When I First Saw You escrita por Siaht


Capítulo 1
U: I close my eyes and the flashback starts


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!!
Tudo bem com vocês?
Eu nem acredito que agosto finalmente chegou e com ele a segunda edição do Pride Month, parece que foi ontem que a primeira edição estava acontecendo. Só posso dizer que estou muito feliz em retornar para esse projeto maravilhoso, ainda mais tendo a honra de participar de sua abertura, e muito orgulhosa de ver como ele cresceu nesse último ano. Um mérito de suas criadoras incríveis, atenciosas, talentosas e que organizaram tudo com muito empenho e carinho. Sério, vocês são fantásticas. Obrigada por criarem esse projeto e por se dedicarem tanto a ele. Aproveito para agradecer também à Foster pela capa linda. Amiga, ficou tão perfeita que não sei nem o que dizer. Obrigada mesmo! ♥
Sobre a história: bom, esse é um ship bem inusitado (bem-vindos ao mundinho fanfics da Siaht haha), mas ouvindo Love Story, durante o relançamento do Fearless, tive essa ideia e simplesmente precisava escrever. Espero que não tenha ficado muito estranho haha Além disso, é preciso ressaltar que essa fanfic toma muita liberdades criativas (ou melhor, liberdades fanfiqueiras) em relação aos Fundadores de Hogwarts. Eu tentei seguir alguns eventos principais e mantê-los aqui, mas na maior parte do tempo escrevi o que achei que fizesse mais sentido para essa trama e o que me deu vontade também, rs. Espero que tenha feito alguma sentido. Preciso destacar também que, embora essa história fale sobre almas gêmeas, ela não segue muito o plot de "soulmates au". É um pouco diferente e mais sutil.
Enfim, dito tudo isso, espero realmente que gostem! ♥
FELIZ PRIDE MONTH! ♥



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When I First Saw You

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“We were both young when I first saw you

I close my eyes and the flashback starts”

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Escócia, Século X

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Era uma noite escura e tempestuosa, quando Rowena Ravenclaw viu Helga Hufflepuff pela primeira vez. Passava da meia-noite e os aposentos clandestinos do Barão de Muirhead se mantinham iluminados pelas chamas mais frágeis. Nenhum deles queria correr riscos. Pelo menos, não mais do que já estavam correndo. A reunião era pequena e secreta, mas, se descoberta, seria o suficiente para condenar todos à fogueira. Apesar da escuridão e do medo, Rowena não conseguiu deixar de notar a garota ruiva parada na extremidade oposta do cômodo. As duas eram as únicas mulheres na reunião, o que as rendia olhares que oscilavam entre espanto, ultraje e leve admiração. 

Ravenclaw tentou evitar que o incômodo ficasse nítido em seu rosto. Uma tarefa difícil, quando se tratava de lidar com homens tolos. Por que ela não deveria comparecer a uma conferência que buscava formas de proteger pessoas mágicas? Ela era uma bruxa, pelo amor de Morgana! Que outra prioridade poderia ter, enquanto sangue bruxo era derramado cada vez mais rápido pela Grã-Bretanha? Além disso, observação e análise já haviam provado que mulheres eram muito mais suscetíveis a serem acusadas de bruxaria e padecerem por isso. Mesmo aquelas sem uma única gota de magia em seus corpos, poderiam acabar perseguidas e mortas. Aquele era um mundo difícil para mulheres. Bruxas ou não. 

Sendo assim, Rowena não entendia o espanto. Tirando o fato, é claro, de que não havia sido convidada. Duvidava também que a outra garota houvesse recebido um convite formal. Homens tinham formas bastante peculiares e irritantes de controlarem a narrativa e se fecharem em seus grupos secretos. Rowena, no entanto, tinha formas bastante engenhosas e criativas de conseguir as informações que desejava. Então, após ficar sabendo o que aconteceria naquela noite, ela simplesmente aparecera na propriedade do Barão, usando sua determinação como escudo. Mantendo o queixo erguido, o olhar cortante e uma postura que desafiava qualquer um dos seus companheiros mágicos a tentarem impedir sua presença, enquanto deixava claro que essa não seria uma boa ideia. Tomou conta da sala, como se o fato de estar ali fosse natural e inquestionável. E assim se tornara. A jovem definitivamente não esperava encontrar outra mulher naquele círculo social, porém, a surpresa lhe fora imensamente agradável. 

Ao contrário de Rowena, que sentia prazer em impor suas opiniões, a outra moça não dissera nada durante todo o encontro, permanecendo quieta em seu canto da sala. A pouca iluminação não tornava possível definir sua idade, embora fizesse maravilhas pelos cabelos dela, os transformando em labaredas de fogo. De qualquer forma, ela não parecia intimidada ou desconfortável. Havia uma confiança pacífica em sua postura, como se nem precisasse fingir que pertencia àquele contexto. Como se não sentisse necessidade de provar nada a nenhum daqueles homens. E, ainda assim, conseguia fazer isso de uma forma graciosa. Ela não ameaçava, mas também não se sentia ameaçada. Era um tanto hipnotizante. Rowena não conseguia parar de encará-la. Em algum momento, a moça também voltou os olhos para Ravenclaw. Durou apenas um instante, mas foi o suficiente para que um sorriso surgisse nos lábios de ambas. Um sorriso cheio de reconhecimento.

