O festival de chocolates de Charmingtown era enorme, com bombons, trufas, barras, gotas de chocolate, palitos de chocolate... Com chocolates de todos os tipos, ao leite, amargo, meio amargo, orgânico, com nozes, amendoim, creme de leite, morango, conhaque, menta, caramelo, marshmallow, conhaque...

Gil estava com os olhos brilhando e a boca cheia, tentando provar de tudo enquanto caminhava pelas barracas de doces, de mãos dadas com Jay.

— Você vai acabar tendo dor de barriga. – Jay comentou, lambendo os lábios, também carregando vários chocolatinhos de todo tipo.

O garoto apenas deu de ombros, parando pra comprar um chocolate que era derretido por dentro.

— Acha que o Harry vai ficar legal? Ele pareceu abalado com tudo que rolou hoje...

— Relaxa, ele é duro na queda. – Jay sorriu. — Que história é essa de que ele ficou dois dias preso no cais?

— Ah... – Gil deu de ombros. — Ele roubou o carro da Cruela.

— Ele o que? – Jay arregalou os olhos.

— Você não tava mais na Ilha? Ele roubou o carro dela e ia vender as peças no ferro velho, só que o carro é muito chamativo então ele não conseguiu andar nem três quadras sem chamar atenção de todo mundo. Como ficou com medo da Cruela descobrir, ele escondeu o carro num beco e fugiu. Mas, ela descobriu mesmo assim, fingiu por umas semanas que não sabia de nada, sempre bem simpática... E quando o Harry abaixou a guarda, Horácio e Gaspar o sequestraram nas docas e acorrentaram ele no cais. Demorou dois dias pro Capitão conseguir convencer a Cruela a soltar ele.

— Santa Fada Madrinha!

— Pois é. Uma sempre diz que ele devia ter se vingado dela. Sabe como é... Olho por olho por olho...

— Até todos acabarem cegos. – Jay completou. — Eu sei.

Mas, roubar a Cruela... Mesmo que não tivesse dado certo, era corajoso. Jay nunca conseguiu passar pelo closet dela para roubar um dos casacos de pele. Antes do closet tinha uma sala escura e cheia de armadilhas de urso. Roubar um casaco não valia perder uma perna.

— É estranho sair sem o Harry. – Gil comentou após uns instantes, mordendo uma trufa. — Parece incompleto.

— Verdade.

— Mas, eu senti sua falta.

Jay analisou a frase com cuidado antes de responder, com receio de estar entendendo errado.

— Você fica com ciúmes do Harry?

— O que? Não!

— Acha que eu tô dando mais atenção pra ele do que pra você? Porque olha, se você sente isso a gente pode...

— Não, Jay! Não foi isso que eu quis dizer. – Gil riu, lambendo o chocolate dos dedos. — Não tenho porque ter ciúme. Não tô competindo por um lugar na vida de vocês, estamos todos juntos e eu amo vocês dois.

— Isso mesmo. – sorriu, um pouco mais relaxado.

— Você tem trabalhado demais e eu sinto sua falta, só isso. – deu de ombros. — Eu sei que não ajuda eu sempre insistir pra você e o Harry saírem sozinhos, mas vocês são tão complicados... Quero confirmar que tá tudo bem.

— Eu e ele nos damos bem do nosso jeito, pode relaxar. - afirmou. — E, bom... Agora que a Úrsula tá presa, eu devo ter mais tempo para sair com vocês.

— É? – Gil olhou assustado, um sorriso ameaçando surgir no seu rosto.

— É. – Jay deu de ombros e deu risada vendo o sorriso se arrastar pelo rosto de Gil. Sorriu em resposta como se apenas naquele momento estivesse caindo a ficha de que realmente finalmente teria mais tempo. — É, é sim!

Gil riu o puxando para um beijo com gosto de chocolate.

Jay lambeu seus lábios e mordiscou de leve enquanto se afastava, sem deixar de sorrir para o namorado. Olhares contentes e ansiosos. Esperando pelos próximos dias.

— Ah, consegui um emprego!

— Como é que é? – Jay piscou, confuso.

— Com a Evie. – sorriu. — Ela me passou alguns dos pedidos porque tá cheia de encomendas. Vou organizar meus horários ainda, mas ela disse que me paga dois mil roses por vestido. E não vai ser um contrato muito longo porque ela sabe que a gente vai sair pra viajar. Eu achei que seria bom porque a gente vai precisar comprar comida, roupas e um monte de coisa pra viagem, né?

— Tem razão. – Jay sorriu. — Você deve ter mandado muito bem pra Evie te contratar, ela é super perfeccionista. Parabéns.

— Valeu. – Gil corou.

A feira se abriu um pátio e Jay e Gil sentaram lado a lado num banco, ainda sorrindo um para o outro e para o que o futuro os guardava. Gil sorriu escondendo uma pulseira de couro de Jay no bolso.

Era muito bonita e velhos hábitos custavam a sumir.

E também, havia percebido que seu colar de búfalo tinha sumido e tinha certeza de que estava num dos bolsos da jaqueta de Jay. Ah, o amor...

— Hum... Semana que vem é dia dos namorados. – Jay comentou, passando o braço em volta dos ombros de Gil. — Tem algum plano?

— Dia dos namorados? – arqueou a sobrancelha. Não tinham esse tipo de coisa na Ilha.

— Uma das cento e cinquenta comemorações de Auradon. – sorriu. — Uma semana depois vem o dia da família... Depois tem o dia do amigo... E depois vai ser a coroação da Mal.

— Dálmatas!

— Pois é. – Jay riu. — Não é nada demais. As pessoas saem com seus namorados, passeiam, trocam presentes... Ainda não sei o que vou dar pra você e pro Harry, mas vou pensar em algo que gostem.

— Dar presentes?

— É. É o que fazemos aqui em Auradon. Invés de roubar as coisas dos outros, damos mais coisas. Estranho, né? Mas, é bem legal.

Gil concordou, pensativo e deitou o rosto no ombro de Jay, voltando a dar atenção a todo chocolate que havia comprado.

Dar presentes... Havia ganhado uma espada do pai uma vez. E Harry havia ganhado o gancho e a jaqueta vermelha do Capitão. Mas, tirando isso, normalmente ganhavam lixo dos pais. Pedaços de unhas, um ferro enferrujado, copos quebrados... Na maioria das vezes, seus pais pareciam sempre ansiosos para darem lixo aos filhos.

Duvidava que fosse esse o tipo de presente que as pessoas se davam em Auradon.