Jorge escrita por Anna Carolina00


Capítulo 3
Primeiro encontro, último patrono




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802589/chapter/3

 

Antes de falar de nosso encontro, preciso citar nossos quase encontros. O primeiro aconteceu no Beco Diagonal quando os alunos de Hogwarts aparecem para comprar seus materiais escolares. Gemialidades Weasley, é claro, virou um ponto de parada obrigatório para quem gostou de conhecer algumas de nossas invenções! 

Eu olhava ansioso para a porta sempre que ouvia a entrada de um cliente… Mas a corvina não deu as caras. 

As aulas estavam quase retornando quando a cópia ligeiramente menos charmosa da Padma apareceu acompanhada de Lilá Brown. As jovens Grifinórias estavam olhando nossa fonte de poção do amor quando puxei assunto.

—É um prazer receber duas belas Grifinórias aqui na loja! Imagino que não precisem da poção do amor, mas um empurrãozinho é sempre bem vindo, não é mesmo? Jorge Weasley, em que posso ajudá-las?

As jovens sorriam encabuladas.

—É tentador… Mas vou confiar no meu charme natural com ruivos.Tenho certeza que ainda esse ano já vou te chamar de cunhado!

 -Posso chamar meu irmão para atendê-las se quiser começar a usar seu charme… Futura cunhadinha.

Eu segurava minha risada e o mesmo acontecia com Parvati, que provavelmente já sabia onde levaria esse lado namoradeiro da amiga. Lilá, por outro lado, me olhou com indignação:

—O quê? Não! Nossa! Estou falando do Ronald Weasley ! Eu nunca tinha reparado como ele era bonito até vê-lo jogando na Grifinória! Ele é tão ágil e esperto… E engraçado! 

Eu realmente precisei me segurar para não gargalhar na frente na frente da aparentemente fã n°1 do Weasley caçula, mas a própria Parvati conseguiu se livrar da amiga.

—Falando nisso, Lilá, você não ia comprar cera para vassouras para oferecer para o Rony? A loja vai fechar logo logo.

A loira saiu da loja tão rápido quanto entrou e pude ver que Parvati tinha segundas intenções ao despachá-la. A gêmea se aproximou entregando uma carta e sussurrou em seguida.

—Papai vigia nossas correspondências quando não estamos em Hogwarts… Acho que você sabe quem me pediu para entregar isso. Seja legal com ela. Se ela aparecer com  cabelo verde ou com pele escamosa… Nem magia vai consertar o que farei com você.

A bruxa me deu uma piscadela marota e um sorriso sádico, então  se dirigiu a saída. Já tenho minha cunhada preferida!

—Hey! Parvati! Boa sorte com a Lilá… Uma hora ela vai perceber que não precisa perder tempo com um jogador de quadribol e vai enxergar você… De verdade.

Por um segundo, senti que minha futura cunhada baixou a guarda e ficou corada. Pontos para mim!... Eu acho.

 

 Saudações, meu caro dançarino.

Poderia me dar a honra de apreciar sua caligrafia? Gostaria de ver se é tão bom com palavras quanto é com a varinha.

Aguardo sua resposta em Hogwarts,

Padma.

 

O pássaro em origami continha poucas palavras, mas o suficiente para me fazer dar alguns pulos de alegria. 

Se antes o início das aulas me entristecia, agora nunca desejei uma data com tanta empolgação!

 

Logo as aulas começaram e eu pude mandar minha primeira carta.

 Nunca pensei que ficaria ansioso escolhendo palavras, mas cá estou eu, até olhando um dicionário de sinônimos! A carta, enfim, foi enviada no primeiro dia de aula.  Tentei ser engraçado, pois a imagem de Padma rindo do que escrevi me aquecia o coração, mas não exagerado, pois não queria afastá-la. Eu imaginava sua voz lendo e seus olhos acompanhando meus rabiscos… Por Merlin! Como uma coisa tão simples podia mexer tanto comigo? Mas eu gostava de me deixar sentir um tolo por algo assim. Era bom ter esse sentimentos só para mim, só com ela.

 

Sua resposta logo chegou e eu podia jurar que a carta tinha cheiro de canela! Se foi um agrado dela, eu só podia agradecer.

O tempo foi passando e nossas correspondências falavam do dia-a-dia, das aulas, de invenções e situações exóticas. Padma me fazia eu me sentir como se ainda frequentasse os corredores de Hogwarts  e lhe roubava por alguns minutos para ouvir sobre seu dia. Eu só esperava que ela sentisse o mesmo… 

 

É engraçado, sabe? Como cada carta me fazia querer mais e mais, ouvir sua voz novamente. Foi assim que nos meados de abril decidi lhe ensinar o feitiço de se comunicar pelo patrono. Era uma magia que havíamos aprendido com Dumbledore para que os membros da Ordem da Fênix se comunicassem, apenas, mas Padma era da Armada de Dumbledore  e todo mundo sabia que era uma extensão da Ordem da Fênix… Certo?