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Foram necessárias mais algumas reuniões secretas – todas igualmente inúteis para o objetivo proposto – e uma infinidade de olhares compartilhados, para que Rowena finalmente reunisse coragem para conversar com a menina desconhecida. A garota não sabia exatamente o que vinha temendo, mas algumas coisas eram mistérios até para nós mesmos, ela supunha. Ainda assim, ao fim de um dos encontros, ela marchou determinadamente até a outra mulher e se apresentou. 

— Olá, acho que ainda não fomos apresentados. Sou Rowena Ravenclaw. — ela não compreendia por que lhe parecia tão importante que a outra moça soubesse seu nome. Que a notasse de verdade. Mas era. 

A menina – e a proximidade tornava possível perceber quão jovem ela realmente era – sorriu. 

— Helga Hufflepuff. É um prazer conhecê-la. — Helga fez uma mesura elegante. Ela tinha um forte sotaque galês que agradou Ravenclaw de uma forma peculiar.

Rowena lhe estendeu a mão. Como os homens faziam. O gesto fez Helga sorrir um pouco mais. E então estender a mão. Quando seus dedos se tocaram, Rowena foi atingida por uma energia estranha. Como se um raio houvesse caído em sua palma e as chamas crepitassem por seus membros. Era diferente, porém não de uma forma ruim. Definitivamente não de uma forma ruim. 

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As duas garotas combinaram de se encontrar no dia seguinte, em uma clareira distante e secreta, localizada no bosque próximo a casa de Helga. Uma clareira que só alguém com magia conseguiria encontrar. Rowena sabia que sua mãe enlouqueceria se descobrisse seus planos. Na verdade, a mãe dela enlouqueceria se sequer imaginasse o que a filha vinha aprontando. Catherine Ravenclaw não desejava nada além de uma vida normal e segura. O que significava reprimir sua magia e fingir que jamais ouvira a palavra "bruxa". A filha entendia seus temores, seria estúpida se não os compreendesse e Rowena Ravenclaw jamais poderia ter um adjetivo como “estúpida” associado ao seu nome. Entretanto, ao contrário da matriarca, não se deixava paralisar por esses temores. A jovem queria mais do que se casar com um bom partido, aprovado por sua família, e passar o resto de seus dias ocultando sua mágica.

Além disso, ela sentia que podia fazer mais. Então, estudava os grimórios deixados pela avó, praticava magia à portas trancadas e frequentava reuniões revolucionárias e secretas. Até encomendara uma varinha do jovem Brandon Olivaras, em uma viagem à Inglaterra. Ela precisava agir com cautela, é claro, mas isso não a impediria de agir. Rowena não havia nascido para ser um pássaro enjaulado em uma gaiola. Mais do que isso: se recusava a ser um pássaro enjaulado em uma gaiola.

Helga já a esperava, quando chegou. A menina estava sentada na grama, usando um vestido simples e amarelo, cercada por borboletas coloridas. Parecia saída de um sonho.  À luz do dia era mais fácil ter uma visão clara da moça. Ela tinha um rosto arredondado, grandes olhos castanhos e sardas delicadas no nariz. Seus cabelos tinham um tom de ruivo mais vivo do que o que a luz das velas permitiam vislumbrar, alguns cachos se soltavam das tranças, fazendo Rowena sentir vontade de tocá-los.

— Senhorita Ravenclaw, você veio! — ela exclamou empolgada, assim que avisou a outra garota. 

— Apenas Rowena, por favor. 

— Então você deve me chamar de Helga. Rowena

Rowena gostara de como seu nome soava nos lábios de Helga. De como o sotaque galês da moça fazia as sílabas soarem como música. O pensamento a fez enrubescer.

— Você não achou que eu vinha? 

— Não sei, talvez achasse que é perigoso. 

— Mais perigoso do que me esgueirar no meio da noite, para reuniões secretas, sobre temas proibidos e cheias de homens estúpidos? 

Helga riu. 

— Talvez um pouco menos perigoso. E sim, a maioria deles é terrível, não é? 

Rowena poderia tê-la envolvido em um abraço. 

— Por Morgana, eles são uns pesadelos! Tão cheios de si e de planos falíveis. E nunca escutam. Por que eles não podem simplesmente escutar?  Um bando de pavões afeiçoados demais aos sons de suas próprias vozes e a suas ideias estapafúrdias, que nunca levam a ação concreta.

As duas jovens iniciaram assim um diálogo empolgado sobre os martírios que a população bruxa masculina as impunha todos os dias. Ou melhor, todas as noites. Embora ambas concordassem que Sir Gryffindor e Lorde Slytherin não fossem tão ruins quanto os outros. Rowena descobriu rapidamente que Helga tinha um coração gentil e a tendência a encontrar pontos positivos até nas criaturas mais execráveis. Um fato que não a incomodou. Pelo contrário, ela achava que aquela doçura fazia um contraste interessante com sua malícia azeda. 

