Comfortable escrita por red hood


Capítulo 1
U: (un)comfortable


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha terceira contribuição para o pride e a penúltima desse ano. É chocante como está passando tão rápido e me sinto muito grata por fazer parte de um projeto tão incrível ♥

Então, com essa história eu percebi que gosto de escrever sobre inseguranças. Acho que como uma pessoa muito insegura eu tendo a observar muito esse tipo de comportamento. Essa história é sobre achar conforto nesse mundo que pode deixar a gente desconfortável tantas vezes. E principalmente, que ta tudo bem você se dar conta disso através da ajuda de outras pessoas, tudo bem você ser uma bagunça emocional e sentir que ao estar com outra pessoa você cresceu e aprendeu a se amar nesse processo junto dela.

Obrigada prongs por ler e me ajudar a betar essa história ♥ e a Foster por ter feito essa capa linda ♥ oficialmente tenho uma capa de cada amiga designer, tudoooooo pra mim ♥

Espero que gostem! ♥



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conforto

/ô/

substantivo masculino

1. Ação ou efeito de confortar, de demonstrar solidariedade nos momentos de aflição ou de infortúnio consolação.

2. Tudo o que constitui o bem-estar material: gostar de viver no conforto.

3. Estado da pessoa que se sente confortado, aliviado: encontrou conforto na música.

 

Lysander Scamander estava inquieta naquela manhã. Havia caído na besteira de ler sobre sua missão pisciana na terra.

A garota amava astrologia, tarô, adivinhação, qualquer coisa que a ajudasse entender mais sobre a sua incômoda passagem pelo planeta Terra.

Segundo o livro que tinha em mãos, a tarefa mais difícil que os piscianos carregariam era a de compreender o outro. Como Peixes é o último signo do zodíaco, cabem aos piscianos desenvolverem seu potencial empático, carregando um pouco de cada lição das outras constelações. 

Lysander se sentiu pesada após ler tal análise. Releu o parágrafo até as palavras começarem a soar estranhas na sua mente.

Aquilo havia sido o suficiente para alguns gatilhos serem acionados nela.

Afinal, quantas vezes ela não havia se sentido incompreendida, deslocada e estranha por estar simplesmente sendo ela.

Sua mãe sempre a lembrava que ser diferente jamais devia ser considerado uma coisa ruim. Poucos eram aqueles que tinham coragem o suficiente para experimentar a magia de ser seu eu mais autêntico.

Então, Lysander Scamander sempre tentava se olhar com carinho e prometia que pensaria apenas assim. Prometia a se mesma que não se importaria com os outros, e seria livre para usar todo o glitter que quisesse. Não teria vergonha de seus vestidos rodados e nem sobre sua obsessão pelos astros.

Porém, por mais que o que sua mãe sempre houvesse pregado ressoasse em seu coração, ainda era muito difícil para Lysander colocar em prática isso. Acreditava que se sentir insegura vez ou outra era até normal, até sua mãe devia se abalar com o mundo exterior algumas vezes.

A verdade era que, na maior parte do tempo, gostava de quem ela era, mesmo que em alguns momentos ainda sentisse um desconforto nisso. Seu corpo era perfeito, era sua casa, mas em alguns dias ainda sentia que sua mente estava a enjaulando.

Levantou-se da cama do seu quarto e foi andar no lado de fora de sua casa. Não quis olhar no espelho ou pentear o cabelo, não queria pensar na sua forma física. Aquela era uma crise interna.

Desconforto a dominava e ela odiava isso. Odiava mais ainda por aquele estado ter sido seu estado normal em algum ponto da sua vida.

Fato é, que em casa, ela nunca sentiu desconfortável. Seus pais sempre deram espaço e liberdade para ela e o irmão serem quem eles realmente eram, e ela se sentia compreendida, acolhida e confortável. Até quando disse que era uma garota.

Ela sempre teria o conforto que vinha da confiança do amor de seus pais e seu irmão por ela.

Talvez por isso era tão difícil de entender o mundo lá fora. Como as pessoas eram capazes de se importar com coisas tão banais quanto a quantidade de brilho que ela usava, ou sua preferência por neon ao invés de tons sóbrios?

Por que era ela que teria que ter piedade de mentes assim, quando tantas vezes não tiveram o mínimo de empatia por ela?

Lembrou-se de pessoas que passaram a tratá-la de modo diferente por causa de sua transexualidade. Ou como, no mundo trouxa, principalmente, pessoas como ela sofriam tanto por simplesmente tentarem ser por fora, como se sentiam por dentro.

Com a cabeça borbulhando, parou de andar e retornou para seu quarto. Pegou o livro idiota de astrologia e leu as palavras em voz alta.

Dom da compreensão é um poder dos piscianos.

— Isso é uma idiotice! — exclamou irritada, se jogando na cama.

Naquele momento ela não compreendia nada.

Olhou para o céu estrelado que tinha no teto de seu quarto e questionou seu propósito no Universo.

Será que seria compreender a si mesma e não se importar com o mundo? Porque definitivamente não era fazer o mundo todo compreendê-la.