Confiante de que não estava traindo a confiança do maior bruxo vivo, enviei a minha querida corvina um corvo com as instruções

 

—... E coloque a memória do que deseja falar em mente quando conjurar: ``Expecto patronum!”

 

Por ironia do destino ou um humor sádico Merliniano, recebi uma águia cintilante pouco depois. Apesar de ser a voz de Padma, a notícia me impediu de apreciar aquele momento:

— Hogwarts está sendo invadida por Comensais da Morte. A Armada de Dumbledore está agindo, mas precisamos de ajuda.

Só tive tempo de mandar uma mensagem para meus pais e Gui,  logo Fred e eu estávamos aparatando em Hogsmeade e voando em vassouras de volta a Hogwarts. Logo estávamos em meio a feitiços sendo lançados por todos os lados.

 Agora que tudo passou, lembrar aquela noite me desperta um sabor amargo, como se estivesse experimentando pela primeira vez a sensação que a grande Batalha de Hogwarts, meses depois, me marcaria completamente. Se eu soubesse o que eventos daquela noite desencadeariam no futuro, será que eu faria algo diferente? Esse pensamento me atormenta todas as noites.

Quando os Comensais se foram, nosso primeiro passo foi levar os feridos para enfermaria. Uma pequena multidão de ruivos se aglomeraram ao redor do meu irmão mais velho que havia sido mordido pelo lobisomem Greyback, mas felizmente ele estava bem… Pelo menos, bem o suficiente do tipo “não vai virar um lobo selvagem toda vez que ver a lua cheia”. 

Perdemos Dumbledore naquela noite.

Pensei, egoistamente, que talvez veria Padma depois que o confronto acabou, mas novamente, um quase encontro ocorreu com seus pais lhes buscando na manhã seguinte para levar as gêmeas Patil em segurança para casa. Definitivamente, a vida de todos os bruxos não seria mais a mesma. Sem Dumbledore, aquela batalha seria apenas uma amostra de todo o caos que nos aguardava.

Sem mais cartas, sem mais histórias bobas sobre o dia-a-dia, sem essa adorável fuga para um espaço aconchegante que eu encontrava apenas quando me imaginava com Padma.

Assim seguimos, Fred e eu, trabalhando incansavelmente para a Ordem, se escondendo nas montanhas, fugindo da ditadura instaurada por Voldemort no comando. Eu desejava, mais do que nunca, que Harry fosse capaz de derrotá-lo, que tivéssemos esperança para o fim destes tempos sombrios.

—...Nada como um dragão sobrevoando Londres para nos dar esperança de que a queda de Você-Sabe-Quem se aproxima! Que nossos caros amigos, Harry, Rony e Hermione estejam ainda mais próximos de restaurar a paz no meio bruxo. Aqui quem fala é Rapier e agradeço a atenção de todos a mais uma transmissão do Observatório Potter!

Eu sabia que o trio de ouro não invadiria Gringotes se não estivessem com um plano em ação. O que eu podia fazer naquele momento era torcer para que tenham tido sucesso no que quer que tenham planejado e divulgar isso para todos os ouvintes de nossa rádio pirata. Para minha alegria, naquela mesma noite, tivemos mais uma boa notícia.

Meu bolso começou a aquecer, era a moeda que a Armada de Dumbledore antigamente usava para se comunicar.

“Harry está em Hogwarts, hora de retomar nossa escola.”

Não sabia quem havia enviado a mensagem, mas sabia que precisava fazer parte disso! Fred teve a mesma ideia e novamente nos direcionamos à Hogsmeade. Havia todo um exército de bruxo se dirigindo para Hogwarts por uma passagem secreta no Cabeça de Javali e nos juntamos a eles.

—Fred e Jorge! Torre de Astronomia! Certifiquem-se de que nenhum ser das trevas entrará no Castelo por aquela passagem.

—Mais uma varinha seria útil?

Assim que Minerva nos designou um local para guardarmos, Percy se aproximou para nos acompanhar nesta missão. Era bom vê-lo de volta do lado  certo dessa guerra.

Quando estávamos a postos, mais bruxos com varinhas se aproximaram. O mesmo lugar onde outrora se encontrava o corpo do grande bruxo, Dumbledore, morto, agora estava infestado por dementadores que tentavam invadir o castelo. Entretanto, estávamos todos com varinhas a postos:

—Expecto Patronum!

Vários feixes de luz azulados faiscavam criando uma proteção nas janelas. Cervos, cavalos, coelhos… Vários animais surgiam em meio aos feitiços para repelir os Dementadores. Um deles me chamou atenção. Uma águia, a mesma que vi há meses atrás. 

Por mais irresponsável que possa parecer, assim que os dementadores se afastaram desta entrada, eu olhei para Fred como quem pedia aprovação. Ele não sabia o que eu planejava fazer, apenas assentiu e deu um tapa nas costas de nosso irmão, Percy. Estavam bem acompanhados, os dois Weasley.

