Dominique Weasley sorriu e aplaudiu assim como o resto de sua Casa quando Florence Nott fez mais 10 pontos para a Sonserina. 

Ela observou a artilheira dar uma volta na vassoura comemorando junto da audiência e antes de voltar para o jogo fez uma acrobacia de ponta cabeça se exibindo. Dominique revirou os olhos e olhou para seu irmão ao seu lado. No meio da arquibancada verde e prata, Louis era um pontinho amarelo com o cachecol da Lufa-Lufa em volta do seu pescoço.

—Sonserinos são tão metidos. - ele disse mastigando a ponta de uma varinha de alcaçuz.

—Nós só sabemos que somos os melhores, irmãozinho, e deixamos bem claro isso. - ela o provocou. Pegou uma das varinhas de alcaçuz do saquinho dele e mordeu esboçando sorrisinho de lado.

Louis mostrou a língua para ela.

—Você não tem respondido as cartas da mamãe? - ele perguntou vaiando o time da Grifinória quando eles conseguiram a posse da goles. Ele sabia melhor do que torcer contra a Sonserina na arquibancada deles. - Ela tem me enchido de perguntas sobre você, que você mal fala com ela…

—Porque? Para ler sobre como Victorie está se saindo bem no Ministério?  - Dominique bufou brincando com o final da mecha do seu cabelo. - Posso muito bem manter contato uma vez por mês e escrever uma carta bem recheada para fazer mamãe feliz. - ela disse para seu irmão. 

Dominique amava Victorie, realmente, talvez não tivesse alguém que ela amasse tanto quanto a irmã mais velha ou que pelo menos admirasse tanto. Sua irmã sempre foi tudo que ela queria ser. Desde pequena era boa em tudo que fazia e não importava o quão irritante Dominique fosse, Victorie sempre tinha tempo para ensinar tudo que ela quisesse. Quando cresceu foi aluna de honra da Grifinória e tinha até mesmo um troféu com o nome dela exposto na Sala de Troféus e mesmo tirando um ano depois de sair de Hogwarts para viajar pelo mundo com o namorado, ela voltou e arrumou um emprego ótimo no Ministério da Magia e ao que tudo indicava estava a beira de uma promoção.

Mas sua irmã ser tão perfeita intimidava Dominique. Ela já vinha de uma família cheia de parentes bem sucedidos e primos com futuros promissores. Mas o pior é que Victorie também era exatamente o que sua mãe sempre quis que uma filha fosse. 

Quando criança Victoire não fugia pela casa de calcinhas porque não queria vestir os vestidos cor-de-rosa que a mãe queria, Victorie não fazia birra toda vez que a mãe queria fazer tranças bonitas pelos longos cabelos loiros, Victorie não reclamava quando a mãe a fazia ficar dentro de casa para não se sujar antes do jantar na casa da avó. “Melhor que um bom feitiço de limpar, é não sujar para começo de conversa.” , ela costumava dizer.

Victorie era como uma princesa, bonita, educada e delicada. E delicia era a última coisa que Dominique sentia quando começou a notar que gostava de garotas.

—Você sabe que… nossos pais não vão te deserdar nem nada do tipo por você gostar de garotas, não sabe? - Louis às vezes parecia ler mentes de tão intuitivo que ela ou simplesmente Dominique era muito fácil de se ler.

Não era como se Dominique tivesse vergonha de ser lésbica, todos os seus primos sabiam e ela até teve algumas quase namoradas em Hogwarts. Mas pais era algo diferente.

—Você está aprendendo Legilimência, irmãozinho? - perguntou.

—Você não consegue esconder o que está pensando. - ele disse com a boca toda suja de alcaçuz. - Está escrito por toda a sua cara. - ele apontou o doce para ela.

—Eu tenho um plano. - Dominique contou batendo palmas junto com os seus colegas de Casa que torciam juntos para incentivar o time. - Quando eu me… apaixonar, propriamente me apaixonar. - ela acrescentou. - Eu conto para papai e mamãe que eu fui feita para amar as mulheres. - deu uma risadinha que seu irmão compartilhou.

