A million little times escrita por Foster


Capítulo 2
02. ... but also There is Another one.


Notas iniciais do capítulo

E aqui finalizamos a história de Lys e Fred!
Espero que gostem ♥



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Ver Lysander indo embora, pelo que talvez fosse definitivo, fez o coração de Fred murchar. 

Ele sempre achou exagerado como nos livros e nos filmes trouxas de romance - que a sua prima Rose obrigava ele e os outros primos a assistir nas férias que passavam na Toca quando mais novos - os apaixonados pareciam prestes a quase literalmente morrer de amor; tanto na alegria, em que os casais não se continham, como na tristeza, sempre retratada como algo paralisante. 

Os dois extremos pareciam irreais demais. Contudo, Fred sentiu-se exatamente como nos livros e nos filmes que tanto detestava. 

Amou Lysander com todo o seu coração e ali, naquele momento, podia jurar que nunca sentira tamanha dor. 

Se fosse tentar começar a mensurar, talvez precisasse incluir todas as quedas, os balaços e as trombadas que levou jogando quadribol durante todos aqueles anos e, mesmo assim, possivelmente não chegasse nem perto. Perder Lysander fora mais doloroso do que todos aqueles machucados juntos. E a ideia de que isso fosse humanamente possível o assustava. E o paralisava. Porque, quem sabe, o amor de sua vida estivesse indo embora para sempre e ele não poderia fazer nada. Por medo. 

Era irônico Fred carregar o nome de alguém tão corajoso e pertencer à casa que era definida justamente por essa característica e agora ser tão covarde.

Mas nem sempre as coisas foram assim. 

Fred sempre foi uma pessoa confiante e segura de si. Nada podia pará-lo. O mundo parecia pequeno demais para os sonhos dele e de James e, ao mesmo tempo, grande demais para que perdessem tempo não o explorando.

Por isso, Fred nunca dizia não a uma nova aventura. Perdeu a conta de quantas vezes ele e James deixaram os seus pais loucos de preocupação por terem saído para fazer algo que lhes desse na telha, sem roteiros, ou sem satisfações. Tinham grandes planos de, assim que se formassem, partirem em uma viagem de verdade, ao redor do mundo, e não somente a cidades próximas ou trilhas desconhecidas, como de costume. 

Nada parecia impossível. Não com James ao seu lado, sendo o seu parceiro de aventuras e melhor amigo. 

Ambos faziam absolutamente tudo juntos, desde pregar peças e deixar Minerva McGonagall de cabelos em pé, até fazerem os testes para o time de quadribol todos os anos. 

Foi James quem entrou primeiro no time e, embora Fred tenha ficado decepcionado por não ter entrado, ficou extremamente feliz pelo amigo. No ano seguinte, fez o teste de novo e passou, não para a posição de batedor, que vinha tentando, mas sim para de artilheiro, lado a lado com James, que à época havia se tornado capitão. Não havia comparação entre eles ou competitividade, por mais que Hogwarts vivesse tentando estabelecer uma rivalidade entre ambos. 

Eram lados da mesma moeda. Parceiros. Estavam juntos em mais uma de várias aventuras, vivendo o sonho de quando eram apenas dois moleques brincando no jardim da Toca com vassouras surradas. 

Mas, então, um soco pareceu lhe atingir em cheio quando Fred ouviu de alguns jogadores que ele havia apenas entrado no time por ser primo de James e que, no fim das contas, Fred era apenas mediano

Fred sabia que deveria ter encarado aquilo apenas como um comentário maldoso, mas… E se fosse verdade? E se James tivesse sido generoso demais nos elogios que concedeu a ele por pena? Aquilo mexeu com a sua cabeça mais do que ele gostaria, afetando diretamente o seu desempenho. Não desejando falhar e querendo provar o seu valor, independente de seu vínculo com James e seu sobrenome, Fred passou a treinar sozinho. 