Depois questionou as próprias atitudes. Será que um dia fez alguém se sentir tão desconfortável consigo mesmo, como um leque de estranhos havia feito ela se sentir?

Questionou e questionou um pouco mais, até estar tão imersa nos próprios pensamentos que se assustou quando ouviu uma outra voz próxima dela:

— O que é uma idiotice? — Lorcan, seu irmão gêmeo, apareceu na porta do quarto.

Era um dos poucos dias no ano que os gêmeos se encontravam juntos em casa. Desde que terminaram seus anos em Hogwarts, Lorcan passava mais tempo viajando do que em casa e Lysander explorando o mundo da Londres trouxa, aprendendo sobre moda e maquiagem.

— TUDO! — ela gritou, logo depois cruzando os braços irritada. — Sabe, Lorcan, tem horas que eu não compreendo uma palavra que você fala e eu tenho o dom da compreensão.

— Do que você tá falando, Lys? — ele riu da irmã. Era um hábito de Lorcan rir todas as vezes que ficava nervoso e naquele momento, além de aflito, estava completamente confuso com o comportamento da irmã.

Ela não aguentou ver a expressão dele e acabou rindo de volta. Na verdade, nem Lysander entendia o que estava acontecendo. Estava irritada com a falta de empatia do mundo, mas não tinha direito de descontar isso em seu irmão.

— Você sabe em que signo a lua tá? — perguntou para seu irmão.

Lorcan olhou para ela, depois para o próprio relógio, que continha a movimentação de todos os astros.

— Aparentemente em Áries e com conjunção com marte. — ele anunciou assustado. — Isso explica muita coisa.

O planeta que regia as emoções, alinhado com o que falava da sua parte mais instintiva não podia resultar em algo bom.

— A culpa é sempre dos astros, né? — Lysander respirou fundo.

Lorcan concordou com a cabeça e se sentou ao lado da irmã na cama. Ela sabia que essa era a deixa para ela explicar tudo que se passava por sua mente atordoada. Tentou ser breve e rápida na explicação, tentando reprimir todas suas tendências dramáticas. Ele a escutou com atenção e depois a abraçou com carinho.

Lorcan sabia de perto tudo que sua irmã havia passado e que certos sentimentos ruins tendiam a ir e vir, mas nunca sumir por completo.

Lysander se sentiu muito grata por aquele momento. O mundo era cruel e ela não queria jamais estourar sua bolha de proteção, mas isso lhe custava caro, custava sua liberdade. Se antes seu corpo era uma prisão, uma jaula, agora ela não poderia deixar que sua mente fosse uma.

— Espero que sua crise melhore logo, porque Louis chega em 15 minutos — Lorcan anunciou e Lysander sentiu como se uma bomba tivesse sido jogada em seu colo.

— O quê?! — ela perguntou confusa.

Subitamente se arrependeu de não ter no mínimo penteado o seu cabelo ou lavado o rosto de manhã.

— Você não tá bem mesmo, né? — ele questionou, logo verificando a temperatura da testa da irmã. — Mamãe chamou ele aqui para tomar um café, já que você estava choramingando que ele iria visitar a família que mora na França.

Lysander podia sentir suas bochechas pegando fogo. Estava feliz em poder vê-lo antes da viagem, mas precisava ser assim?!

Tirando sua família, Louis era uma das pessoas que mais fazia Lysander se sentir confortável com ela mesma. Amava como ele a olhava com amor. E de volta ela amava os cabelos dourados, o abraço quentinho, cada pedacinho dele. Além da capacidade dele de amá-la do jeito que ela era, de graça, sem terem nenhum laço de sangue os ligando.

Era confortável estar com Louis o tempo todo, mas não sabia se seria naquele dia.

Lysander se levantou e foi se arrumar, enquanto Lorcan lhe dava alguns tapinhas nas costas e desejava-lhe uma boa sorte.

Primeiro ela vestiu um vestido verde, mas se sentiu como uma grande meleca. Em seguida pegou um macacão rosa e se viu como um sorvete de morango. Depois, de jogar quase todo seu guarda-roupa pelo chão, escolheu pegar seus shorts surrados e uma blusa confortável.

Não ia pensar demais nisso, era só Louis.

Louis, seu melhor amigo que a fazia rir sempre. Sua dupla em todas as aulas de Hogwarts. Uma das pessoas que ela mais teve medo de perder quando contou que era uma menina.

Louis, que a fazia se sentir sempre amada e confortável. Então, bastou um sorriso animado dele para que as preocupações dela dissipassem por hora.

Como se soubesse que tinha algo errado com ela naquele dia, Louis sentou-se ao seu lado e não soltou a mão dela nenhum minuto enquanto comiam. Lorcan também não comentou mais nada sobre o show de horrores que ela tinha dado mais cedo.

Sua mãe falava sobre como talvez estivesse próxima de encontrar o lugar onde nasciam os Bufadores de Chifre Enrugado e que tinha conseguido ingressos para assistir Gina jogar. Seu pai contava sobre como estavam animados para o anuncio das novas espécies que tinha catalogado naquele mês. Já  Lorcan falava sobre sua animação para ir para Mahoutokoro naquela semana, ele sempre havia sonhado em conhecer o Japão. A escola de Magia Japonesa havia o convidado para conversar com os alunos sobre Magizoologia e o Trato das Criaturas Mágicas.

Louis, que normalmente era mais tímido e quieto, parecia mais animado e falante naquele dia, enquanto contava sobre o casamento que estava por vir de Victoire e Teddy, e que Dominique havia sido encarregada de desenhar o vestido, enquanto ele iria cuidar da música. Por isso eles iriam agora para França, para comprar os tecidos e formalizar o noivado com o seu lado francês da família.

Lysander não falou muito enquanto comiam, apenas ouviu cada um deles com atenção e se deu conta de como os amava. Se pegou também presa analisando todos ali e se repreendendo por duvidar do afeto deles.

Se sentiu confortável, como se seu corpo todo estivesse envolvido em um eterno abraço e, ao contrário de mais cedo, sua cabeça se encheu de memórias assim.

Memórias que não eram necessariamente felizes, mas que mostravam que ela tinha pessoas em que ela confiava, que a compreendiam e que ela faria de tudo para compreender de volta.

— Tá tudo bem com você hoje? — Louis perguntou assim que eles tiveram um segundo sozinhos.

Lysander pensou em mentir, dizer que não era nada. Havia sido só uma série de pensamentos ruins, mas logo sentiu as mãos do menino nas suas e o olhar dele preocupado. Então, sentiu-se na obrigação de ser sincera com ele.

Ela o levou para o próprio quarto enquanto explicava o que a perturbava naquele dia. Louis a ouviu com cuidado, rindo vez ou outra das dramatizações de Lysander, seguidas de piadas autodepreciativas.

— Então você quer dizer que você se sentiu insegura e pressionada a ter que entender o mundo inteiro... — ele comentou pensativo. — Aí isso te deixou desconfortável e te fez lembrar de 50 mil coisas que babacas que você nem lembra o nome te disseram?

— Sim… — respondeu envergonhada.

Ela sabia que o que havia sentido era mais complexo que aquilo e que Louis também tinha consciência disso. Porém, respondeu um fraco “Sim”, enquanto ria da simplificação dele. Olhando por aquele ponto, os sentimentos e memórias ruins eram amenizados em seu peito.

— Você não tem que sentir vergonha — Louis depositou pequenos beijinhos na bochecha dela. — Isso é normal, acontece. Nem James Sirius é autoconfiante todo dia, e olha que ele é a pessoa mais vaidosa que conheço.

Lysander não pôde evitar de rir.

— Além disso, vou sentir sua falta — Lysander admitiu baixinho.

— São só duas semanas e você poderia ir também — ele disse enquanto coçava a cabeça, claramente nervoso. — Se você se sentir confortável, é claro. Maman disse que você poderia ficar com a gente, Tia Gabrielle iria te adorar. E eu também. Quer dizer, adorar te ter lá, não te adorar como uma deusa, mas...

— Poderia — ela disse, o cortando. — Eu iria amar.

A palavra confortável ecoou em sua mente.

Sob o olhar de Louis, ela sentia que podia não se preocupar com nada. Ela era apenas a Lysander de arcos de glitter, delineados coloridos, que gostava de astrologia e lia cartas de tarô. Podia também ser a Lysander animada e autêntica, mas também a insegura e medrosa. Tudo isso porque se sentia confortável.

E ela só queria poder se sentir assim mais vezes. Havia descoberto que conforto não era um sentimento que estava acostumada, mas Louis Weasley fazia tudo parecer mais fácil.

Então, Lysander largou as mãos do garoto, apenas para colocá-las no rosto dele e selar seus lábios em um longo e lento beijo.

Havia conforto nos lábios dele, no olhar, nos braços envolvendo sua cintura, no eu te amo sussurrado mais tarde entre lençóis brancos e almofadas macias.

Com o passar dos anos, Lysander ia ser apaixonando mais por Louis e reforçando todo o amor que ela tinha por si mesma também.

Iria sempre existir alguém que iria desaprovar, odiar, jogar pedras nas coisas que brilhavam, como o sorriso de Lysander ao perceber que todo o amor que ela doava ao mundo, voltava para ela.

Talvez a chave do conforto interno estava em admitir suas inseguranças e as coisas que a deixavam desconfortável.

Naquele momento ela agradeceu a todas as estrelas do céu por poder encontrar conforto nos braços de alguém como Louis Weasley.

Agradeceu por ser filha de seus pais e também por ter Lorcan, sempre seria grata pela existência da sua outra metade.

O dia podia ter sido um grande incômodo interno, mas Lysander dormiria confortável perto das pessoas que ela amava.


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Notas finais do capítulo

CHEGA AGORA DE PROCESSAR SENTIMENTOS SOU UMA MULHER FRIA E CALCULISTA ERA PEAKY BLINDERS VEM AI!

Enfimmmmmm, espero que tenham gostado, Lysander minha pisciana perfeita, amo pensar que a Luna tenha parido os gêmeos dia 29/02, porque nada mais excêntrico que isso!



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