—E se isso demorar pra acontecer? - ele quis saber.

—Bem, eu seria muito azarada, não? - Dominique suspirou. - A maioria das pessoas se apaixonam na adolescência, pelo menos uma vez, ou melhor acham que se apaixonam. - ela disse. - E olha só. - ela apontou para a arquibancada da Grifinória do outro lado do campo de Quadribol. - Rose passou tanto tempo falando que relacionamentos só dão certo depois dos 21 anos que e agora recebeu uma declaração de amor na frente da escola inteira. - ela disse. Um pouco antes da partida começar Scorpius Malfoy decidiu bem dramaticamente se declarar para Rose que assistia da arquibancada. Foi incrivelmente embaraçoso, mas Rose o beijou e agora eles provavelmente seriam felizes para sempre.

—Mas também tem o fato de que ontem mesmo você me disse sobre o quanto você odeia pessoas e que vai se tornar uma magizoologista porque criaturas são muito melhores que seres humanos.

—É isso também. - Dominique cruzou os braços sentindo um pouco do frio de Novembro. 

—O que vocês tanto cochicham? O jogo está acontecendo, tenham respeito. - Albus bufou do outro lado de Dominique. Ele tinha o rosto pintado metade de verde e metade de prata em um cartaz grande que ele agitava em cima da cabeça com o nome de Scorpius escrito em verde, o “S” sendo uma cobra. 

—Porque você está tão nervoso? É só a primeira partida da temporada. - Louis disse,

—Scorpius precisa se sair bem nesse jogo para conseguir a vaga de capitão. - Albus respondeu. A vaga de capitão do time de Quadribol da Sonserina estava sendo disputada por Scorpius e Nott, os dois eram os melhores jogadores não só do time, mas de toda a escola.

E Florence Nott era colega de quarto de Dominique desde o primeiro ano quando foram sorteadas juntas para a mesma Casa. Porém as duas nunca tiveram uma amizade, nem perto disso. Elas às vezes falavam bom dia e boa noite e teve uma vez no quarto ano em que tiveram que fazer um trabalho de História da Magia juntas, mas isso foi o quão longe suas interações foram. Dominique suspeitava que Nott não gostasse muito dela.

“E Nott se aproxima com a goles em posse e mais uma vez...10 PONTOS PARA A SONSERINA.”

Albus bufou ao lado dela, provavelmente queria que fosse mais um ponto do Scorpius. Dominique pulou assim como o resto da arquibancada, observando com um sorrisinho Nott se vangloriar por mais um ponto.

Ela suspirou e apoiou a mão no queixo e o cotovelo na barreira da arquibancada.

—Se Nott não me olhasse feio por cada passo que eu desse, ela seria uma ótima primeira paixonite. - ela disse ao seu irmão que revirou os olhos com um sorriso.

—Cuidado para ela não arremessar um balaço na sua cabeça.

⋯

—Você se saiu muito bem no último jogo. - Dominique não conseguiu se conter. Depois de passar uma semana observando Nott de longe, ela finalmente decidiu tentar falar com ela. E não era como se ela quisesse simplesmente se apaixonar por Nott só porque quando viu ela jogando quadribol a achou extremamente atraente, mas sim porque não conseguiu parar de notar a presença dela toda vez que ela entrava em um local.

Florence desviou o olhar de um grande espelho na parede ao lado do banheiro para Dominique sentada na própria cama já de pijamas.

—Obrigada, Weasley - disse. Ela voltou a se olhar no espelho enquanto tirava a blusa, ficando de sutiã. Dominique olhou rapidamente para os seios cobertos pelo tecido preto e moveu o olhar para as próprias mãos. - Parabéns por ter conseguido a vaga de monitora. - a outra voltar a falar.