E foi em uma dessas ocasiões, que Fred interagiu verdadeiramente com Lysander além dos encontros familiares dos Weasley e agregados que por vezes ele e os Scamander apareciam. 

No dia em questão, Lysander estava percorrendo as arquibancadas, usando um par de óculos esquisito bastante conhecido por ser alvo de comentários maldosos de muitos alunos. Fred queria ignorá-lo, mas estava curioso a respeito do que diabos ele estava fazendo, já que nunca tivera oportunidade antes e desconfiava que os palpites que rolavam pela escola estivessem longe de serem verdades - o mais famoso era que Lysander tentava avistar demônios, junto com o boato de que ele os utilizava para olhar por baixo da camada de tecido que as pessoas vestiam -, e, para ser sincero, seu treino já estava parando de render há uns bons vinte minutos. 

— Estou caçando zonzóbulos — foi a resposta que obteve, quando Fred voou próximo dele. Ele franziu o cenho por um instante, ponderando se a teoria sobre demônios era de fato verdade. — Você parece estar cheio deles. tudo bem com você? 

Fred esqueceu-se dos demônios, das línguas afiadas e do estresse que vinha sentindo. Era uma pergunta simples e óbvia, mas que Fred andava precisando ouvir e sequer havia se dado conta. 

A sensação de alívio percorreu o seu corpo conforme ele contava tudo, ainda pairando no ar com a vassoura, enquanto Lysander o olhava com os olhos azuis cristalinos, parecendo ler a sua alma, escutando-o com atenção. 

E a resposta que Lysander lhe deu após ouvir todo o desabafo, foi tão simples e óbvia que Fred sentiu-se momentaneamente um idiota por não ter percebido antes:

— Você não precisava provar nada pra ninguém além de você mesmo — e de fato ele não precisava. Nunca antes havia se sentido minimamente nervoso a respeito de suas habilidades no quadribol. Não chegava exatamente a ser cheio de si, ao menos não como James, mas tinha consciência de seu talento e não possuía tendência a ser modesto quando esse era o assunto. Até pouco tempo. — E você acha mesmo que James Potter colocaria você no time se você não fosse no mínimo excelente? Ou que ele não diria na sua cara se você fosse ruim? — outro ponto que fazia sentido. 

Sua tia Ginny sempre dizia que, para James, o time era mais importante do que respirar, o que não era um completo exagero, e o amigo não tinha o hábito de mentir, muito pelo contrário, pois dizia coisas sem filtro até demais. 

Fred apenas piscou algumas vezes, absorvendo aquelas palavras. Às vezes tudo o que se precisa é de alguém que lhe diga o óbvio e vire a chavinha. Isso, e também um desabafo. 

Assim, sorriu aliviado, com um verdadeiro peso saindo de suas costas, e desceu da vassoura, sentando-se ao lado de Lysander na arquibancada. 

— Talvez você possa me contar mais sobre esses zonzóbulos. 

Tornou-se algo frequente cruzar com Lysander nos treinos individuais que Fred seguiu fazendo como forma de aliviar a tensão e não mais como algo estritamente necessário para tentar provar o seu valor. Ele sabia que era bom.

Agora, tratava-se de um momento de descontração pelo qual Fred se pegava ansioso pela chegada. Ficava se perguntando qual seria a nova criatura que não constava nos livros ortodoxos sobre criaturas mágicas que Lysander lhe apresentaria. 

Ambos desenvolveram uma espécie de amizade nada usual, mas muito confortável. Era com Lysander que Fred se sentia à vontade para contar coisas que nunca antes havia dito sequer em voz alta. 

De repente, Fred descobriu que, com Lysander, ele não era apenas Fred Weasley II, filho de heróis que ajudaram a lutar na guerra, batizado em homenagem a um homem incrível que ele nunca chegou a conhecer, mais um para a continuidade da linhagem famosa da família Weasley e um jogador de quadribol brilhante. 

