Segunda chance escrita por Laura Vieira, WinnieCooper


Capítulo 16
Capítulo 15




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802880/chapter/16

Catarina nunca precisou ser tão forte como estava sendo agora, nunca tinha sido testada como estava sendo desde sua volta ao Brasil, nunca foi ela mesma em toda sua essência, até agora.

Serafim acabou acompanhando-os nas visitas às casas de aluguel de Dalva. Tentava vender seu peixe enquanto Petruchio discordava com tudo o que ele dizia.

— ...Essa casa é menor que a anterior, têm apenas cinco quartos, mas você disse que não queria luxos. Sabe que estamos vendendo ela, então se quiser comprar.

— Se Catarina quisesse comprar ela não estaria atrás de uma pra alugar. - Petruchio argumentou o óbvio.

— Não tenho rendas para comprar essa casa. - foi curta e grossa com Serafim, ignorando Petruchio.

— Oras e a herança de sua mãe e seu pai que continuava sendo um banqueiro? Ele pode lhe emprestar dinheiro.

Catarina revirou os olhos diante do argumento de Serafim. Começou a andar pela casa observando os móveis, Petruchio, que até então fazia cara feia ao jornalista, foi andar ao encalço dela.

— Os móveis estão bastante velhos Dalva, não acha que o preço está um pouco exorbitante? - Catarina perguntou à mãe de Candoca.

— Catarina, não há muitas casas na localidade que deseja com móveis. - Dalva tentou justificar. - É um bom bairro, infelizmente não posso baixar o preço do aluguel.

— Mas meu favo de mel tem razão, esses móvel tão mais velho que os da fazenda. - Petruchio argumentou.

— Não me chame de… - ela não conseguiu completar sua fala. - E EU quero fazer negócio! EU!

— Certamente os móveis não estão mais velhos do que daquela fazendola. Só esse sofá compra sua mobília inteira. - Serafim falou.

— Oras Serafim! São móveis antigos, mas de qualidade. - Catarina foi em defesa lembrando da fazenda. Do sofá cheio de titica de galinha, da mesa antiga e nada brilhante como a de seu pai, da cristaleira vazia sem cristais caros. Amava aquela casa, apesar de não admitir em voz alta, sentia saudades.

— De muita qualidade! - Petruchio ergueu o queixo em concordância. - Não são essa metidez fingida.

— Só digo a verdade. É uma casa ótima, num ótimo bairro, grande o suficiente para você e…

— Enorme demais para mim! Vamos para outra? Bem menor? - Catarina cortou a defesa de Serafim.

Ficou pensando alguns segundos, se como amigo da família ele tinha conhecimento de Clara, já que só tinha até então mencionado o filho Júnior a ela.

Foram para um apartamento. Bem mais modesto e localizado justamente em cima da revista feminina.

— ...Não ia sugerir esse lugar. É tão pequeno e apertado para os luxos de que está acostumada. - Dalva foi logo se desculpando.

Mas Catarina estava com os olhos brilhantes para o lugar. Os móveis pareciam bem mais aconchegantes que os dos outros lugares. Era tudo pequeno e organizado. Tinham dois quartos e um banheiro, uma cozinha pequena com a lavanderia e uma sacada que dava de frente para a avenida movimentada. Ficava há três quadras da escola e poderiam ir a pé.

— Mas ocê fez dona Dalva comprar o prédio de sua revista de meia pataca? - Petruchio perguntou indignado e nada feliz com o lugar.

— Foi um ótimo investimento. Tenho minha revista e não preciso mais pagar aluguel pelo prédio, já que sou o dono.

— Dona Dalva é a dona. - Petruchio corrigiu.

— Sou o marido dela, eu sou o dono! - Serafim ergueu seus ombros e foi de encontro a Petruchio bravo.

— E eu que sempre achei que as mulher davam golpe do baú. Vejo o primeiro homem a fazê isso. - ele ergueu seu tronco ficando mais alto que Serafim e o encarando da mesma maneira.

— Começou por você quando casou com a Catarina por causa do dote.

— Então ocê assume que se casou por interesse. - Petruchio começou a rir.

— Parem os dois! Está me ofendendo Petruchio. - Dalva pediu.

— Petruchio não quis dizer isso dona Dalva. É que naturalmente a senhora enriqueceu e um homem tão jovem como Serafim, é um pouco estranho ter se casado justamente com alguém com a idade...