—Oh, obrigada. - Dominique murmurou. No final do ano letivo passado a antiga monitora da Sonserina se transferiu para Ilvermorny depois que os pais se separaram e no verão Dominique recebeu a carta com seu broche. - Honestamente, eu achei que você que iria conseguir. - ela disse.

—Eu também. - o tom de Florence foi seco. Dominique empinou um pouco o nariz

—Bem, mas você é a capitã do time. - ela disse. - Não se pode ter tudo. 

—Co-capitã. - Florence a corrigiu. Slughorn que sabia bulhufas de quadribol foi pela decisão mais fácil e colocou Nott e Scorpius como os capitães do time.

—Por favor. - Dominique abanou a mão. - Aposto que você já vive dando ordens no Scorpius. - disse e mordendo o lábio inferior minimamente. - Homens gostam de ser mandados por mulheres bonitas.

Florence terminou de puxar a saia do uniforme pelas pernas e olhou Dominique pelas tranças do cabelo. A Weasley sempre a achou muito bonita com a pele negra clara e os grandes olhos castanhos , quase pretos.

—Porque você está falando comigo? - ela questionou.

Dominique deu de ombros se deitando de bruços na cama e cruzando os pés para cima.

—Somos colegas de quarto, classe, Casa… - ela listou. - Não posso falar com você?

—Hum. - foi a única resposta que teve.

—Talvez eu esteja curiosa em saber como está se sentindo agora que seu ex-namorado está desfilando por aí de mãos dadas com Gemma Chang.

Florence comprimiu os lábios tirando as meias finas. Dominique imaginava se ela estava pensando em todos os jeitos que podia azará-la naquele momento.

—Não me importo. - disse. - Ele pode fazer o que bem quiser com a vida dele. 

—Vocês namoraram por bastante tempo…

—E?

—E porque terminaram? - perguntou curiosa, se xingando mentalmente. Inicialmente era para ela tentar flertar com Nott e não atacá-la de perguntas enxeridas, mas sua curiosidade era grande mais para se segurar.

—Você quer mesmo saber? 

—Quero.

—Eu comecei a sentir vontade de foder garotas. - ela contou arqueando uma sobrancelha. - E achei que tentar… entender isso não seria bom com um namorado nas minhas costas.

Dominique abriu a boca e fechou algumas vezes sem saber o que responder. 

—Você… está tentando se descobrir? - perguntou baixinho mesmo que estivessem sozinhas no dormitório. 

—Eu estou tentando ir tomar um banho para dormir, mas tem um diabrete loiro me impedindo. - Florence disse rispidamente e entrou no banheiro batendo a porta. 

Dominique fechou os olhos com força e se virou deitando de costas na cama olhando para o teto. Ela tinha sido enxerida até demais, mas foi a primeira vez que trocou mais de duas sentenças com Florence.

Sorriu para si mesma.

⋯

Dominique tinha um problema tão grande em se assumir para os seus pais porque, primeiro, ela odiava a ideia que diferente de pessoas héteros ela tinha que ter um grande momento e se assumir para o mundo ao invés de simplesmente existir. Segundo, ela tinha medo de que a mãe a visse de qualquer forma menos do que anteriormente.

Desde criança quando ia para França ficar com sua família parte Veela, ela notava como todos eram tão perfeitos, bonitos e delicados. E assim que começou a notar que gostava de garotas começou a se sentir tudo menos delicada. Quando via sua mãe com as primas todas casadas com homens grandes e fortes e elas tão pequenas e esguias perto deles. E sobre como elas falavam que quando crescesse Dominique iria arrumar um homem bom e forte para protegê-la.

E ao mesmo tempo que sabia que seus pais iriam amá-la não importasse o que, ainda tinha uma pequena parte que fazia seu coração apertar um pouco.

—Sim, claro que eu vou pro Natal. - Dominique murmurou contra o telefone. Ela estava em uma cabine telefônica bem no final de Hogsmeade quando já estava bastante longe do Castelo. Apesar de ser uma vila totalmente bruxa, há alguns anos atrás um dos donos de loja nascido-trouxa colocou uma cabine telefônica lá. Mais cedo Louis enganou a ela e fez ela atender a ligação da mãe. Ele fugiu logo depois para não enfrentar a fúria da sonserina. - Não, eu não estou te ignorando, eu só… - ela pressionou os lábios escutando a mãe falar. -... tenho estado ocupada com as minhas obrigações de monitora, só isso e estou treinando porque… estou pensando em entrar pro time de quadribol ano que vem. - ela mentiu e revirou os olhos pra si mesma, encostando a testa no vidro da cabine vermelha. - Sim, sim, meio tarde para tentar uma carreira em quadribol, mas… - ela suspirou. - Sim, sim, também te amo, até mais.

Suspirou fechando os olhos com força. O plano era simples: se apaixonar e contar para os seus pais. Mas naquele momento tudo parecia infinitamente mais difícil.

—Bem, já devo deixar avisado que você provavelmente não vai entrar no time.

Dominique se virou para Florence que estava apenas a alguns passos da porta aberta da cabine.

—Eu estava mentindo. - ela cruzou os braços se apoiando no batente da porta. - Meus pais não sabem que sou lésbica e tem ficado cada vez mais difícil guardar isso deles. - ela notou Florence desviando o olhar normalmente.

—Porque? Você parece ser bem resolvida com a sua sexualidade.

—Só estou me preparando para quando olhar a cara deles e ver que todas as expectativas que eles tinham em cima de mim… não vai passar disso.

—Pelo menos você sabe o que você realmente é. - Florence murmurou se agarrando no sobretudo que usava. - Minha vida toda eu passei gostando ou namorando Caecius e de repente eu comecei a reparar… - ela olhou rapidamente para os lábios de Dominique. -... como os lábios de garotas eram bonitos, que as risadas delas faziam eu sentir como se tivesse diabretes dançando na minha barriga. - ela disse e Dominique finalmente entendeu o término dela com o ex.

No quinto ano Florence e Caecius Zabini tiveram um término bem público depois de uma partida de quadribol bem no meio do campo. Pegou toda a população de Hogwarts de surpresa e deixou a fofoqueira dentro de Dominique em pânico por não saber o que tinha acontecido, já que eles pareciam simplesmente apaixonados. Ela até mesmo acreditava que eles seriam aqueles poucos casais que realmente davam certo na adolescência. 

—Você não precisa entender nada, Florence. - Dominique disse dando um passo para frente e tocando no braço dela. - Sexualidade… é algo seu, ninguém mais precisa entender ou saber sobre. - disse tentando achar as palavras certas. - Você pode tomar todo o tempo do mundo para se descobrir, meses, anos o quanto for necessário ou você… pode simplesmente viver sem nenhum tipo de rótulo se é o que te deixa confortável. - murmurou olhando o rosto da mais baixa atentamente. - No final você só precisa ser você mesma e achar pessoas que te amem por quem você realmente é. Isso que importa, certo?

Florence a olhou minuciosamente e andou para frente fazendo Dominique dar alguns passos para trás até que ela estivesse dentro da cabine. Ela encarou aqueles grandes olhos castanhos escuros e sentiu o peito subindo e descendo rapidamente. Podia notar aqueles olhos mirando seus lábios com toda atenção do mundo e Dominique não poderia deixar de mordê-los nervosamente. Ela sentia a incerteza e nervosismo vindo de Florence, mesmo que a mesma nunca fosse admitir isso.

Queria que ela soubesse que estava tudo bem. Que ela ficaria bem independente da decisão que tomasse.

Nenhuma das duas eram grifinórias que saiam por ai fazendo grandes atos de bravura, mas Dominique mesmo sempre se considerou bastante destemida ou talvez só audaciosa mesmo.

—Você vai me beijar ou não, Nott?