Fred agora era Fred. Apenas Fred. Um rapaz que secretamente amava bandas trouxas e só suportava as malditas comédias românticas dos anos 80 e 90 que a sua prima lhe forçava a assistir pelas excelentes trilha sonoras, que desejava gravar em sua pele cada lugar do mundo em que pousaria os pés, mesmo com o pavor que sentia de agulhas e que nutria um recém-adquirido gosto por conhecer e cuidar de criaturas mágicas.

Justamente por considerar Lysander alguém importante em sua vida, que Fred sentiu-se levemente traído ao descobrir por sua mãe que ele e Roxanne, sua irmã, estavam em um relacionamento. 

Por que Lys havia mantido segredo? E por que Fred se sentia tão irritado com aquilo? 

Lysander ainda ia aos treinos de Fred, mas agora ia acompanhado de Roxy. Já não havia mais espaço para as conversas demoradas e as caçadas às criaturas mágicas. Eventualmente, a frequência das visitas ia diminuindo e, consequentemente, Lysander e Fred foram perdendo contato. Mesmo assim, o rapaz parecia cada vez mais presente em seus pensamentos, o que estava verdadeiramente começando a assustar Fred. 

Fred tentou se distrair focando ainda mais no quadribol e arranjando alguns encontros, embora só estivesse genuinamente animado com a primeira opção. Por um período, felizmente funcionou. Até o dia em que, buscando um lugar reservado para beijar Beatrice Wood - apenas porque não podia encerrar o encontro duplo que teve com James, que naquela altura estava aos beijos com Alice Longbottom, já que não sentia atração pela garota - flagrou Roxy e Lys em um amasso quente. 

No momento, Fred não compreendeu muito bem o que sentiu. Evidente que flagrar a sua irmã sendo beijada e apalpada por um cara era enervante, mas de uma forma confusa e levemente assustadora, sentiu-se mais irritado com as mãos de Roxy nos cabelos de Lysander. 

Atordoado e tentando absorver os próprios sentimentos, Fred saiu como um furacão, deixando o casal - que não havia notado a sua presença - e uma Beatrice muito frustrada para trás. 

Naquela noite, Fred demorou a dormir, sentindo o seu estômago embrulhado e a mente a um milhão por hora. Cada possibilidade o assustava. E se adormeceu repleto de dúvidas, os sonhos certamente lhe conferiram uma clareza inquestionável.

Havia sonhado com os beijos e as mãos de Lysander Scamander. E havia gostado. Muito mais do que quando beijara Beatrice.

Mesmo com a curiosidade atiçada dentro de si e os lábios formigando apenas com o pensamento de colocar aquele desejo novo em prática, Fred não podia sequer considerar fazer alguma coisa a respeito. O ideal seria ficar longe e, com as férias de verão chegando e a inevitabilidade de ver Lysander aos beijos com Roxy em todos os cantos da Toca, Fred soube que precisaria fugir. Por isso, combinou com James de expandirem as aventuras que costumavam fazer nas férias e irem mais cedo, no dia seguinte ao fim do ano letivo. 

A proposta, é claro, não agradou em nada Angelina e Ginny, que não viam os filhos desde o Natal, contudo, já estava tudo acertado. Iriam para França, com Teddy e Victoire de responsáveis, tendo em vista que apenas James era maior de idade e nenhuma das duas matriarcas o consideravam responsável o suficiente para viajarem completamente sozinhos. Já era uma aventura muito maior do que as que haviam feito antes. 

Portanto, Fred apenas precisou manter-se longe de Lysander e Roxy pelas semanas que antecediam às férias para, então, finalmente se ver livre daquela tortura e, com sorte, esquecer aquela curiosidade latente.

O começo de suas férias foi divertido, com Victoire apresentando tudo que envolvia o mundo da arte e da gastronomia, e Teddy garantindo a diversão noturna, apresentando bares bruxos que Fred e James jamais sonharam em visitar antes. Talvez tenha sido o refresco de estar em um país diferente ou o fato do sotaque francês soar ridiculamente sedutor, mas foi em um desses passeios que Fred, após algumas doses, resolveu experimentar e sanar a sua curiosidade. 

