Segunda chance escrita por Laura Vieira, WinnieCooper


Capítulo 2
Capítulo 1




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— Mamãe eu não tenho roupa! - Clara de quinze anos  tirava vestidos e mais vestidos de seu guarda-roupa. Catarina estava sentada na cama com o olhar perdido segurando um papel. - Mamãe estou falando com você!

Gritou ao mesmo tempo que pegou um copo no criado mudo e jogou no chão. Estava raivosa, seus longos cabelos pretos e lisos iam até sua cintura, seu queixo fino e seu olhar mandão lhe faziam lembrar a si mesma.

— Meu Deus, Clara! - Catarina colocou a mão no coração pelo susto que levou. - Que mania horrível que você tem de tacar coisas, está muito mal criada.

— Se estou mal criada a culpa é sua, pois você me criou. - ela cruzou os braços na frente do corpo e esticou as sobrancelhas. Catarina odiava aquelas sobrancelhas, além de significar que a desafiava, eram de Petruchio. Clara tinha as sobrancelhas de Petruchio. - O fato é que estou sem roupa.

Catarina suspirou cansada e guardou o pedaço de papel que tinha em mãos na gaveta de seu criado mudo.

— Minha filha já te expliquei que estamos sem dinheiro, não posso gastar com um vestido novo para você.

— Eu não tenho um sequer para ir à escola! - bateu as mãos do lado de seu corpo fazendo drama.

Catarina já acostumada com as rotineiras reclamações da filha, encontrou uma saia azul Royal, com uma camisa branca e um casaquinho que fazia par com a saia.

— Pronto, um excelente uniforme. - Falou enquanto ela terminava de se trocar.

Clara bufou nervosa.

— Uniforme é tão ultrapassado! Que trágico!

— Mocinha! - Catarina a repreendeu, odiava quando ela usava de gírias como àquelas.

— Se ao menos a senhora engolisse esse seu orgulho e voltasse para meu pai, um rico fazendeiro como diz, eu poderia comprar mais vestidos.

Catarina deu uma risada sarcástica e sacudiu a cabeça.

— Seu pai lhe daria vacas de presente e não vestidos. E não quero falar sobre ele!

Clara saiu do quarto da mãe sem se despedir, bufando nervosa.

— Miguel vamos de uma vez! - ordenou ao colega de cabelos marrons enrolados, era alto e usava óculos. A esperava na sala pacientemente.

Assim que viu o filho sair com Clara, a menina que ajudou a criar desde o dia de seu nascimento lhe dando leite, assim que sentiu que estava seguro, Filomena se encaminhou ao quarto em que sabia que Catarina estaria.

Filó a olhou de rabo de olho, a espionava, odiava fazer isso, mas achava necessário, pois a patroa e amiga era muito fechada e nunca contava o que sentia a ela. Viu ela abrir uma gaveta e pegar um papel, viu seu rosto se misturar nas diversas expressões e a viu soltar uma lágrima solitária. Achou que estava na hora de se revelar.

— Dona Catarina, a senhora está bem?

Ela mais que depressa limpou seu rosto com um lenço e olhou sua antes ama de leite, babá de sua filha e agora amiga.

— Lembranças Filó, lembranças que entram como faca no peito.

A mulher de longos cabelos enrolados a conhecia o suficiente para saber que essa resposta calma era um convite, um pedido de socorro para confessar seus sentimentos em voz alta.

— É sobre o pai da Clara? - segurou suas duas mãos lhe mostrando apoio sentando-se na sua frente na cama. - A senhora o amava demais não é?

— Nem lembro daquele cavalo chucro, grosseirão. - ela suspirou espantando pensamentos que iam e vinham quando se lembrava da felicidade que tinha ao morar um período de tempo na fazenda. Sacudiu negativamente a cabeça ao mesmo tempo olhando-a confessando suas aflições em voz alta. - Eu deixei um filho com ele.

— Eu sei, o irmão de Clara. - lembrava-se da história triste da patroa, do motivo de seu leite jamais descer, dela ser chamada às pressas para trabalhar na casa dos Batista, mesmo sendo mulher solteira com um bebê a tiracolo.

— Eu jamais o olhei, não sei como ele é, peço às vezes para Bianca me contar como ele está. Recebi uma carta dela essa semana a respeito disso. - entregou o papel que tinha em mãos a Filomena.