Ravenclaw também descobriu rapidamente que Helga e seu irmão mais velho, Isaac, se mudaram de Gales para a Escócia, após seus pais serem assassinados. Perseguidos por sua magia, o senhor e a senhora Hufflepuff deram a vida para que os filhos pudessem fugir. Fora o irmão dela quem recebera o convite para as reuniões do Barão de Muirhead. Isaac, contudo, não tinha qualquer interesse naquele tipo de evento. Assim como a mãe de Rowena, o rapaz não queria nada além de negar suas raízes mágicas. Abdicaria da própria magia se fosse possível. A caçula não concordava e, dotada de um espírito rebelde que surpreendeu até a si mesma, Helga começara a frequentar os encontros no lugar dele.

Rowena acabou falando sobre sua própria família também. Sobre como seu pai não fazia ideia de que a esposa e a filha eram bruxas. Sobre como sua mãe também escondia a própria magia e esperava que ela fizesse o mesmo. Sobre como viver daquela forma era sufocante e enlouquecedor. E isso foi o bastante para que as duas meninas se tornassem melhores amigas. Havia algo forte em se reconhecer em outra pessoa. Era como encontrar um barco no oceano, após passar semanas à deriva.

Sendo assim, as jovens passaram a se encontrar diariamente. Passavam as tardes naquela clareira, cercadas pela natureza e pela magia ancestral. Conversavam sobre tudo e mais um pouco, compartilhavam os grimórios de suas famílias e ensinavam novas formas de magia uma à outra. Helga era melhor com poções, especialmente as de cura, e feitiços de proteção. Rowena era impecável em feitiços de ataque e bastante criativa na transfiguração. Além disso, Ravenclaw possuía um espírito sedento por conhecimento, o que a levava a estudar várias áreas sobre as quais poderia passar horas falando apaixonadamente. 

A maioria das pessoas não tinha paciência para ouvi-la e sua mãe sempre dissera que não era apropriado que uma mulher soubesse tanto, pois afastava maridos. Helga, no entanto, parecia nunca se cansar de ouvi-la. Rowena nunca se cansava de tê-la por perto. Às vezes Hufflepuff tecia coroas de margaridas, enquanto conversavam. Depois, como princesas em um conto de fadas, elas as usariam e dançariam juntas pela clareira, rindo o tempo todo. E o mundo inteiro seria mágica e encantamento. E ninguém existira além das duas. 

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Durante as noites, as senhoritas Ravenclaw e Hufflepuff continuavam a frequentar as reuniões do Barão de Muirhead. A amizade compartilhada as tornava mais ousadas. Rowena era cada vez mais incisiva em suas opiniões, Helga começara a compartilhar as delas. Ambas sempre se apoiavam. Elas eram uma dupla formidável. Fora aquilo que acabara atraindo a atenção de Godric Gryffindor e Salazar Slytherin. As garotas não estavam erradas quando mencionaram que eles não eram tão ruins quanto os outros. Os dois rapazes eram jovens e possuíam uma vontade intensa de mudar o mundo. Eles gostavam da forma como elas pensavam. Elas gostavam da forma como eles pensavam. Logo todos se tornaram melhores amigos. 

Os quatro eram um grupo de sonhadores. Juventude faminta e esperançosa, olhando para as estrelas e imaginando um mundo melhor para aqueles com magia. Um mundo onde não precisassem se esconder, sentir medo ou perder as pessoas que amavam. O Barão de Muirhead e seus companheiros foram rapidamente abandonados. Aqueles burocratas jamais iriam agir ou fazer algo além de discutir e reclamar. Mas aqueles quatro fariam coisas. Coisas grandiosas e importantes.

Godric era destemido e ousado. Salazar era astuto e ambicioso. Rowena era inteligente e criativa. Helga era leal e gentil, a pessoa calma e ponderada que conseguia aparar as arestas e apagar os incêndios, causados pelo atrito das personalidades flamejantes dos outros três. Helga era o elo entre eles, a cola que os mantinha unidos. E pela primeira vez na vida, Rowena não se sentia sozinha. Ela já havia conhecido outros bruxos antes, é claro, porém, nunca havia se sentido daquela forma. Como se fizesse parte de algo maior e significativo, como se não houvesse nada de errado com ela, como se houvesse encontrado um lar, como se pertencesse.

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Foi apenas uma questão de tempo para que os quatro começassem a agir. Eles organizavam missões frequentemente para salvar bruxos ou pessoas acusadas de bruxaria, dividiam conhecimentos, ajudavam uns aos outros a se tornarem mais habilidosos e fortes. Todo o êxito alcançado fez com que o vilarejo em que viviam se tornasse pequeno demais. E logo os quatro resolveram fazer as malas e expandir seus feitos.

Não fora fácil para nenhum deles tomar aquela decisão, afinal ela implicava abandonar suas vidas e famílias, porém, fora pior para Rowena e Helga. Aquilo seria um escândalo. Mesmo que não revelasse suas naturezas mágicas – e elas esperavam que fosse o caso, pois não queriam arriscar seus entes queridos –, ainda era um ato bastante condenável para mulheres. Elas estavam fugindo com dois homens, um fato que arruinaria suas reputações para sempre. As duas concordavam, no entanto, que havia coisas mais importantes do que reputações. Especialmente em um momento como aquele. Então, eles partiram. E se tornaram grandes. E se tornaram lendas

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Foi o melhor dos tempos. Foi o pior dos tempos. Às vezes, Rowena se sentia esgotada e sem fé. Independente do que eles fizessem, havia sempre mais a ser feito. O mundo não era um lugar seguro para bruxos e a brutalidade se intensificava diariamente. Não havia como salvar a todos. E nem mesmo ela se sentia esperta ou engenhosa o suficiente para vislumbrar uma solução duradoura para aquele problema. Ainda assim, cada vida salva fazia o coração da moça bater mais forte. A aventura constante fazia o entusiasmo explodir dentro dela. A companhia dos amigos – aquele bando de justiceiros idealistas com quem ela viajava pela Bretanha, cantava canções e dividia canecas de hidromel – tornava seus dias melhores e ensolarados. E suas noites brilhavam, quando ela e Helga se deitavam juntas, dividindo uma cama em uma hospedaria, na casa de alguma família bruxa que lhes oferecesse abrigo, ou simplesmente um lugar perto ao fogo em um acampamento improvisado. 