Lembrava-se vividamente do sonho que tivera com Lysander, porém nunca tinha beijado um garoto na vida. Queria saber se aquilo era algo pontual ou se definitivo - apesar do frio na barriga que sentia ao pensar no assunto lhe indicavam que talvez não fosse nada passageiro. No entanto, Fred não queria que Teddy ou James soubessem, afinal, nem mesmo ele sabia o que estava de fato fazendo. 

Por isso, Fred esgueirou-se sem que ambos percebessem e foi a um dos bares que haviam visitado nas noites anteriores. A ideia era simples: achar alguém, beijar e depois voltar sem que dessem falta dele. 

E a primeira parte não foi difícil. Tão logo chegou, avistou um rapaz alto e charmoso de cabelos e olhos pretos, fumando recostado em uma parede na entrada do bar, olhando-o com intensidade. Trocaram algumas palavras de maneira sofrida, afinal o francês de Fred era péssimo e Jean também não era melhor falando inglês. Entretanto, a barreira da língua não os impediu de perceberem que havia um interesse mútuo ali e, sem demora, beijaram-se. 

Não havia sido como nos sonhos de Fred, com a sensação de borboletas no estômago e coração na boca lhe consumindo, porém, havia sido muito melhor do que ele havia imaginado quando pensava em como seria beijar um rapaz. 

Para o seu choque, era muito melhor do que beijar uma garota, o que talvez respondesse aos questionamentos de seus familiares do porquê ele nunca ter tido uma namorada e também explicava o próprio desânimo de Fred em beijar garotas a não ser por pura convenção. 

A regra era um tanto quanto simples. Se James fazia, Fred também fazia. E, da mesma forma, se Fred fazia, James também fazia. Adoravam pregar peças, sair por aí, jogar quadribol, matar aula de Poções e ir em show de bandas bruxas esquisitas no Cabeça de Javali. James fazia fama com as garotas e, de maneira natural, Fred também. 

Ele nunca parara para pensar se realmente gostava de beijar garotas. Apesar de que deduzia que James era mais empolgado do que ele porque Fred estava mais ocupado pensando em quadribol. Os únicos encontros que teve foram arquitetados por intermédio de James. Além disso, nunca de fato havia procurado deliberadamente por garotas. 

Sua primeira vez com uma garota havia sido frustrante, mas, quando James lhe disse que era falta de prática, Fred apenas aceitou, embora não tivesse mostrado muita vontade em realizar nenhuma espécie de treino para aperfeiçoar algo que ele não tinha certeza se gostava. 

Então, sempre havia a desculpa do quadribol e de não poder se distrair, o que pareceu funcionar para garotas, que pareciam desejá-lo ainda mais, e para os garotos, que viam nele uma espécie de herói abnegado. 

Mas ali, beijando Jean, Fred sentira mais do que em sua vida inteira se relacionando com garotas. 

Um mísero beijo lhe despertara uma onda de sensações e emoções quase incontroláveis. Parecia certo e natural.  

Entretanto, outros não consideravam aquilo como certo e natural.

A primeira vez que Fred beijou um rapaz, também ficou marcada como a primeira vez que Fred apanhou para valer.  

Ao acordar em uma cama de hospital, com dificuldades para abrir os olhos e tendo a sensação de ter sido atingido por dez balaços, Fred precisou de um instante para digerir que havia apanhado por ter beijado um cara. 

Ali, diante de Victoire e Teddy segurando James pelos braços, que parecia certo de que a culpa de tudo aquilo era de Jean, Fred não soube o que dizer. A voz de Jean saía exasperada e ele gesticulava demais. Apesar de Fred não compreender uma palavra, os olhares de Teddy e Vic recaindo sobre ele só indicavam que ele havia lhes contado a verdade. 