Filó passou os olhos pelas palavras de Bianca rapidamente, Catarina apontou um parágrafo em específico, leu:

"...Fomos visitá-lo semana passada. Ele é um menino adorável, tão parecido com Petruchio Catarina, na aparência e no coração. Sempre me recebe com suas sobrinhas de braços abertos, é galante e sorridente, um pouco nervoso às vezes, mas um menino tão encantador. Se o conhecesse ficaria orgulhosa, comanda a fazenda com o pai, ajuda nas contas da loja que a família têm de laticínios na cidade, já ganha dinheiro com Petruchio. Não vou lhe contar como ele está fisicamente para não te fazer sonhar com um rosto que nunca viu, mas saiba que ele é muito parecido com o pai, menos o olhar, o olhar é seu".

— Às vezes eu fico pensando como seria minha vida, se não tivesse tomado as atitudes que tomei. - Catarina confessou em voz alta.

— Se arrepende? Não é feliz? - Filó a encarou preocupada.

— Dói tanto, todos os dias, saber que tenho um filho que nunca vi sequer uma foto, que jamais olhei no rosto. - começou a chorar sem vergonha e recebeu o abraço reconfortante de sua confidente e amiga de anos.

xx

— Cla-cla-cla ra! Por que corre tan-tan to? - Miguel perguntou enquanto era arrastado pela melhor amiga pelas ruas de Lisboa, cidade que moravam fazia anos.

— Eu quero fugir Miguel, fugir da minha mãe que só mente para mim! - ela cruzou os braços na frente do corpo parando de andar de repente.

O amigo trombou nela sem querer e quase caiu no chão.

— Que trágico Miguel! - o repreendeu brava pelo movimento desastroso.

— Descul pa-pa-pa! Eu não te vi pa-pa rar.

Clara suspirou cansada, odiava tudo o que vivia, sabia que a mãe lhe escondia um segredo que nunca revelou a ninguém, se recusava a contar de seu pai e todas as vezes que implorava para contar recebia a mesma resposta:

— Ele está morto, Clara!

— Mas não de verdade! - retrucava.

— Não de verdade, mas é como se fosse, ele não liga para você, é um fazendeiro rico de São Paulo que me abandonou.

Clara tinha uma dor em seu peito e um pedaço incompleto de si sem resposta, passou os dedos por sua sobrancelha, única pista concreta que tinha do pai, pois todas as vezes em que arqueava as sobrancelhas recebia a frase da mãe.

— Não faça isso com as sobrancelhas, fica igualzinha a seu pai.

— Eu preciso voltar a São Paulo Miguel. - Clara falou mais calma ao melhor amigo, depois de pensar em tudo e decidir o impossível.

— Co-co mo? Sua mãe se re-re cusa a ir sempre, nem para datas comemora-ti-ti vas!

— Pare de gaguejar. - ela lhe deu um tapa no ombro. Odiava quando ele lhe dizia a verdade e ela não sabia a solução que encontraria.

— Sa-sa be-be que n-n-não con-tro-lo-lo-lo mi-mi- nha g-ga-g-guei-ra. - todas as vezes que ela lhe repreendia sua gagueira piorava.

— O fato é que preciso arranjar um jeito de voltar para São Paulo Miguel! Preciso conhecer meu pai. - ela voltou a falar menos brava desta vez. - Odeio ir a escola e ser motivo de chacota, odeio me zombarem por eu ser sozinha sem pai e minha mãe insistir em ser uma viúva de marido vivo!

— M-mas Clara, vo-vo-cê nunca deixa eles zom-ba-ba-rem de você. Ao contrário de mim q-que…

— Que o que Miguel? Está dizendo que sua situação é pior do que a minha? Que você ser filho de mãe solteira é pior que eu? Você é homem Miguel! Só te zombam por ser gago! - explodiu não deixando ele terminar sua fala. - Vamos pra escola vai! No caminho você me ajuda com alguma ideia para voltarmos a São Paulo o mais rápido possível.

O amigo concordou com a cabeça sendo arrastado mais uma vez por ela pelas ruas da cidade portuguesa.

xx

Julião Júnior mexia numa caixa antiga de lembranças que guardava debaixo da cama. Seu primeiro dente de leite, uma foto de seu pai e ele em meio aos pastos, seu urso de pelúcia que não desgrudava quando novo, a manta azul que veio consigo quando foi entregue ao pai, um colar que ganhou da mãe com uma foto dela.

O colar lhe fazia mal, lhe fazia chorar todas as vezes que decidia abrir ele e olhar o retrato dela, tão linda, sorridente, de cabelos curtos e olhar marcante.

— Mãe… - chorava enquanto acariciava a pequena foto com seu dedo polegar. - Por que ocê me abandono?

