A primeira vez que ele fez aquele pedido, Tanaka era apenas um calouro do ensino médio e do time de vôlei do colégio Karasuno. Pensar naquele dia até causava um pouco de constrangimento, mas, quando Shimizu levava a mão à boca e sorria recordando-se do pedido desajeitado e precipitado de casamento, ele se rendia completamente e sorria de volta.

— É, eu era bem estranho naquela época.

— Era? — Ela sorriu novamente e Tanaka corou, passando a mão no pescoço, olhando para o lado. — Eu estou brincando.

Kiyoko quase podia ouvir o som do suspiro dele, quando relaxou mais na cadeira e sorriu de suas palavras.

Eles estavam em um restaurante, era noite, e combinaram de se encontrarem depois do expediente. Os dias da semana eram corridos, ambos trabalhavam em horários distintos, por isso aproveitavam ao máximo alguns horários mais flexíveis para saírem juntos.

— Você viu a nova atualização do Nishinoya? — Tanaka pegou o celular do bolso, mostrando para a namorada. — Ele comprou um barco. Cara, imagina só... quem diria que ele exploraria o mundo desse jeito?

Shimizu pegou o celular e olhou a fotografia, enquanto Tanaka comentava sobre a última conversa que eles tiveram com o colega. Fora no ano novo e fizeram uma ligação de vídeo para Nishinoya, do templo em que eles estavam. O colega estava, naquela época, viajando pela Europa.

— Ele parecia feliz, com saudades de casa, mas feliz de ver coisas novas. — Shimizu comentou, levando uma mecha de cabelo para trás da orelha. — Quem sabe um dia nós também podemos fazer uma viagem assim?

Tanaka sorriu para ela, estufando levemente o peito, sorridente.

— Seria tão legal. — Ele disse, fechando a mão em punho.

Sempre que Kiyoko fazia planos para o futuro, e o incluía, era como se ele estivesse ainda no jogo. O amor era algo que, no começo, assustava Tanaka. Ele era apaixonado por Shimizu, mas por um longo período do ensino médio achou que não teria chances com uma garota tão legal e bonita como ela.

Quando eles se aproximaram mais, logo que foram eliminados das nacionais, Tanaka se sentia mais confiante por Shimizu dar uma abertura para sua aproximação. Era como conhecer uma nova garota. Ele não mais olhava-a apenas por sua beleza e fofura, por assim dizer, daquele ponto em diante, Shimizu era uma pessoa que o conhecia também. Que o vira em seus piores momentos, e nos melhores. Talvez era isso que os interligava. Eles viveram alguns momentos de pura emoção juntos e seus sentimentos foram aflorando com o passar do tempo.

Começou com Tanaka convidando-a para pequenos encontros como irem ao cinema, assistirem aos jogos de vôlei, ou apenas caminhar até o templo em dias de festivais.

O namoro, que agora completava quatro anos, poderia ser classificado como um relacionamento estável. Mesmo assim, Tanaka sempre se surpreendia quando Shimizu fazia aqueles comentários, dizendo que eles iriam juntos para algum lugar, ou que eles poderiam comprar uma casa na montanha.

O coração de Ryunosuke acelerava e as palmas das mãos suavam sempre ao ouvir a voz gentil acompanhado de um olhar intenso. Essa era a sua Shimizu.

E era com esse sentimento, que sempre inflava seu peito e fazia o coração bater forte, que Tanaka criou coragem para retirar do bolso de sua jaqueta uma caixinha de veludo e a colocar em cima da mesa do restaurante.

Aquele era um lugar simples que vendia uma comida saborosa que sempre fazia os dois se recordarem dos jantares pós partidas da Karasuno.

Shimizu olhou para o namorado sem entender o que ele dizia. Tanaka ergueu o queixo e a olhou nos olhos, vendo seu rosto ansioso refletido nas lentes de seus óculos.

— Desde aquele pedido, eu me tornei um novo homem. — Ele falou, balançando a mão e depois esticando os braços para segurar as mãos dela. — Esperei muito tempo para fazer essa pergunta novamente. — Tanaka respirou fundo, olhando nos olhos de Shimizu. A sensação era parecida de quando o juiz apitava e ele possuía oito segundos para sacar a bola. Ele respirava fundo, e puxava dentro de si toda a força de vontade e sua energia para arremessar a bola. Só que, naquele momento, ele respirou fundo e depois abriu a boca, lançando palavras. — Case comigo, Kiyoko-san?

A reação de Shimizu ocorreu de forma lenta e gradual, ela moveu os lábios pequenos, apertando-os e depois olhou para as mãos deles onde os dedos estavam entrelaçados.

Shimizu se apaixonou por Tanaka quase que inesperadamente. Ela gostava de sua companhia, o achava divertido, e ele era atraente ao seu modo. Aceitou os convites porque se divertia em sua companhia, mas, quando percebeu, estava começando a fazer planos e o inserindo neles. Ela acordava e logo via as mensagens de Tanaka no celular, com alguma mensagem carinhosa desejando para ela um bom dia. Quando tinham folga, eles estavam juntos em algum lugar da cidade, foram juntos aos jogos da Karasuno.

Eles estavam sempre juntos, e o desejo de continuar ao seu lado apenas aumentava.

Os dois viviam bem naquele momento, eram jovens e possuíam muitos planos, chegaram até ali porque estavam apaixonados. E só havia uma resposta para aquela pergunta.

— É claro que sim, eu caso.

Quando ouviu a resposta, Tanaka soltou um grito de comemoração, como se ele tivesse feito um ace após um saque perfeito. Sua comemoração foi acompanhada de alguns olhares críticos, mas depois que os clientes do restaurante, e a proprietária, perceberam que se tratava de um pedido de casamento, eles bateram palmas dando suas congratulações.

O casal ganhou uma sobremesa como sinal de boa sorte.

Ao deixarem o restaurante, Tanaka levou Shimizu para caminhar um pouco, era o início da primavera e os jardins ainda estavam movimentados naquele horário, fazia uma temperatura mais alta, diferente do esperado, por isso as pessoas aproveitavam mais o tempo fora de casa.

Os dois caminhavam lado a lado e Kiyoko ergueu a mão para olhar a aliança no seu dedo. Era um anel delicado, e encaixava perfeitamente, fazendo-a pensar que Tanaka realmente a enxergava com muito cuidado para acertar o tamanho. Ele acabou contando depois que pegou um dos anéis dela escondido para o joalheiro ver o tamanho, apenas para se certificar de que não estava errado.

Eles pararam no parque, as luzes noturnas brilhavam a noite escura, iluminando as árvores florescidas.

Tanaka segurou a mão de Kiyoko e entrelaçou seus dedos, eles se olharam por um momento em silêncio, estudando a face de cada um. Ele era mais alto que ela, os cabelos ainda raspados e um olhar confiante que deixava Kyoko sentindo-se a única mulher no mundo. Ela, com sua expressão doce e séria, sorria e iluminava tudo ao redor.

Ryunosuke se achava um cara de sorte. Ele se aproximou mais e roçou os lábios nos de Shimizu que fechou os olhos, entregando-se ao beijo que era muito esperado por eles desde o momento em que o pedido foi realizado pela segunda vez.