Felizmente, James era tão ruim em francês quanto Fred, pois tudo o que sabia questionar era o que diabos Jean estava falando. Talvez fosse o olhar assustado que Fred certamente lançou para Vic e Teddy, porque quando eles contaram a James o que havia acontecido, não falaram nada sobre beijos, e sim sobre desentendimentos devido a um mal-entendido. Coisas de bêbados. E Fred respirou aliviado. 

Quando James percebeu que Jean, na realidade, havia salvado a vida de Fred, recompôs-se e ofereceu para pagar um café como desculpas pelo soco que havia deferido mais cedo. Com os dois fora do quarto, ele sabia que os questionamentos viriam, por isso resolveu dizer de uma vez:

— Eu só quis testar uma coisa. 

Vic e Teddy se entreolharam e sentaram na cama de Fred. 

— E como foi o teste? — talvez foi o tom de voz amável de Vic, o olhar e o sorriso encorajador de Teddy ou simplesmente a vontade de Fred em falar em voz alta sobre aquilo. Mas o ponto era que, apesar de se sentir destruído, ele ainda assim se sentia mais vivo do que nunca. 

— Maravilhoso. 

Apesar de se sentir animado com aquela descoberta, Fred pediu segredo para Vic e Teddy. Não sabia como lidar com aquilo, afinal, na primeira vez que beijara alguém, sentira o preconceito na pele. Mais uma vez.

Não estava sendo fácil digerir que, dali em diante, a sua vida não se tornaria mais fácil. 

Era um rapaz negro e gay. 

Havia apanhado por ser gay - ou talvez por ser gay e negro - e não podia garantir que não sofreria nunca mais agressões por essas razões. 

Precisava de um tempo para preparar o seu psicológico. Tentava pensar nas conversas que tivera com a sua mãe e com o seu avô sobre como o mundo poderia ser cruel com ele. Queria poder ter alguém para falar a respeito. Queria poder chorar. Queria poder parar de sentir medo.  

Mas não conseguia. 

Fred tinha medo. Sua pulsação acelerava só de pensar na reação de todos em Hogwarts ao descobrissem. Se o tratariam diferente, se questionariam novamente as suas habilidades como atleta, se ele seria o assunto do castelo por meses, como costumava ser com todos os poucos alunos que arriscavam se assumir. 

Por Merlin, Fred quase sufocava ao pensar na reação de seus familiares. Na reação de James, que sempre fora praticamente um irmão.

Assim, Fred, Victoire e Teddy acordaram que o que aconteceu na França, ficaria na França. 

Exceto pelo fato de que nem tudo ficou em segredo. 

Victoire achou necessário contar à Angelina e George sobre o acidente, que imediatamente pediram que o filho retornasse para casa. Assim, a tentativa de Fred em evitar Lys e Roxy por todo o verão saiu pela culatra. No entanto, o que ele não podia imaginar, era que os dois tivessem terminado há quase dois meses.

Estranhou ao ouvir aquilo na cozinha da Toca, sendo que havia acabado de passar pelos dois conversando amigavelmente. Sua mãe tinha um tom quase fúnebre quando reafirmou:

— Eles decidiram ser só amigos ou qualquer coisa do tipo.   

— Querida, eles não vão continuar namorados só porque você quer que seja assim.

— Seria tão adorável — Angelina suspirou pesadamente, observando o ex-casal rindo no sofá. 

Fred precisou refletir alguns instantes sobre o que aquilo podia significar. Lys e Roxy não eram mais um casal, contudo o fato de terem sido e de sua própria mãe estar lamentando o término como se estivesse de luto, não deixava o cenário muito promissor. O lógico seria não fazer nada a respeito. Contudo, seus pés pareceram criar vida própria quando Fred escutou Lysander dizendo que iria procurar por vagalumes coloridos no Jardim dos fundos. 

Ele deveria ter dado meia volta. E quase o fez, porém foi pego por Lysander que sorriu abertamente ao vê-lo.