— Porque sua mãe é uma egoísta. - Petruchio entrou no quarto se deparando com a cena que lhe cortava o coração, odiava vê-lo assim, mas dizia a verdade que sabia sem rodeios. - E homem não chora, enxuga essa cara d'ocê!

Júnior olhou para Petruchio com ódio, tinha raiva do jeito que ele falava de sua mãe e de como se portava perto dele quando o assunto era sua mãe.

— Por que sempre fala assim dela?

O olhar que lhe dava lembrava tanto Catarina que Petruchio precisava desviar de seus olhos para não lembrar dela, de tempos atrás e de um amor que acabou de maneira errada e triste.

— É a verdade Júnior! - O pai se defendeu como se tivesse sendo acusado num tribunal. Olhava para o chão.

— Não é o que Neca e Mimosa falam dela. Sempre lembram com um sorriso na boca, falam que ela tinha um gênio forte, mas era…

— Era nada Julião! Era nada! - brigou com o filho, além do olhar sustentava o jeito imperativo de Catarina falar, isso o fazia lembrar do tempo em que escutar seus gritos pela fazenda, era como ouvir uma sinfonia de pássaros, sentia falta até dos gritos dela.

— O senhor ama ela ainda. - disse a verdade que sabia.

Petruchio ergueu as sobrancelhas na defensiva e foi logo se justificando de algo que não havia acusações:

— O meu amor por ela sumiu quando vi do que ela foi capaz. - o olhou nos olhos, precisava mostrar que sua dor ainda permanecia mesmo após anos e anos.

— Não sumiu não, não sumiu porque o senhor insiste nessa ideia de ainda fingi que tá casado com ela pra não manchá a reputação dela de mulher separada!

Gritou na cara do pai, já sem lágrimas nos olhos, apenas cansado de o ver negar sempre a mesma coisa.

— Eu fiz isso em respeito ao nome de sua mãe, mas aquela egoísta não merece enquanto está no bem bom nas Europa, rica e simplesmente esquecendo que tem um filho. - berrou de volta tentando o ferir, mas na verdade se ferindo pela verdade em que ouvia sair de si.

— Eu quero a minha carta. - Júnior falou não se sentindo nem um pouco abalado pelos gritos do pai anteriormente.

— Que carta?

— A carta que minha mãe deixou para mim assim que vim pra cá bebê! Mimosa disse que havia uma carta além da manta e do colar.

Petruchio virou as costas pro filho e começou a se encaminhar para seu quarto.

— Não sei de carta nenhum pr'ocê. - respondeu sem olhar o filho nos olhos andando apressadamente.

— Pai! Aquela carta é minha por direito! Eu quero aquela carta! - berrou pela última vez vendo seu pai trancar a porta de seu quarto com os olhos vermelhos.

Petruchio se encaminhou até seu armário com chave enquanto ouvia o filho bater os punhos na porta gritando que queria sua carta. Abriu o armário, pegou um envelope amarelado pelo tempo e passou os dedos pela letra de Catarina.

Para meu filho, com todo meu amor Catarina.

Ele lia aquelas palavras todos os dias, sabia decor desde o dia que abriu o envelope pela primeira vez, era um dia frio e chuvoso e ele descobriu que Catarina tinha partido depois do casamento de Bianca. Era a definição de seus sonhos indo embora com as águas da chuva que corriam sempre para a frente, nunca para trás. Ela estava em busca de uma continuidade de sua vida sem ele e Petruchio jamais tinha deixado sua vida prosseguir sem ela.

Abriu o envelope e pegou a carta, o papel mole e gasto, tão fino que só não se rasgou por causa do cuidado que ele tinha em o tocar. Sabia cada linha, cada palavra e vírgula que ela havia usado, mas gostava de passar os olhos e ler sua caligrafia todas as vezes.
Sentou-se na cadeira e pegou um velho lenço vermelho que ela usava no cabelo e que ele havia encontrado no fundo de uma gaveta. Começou a ler a carta enquanto sentia o cheiro do lenço, um cheiro já insistente depois de anos passados, mas que Petruchio impedia Neca de lavar para não perder o único cheiro concreto que tinha dela.