Pensei em uma memória feliz que retomava ao baile de inverno. Quando conheci Padma, quando ouvi sua risada pela primeira vez. Poderia parecer tolice para muitos, mas aquela sensação calorosa de que aquela poderia ser uma memória de muitas que se repetiriam me fez criar um patrono potente de um corvo que voou pelos corredores de Hogwarts, me guiando até aquela que dominava meus pensamentos.

Então, o corvo foi de encontro com uma águia, as luzes se misturaram numa incandescente e eu pude ver do outro lado do corredor uma bruxa de vestes azuis e corpo trêmulo, alguém que deveriam estar envolto em uma cápsula de proteção, não enfrentando toda aquela destruição. 

Para minha alegria, aquele rosto preocupado sorriu ao me ver.

—Padma…

—Jorge...

Imaginei aquele instante tantas vezes que não sabia mais como reagir, o que dizer.

—Estou meio atrasado, mas… Ainda podemos ter aquele encontro? Não é o melhor momento, mas… A gente nunca sabe quando o mundo bruxo vai ser aterrorizado… De novo…

Enquanto eu falava qualquer coisa, a bruxa se aproximava e seu sorriso se intensificava. Seu rosto estava com marcas de batalhas e lágrimas… Mas nunca esteve tão linda quanto naquele momento.

—...Eu não quero ter que esperar mais um ano para te ver de novo, sabe... Além disso...

—Jorge…Agora é a parte que você me beija.

Num piscar de olhos, pude colocar para fora todo o misto de emoções que me preenchiam. Beijar Padma era definitivamente mais doce do que podia imaginar. Era perfeito como nossos corpos se encaixavam num abraço aconchegante. É, eu poderia viver com a sensação de tê-la comigo assim, para sempre. Naquele momento, minha mente estava completamente preenchida por essa ideia.

Quem diria que Jorge Weasley seria o gêmeo romântico e cafona?!

Mas eu adoraria viver com esse título se significasse estar com Padma.

Precisávamos nos separar para poder respirar, mas continuamos abraçados e repetindo pequenas doses de beijos. Cada um deles deixava uma marca em minha memória.

Eu seria um bruxo feliz ficando isolado naquele pequeno universo ao redor de Padma Patil se não fosse pelo barulho de uma grande explosão de onde vim.

Nós nos separamos o suficiente para que eu lhe olhasse nos olhos mais uma vez.

—Preciso ir. Meu irmão, eu…

—Eu entendo. Também preciso ficar ao lado da minha irmã. Se algo acontecesse com ela enquanto estou aqui, eu não sei o que faria…

— Padma…

—Jorge…

—Adoro quando fala meu nome.

— Adoro quando escuto sua voz.

— Um último beijo?

— Com certeza!

E selamos nossos lábios mais uma vez. O sabor doce da bruxa que por tanto tempo apenas pude imaginar… Gostaria de saber naquele momento que este seria nosso primeiro e último encontro. Que este seria nosso último beijo… Mas tudo que me resta são apenas as mais singelas memórias de nossos preciosos momentos juntos.

Quando voltamos cada uma a nossa realidade, foi como se o mundo tivesse desabado sobre mim. Lá estava ele, minha cara metade, com um sorriso ausente de vida no chão. Tive a sensação de ter meus órgãos arrancados lentamente do meu corpo… E rever essa memória me fazia repetir essa sensação de novo… De novo e de novo.

Não havia espaço para mais nenhum sentimento enquanto eu sentia essa tristeza envolvida pela culpa. Meu coração estava aos pedaços, minha alma estava aos pedaços e eu só podia deixar que isso me consumisse, afinal, eu merecia toda essa dor.

 

Ao fim da guerra, quando os corpos estavam sendo colocados no Salão Principal, o amontoados de ruivos ao meu redor foi capaz de dividir e assim atenuar minha dor. Ao longe, neste mesmo salão, eu pude ver o uniforme azul da bruxa que horas atrás era meu grande objeto de desejo. Assim como eu, ela abraçava o corpo sem vida de sua cópia.

Eu entendia sua dor, ela entendia minha culpa. Tenho certeza que ninguém mais naquele salão poderia entender o turbilhão de emoções que nos preenchia e justamente por isso, ela entendia tão bem quanto eu que jamais poderíamos nos encontrar novamente.

Padma seria para sempre uma doce memória. 

Para sempre meu “e se”.

Sem Fred ao meu lado, nenhuma memória me parecia feliz o suficiente para que eu pudesse realizar um patrono novamente… Mas no fundo eu sabia que se lembrasse de Padma, seria capaz de produzir algumas faíscas cintilantes para combater a tristeza que me consumia… Eu só escolhi não tentar. Nunca mais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O conto em 3 capítulos finalmente acabou! Minhas sinceras desculpas pela grande demora, mas não estava em meus planos gostar tanto assim desse casal e partiu meu coração ter que separá-los.... Mas esse era o objetivo da história.
Será que alguém consegue enxergar um final feliz para esses casal com cada gêmeo tendo perdido sua metade?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jorge" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.