As duas sempre dormiam juntas. Era mais seguro e uma forma de poupar recursos. Era algo que, embora nunca fosse admitir em voz alta, Rowena amava. Ela amava ajudar Helga a pentear sua cascata de cachos ruivos. Amava sentir os dedos da amiga trançando seus cabelos escuros. Amava as longas conversas e os segredos sussurrados antes que ambas adormecessem. Amava quando entrelaçavam as mãos embaixo das cobertas. Amava sentir o calor que o corpo de Helga emanava. Amava quando se esbarravam durante a noite, se tocando acidentalmente, pele contra pele. Amava, acima de tudo, que a primeira coisa que via todas as manhãs era o rosto sardento e sorridente de Helga Hufflepuff.

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O Visconde e a Viscondessa de Stockwood, de uma pequena província na Irlanda, amavam festas. Então, quando o casal de bruxos descobriu que os grandes heróis de seu povo estavam de passagem por seu povoado, não perderam a chance de lhes oferecer abrigo e montar um baile em sua homenagem. Não seria uma festa grandiosa, é claro, já que a discrição precisava ser mantida. Mas, mesmo um baile para a pequena comunidade mágica local, ainda era um baile. Fazia três anos que o quarteto estava na estrada e eles estavam começando a se tornar célebres. Heróis.

Não fora até ver o salão iluminado e ouvir a música dos bardos que Rowena Ravenclaw se dera conta de que sentia falta daquela parte de sua vida. Não uma saudade esmagadora, mas uma estranha nostalgia. Rowena havia se esquecido de como adorava usar vestidos bonitos e dançar em festas. De como adorava o som de canções elegantes, o peso das joias e o gosto de vinho refinado. Ela não trocaria sua vida atual pela que levava antes, porém, estaria mentindo se negasse a parte dela que sentia falta de delicadeza e requinte.

Rowena resplandecera naquela noite. Deslumbrante em um vestido azul que combinava com seus olhos. Ela dançara com todos os homens do salão e encantara cada um deles. Fora divertido por um tempo, até que a ausência de Helga se fizera notar. Tudo sempre parecia um tanto cinzento sem Helga. Rowena procurou a amiga por longos minutos, até encontrá-la no belo jardim do castelo, próxima a um canteiro de tulipas.

— Você desapareceu. — Rowena disse, enquanto se aproximava. 

Helga sorriu um tanto melancólica. Ela trajava um vestido branco com detalhes em prata. A luz da lua a fazia brilhar como uma das estrelas daquele céu iluminado. A mais bela das estrelas daquele céu iluminado.  

— Precisava de um pouco de ar. Nunca fui boa com festas. — ela disse timidamente. 

— Eu costumava ser. — Ravenclaw comentou, enquanto se sentava ao lado dela. 

— Você sente falta? 

— Um pouco. Mas há coisas mais importantes. O que fazemos é mais importante. 

Helga assentiu e então ficou em silêncio por um longo tempo, seus olhos presos às tulipas vermelhas. 

— Em que você está pensando? — Rowena questionou, pois não aguentava o silêncio. Não com Helga. Nunca com Helga. 

— O que você sabe sobre almas gêmeas, Rowena?

— Não muito. Apenas a definição platônica. 

— Me fale sobre ela. — a garota pediu suavemente.

— Bom, Platão escreveu sobre seres humanos que tinham corpos diferentes dos que temos hoje: quatro pernas, quatro braços, duas cabeças. Isso os tornava mais poderosos e mais fortes. E provavelmente mais ambiciosos também, pois decidiram atacar os deuses. Em retaliação, os deuses resolveram dividir os humanos ao meio, minando seu poder e ameaça. E agora nós, seres humanos, estamos condenados a vagar pelo mundo, procurando nossa metade perdida. Nossas almas gêmeas. 

Helga sorriu um pouco. 

— É uma boa história, mas, com todo respeito a Platão, acho que prefiro a minha versão. 

Rowena arqueou uma sobrancelha. 

— A sua versão? — indagou divertida. 

— Bom, a versão da minha avó, na verdade. 

—  Me fale sobre ela. 

— A minha avó costumava dizer que toda magia do mundo vem das estrelas. E que o amor é apenas uma forma diferente de magia. Os astros, que tudo sabem e tudo enxergam, nos ajudam a escrever nossa história, apontam caminhos, unem destinos. Para ela, almas gêmeas eram almas que o cósmico entendeu que deveriam ser encontrar e se emparelhar. Não como criaturas incompletas e com metades faltosas. Mas entidades completas que juntas seriam maiores e mais fortes. Como uma constelação. Estrelas inteiras e cheias de luz própria, mas que quando brilhavam em conjunto, brilhavam mais forte. 