— Confesso que sempre invejei as suas aventuras e as do James, mas dessa vez não foi o caso. 

Queria contar a Lysander o que de fato acontecera, mas isso implicaria em assumir os seus sentimentos. Então Fred apenas riu, massageando de leve a região inchada de seu olho. 

Era fácil conversar com Lysander. Não importava que haviam passado os últimos cinco meses afastados a ponto dele sequer ter notado o término. 

Engataram uma conversa que se desenrolou tarde afora, em meio a risadas e a questões filosóficas, bem como opiniões impopulares sobre bandas e sobre os artigos trouxas que Rose insistia em fazê-los testar a contragosto - Fred estava irredutível sobre produzir trinta centímetros de pergaminho para a aula de Aritmância, era muito mais simples do que aprender a mexer em um computador. 

Mal perceberam o tempo passar e, com a chegada da noite, também vieram os tais vagalumes coloridos. Um deles se enroscou nos longos fios loiros de Lysander e Fred esticou-se para retirá-lo dali. Ao fazer isso, no entanto, seu olhar cruzou com o dele, e, de repente, as sensações que Fred experimentou naquele sonho se tornaram ainda mais vívidas, atingindo-o em cheio no peito. 

Foi impossível não beijar Lysander naquele instante. 

E ali estava novamente a sensação de algo parecer certo e natural. 

Depois daquilo, Fred não pensou muito no assunto. Queria apenas o beijar. Nada mais importava. 

Até as aulas em Hogwarts voltarem e a ansiedade quase lhe consumir. 

O que diriam ao vê-los juntos? Afinal, até poucos meses atrás, Fred era basicamente um James 2.0. Ninguém esperava que um dos principais artilheiros da Grifinória, famoso pelo sucesso entre as mulheres - embora a base dessa fama tenha sido mais no boca a boca do que de fato baseado em fatos -, se assumiria gay. 

Além do mais, alguns sonhos estavam lhe deixando atordoado. Todas as noites, Fred acordava assustado, com a situação que ocorrera na França se repetindo infinitamente em vários cenários diferentes. 

Algumas vezes, alguém da sua família lhe desferia um soco. Os piores envolviam James, George, Angelina ou o seu avô, todos decepcionados e enojados. Eventualmente, eram os caras do time de Quadribol. Em outras, Beatrice Wood. 

Aquilo estava levando a sanidade de Fred embora cada vez mais. 

Apesar da tortura que sofria à noite em seus próprios sonhos, ele encontrava conforto nas tardes e em algumas noites com Lysander. Estar com ele lhe conferia paz. Era descomplicado, como se estivessem em um mundinho à parte, onde a realidade não podia afetá-los.

Era perfeito. 

Até deixar de ser.

Preocupado em manter-se protegido e também proteger Lysander e o relacionamento que eles tinham, Fred acabou colocando tudo aquilo em risco, embora tentasse consertar e manter Lysander feliz.

Fred queria que aquilo fosse suficiente para Lys como havia sido no começo. Por isso, sempre usava a desculpa de que Roxy poderia se sentir afetada sobre o assunto, mesmo sabendo que aquilo era uma desculpa bem esfarrapada. 

Sua irmã não demorou muito para descobrir sobre ele e Lysander. Afinal, quando Lysander e mais ninguém estava olhando, Fred não continha seus olhares. Mas Roxy era muito observadora. E disse ter desconfiado quando soube por Beatrice Wood o quanto Fred era supostamente um irmão muito protetor por não ter suportado ver a irmã aos beijos - afinal, ela sabia que o último motivo pelo qual ele teria ido embora seria esse, pois Fred podia ser tudo, menos um irmão ciumento e possessivo. 

Fred não mentiu, no entanto, também não contou a verdade sobre o motivo pelo qual estava escondendo o relacionamento, embora talvez devesse ter feito. Roxy sabia que tinha algo mais profundo ali, Fred via nos olhos dela, contudo sentiu-se grato por ela ter mantido silêncio sobre o assunto.