Enquanto lia passava os dedos por cima da caligrafia dela e chorava lembrando de tudo:

"Meu filho, me perdoe. Eu te amo e te amei desde o primeiro dia em que descobri que estava grávida, você foi fruto do amor e desejado por mim e seu pai. Mas a vida nunca conta uma história da maneira certa, e nas nossas linhas tortas eu tive que partir para longe para me refazer. Seu pai será o melhor pai do mundo e nesse aspecto eu fico tranquila em saber que terá amor e uma educação de ouro, sei também que as pessoas que o cercam na fazenda te amarão como se eu estivesse ao seu lado. Cuide de si, cuide de todos, cresça e seja feliz. Espero que um dia você entenda o que fiz, me perdoe e não guarde rancor em seu coração. Em minhas orações você sempre estará em primeiro lugar. Eu te amo no presente, nunca no passado. Catarina Batista, sua mãe"

xx

— Que trágico viver nesse mundo e tendo que economizar dinheiro! - Clara reclamou novamente enquanto voltava da escola de a pé com Miguel, não pegaram um carro de aluguel, pois a mãe a proibiu de gastar dinheiro a toa.

— M-mas a escola é a-até perto de sua ca-ca-sa. - o melhor amigo ponderou.

— Fácil para você falar que é homem e não precisa andar de sapato de salto. Odeio sapato de salto!

Miguel estava acostumado com a melhor amiga rabugenta, mas nos últimos dias ela parecia bem pior do humor.

— Minha mãe fica me pedindo pra economizar, meu avô é um unha de fome! O banqueiro mais avarento de São Paulo! De que adianta ter dinheiro se não se pode gastar? - ela falava enquanto andava pelos paralelepípedos na calçada e quase caía tropeçando com o salto fino ficando encravado em meio aos buracos que ligavam uma pedra à outra.

— T-talvez ele se-seja rico por justamen-te-te economi-z-z-zar.

Clara bufou nervosa, e cruzou os braços.

— Se eu conhecesse meu pai poderia pedir dinheiro a ele, já que ele é um rico fazendeiro. Fazendeiros tem milhares de cabeças de gado, ele não negaria uma parte de seu dinheiro a mim, sua filha vítima de uma mãe que a trouxe para fora do país para ficar longe dele. - ela colocou sua mão em seu peito fingindo uma cara de choro.

— C-Como que vai conhe-c-cer seu pa-pa-i se não volta a S-São Pau-l-lo?

— Sim! Precisamos sair daqui e voltar para São Paulo!

— Mas sua mãe n-n-não vai v-vol-t-tar se seu avô con-t-tinuar pagan-d-d…

— Miguel você é um gênio! - ela sorriu parando de andar o beijando no rosto o que o fez arregalar os olhos em reação ao movimento incomum dela. - Eu sabia que ser melhor amiga de um gênio esquisito traria benefícios. Vamos ligar para meu avô!

Ela o puxou pela mão para andarem mais rápido.

xx

Julião Júnior sentou-se perto do açude de sua casa, pegou um amontoado de pedras e começou a jogar com a maior força que reuniu,  elas na água. As pedras quicavam diversas vezes antes de afundarem, quando sentia-se só e triste por alguns fatos de sua vida ele tinha vontade de gritar, chorar e sumir. Ia sempre extravasar jogando pedras.

Seu pai o observava de longe com Calixto ao lado.

— As caveira do seu pai e da sua mãe devem de estar chacoalhando os osso no cemitério de tanto desgosto com o que o senhor anda fazendo com o menino.

Petruchio bufou nervoso e sacudiu a cabeça.

— Não ando fazendo nada se ocê quer saber! - se defendeu.

— Mas é isso memo, não faz nada. O menino só quer saber da mãe pela sua boca. Conversa com ele.

Odiava quando Calixto vinha com essas conversas, falava a verdade e ele não tinha como contra argumentar.

— Bom, se o senhor não vai. Eu vou tentar apoiar o menino, num aguento vê ele assim.

Calixto saiu de perto do patrão e amigo e foi para perto de Julião Júnior, que considerava quase um neto.

— Tá nervoso Juninho? - fazia anos que não o chamava de Juninho, o apelido lhe fazia lembrar de como era ser criança numa sociedade sem mãe.

Lembrava-se de ir à escola e todos rirem de si por ser filho de pai separado. E ele gritando que sua mãe estava em casa sim, mas doente. A mentira que seu pai inventou por anos e anos, para manter a reputação do nome da mãe e agora entendia que lhe ajudava também a enfrentar a sociedade preconceituosa contra um menino que nenhuma culpa levava por sua mãe o deixar e fugir.

— Vô Calixto, o senhor me conta de minha mãe? Da época que ela morava aqui?