Helga disse cada palavra sem conseguir desviar os olhos de Rowena. Rowena escutou cada palavra sem conseguir desviar os olhos de Helga. O coração das duas batendo rápido, em uma mesma melodia. 

— Por que você está me dizendo isso? —  Rowena sussurrou. Elas estavam tão próximas que conseguiam sentir a respiração uma da outra.

— Porque eu acho que brilho mais forte, quando brilho com você. —  Helga sussurrou de volta. 

Rowena não sabia como responder aquilo. Pela primeira vez na vida, Rowena Ravenclaw se vira sem palavras e sem respostas. No entanto, em seu âmago, ela sabia que compartilhava o mesmo sentimento. Que, há muito tempo, era parte da mesma constelação que Helga. Então, ela apenas se aproximou um pouco mais da amiga e deixou que seus lábios tocassem os lábios dela com sutileza. A outra jovem paralisou por um segundo, antes de correspondeu ao toque. Em uma noite festiva, em meio a um jardim de tulipas vermelhas e usando seus melhores vestidos, Rowena Ravenclaw e Helga Hufflepuff se beijaram pela primeira vez. E as únicas testemunhas daquele encontro de almas foram as estrelas que escreveram seus destinos. 

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Helga sempre sonhara com um lar. Um lugar seguro que pudesse abrigar criaturas mágicas, protegê-las e permitir que vivessem livres e sem medo. Ela passara a infância como uma nômade, se mudando constantemente com uma família que nunca estava suficientemente segura. Estava passando sua juventude de forma semelhante. Dessa vez se movendo em direção ao perigo, para salvar outras pessoas como ela. Era uma missão nobre e, ainda assim, ela queria mais.

Rowena sabia de tudo isso. Em partes, porque Helga havia lhe contado. Em partes, porque ela conhecia a outra mulher como conhecia a si mesma. Além disso, Ravenclaw também queria mais. Queria mais tempo para ler e estudar. Queria compartilhar com outros bruxos seus conhecimentos de magia e aprender com eles. Queria um porto seguro. Dos desejos compartilhados por ambas, surgiu o sonho que um dia se tornaria Hogwarts.

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—  Eu acho que vocês estão sendo absurdos e que essa conversa sequer faz sentido. — Helga apontou, um tanto indignada. 

Ela, Rowena, Godric e Salazar estavam reunidos em uma mesa de jantar, discutindo planos para seus futuros alunos. Godric tinha interesse apenas em jovens ilustres e que pudessem alcançar grandes feitos. Os ousados e corajosos. Salazar achava que apenas aqueles de ascendência pura eram dignos da escola que estavam criando. Já Rowena queria ensinar aos mais inteligentes. Aqueles dotados de grande sabedoria e criatividade. Helga, por sua vez, estava incomodada com os rumos da conversa. Ela tentava manter a dignidade, isso estava claro, mas Rowena a conhecia profundamente. 

— É claro que faz sentido. Não podemos aceitar qualquer um em Hogwarts, Helga. — Salazar apontou como se fosse óbvio. Para ele, era.

Rowena viu quando Hufflepuff reprimiu um revirar de olhos. O que, em consequência, a fez reprimir uma risada. Helga dificilmente se irritava com qualquer um deles, mas Salazar era sempre quem chegava mais próximo de consumir sua paciência. Como eram diferentes aqueles dois!  

—  Pois eu acho que deveríamos ensinar a todos que vierem até nós. — a amiga respondeu de forma incisiva e apaixonada.

Rowena não conseguiu mais reprimir o sorriso. Não concordava com o posicionamento, mas sempre amava quando Helga mostrava suas garras. As pessoas tendiam a subestimá-la, a confundir sua gentileza com fraqueza. Era sempre um erro. Ela era tão poderosa e idealista quanto qualquer um dos outros três. Não causaria mal de forma desmedida. Jamais abusaria de sua  força e poder. Mas também não ficaria impassível diante ao que considerava errado. Não seria ferida ou deixaria que ferissem aqueles com quem se importava, sem atacar. Não mais. Helga era como fogo. Na maior parte do tempo, escolhia aquecer, porém, se necessário, poderia incinerar com a intensidade de mil sóis.

— Helga, por favor, seja razoável. Queremos que Hogwarts seja importante e forme pessoas importantes. —  Godric tentou persuadi-la com o pior argumento possível.  

Hufflepuff apenas apertou a taça em suas mãos com mais força do que o necessário. Seus olhos faiscando.  

—  Façam como desejarem, embora deva deixar registrado que estão todos errados. Mas já que estamos estabelecendo critérios, vou definir os meus: ensinarei a todos e os tratarei como iguais. Qualquer um que vier até mim e desejar trabalhar duro e aprender, será meu aluno. — a voz dela não deixava espaço para discussões.

E por Morgana, Rowena realmente amava aquela mulher! 

