius, ele se sentia encharcado pelo rapaz dia após dia. Era atormentado pelos sonhos dele atravessando aquele maldito véu dia após dia, noite após noite, e parecia ser incapaz de compreender um futuro onde se livraria daquilo. Sentia sua falta com tanta força que chegava a doer, mas não queria continuar revivendo aquilo.

Sentia-se culpado por não ter tentado salvá-lo com mais coragem, por não tê-lo amado por mais tempo, por não ter mergulhado em sua tempestade uma última vez. E sentia que, por causa disso, tudo, havia sempre uma nuvem de chuva acima de sua cabeça, perseguindo-o constantemente.

Portanto, quando conheceu Tonks, Remus não reconheceu o amor imediatamente.

Estava tão acostumado com um amor intenso, agressivo, imprevisível, que quando viu a calmaria e gentileza da mulher, não percebeu que estava amando. Ou, talvez, não se sentisse merecedor daquele tipo de amor. Por ser um velho, por ser um lobisomem, por estar passando por uma crise de sexualidade aos quase 40 anos. Por não trazer nada de bom para a vida de Tonks, apenas uma nuvem tempestuosa de problemas que o perseguia o tempo inteiro.

Foi ela que o fez perceber que não estava mais chovendo.

É difícil respirar quando tudo o que você conhece é a luta para permanecer acima da água, mas ela segurou sua mão e o trouxe a superfície. Remus teve dificuldade para respirar e reconhecer o oxigênio nos primeiros momentos, mas ela não lhe abandonou.

Na superfície, ela fez Remus finalmente entender que não adiantava lamentar o passado em tempos como aquele. O que ele estava fazendo era alfinetar suas próprias feridas e, com isso, machucá-la de volta. O céu estava límpido e seco, esperando por ele, e ele estava se mantendo preso na mesma tempestade de sempre, que por muito tempo pensara ser apenas Sirius, quando, na verdade, era tudo o que lhe assombrava em seu passado.

Tonks era sempre seu porto seguro depois de navegar por águas tão sombrias e turbulentas. Portanto, o mínimo que ele podia fazer era se deixar cair sem olhar para trás. Abraçaria ela sem os espinhos da sua insegurança e a amaria sem as amarras da ansiedade. E assim ela poderia finalmente inundá-lo de cores. 

Ao beijá-lo, deixando-o com as bochechas vermelhas. Amanhecendo junto dele e da luz alaranjada da manhã que os despertava. Pintando as paredes da sala de amarelo, enquanto riam e sujavam as próprias roupas com a tinta de cor tão alegre e vibrante. Preencheram o pequeno jardim deles com um gramado verde e plantas que perfumaram o local. Tonks o abraçava nos dias que ele se sentia azul, com a tristeza que ia e vinha através de seus pesadelos. Seus fios de cabelo violeta, como uma nuvem de algodão-doce, que apareciam involuntariamente sempre que Remus a fazia rir, e ele se sentia o homem mais sortudo do mundo.

Com Tonks, Remus sentia que não havia nuvem de tempestade alguma lhe perseguindo, e sim um imenso arco-íris o acompanhando o tempo inteiro, como um sinal de esperança marcado em sua pele.

Quando escolheu o sim, prometeu também que viveria aquilo tudo da melhor maneira, um dia de cada vez, por quanto tempo durasse.

O dia que pegou suas malas e passaram a dividir um lugar juntos. O significado daquele momento talvez fosse mais pesado para Remus do que para Tonks. Dividir uma vida, era deixar o passado para trás indefinidamente e fazer com que ela fosse seu futuro. Um futuro que eles criaram com tanto amor e coragem, e até mesmo após partirem desse mundo, deixaria marcas através de uma vida, através de Teddy Lupin. 

Remus achava que nunca iria encontrar seu arco-íris, parte dele já duvidara em poder ter um e mesmo assim, lá estava ele, com uma risada alta, cabelos coloridos, uma coragem imensurável e mãos gentis em suas cicatrizes. 

Depois da tempestade vem o arco-íris, com suas luzes e cores, cheio de promessas e, acima de tudo, esperança para um coração partido em terra árida coberta apenas de silêncio, angústia e dor.