I - Herdeira da Noite: Êxodo escrita por Elizabeth Charpentier


Capítulo 9
Capítulo Oito




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— Senhora, os Winchesters e a garota estão desacordados. — o homem de olhos vermelhos disse em direção ao cálice cheio de sangue. — O que mais a senhora deseja?

Passaram alguns segundos e parecia que algo dentro do cálice sussurrava, porém qualquer pessoa que pudesse passar por ali não entenderia o que estava sendo dito ali, a não ser ele. O homem assentiu e olhou novamente para o carro, vendo os três com cortes e sangue escorrendo pelos seus corpos.

A chefe estava irritada pela última falha e não admitiria mais nenhum erro de nenhuma parte. Ele deveria agir rápido antes que qualquer um despertasse. Arrancou a porta do carro e retirou a garota, ouvindo-a gemer de dor, mesmo inconsciente. Deixou-a em cima de seus ombros e, em um piscar de olhos, ele já estava em um dos esconderijos da Rainha do Inferno.

Já estava tudo preparado para a chegada da garota, a forte esperança que muitos tinham desde a virada do século. Ele ainda se perguntava o que uma humana poderia fazer de bom para os demônios para que eles a quisessem tanto.

Colocou-a em uma maca no centro da sala, prendendo seus braços nas laterais. Cuidou de seus ferimentos externos e a deixou ali, inconsciente. Logo tudo estaria pronto.

(...)

Tudo estava branco. Não importava em qual direção olhava, para cima, para os lados, para baixo... Tudo estava branco. Não importava o quanto andasse, corresse ou se esticasse, nada mudava. A única coisa que podia ver além do enlouquecedor branco era seu próprio corpo, ainda com as roupas de que se lembrava, movendo-se em uma direção qualquer.

Não sabia como havia chegado ou ali ou se não passava de um sonho. A última coisa de que se lembrava era o baque forte em suas costas, ainda dentro do carro. Deus, será que estou morta e fadada a ficar aqui, nesse lugar sem fim? Se perguntou, sentindo seu peito doer com a possibilidade. Mas isso era impossível, não é? Aquilo não se parecia em nada com o Céu ou o Inferno que imaginava.

A dor em seu peito aumentou e então entendeu que não era algo psicológico, e sim uma dor real, passando para seus braços e pernas. Caiu de joelhos e começou a respirar com dificuldade, sentindo a dor piorar e pressionar seu peito. Todo seu corpo latejava e em nenhum momento deixou de piorar. Teve vontade de gritar, mas nada saia de sua garganta, por mais que tentasse. Queria entender de onde aquilo estava vindo, não havia machucado, lesão ou qualquer coisa que explicasse aquilo. Era como se a dor estivesse vindo de algo que acontecia dentro de si.

Depois de algum tempo, seu corpo já estava entorpecido, apenas formigando, porém, sabia que a dor continuava ali. Fechou seus olhos e respirou fundo, tentando se concentrar em qualquer outra coisa, mas nada era capaz de distraí-la. Rezou baixinho pedindo para que saísse logo daquele lugar, mas quando abriu seus olhos novamente depois de um certo tempo, percebeu que nada havia mudado.

Deixou que seu corpo caísse. Já não tinha mais forças para lutar, a dor estava canalizando cada sentimento e sensação de seu corpo. Apenas fechou seus olhos e esperou a dor passar. Por um momento desejou que desligasse por completo.

Respirou fundo de novo, mas dessa vez havia algo diferente no ar. Começou a sentir o cheiro forte de fumaça e de enxofre carregando o ar que entrava em seus pulmões. Abriu seus olhos assustada pela mudança brusca e percebeu estar em um local totalmente diferente. Estava deitada em um gramado morto entre alguns prédios destruídos. Vários deles estavam com a fachada parcialmente destruída, vidros quebrados e alguns saindo uma grossa fumaça preta, provavelmente incendiados. Os carros estavam, em maioria, pegando fogo, espalhando ainda mais fumaça preta por toda a rua. Não havia qualquer barulho além do fogo crepitando. Não havia qualquer pássaro, vento trazendo folhas ou vozes. Parecia que tudo estava morto e aquilo estava assustador.

Se levantou e começou a vagar pelas ruas ao redor. Tudo estava a mesma coisa, destruído. Não havia uma alma viva além dela naquele lugar. Apesar de assustador, aquele cenário era infinitamente melhor do que o infinito branco que estava antes.

Continuou andando a esmo, passando por becos, parques com árvores derrubadas ou mortas e brinquedos enferrujados. Parecia que este lugar estava abandonado há séculos. Tudo estava um ar gélido e sombrio, como se a morte tivesse passado por cada canto dali.

No meio do caminho, viu um pano branco em meio às árvores mortas. Andou rapidamente até lá e percebeu que era a única coisa limpa e que transmitia vida. Pegou-o em suas mãos e, enquanto sentia o leve tecido entre seus dedos, ouviu uma risada atrás de si. Virou-se rapidamente e olhou para os lados, não vendo ninguém. A risada ecoou novamente, porém, desta vez, uma garota apareceu ao seu lado, vestida toda de branco e sorrindo para Nyssa.

Ela estendeu sua mão e a chamou para se aproximar. Receosa, Nyssa se aproximou vagarosamente dela, mas não ao ponto de que ela pudesse encontrar.

— Oi garotinha, sabe onde estamos? — perguntou.

Ao invés de responder, a garota apenas a chamou pelo nome, sorrindo. Nyssa deu mais um passo em sua direção, segurando a sua mão que continuava estendida. Arfou, sentindo seu corpo sendo puxado para todos os lados, o ambiente ao seu redor embaçar, como se estivesse se movendo extremamente rápido. Aquela dor agonizante voltou, mas por um breve momento. Fechou seus olhos quando sentiu um forte enjoo, e sentiu suas costas encostarem em algo frio.

Sentiu tudo normalizar ao seu redor e o cheiro de fumaça se dissipar. Respirou fundo e abriu seus olhos, estando em um lugar totalmente diferente, preenchido com uma leve música clássica. Um pavor a assolou, se lembrando desta mesma música que havia tocado quando o demônio a havia sequestrado. Tentou se levantar, mas correntes grossas prendiam seu corpo e penas em uma maca de hospital. Havia uma luz forte em cima de seu corpo, cegando-a.

Forçou seus braços em uma tentativa falha de arrancar as correntes, mas elas estavam bem presas em algum lugar. Olhou ao seu redor e viu alguns armários e metal fechados, a parede de azulejos branco impecavelmente limpo, uma mesa também de metal em um dos cantos da sala onde a vitrola tocava. Olhou para o teto e, até onde conseguia enxergar, haviam diversos símbolos pintados no teto e a maioria ela não reconhecia ou se lembrava do significado.

Respirou fundo e tentou pensar em alguma coisa, mas nada vinha. Por um momento amaldiçoou a sua inexperiência, quem sabe Sam e Dean já teriam se livrado daquelas correntes e estariam correndo dali. E por falar neles, onde poderiam estar? Se ela saiu daquele universo branco, quer dizer que não havia morrido, então eles deveriam estar em algum lugar, em um hospital ou em outra sala como aquela.

Desejou que eles pudessem achá-la e tirá-la dali, mas tinha a sensação de que ninguém poderia achá-la ali. Talvez agora Castiel não aparecesse do nada e colocasse ordem desta vez, ou nem ao menos Dean e Sam a achassem e a tirassem daquelas amarras. Por um momento, ficou sem esperanças.

Ouviu passos e seu coração deu um salto. Novamente tentou se libertar dali, mas novamente foi em vão. Aquilo a estava cansando.

— Digamos que você é alguém um pouco fácil de achar, mas infelizmente tem vários guarda-costas atrás de você. — ouviu uma voz familiar dizer, divertida. — Mas acredite, aqui eles não irão te achar.

Banshee apareceu em seu lado direito com um sorriso vitorioso no rosto.

— O que você quer tanto de mim? — perguntou assustada. — Droga, eu não tenho nada que você possa querer. — gritou.

— Acredite minha cara, você possui algo que pode me ajudar, e muito. Porém, eu tenho que libertar isso de dentro de você. — falou em uma tentativa de fazer suspense. — Não se preocupe, provavelmente isso será indolor para você e não te fará mal algum.

Ela rodeou a maca, passando a ponta dos dedos pela roupa da garota. Ela tentou se afastar do toque, mas as correntes a impediam. Seu coração acelerava cada vez mais com o medo e receio do que ela poderia fazer.

— Creio eu que você não conheça tudo sobre você e sua criação, não é? — recomeçou a falar, parando aos seus pés. — A tentativa de sua mãe de te afastar de tudo isso fora considerável, mas nada pode impedir você, Nyssa. Você apenas precisa de um empurrãozinho.

Ela maneou com a cabeça, parecia estar pensando sobre algo. Estalou a boca e voltou o olhar diretamente para Nyssa.

— Você é uma criatura esplêndida, Nyssa. Cada ser sobrenatural que passou por esta terra desejaria, a todo custo, ter o que você tem dentro de você. Eles lutariam com unhas e dentes por isso, então se sinta lisonjeada por ter o que tem.

— E o que diabos eu tenho? Coração?

Ela riu e voltou a manear a cabeça.

— Você, Nyssa, é uma arma humana contra qualquer ser sobrenatural vivo ou morto deste mundo e de todos os outros. Você foi concebida com um propósito, que é organizar toda essa bagunça que é o Céu e o Inferno, não importando os meios. Nada vai te impedir, nem mesmo eu ou Deus. Nada poderá te controlar, te manipular... Você será invencível. — disse orgulhosa.

— Você deve ter me confundido com qualquer outra pessoa Banshee, eu não sou nem um pouco do que você está dizendo e nunca serei.

Banshee olhou para cima, onde havia uma pequena claraboia que dava diretamente para o céu estrelado. Estrelado de uma forma que a ruiva nunca havia visto antes. Balançou a cabeça, voltando a se concentrar em Banshee.

— Não temos mais tempo para perguntas minha cara, está na hora.

Ela se virou e, num piscar de olhos, um círculo de fogo se fez ao redor da maca. O fogo crepitava alto e o seu calor chegava até ela. Começou a entrar em desespero. Eu não sabia o que ela queria fazer, mas parecia que queria queimá-la viva.

— Não adianta lutar contra sua própria natureza, Nyssa. — sua voz ecoou por todo o cômodo, causando-me um arrepio por toda a sua espinha. — Logo tudo irá começar.

 


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