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Os anos que se seguiram foram gloriosos. Hogwarts era um sonho que se tornara realidade. E mesmo que precisassem esconder seu relacionamento, Rowena e Helga nunca haviam sido mais felizes. O tempo, contudo, estava passando e nenhuma das duas ficava mais jovem. Era complicado ser uma mulher. A juventude queimava rápido. Se qualquer uma delas esperava ter uma família ou filhos, não poderiam esperar muito mais. E o fato era que Rowena havia percebido que desejava filhos. Ou melhor, que desejava um herdeiro. Alguém para manter vivo o seu legado. O seu nome. Ela era ambiciosa e sonhava com a glória eterna. Não suportaria que tudo o que havia construído se esvaísse nas areais do tempo. Só havia uma forma de garantir a continuidade de sua linhagem. De construir sua dinastia. De se tornar imortal.

Ravenclaw era uma mulher bonita, importante  e rica. Propostas de casamento nunca lhe faltaram. Até então, ela recusara todas. A oferta de Sir Doyle, contudo, ecoara por dias em sua cabeça. Ela não tinha qualquer sentimento pelo homem, mas ele era gentil, inteligente, devotado e a deixaria manter seu sobrenome e passá-lo para qualquer filho que viessem a ter. Era um acordo bom o suficiente para Rowena. O homem seria apenas um fim para um meio, afinal. Alguém que ocasionalmente teria seu corpo, mas jamais o seu coração. O único problema era Helga. Helga e suas morais inabaláveis. Helga e suas ideias firmes sobre lealdade e fidelidade. 

—  Você vai aceitar o pedido de casamento de Sir Doyle. —  Helga disse, em uma tarde nublada de primavera. Não deveria estar tão nublado naquela época do ano. E não era uma pergunta. 

As duas estavam nas estufas de Hogwarts. Um dos lugares favoritos de Hufflepuff que tinha forte aptidão para Herbologia. Ela usava um vestido amarelo e simples, agora sujo de terra, pelo trabalho com as plantas. Alguns cachos ruivos escapavam de suas tranças. A imagem transportou Rowena para uma pequena clareira, muitos anos antes. Uma época mais simples e inocente. Ela suspirou. 

— Eu não sei, Helga. 

— Você sabe, Rowena. —  não havia acusação ou raiva na voz dela. Apenas gentileza. —  Você sempre sabe. 

— É tão errado desejar que minha linhagem continue? Que meu nome sobreviva? É tão errado sonhar com um legado? 

—  Eu nunca disse que era errado. 

— Você tem seu irmão e seus sobrinhos, Helga. Mesmo que não tenha filhos, o nome Hufflepuff irá continuar e prosperar. Os Ravenclaw só têm a mim!

—  Eu entendo.

—  Entende? 

—  Entendo. Está tudo bem. 

Rowena sentiu uma onde de alívio dominá-la, enquanto corria para abraçar Helga. 

—  Nada precisa mudar entre nós. Eu não o amo e nunca amarei. Você é a única que eu amo. Me casarei com ele, mas tudo entre nós pode continuar o mesmo. Eu juro que nada vai mudar. Juro.

O olhar de Helga era triste, quando ela tirou as luvas sujas de terra e colocou uma das mãos no rosto de Rowena. 

— Não, não pode. Não se você se casar. 

—  Helga, é um casamento por conveniência!

—  Eu sei, mas ainda será um casamento. Um voto sagrado. Uma relação que prevê respeito e fidelidade. 

—  Você está sendo ingênua! Casamentos são contratos. Negócios. Ele quer se casar comigo para unir nossas fortunas e influências. Pelo poder que isso lhe trará. Eu quero herdeiros. É puramente burocrático. 

—  Talvez. Mas eu não quero ser a pessoa responsável por uma traição. Lealdade é algo importante para mim. 

—  Helga, pelo amor de Morgana! 

— Rowena, não! Eu entendo suas ambições e sonhos. Entendo sua necessidade de continuidade. Mesmo que não concorde ou compartilhe dela. Jamais te impediria de conquistar o que deseja. Me entenda também, não me peça para sacrificar meus valores.   

—  Então, é isso: se eu me casar, perco você?

Helga sorriu fracamente. 

—  Você nunca me perderia. Mas eu estaria em sua vida como uma amiga e nada mais. 

—  Não é suficiente.

A verdade, contudo, era que nada nunca seria suficiente. Ao menos, nada do que poderiam ter. Naquela vida, as duas estavam destinadas a ser um eterno segredo. Condenadas a encontros clandestinos, toques no escuro, juras de amor sussurradas. As duas sempre seriam trocas de olhares silenciosos em salões cheios e barulhentos. Elas eram Rowena Ravenclaw e Helga Hufflepuff, as bruxas mais poderosas de sua época, e, ainda assim,  jamais poderiam estar verdadeiramente juntas. Jamais poderiam ter o que mais desejavam. Não naquele mundo. Não naquela vida.

Haviam salvado inúmeros bruxos. Haviam construído um lar para que nenhum deles precisasse voltar a ser perseguido e a viver com medo. Porém, mesmo naquele sonho que era Hogwarts, não havia lugar para mulheres como elas. Todos os dias, as duas se arriscavam, sabendo que se alguém as descobrisse suas reputações seriam destruídas, suas vidas arruinadas. Não era suficiente. Nunca seria suficiente. E também não era justo, porém, as coisas eram como eram. Não havia como mudar aquele cenário. Estava claro agora que todos os sacrifícios que fizessem seria em nome de um segredo. Um segredo e nada mais. Então, Rowena tomou sua decisão. Partiu seu coração em pedaços tão pequenos que ela soube que ele nunca mais estaria inteiro, mas ela tomou sua decisão. 