Calixto era proibido de fazer isso, Petruchio não gostava do assunto e não queria que Julião Júnior ficasse com caraminholas na cabeça, mas diante da palavra "vô" e querendo que o patrão parasse de fazer o menino sofrer por não falar da mãe ele responderia.

— Ah sua mãe era ardida, no pior sentido da palavra… - ele riu lembrando-se de uma época de dificuldades e alegria. Diferente da que vivam, já que a fazenda rendia bem, os laticínios vendiam bem e não passavam necessidades, mas a felicidade não chegava mais, parecia haver uma nuvem negra constante em cima deles.

Contou sobre o que sua mãe aprontava ao cozinhar, das brigas com seu pai, de como não se existia um vaso ou moringa inteiros na época, dela lutando para manter a fazenda em pé quando o pai se adoentou e de como seu pai sorria e era feliz quando ela estava ao lado.

Por fim, Petruchio decidiu, observando-os ao longe, que estava na hora dele lhe entregar a carta e lhe dizer tudo o que sentia a respeito da mãe dele e os motivos que o fizeram mentir que ela esteve doente esse tempo todo na fazenda.

xx

— Vovô como é bom ouvir sua voz! - Clara sorriu do outro lado da linha quando ouviu a voz de seu avô Batista.

— Clara, está me ligando? Sabe o quanto custa uma ligação internacional?

— Dinheiro! É esse o motivo de minha ligação! Você precisa parar de bancar a mamãe aqui vovô! Ela é tão gastona, sabe que ela não trabalha…

— É claro que sua mãe não trabalha, senão teria parado de mandar mesada para vocês há tempos.

— O senhor acredita que ela me comprou outro vestido? Eu tenho milhares no guarda-roupa e ela me compra outro vestido, uma compra tão desnecessária, ela devia aprender a economizar dinheiro.

— Catarina sempre acabou com seu dinheiro tão facilmente, a herança da mãe só rendeu um pouco porque eu administrei para ela mandando o necessário para viverem aí, mas dinheiro uma hora acaba e sustentar vocês aí não está sendo fácil.

— É claro que não, imagino como está sendo difícil para o senhor. Me imagine indo para a escola com uma roupa diferente por dia, tomando carros de aluguel todos os dias, mesmo estudando a poucas quadras de distância, comendo em restaurantes caros, pois minha mãe como péssima cozinheira nunca faz nada, e ainda o senhor mantendo a Filó aqui com ela, que faz tudo, desde a limpeza a comida, com minha mãe não fazendo nada o dia inteiro e podendo fazer muito bem tudo isso. Acho que gasta tanto vovô.

Falar sobre gastos de dinheiro lhe fazia suar frio, estava acostumado com a neta lhe fazendo ligações para pedir presentes e não reclamar o quanto a mãe esbanjava seu dinheiro. Sim porque o dinheiro era dele, já que a herança da mãe havia acabado há anos e para manter seu sobrenome com uma boa reputação a mantinha longe.

Lembrou-se do dia em que foi até a fazenda de Petruchio conversar sobre o assunto.

— Petruchio, Catarina partiu e pretendo mantê-la por lá, ela não irá mais te procurar, mas te peço um favor. Finja que ainda está casado com ela.

O genro ficou furioso com o pedido, mas depois de uma longa explicação do motivo do pedido e dizendo que queria manter certo contato com o neto, Petruchio não teve escolha:

— Eu sei que você a amava, talvez a ainda ame e sei também que não quer que seu filho sofra os preconceitos de uma mãe que sumiu no mundo. Finja que ainda está casado com ela, finja que ela ficou doente depois que ganhou o bebê e nunca mais pode sair de casa, finja por seu filho.

— Eu sei que o senhor quer é evita escândalos, mas farei isso por meu filho que não tem culpa da mãe egoísta que têm.

— Vovô o senhor ainda está me ouvindo!? 

Clara berrava do outro lado da linha. Batista piscou duas vezes tentando voltar ao seu mundo. Já haviam se passado 15 anos desde a partida de Catarina e apesar dos preconceitos ainda existirem a modernidade chegava, havia cada vez mais casais separados que se casavam novamente fora do país, havia cada vez mais mulheres que trabalhavam e criavam os filhos sozinhas no Brasil, talvez pudesse dar um voto de confiança em Catarina e parar de gastar dinheiro a toa.

— Ok Clara, ligarei para sua mãe e falarei que vocês voltarão o mais rápido possível para o Brasil e uma volta definitiva!

A neta vibrou no telefone, não poderia estar mais feliz, conheceria seu pai rico e quem sabe conseguiria convencer sua mãe a voltar para ele.

 


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