As brigas haviam desgastado Lysander e Fred em um nível que ele sabia estar perto do irreconciliável. Lys já não respondia “eu te amo” com a mesma empolgação de antes, ainda que claramente o que dissesse fosse verdade. 

Com o fim do semestre, NIEM’S, final do quadribol e o futuro batendo à porta, Fred ficou aliviado pelas brigas terem cessado. Agora, ele esperava que pudessem melhorar a relação. Talvez a distância lhes fizesse bem, afinal haviam parado de brigar tanto quando começaram a se ver menos. 

Mas Fred deveria saber que antes do vendaval, há a calmaria. 

Aquele cessar fogo não havia sido algo bom.

Agora, Lysander havia acabado de lhe dar as costas, deixando-o sozinho no mesmo jardim em que se beijaram pela primeira vez, e estava seguindo em frente sem olhar para trás após ter colocado um ponto final no que havia sido uma das melhores coisas que havia acontecido na vida de Fred.

Fora Lysander quem lhe apoiou durante as dúvidas a respeito de seu próprio mérito como jogador de quadribol, que lhe dera a confiança necessária quando olheiros foram assistir à final do campeonato, que lhe incentivou a aceitar o convite do Ballycastle Bats, que esteve lá acalmando-o após os terríveis pesadelos, sem nunca questionar nada.

Por esses e tantos outros motivos, Fred quis correr atrás de Lysander no Jardim da Toca e puxá-lo para um beijo para nunca mais soltá-lo. Mas Fred não poderia ser egoísta daquela forma. 

Lysander era uma pessoa livre de amarras e cheia de vida antes de começarem a se relacionar. Tinha muitas certezas e, as que não tinha, deduzia. Fred, por outro lado, carregava mais dúvidas do que certezas. Não sabia exatamente em que ponto estava fazendo o que amava e até onde estava apenas seguindo a onda. 

Fred tinha marcas profundas que fora incapaz de compartilhar com Lysander e, por isso, acabara causando marcas nele que Fred suspeitava serem permanentes. 

Como, então, dar continuidade a um relacionamento daquela forma?

Fred ainda não estava pronto para enfrentar os seus medos e não podia pedir que Lysander suportasse mais do que já havia suportado. Era injusto descarregar sobre ele todo aquele drama, ainda mais agora que ele parecia tão determinado a esquecê-lo. 

Em uma relação, não se pode esperar que o outro venha sem bagagem alguma. Há sempre o passado, o presente e também o futuro. Lysander não tinha um passado, mas Fred sim. E as expectativas para o futuro de Lysander eram muito assustadoras se comparadas às de Fred. Portanto, como poderiam sincronizar ambos os presentes, ainda mais se nada disso havia sido discutido? 

Talvez os filmes trouxas tivessem razão. Alguns amores não foram feitos para acontecer. E só porque não havia dado certo, não deixava de ser uma história de amor. Isso partia o seu coração um milhão de pequenas — e dolorosas - vezes. Mas era preciso saber reconhecer o desgaste e o fim de algo. 

E por isso, vendo Lysander lhe dar as costas e seguir em frente, Fred só tinha uma opção.

Fazer o mesmo.



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But it dies, and it dies, and it dies

A million little times




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Notas finais do capítulo

Dor foi o que eu senti escrevendo, mas acho que não tinha como terminar de outra forma. Até tentei escrever um final feliz, só que não pareceu real, sabe? Fred tem seus traumas, Lysander ficou desgastado e... As coisas às vezes não são para... Ser. Um dia, talvez. Mas nesse momento ambos só precisavam disso: seguir em frente.
Espero que tenham gostado dessa minha versão de Illicit Affairs (amém Taylor Swift por toda a inspiração concedida para as fanfiqueiras) e desse casal inusitado.
Beijos e até o próximo Pride ♥



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