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Helga Hufflepuff não conseguia se lembrar de um único instante em que não tivesse amado Rowena Ravenclaw. Ela supunha que havia existido algum. Só havia conhecido a amada aos 15 anos, afinal. Ainda assim, no auge da sua quinta década de existência, aquilo parecia muito distante. Além disso, a mulher se lembrava de ter passado o florescer de sua vida sentindo falta de algo que nunca soube nomear. Um vazio que só se preencheu quando encontrou Rowena. 

Ela ainda se lembrava da primeira vez que as duas haviam se visto. Dos aposentos escuros do Barão de Muirhead, de como eram as únicas mulheres naquela reunião, da postura firme e determinada de Rowena e de como ela se recusava a se deixar silenciar. Helga achava que podia ter se apaixonado naquele momento. Naquele primeiro momento. Embora houvesse levado algum tempo para compreender aqueles sentimentos. O que Helga sabia era que vinha amando a Ravenclaw desde então. Mesmo que os últimos vinte anos a houvesse condenado a viver privada das carícias e dos beijos dela. Mesmo que aquilo fizesse seu coração se partir diariamente. Mesmo que às vezes ela desejasse odiá-la. Helga Hufflepuff amava Rowena Ravenclaw e sempre amaria. 

Era nisso o que ela se concentrava, enquanto segurava a mão de sua amada e a assistia morrer. Não devia ser tão cedo. E não devia ser assim. Não com Helena tão longe, em uma fuga descabida, após a mais dolorosa das traições. Rowena havia tido a filha que tanto desejara. A herdeira perfeita para seu legado perfeito. Mas a relação entre as duas nunca fora fácil. E apenas se complicara nos últimos meses. Era provável que Rowena morresse sem jamais se reconciliar com a filha e aquela ideia partia o coração de Helga. Helena não era dela, mas era impossível para a mulher não amar aquela vida linda e mágica que Rowena colocara no mundo. Era impossível para ela não se sensibilizar diante da tragédia de uma mãe.

Hufflepuff nunca havia se casado. Uma decisão ousada para uma mulher de seu tempo. Uma decisão que inspirava tanto olhares de pena quanto comentários maldosos. Ela não se importava. Não lhe fazia sentido prometer amor e lealdade a um homem qualquer, quando seu coração pertenceria eternamente a uma única pessoa. Uma pessoa que não poderia ser dela. Não naquela vida. E, ao contrário de Ravenclaw, ela não se preocupava com legados. Seus alunos eram seu legado. Desde que eles continuassem prosperando e passando em frente que aprenderam, ela ficaria satisfeita. Para Helga seria suficiente. 

O marido de Rowena havia morrido alguns anos antes, mas nenhuma das duas tivera coragem de tentar reatar a relação. Não do ponto de vista romântico. Parecia errado após tanto tempo. Seria como abrir uma ferida cicatrizada, apenas para reviver a dor. Helga suspirou, desejando que elas pudessem existir em um mundo diferente. Um mundo em que mulheres que amassem mulheres não estivessem irremediavelmente condenadas.

Por um minuto, ela pensou em todas as bruxas que ajudara a resgatar de fogueiras. E se perguntou se não poderia ter feito mais por aquelas que amavam como ela. Mas como poderia ajudar, se aquele era um assunto proibido de todas as formas? Se havia algo em que bruxos e trouxas concordavam, era que amor romântico não deveria acontecer entre pessoas do mesmo gênero. A mais breve menção ao tema poderia resultar em violência física ou na ruína de sua reputação e, consequentemente, na destruição da escola que lutara tanto para construir. 

Não era justo, Helga pensou, que ela tivesse que passar sua vida inteira fugindo de fogueiras. E não era justo que Rowena estivesse morrendo. Salazar havia partido há muitos anos, abandonando os amigos, após os conflitos entre eles se tornarem irremediáveis. Godric ainda estava por perto, contudo, não era o tipo de homem que fazia vigílias em leitos de morte. Ele estava acostumado a soldados padecendo em batalha. Todo o resto lhe parecia estranho e errado. Então, havia apenas Helga e Rowena. Como no começo. 

— Você não precisa ficar aqui. — Rowena abriu seus intensos olhos azuis e sorriu fracamente. 

Helga segurou as mãos dela com mais força. 

— É claro que preciso. Não vou te deixar sozinha. 

— Você nunca deixou. Eu… — um suspiro cansado — Eu cometi tantos erros, Helga. 

— Isso não importa agora, Rowena. 

 — Então, por que parece que é tudo o que importa? 

— Porque você está vendo a situação pela pior perspectiva possível. Como sempre. 

Rowena riu fracamente. 

— Estou falando sério. — Helga continuou de forma firme, mas gentil — Você fez muitas coisas boas. Ajudou muitas pessoas, salvou incontáveis vidas, formou bruxos e bruxas brilhantes, mudou o mundo mágico para sempre. Criou comigo uma constelação. 

As duas sorriram uma para a outra. 

— Ah, Helga, obrigada pela nossa constelação. Eu queria que pudéssemos ter brilhado por mais tempo. 

— Nós podemos. Não, nós ainda vamos. 

— Eu não acho que tenho muito mais tempo, minha querida. 