— Está me chamando de velha Catarina? Agora você está me ofendendo. Justamente você, tão a frente de seu tempo julgar meu relacionamento - Dalva cruzou os braços chateada.

— Me desculpe. - Catarina disse realmente arrependida. - Vamos mudar de assunto? Fico com esse apartamento. Adorei, é perfeito. Preenche todas minhas necessidades. - Catarina foi rápida mudando o assunto e emendando com o que interessava realmente.

Petruchio que até então encarava Serafim bravo foi até ela e perguntou calmamente.

— Ocê vai morar em cima da revista do jornalistazinho mequetrefe?

— Olha o respeito Petruchio. - Serafim pediu se encaminhando para perto da Catarina. - Faço muito bom gosto de tê-la tão perto de mim.

Petruchio bufou bravo sentindo suas entranhas revirarem de ciúmes.

— Oras Serafim, tenha respeito com sua esposa. - Catarina lhe fuzilou com o olhar.

— E com minha esposa. - Petruchio falou com a voz grossa.

— Ex-esposa. - Catarina corrigiu.

Petruchio coçou o cabelo chateado.

— Só disse porque para uma mulher separada é sempre bom ter um homem de confiança por perto para lhe defender se for preciso. - Serafim se justificou olhando para Dalva que estava com rugas na testa tamanha raiva que estava sentindo do "passeio".

— Ela tem quem lhe defenda. - Petruchio ergueu seus pulsos no ar.

— Eu me defendo! Não preciso de ninguém! - Empurrou os dois para o lado, estava cansada daquilo tudo. - Dalva eu posso assinar o documento alugando essa casa? - suplicou para a dona do imóvel, queria ir embora e descansar, sua cabeça estava latejando de dor depois de tantas picuinhas trocadas durante aquela tarde entre Petruchio e Serafim.

Dalva pegou o papel e indicou os lugares que ela devia assinar.

— …Agora só falta a assinatura de seu fiador, no caso a Bianca… - Dalva explicou no final do papel.

— Bianca é sua fiadora? Eu posso ser!

— Não, Julião Petruchio! Por favor! Resolvo minhas coisas sozinha! - o impediu de chegar perto dos papéis.

Serafim começou a rir, enquanto dizia maldosamente:

— Como se você tivesse algo pra dar de garantia se acaso sua ex-esposa não pagar.

— Tenho a fazenda, que tá quitada das dívida, tenho a loja na cidade. Tenho mais renda que ocê que deu o golpe do baú e não é dono de nada e até do prédio de sua revista não é dono.

Novas discussões entre os dois começaram e Catarina e Dalva quase tiveram que separar os dois, tamanho os ânimos exaltados, estavam quase indo aos socos.

— Deixa eu assinar como seu fiador Catarina? Quero te ajudar. - Petruchio pediu a ela quando se acalmou. - Por favor, eu quero cuidar d'ocê um pouco. Só um pouco…

Catarina o olhou cansada. Só queria ir para a casa descansar e talvez conversar com Clara e entender seu desânimo pós primeiro dia de aula. Foi o cansaço que a fez aceitar rápido, não tinha nada a ver com o rosto triste e suplicante dele.

— Está bem, está bem! Assine! - estava pedindo favores demais para Bianca e não queria admitir a ninguém, mas gostava quando Petruchio tinha esse cuidado todo consigo.

Depois de todas as assinaturas e a combinação do valor, a chave da casa brilhava quando Dalva entregou a ela.

— Pode-se mudar hoje mesmo.

Catarina abraçou Dalva agradecida. Apesar de todos os encalços e empecilhos do dia, tudo terminou bem.

Conseguiu se despedir de Serafim sem que Petruchio quisesse lhe meter um soco no rosto por mais comentários maldosos como: "Posso te ajudar com a mudança, precisa de um homem forte para carregar seus pertences". Em que Catarina gritou impedindo Petruchio de brigar mais falando que ela faria sua mudança sozinha e que não queria ver nenhum dos dois lhe perturbando.

Foi quando Candoca entrou no apartamento:

— Mamãe, estava na revista com Otávio e resolvi subir para dizer um oi a Catarina.

A melhor amiga de Bianca estava mais velha e tão bonita, tinha um bebê no colo, Bianca havia lhe contado em cartas que Candoca não conseguia engravidar, passou anos tentando de todas as formas, até um dia ao adotar uma menina, descobriu estar grávida.

— Candoca! Quanto tempo! - abraçou ela meio desajeitada por causa do bebê.

— Ainda não tinha te visto Catarina. - Ela logo deu atenção ao pequeno pacote branco embrulhado em seus braços. - Conheça meu filho, Otávio.

— Ah… posso pegar? - Pediu a ela com os olhos estreitos e emocionados. Candoca concordou com a cabeça sorrindo lhe entregando o bebê.

Catarina o segurou com segurança, olhou seus olhos negros, seu cabelo castanho escuro e pensou em seu filho. No filho pequeno que nunca segurou nos braços como fazia agora com o de Candoca. Sentiu uma pequena lágrima cair de seus olhos ao mesmo tempo em que ergueu seu olhar e reparou em Petruchio. Ele estava hipnotizado a olhando ressentido. Quase podia ler seus pensamentos, sabia que ele pensava o mesmo. Pensava nela cuidando de Júnior com ele e a família que não tiveram.

Abraçou o bebê lhe beijando na testa e devolveu a mãe.

— Foi um prazer te ver Candoca. Precisamos marcar um jantar na casa de Bianca.

— Vamos marcar sim Catarina…

Se despediu de todos novamente enquanto Petruchio permanecia em silêncio atrás de si. Esperou que todos estivessem saído e virou seu rosto para ele. Que parecia triste.

— Ocê, segurando o bebê, foi como assistir o passado, foi como te assistir mãe…

Catarina suspirou diante da fala dele, sentia a dor que ele sentia.

— Era como segurar meu filho nos braços e voltar a quinze anos atrás. - ela deixou algumas lágrimas caírem de seus olhos e permitiu que ele chegasse perto de si e lhe abraçasse. - Eu nunca segurei meu filho em meus braços.

— Nunca?

— Não conseguiria lhe entregar ele se tivesse feito isso.

Eram dois corações partidos tentando se ajudar de uma dor do passado que não tinha cura. Ele acariciou o rosto dela e lhe beijou na bochecha tentando dizer que tudo iria ficar bem. Catarina o olhou nos olhos, depois desse gesto como que lhe pedindo desculpas, lhe beijou na face também.

Petruchio fechou seus olhos e levou seu rosto de encontro ao dela, tocou os narizes um no outro e começou a mexê-lo levemente. Catarina fechou os olhos esperando que ele lhe beijasse. E foi o que fez. Começou tocando levemente em seus lábios, quando viu que ela ainda permanecia de olhos fechados e tinha a boca levemente aberta ele aprofundou o beijo.
Estava descobrindo outras formas de beijar Catarina, formas calmas, leves, sem pressa e medos de vasos arremessados.

Catarina sentia como se saísse de seu corpo e assistisse a cena por cima, ela retribuía com a mesma paixão e carinho que ele e não podia fingir mais a ninguém que tinha deixado Petruchio no passado. Ele estava explícito em suas ações e em seu sentimento.

Ele cessou o beijo e passou a mão em seu rosto a acariciando, Catarina ainda tinha os olhos fechados e desta vez não o empurrou e nem gritou que não devia lhe beijar.

Tinham tantas coisas para conversar. Petruchio tinha dentro de si inúmeras sensações e ele não conseguia escondê-las. Tinha anseios e ciúmes também. E a certeza que queria ela definitivamente de volta em sua vida.

— Queria que ocê morasse na fazenda comigo. - confessou. - Não precisaria pagar nada, nem trabalhar fora.

Ela acordou de seu estado de torpor e saiu de seus braços ressentida.

— Está me ofendendo Julião Petruchio. Sou uma mulher independente, não dependo de sua casa, não dependo de seu dinheiro. Não somos mais casados.

— Mas eu não disse isso. Ocê não lembra? É claro que ocê lembra. - ele começou a andar para perto dela novamente, não queria brigar. - Quando a gente se caso, tudo o que era meu era seu também. Ocê aprendeu a comandar aquela fazenda comigo Catarina. Lembra quando eu fiquei doente e o povo conheceu a Capitã Catarina? Ocê não deixou a fazenda falir. Ocê salvou a gente.

Ela se lembrava de outros tempos em que era feliz apenas amando o que Petruchio amava. O cuidar de todos e da fazenda. Engoliu em seco tentando não se afogar em lembranças do passado que vinham feito avalanche e respondeu:

— Eu nunca amei fazer isso, fiz por necessidade.

— Por necessidade é certo, mas também por gostar daquela gente, por querer bem a mim. - ele abaixou seu rosto deixando ele alinhado com o dela. - Eu respeito sua decisão, por isso tô aqui querendo te ajudar a escolher onde vai morar, mas confesso que dói meu coração.

— Dói? - ela perguntou entortando sua cabeça pro lado confusa.

— Dói pensar que ocê não aceita voltar pra fazenda, já imaginou a felicidade de Júnior?

Catarina deu dois passos para trás, sempre que o assunto "seu filho" surgia, seu coração começava a sangrar lembrando que o havia abandonado.

— Juninho é bom menino Catarina, tão trabalhador, ocê há de ficar orgulhosa quando o conhecer de verdade, ele pensa no outro e só depois nele, tem um coração enorme como o seu.

Catarina abaixou sua cabeça e sentou-se no sofá.

— Como ele teria um coração como o meu se um dia me falou que eu tinha um coração de pedra?

— Pois seu coração é enorme, se preocupa com todos, quer mudar e revolucionar o mundo, só tendo um coração enorme para pensar assim. - ele sentou ao lado dela. Pegou em sua mão e começou a acariciá-la. - Vamo começar de novo?

O enorme coração dela, segundo Petruchio, estava saltando na garganta, as mãos ásperas do ex-marido seguravam seus dedos delicados e os acariciavam, ele ficou mexendo na aliança dela que ainda estava em sua mão.

— Eu sei que é estranho, mas sinto falta da família que a gente não teve. - confessou a ela.

— Família? - perguntou mais a si mesma. Catarina se lembrava e sabia bem o motivo de não ter construído sua família como devia ter acontecido.

Os olhos dele estavam tristes e suplicantes.

— Eu fico imaginando a gente crescendo como família, a gente educando Juninho junto, ele já têm tanto d'ocê sem ao menos conviver. Eu sinto falta do que a gente não viveu.

Catarina piscou tentando afastar a dor que latejava em seu peito, começou a relembrar as cartas todas que escreveu ao filho imaginando seus dias com ele, pensou em Clara, em tudo o que ela gritava a si pedindo e exigindo conhecer o pai, os momentos perdidos que não viveu por não conhecer seu pai. Ela precisava tomar uma atitude, não podia mais adiar.

— ...Então a gente podia começar de novo, desde o começo, numa segunda chance desde antes da gente casar, pra eu te conquistar eu tinha que te cortejar, mas eu nunca te cortejei direito. - Petruchio continuava seus argumentos, aproveitou que ela não tinha o repelido e ainda aceitava os seus carinhos em sua mão. - A gente podia se conhecer de novo, ir pro cinema ou jantar… soube que Buscapé faz sucesso no restaurante como chef.

Catarina tinha tantas dúvidas em seu coração, tantas coisas para resolver, não podia mais fugir das mentiras nem de seu passado, mas também não podia pegar uma borracha e apagar tudo, Petruchio a compreenderia?

— Um jantar… - ela concordou rápido demais para ele, mas não reclamaria, Petruchio estava explodindo de felicidade por dentro. - Eu aceito jantar com você. Mas não vá pensando coisas... É uma segunda chance. Espero que seja uma segunda chance.

Era isso no qual ela queria acreditar. Quando contasse tudo sobre Clara, que ele lhe desse uma segunda chance.

— Ah Catarina! - os olhos castanhos de Petruchio brilhavam e ele deu vários beijos na mão dela. - Obrigado por tentar por nosso filho, obrigado! Na fazenda então? Hoje.

— Não na fazenda! Num restaurante, aquele do Buscapé talvez, só nós dois. Temos muito o que conversar.

— Conversar sobre nosso futuro. - Ele estava feliz, gostando de repetir a palavra "nosso" a todo momento.

— Sobre o passado também. Amanhã a noite pode ser?

Ele concordou e ela soube que sua vida mudaria em poucas horas. Decidiu contar e ser franca com ele no jantar, não podia mais fugir do assunto "Clara" e de fato queria se aproximar do filho.

Se despediram estranhamente ele queria lhe beijar, mas não sabia se podia, queria lhe levar pra casa, mas não sabia se tinha chegado nesse ponto com ela. Por fim, decidiu lhe dar um beijo na mão e saiu para que ela fosse embora sozinha. Daria o espaço que ela tanto prezava.

Catarina chegou na casa do pai com um carro de aluguel, preocupada com a filha. Abriu a porta do quarto e a viu deitada na cama, olhando pro teto, ainda com o vestido amarelo que tinha usado para ir à escola. Ficou imaginando por alguns segundos o contrário da cena que tinha protagonizado a pouco. Imaginou Petruchio a segurando nos braços quando bebê, imaginou ele a embalando e a fazendo parar de chorar, ele lhe dando proteção e carinho e da família que não tiveram, sentiu-se triste e culpada novamente, mas sabia que a filha estava precisando de si de alguma forma, parecia triste, Clara nunca era triste, sempre mandona e autoritária, nunca triste.

— O que aconteceu? - perguntou diretamente.

— O que aconteceu? - ela voltou a pergunta para a mãe.

— Clara, você está triste, estou preocupada com você. - ela ignorou a alfinetada da filha e foi sincera com ela.

— Triste? - Clara perguntou a si mesma, ainda encarava o teto pensativa. - Digamos que conseguiu o que queria mãe.

— E o que eu queria? - Catarina tinha a certeza que a filha era seu grande ponto de interrogação.

— Que Miguel se afastasse de mim. - ela encarou a mãe chateada. - Ele não conversou comigo hoje na escola, porque você mandou. - ela sentou na cama apontando o dedo indicador pra mãe.

— Miguel está reagindo a você? Até que enfim! - Catarina enfim entendeu o que acontecia e gostou. - Ele não é mais sua marionete?

— Pare! Isso é trágico! Você que afastou o meu melhor amigo de mim e ainda comemora? - ela voltou a deitar na cama com tudo, fazendo o colchão pular.

— Está chateada porque não consegue mais executar seus planos sem Miguel, isso sim. - Catarina concluiu.

— …Ele andou o tempo todo do lado de uma menina, estava até sorrindo pra ela…

— Está com ciúmes Clara? - Catarina riu. - Ora minha filha, Miguel é um ótimo garoto, achou que ninguém além de você ia descobri-lo?

— ...A culpa é sua, você que me proibiu de ir para a escola todos os dias e agora ele arranjou outra amiga e somando que não deixa ele falar comigo… - Clara levantou e se sentou de novo dando um soco na beira da cama. - Você afastou Miguel de mim, te odeio!

— Eu? - Catarina negou com a cabeça - Você mesma que o afastou.

Clara estreitou os olhos para ela. Certas horas queria ser igual a sua mãe e soterrar todos seus sentimentos e sensações dentro de si, mas não conseguia, ela precisava gritar para alguém o que estava sentindo.

— Precisa refazer as pazes logo, vamos nos mudar amanhã e Filomena vai morar conosco e consequentemente Miguel. - Catarina anunciou a ela, fazendo Clara arregalar os olhos.

— Você já escolheu a casa de aluguel? - Sua voz estava em pânico.

— Casa não, apartamento, é melhor arrumar suas roupas e seus pertences para amanhã cedo já mudarmos.

— Apartamento? Apartamento? - a voz de Clara saiu fina e perplexa. - Mãe, estou morando num quarto há alguns dias, não quero passar a minha vida toda morando numa lata de sardinha. É trágico!

— Vou conversar com Filomena agora, vá arrumando suas coisas. - Catarina fez menção de sair do quarto ao mesmo tempo em Clara cruzava os braços nervosa berrando.

— Eu quero morar com meu avô!

— Querer não é poder!

— Então irei passar um mês na casa de minha madrinha!

— Clara, você vai ficar ao meu lado, pois sou sua mãe, onde eu irei você irá comigo.

— Mãe! - ela correu até a frente de Catarina e exclamou desesperada sem argumentos. - A partir do momento que me tirar dessa casa eu irei gritar e gritar, até minha voz chegar ao meu pai e ele me encontrar.

— Pode gritar o quanto quiser. São Paulo é enorme e ele nunca te achará. - Catarina observou a filha urrar com lágrimas nos olhos de ódio. - Você tem uma rainha na barriga, é a própria rainha. Será bom para aprender um pouco e ir morar num lugar mais humilde. Aliás, você nem viu como o apartamento é para já estar assim.

— Um apartamento sustentado por você?! Ah mãe, posso muito bem imaginar como ele é.

— Bom, comece a arrumar suas coisas, vai amanhã nem se for arrastada.

Cruzou a porta deixando Clara para trás que começava a jogar vasos.

Conversou com Filomena:

— More comigo? Sem custos, não posso ainda lhe pagar para fazer a comida e limpar a casa, mas lhe dou abrigo e comida…

Filomena arregalou os olhos não acreditando no que ouvia.

— A senhora me ajudaria assim?

— Você que me faria um favor Filó, você sabe que não sei cozinhar, não sei lavar roupas, não sei varrer chão… não posso lhe pagar o que merece agora, estou começando na minha profissão, mas se você pudesse me ajudar nisso…

Filomena beijou suas mãos agradecida, em um dia seus medos e anseios tinham sumido, tinha emprego e lar por causa de Catarina.

Por fim, disse ao pai sua decisão e se despediu dele.

— ...Não pense que sou uma ingrata, reconheço que fez tanto por mim. Mas preciso ter minha própria vida.

Batista não queria brigar com a filha. Apenas concordou com a cabeça.

— Minha preocupação com você é real minha filha. Você ficará bem?

— Estou bem papai… - ela o abraçou se despedindo. - Obrigada por todo o apoio que me deu durante tanto tempo na Europa.

— Faria tudo novamente. - ele retribuiu o abraço na filha. Uma cena rara de se ver. - Preciso lhe dizer uma coisa.

— Pois diga. - Catarina pediu saindo do abraço.

— Júnior, seu filho, esteve aqui… - Catarina arregalou os olhos. - Descobriu que você está no Brasil, e me pediu para lhe dizer que ele quer lhe conhecer… acredito que Petruchio não saiba disso, ele veio escondido. Precisa resolver seus encalços do passado.

— Ele esteve aqui? - Catarina sentiu seu coração falhar e se encher ao mesmo tempo. - Estou resolvendo meu passado papai, estou em contato com Petruchio, pretendo lhe dizer sobre Clara amanhã e ter algum contato com meu filho.

Batista concordou com a cabeça um pouco aliviado de ver que a filha pelo menos tinha um plano de como prosseguir com sua vida.

— Acha que ele pode te perdoar?

Catarina entortou a cabeça pensando.

— Talvez, depois de hoje, talvez.

Clara saiu da casa do avô aos berros na manhã do dia seguinte, mas foi embora sem ser arrastada para o apartamento. Miguel estava sentado ao seu lado no carro preocupado pelo estado da amiga.

— V-v-ocê es-s-s-ta be-e-em?

— Agora se preocupa comigo? - cruzou os braços não querendo admitir ao amigo que sentia falta dele e que não estava nada bem.

Catarina queria rir tamanha a dramaticidade de Clara ao entrar no apartamento, reclamou de tudo em todos os sentidos, das cores da parede, dos móveis velhos e do cheiro de mofo.

— Vá se acostumando, dramática. - Catarina disse. - Vá arrumando sua mala que está aqui no guarda-roupa de um dos quartos. O outro será de Filomena e Miguel. Vou voltar com Filó de carro para pegar o resto das malas.

Saiu deixando Clara com Miguel no apartamento.

Clara estava sentada no sofá exausta e triste quando reparou na porta aberta. Era seu chamariz, seu ato de liberdade e nova chance. Pensou em fugir. Mas para onde? Não lembrava sequer o endereço de seu pai, não sabia em que lugar de São Paulo estava, não tinha nenhum dinheiro no bolso para um carro de aluguel, não sabia o que fazer sem as ideias de Miguel e se recusava a conversar com ele, que permanecia ao seu lado preocupado e a observando.

Foi quando um homem alto, loiro, de bigode e chapéu na cabeça parou na porta e a olhou.

— Com licença, estão precisando de ajuda?

Clara estreitou seus olhos curiosa e se encaminhou para perto dele, Miguel foi ao seu lado, mesmo que ela estivesse chateada com ele, não deixaria de lhe apoiar caso algo acontecesse.

— Quem é você?! - sua voz saiu prepotente.

— Jornalista Serafim. - respondeu a garota. Estava a achando familiar, parecia que a conhecia de algum lugar.

— Quem se apresenta com a profissão antes do nome?

— E quem é você? Garotinha tão educada. - Serafim foi sarcástico.

— Clara Batista... - respondeu. - Clara Batista Petruchio. - resolveu acrescentar.

— Batista? - o cérebro de Serafim tentava trabalhar. - Batista Petruchio?

— Filha de Catarina Batista, a pessoa que alugou esse muquifo. O que quer aqui?

Serafim deu dois passos para trás diante de sua descoberta, Catarina tinha uma filha? Uma filha com Petruchio?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Segunda chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.