Helga tentou impedir que as lágrimas se formassem em seus olhos. Ela sabia que aquilo era um adeus e não se sentia pronta para ele.

— Na próxima vida então. Nossa história não acaba aqui. Eu sei que não. Na próxima vida vamos brilhar mais forte que o sol.

— Na próxima vida. — Rowena sorriu como se gostasse da ideia. — Você me encontra lá? 

— Eu sempre vou te encontrar, Rowena. Sempre. Você espera por mim?

— Eu sempre vou esperar por você, Helga. Sempre.

Era uma promessa. Uma que cumpriram. As suas acreditavam. As duas sabiam. Porque alguns amores são mais fortes que a vida. Mais fortes que o tempo. Rowena Ravenclaw e Helga Hufflepuff iriam se encontrar de novo. Almas gêmeas sempre se reencontravam. 

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Hogwarts, 2021

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Era uma noite escura e tempestuosa, quando Rosalie Reynolds viu Hannah Hayashi pela primeira vez. Passava da meia-noite e a sala secreta, onde o grupo de jovens se reunia, se mantinha iluminados pelas luzes mais frágeis que um feitiço lumus poderia produzir. Nenhum deles queria correr riscos. Pelo menos, não mais do que já estavam correndo. A festa era pequena e secreta, mas, se descoberta, seria o suficiente para condenar todos a uma detenção longa e irritante. Apesar da pouca iluminação e da empolgação que apenas quebrar regras lhe despertava, Rosalie conseguiu notar a menina com cabelos tingidos por um ruivo intenso, na outra extremidade do cômodo. Ela usava coturnos escuros, meia calça arrastão e tinha um piercing no septo. Era a pessoa mais interessante que Rosalie havia visto desde que chegara àquela escola, que lhe parecia tão estranhamente familiar. 

Rosalie Reynolds era uma garota trans que havia acabado de se mudar com a família, deixando os Estados Unidos para fixar residência na Escócia. Algo que também significava abandonar Ilvermorny e se matricular na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Seu pai, um bruxo escocês que havia se graduado no colégio britânico, havia lhe garantido que ela iria amar o colégio. Todos amavam Hogwarts, ele afirmara.  A menina estivera cética sobre isso até colocar os pés no castelo. Rosa não saberia explicar o sentimento, mas era como voltar para casa após uma longa viagem. Uma viagem longa demais. Parecia simplesmente certo. Da mesma forma que parecera simplesmente certo quando o Chapéu Seletor a enviara para a corvinal, após mal tocar sua cabeça. Da mesma forma que parecia simplesmente certo flertar com a garota ruiva desconhecida.

Hannah Hayashi estava um pouco entediada. Ela nunca fora boa em festas, preferindo a introspecção, um livro antigo, um bom álbum de rock ou simplesmente passar algum tempo nas estufas. Plantas eram mais fáceis que seres humanos, ela achava. As estufas sempre foram seu lugar favorito de Hogwarts. O que queria dizer muita coisa, já que ela amava absolutamente tudo sobre o colégio. Como uma nascida trouxa, Hannah sentira medo ao descobrir que era uma bruxa. Não sabia direito o que aquilo significava e ficara apavorada com a perspectiva de não ser aceita ou não encaixar. Suas preocupações, no entanto, desapareceram em seu primeiro dia de aula. A jovem se sentira em casa na escola de um modo que não conseguia explicar. Como se conhecesse cada pedra daquele castelo. Como se já tivesse estado ali antes e sido imensamente feliz.

Além disso, sua casa, a Lufa-Lufa, era notória por seus membros acolhedores. Era justamente por causa de lufanos acolhedores demais que Hannah estava naquela festa. Ela nunca conseguiria negar nada aos amigos, mesmo que compartilhassem ideias bem distintas de diversão. Ainda assim, vendo a garota de cabelos azuis, vestido florido e maquiagem cintilante que se aproximava sorridente, a menina sentiu seu humor melhorar significativamente. 

— Olá, acho que ainda não nos conhecemos. — a outra jovem disse cheia de confiança, iniciando uma conversa com uma completa desconhecida como se não fosse nada demais. Seu sotaque estadunidense fez Hannah sorrir. Na verdade, tudo sobre ela fazia Hannah querer sorrir — Sou Rosalie, acabei de mudar para Hogwarts. 

— Olá, Rosalie. Sou a Hannah. Acabei de me tornar monitora da Lufa-Lufa. — ela acrescentou, porque pareceu necessário. E porque ela era péssima em interações pessoais. Especialmente com garotas bonitas.

Rosalie arqueou uma sobrancelha. 

— Monitores não deveriam prezar pela ordem e impedir eventos como esse? 

— Provavelmente. Mas, bom, sou nova na função e ninguém gosta de uma estraga prazeres. Além disso, acho que aprecio um pouco a rebeldia e o caos.

— Sendo assim, acho que vamos no dar incrivelmente bem, Hannah. 

— Acho que pode ser verdade, Rosalie.

As duas riram. E todas as estrelas pararam para assistir, enquanto uma antiga constelação voltava a se alinhar. Brilhando mais forte do que nunca. 

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'Cause we were both young when I first saw you


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Notas finais do capítulo

Bom, elas se reencontraram e dessa vez foram felizes. E eu realmente não sei o que mais posso dizer aqui haha
Espero realmente que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís