First and last drink with you escrita por crowhime


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

panfletando meu wolfking no mês Black que ninguém pediu ♥



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Encontrar Regulus Black era a última coisa que Remus esperava aquela noite.

Os dias estavam cada vez mais difíceis. Voldemort estava cada vez mais perto de conquistar o mundo bruxo e, por mais que toda a Ordem da Fênix se esforçasse, não parecia haver um jeito de refrear o avanço das forças das trevas. Eles estavam cada vez mais fortes, enquanto a Ordem estava cada vez mais cansada e desgastada. Por vezes, Remus se pegava pensando que só um milagre poderia virar os ventos. O campo de batalha era cruel, e o esgotamento físico e emocional pesava em todos. Mesmo no sábio Dumbledore: os olhos outrora joviais do diretor de Hogwarts não mais existiam, agora pareciam refletir até mesmo mais do que a idade que possuía (e não era pouca).

Não podiam perder a esperança. Mas era difícil.

Após alguma missão especialmente difícil, Remus gostava de parar em algum bar trouxa para tomar uma bebida e esquecer do mundo desabando ao seu redor. Sabia que era arriscado, mas, apesar do caos, havia ainda alguns pubs que podia frequentar em segurança - e assim, se misturava com a certeza de que nenhum comensal da morte se atreveria a frequentar um ambiente cheio de “sangues-ruins”.

Após ter certeza de que não estava sendo seguido, é claro.

Suas noites eram solitárias. Mesmo os inseparáveis Marotos pareciam estar passando por tempos não exatamente bons. James estava feliz: finalmente havia conquistado Lily. Mas, por vezes, ouvia Sirius cochichando com ele e não gostava do que eles poderiam estar dizendo. Assim, fingia não perceber como eles ficavam repentinamente quietos quando aparecia e preferia, quando possível, a boa e velha solidão.

A solidão, ao menos, era um sentimento familiar, com o qual estava acostumado. E estava, cada vez mais, aprendendo a gostar dela.

Sem barulhos, sem confusão - apenas ele e sua bebida.

Foi quando a última coisa que esperava ver no mundo aconteceu.

O sino preso na porta tocou, anunciando um novo cliente. Como se não quisesse nada, Remus espiou por cima do ombro.

Regulus Black estava ali.

De início, Remus pensou que estava enganado. Talvez sua bebida estivesse muito forte e ele já estivesse vendo coisas. No entanto, sabia que não estava bêbado e, coçando os olhos, confirmou que não era sua imaginação. Ele estava um pouco mais alto talvez, mas tinha certeza de que era Regulus. Mesmo com as feições cansadas que lhe faziam parecer mais velho do que de fato era, e ainda mais maduro do que a última vez que o viu, quando ainda eram estudantes em Hogwarts.

No fim do dia, a guerra afetava a todos, independente de qual lado estavam.

Não é como se Remus pensasse sobre se encontrar com Regulus. Nunca foram próximos ou amigos, mas definitivamente nunca achou que veria o herdeiro da grande e nobre família Black em um pub trouxa.

Desconfiado, mesmo sendo sua folga, ficou em alerta. Só podia imaginar que ele iria aprontar alguma coisa, afinal, não era mistério para ninguém o apoio aberto daquela família ao Lorde das Trevas.

Mas Regulus sequer pareceu notá-lo. Sentou-se a dois bancos de distância e começou a beber sozinho. Remus aguardou, esperando que alguém chegasse, mas ninguém veio ao seu encontro.

“O que está olhando, Lupin?” Regulus questionou sem se dignar a fitá-lo, na altura de seu terceiro copo.

Remus quase  sentiu o rosto esquentar, uma vez que estava certo de que ele não havia lhe dado importância suficiente para ser visto. Estava enganado.

“Achei que não tinha me visto.” Rebateu, bebericando o conteúdo de seu próprio copo. O gelo já havia começado a derreter, o que diluía o gosto forte de álcool do whisky. Remus havia decidido que pegaria mais leve aquela noite, seus sentidos em alerta, acostumados ao perigo, lhe dizendo que deveria estar pronto para o que quer que acontecesse.

“Meio difícil não perceber quando você ficou me encarando desde que entrei.”

A indiferença na voz de Regulus não era incômoda, afinal não é como se fossem íntimos: no máximo, conhecidos de se cruzarem nos corredores e nada mais. Era ligeiramente desconcertante ser pego no flagra, mas não é como se ligasse. Regulus não estava fazendo questão de esconder sua presença - inclusive parecendo um tanto deslocado no ambiente - então Remus também não estava o faria.

“É justo.” Sem fazer questão de alongar a discussão, pontuou.

Não precisava falar muito alto, estavam sentados relativamente próximos e o pub também estava um tanto quanto vazio. O barman estava distante, cuidando de seus copos, secando-os silenciosamente com um pano. Era pleno dia de semana, então era de se esperar a falta de movimento.

Remus olhou mais uma vez de soslaio para o Black. Não conseguia ler sua expressão ou entender o que ele poderia estar planejando. Precisava ficar de olho só por garantia, mas também não parecia haver outros comensais por chegar.

“Então?” Questionou, cansado demais para uma brincadeira de gato e rato. “Qual o plano dessa vez?”

“Eu realmente não sei do que você está falando.” Regulus respondeu com simplicidade e era difícil dizer se sua cara de sonso era sincera ou só uma faceta para ocultar qualquer intenção maléfica que poderia existir. “Se não percebeu, eu estou tentando ter uma noite tranquila. Se já terminou, pode ir: você está amargando minha bebida.”

Remus apertou os lábios, sentindo o rosto esquentar. Não é como se esperasse uma resposta direta e que Regulus entregasse seus planos - ele não era idiota, pelo contrário, era inteligente até demais e Remus sabia disso. Mas aquela petulância não deixava de lhe deixar frustrado.

“Não espera que acredite nisso, né? Por que diabos um comensal estaria num bar trouxa?” Remus resmungou, porém tomando o cuidado de manter a voz baixa, o tom sendo apenas o suficiente para que Regulus escutasse.

“Pense o que quiser, Lupin. O que vai fazer? Ficar a noite toda me vigiando? Garanto que vai ficar entediado.” Regulus desafiou, fitando-o diretamente pela primeira vez na noite, com uma das sobrancelhas arqueadas.

“É, talvez eu fique.”

Não é como se estivesse tentando bancar o herói. Era quase uma resolução infantil de quem queria ter a última palavra. Estava exausto, o que lhe deixava um tanto quanto irritadiço, e vigiar um aliado de Voldemort não estava nos seus planos da noite. Ainda assim, sentia que era quase sua obrigação: precisava garantir que não aconteceria nenhum problema de fato, sem contar que… era o irmão de Sirius.

E Remus ainda não sabia o que fazer com isso.

Devia contar para Sirius? Deria talvez levá-lo à força para um interrogatório? Seria golpe baixo, algo inimaginável a se fazer tempos atrás, mas naqueles tempos qualquer informação e ajuda era valiosa e bem-vinda.

Mas Regulus estava certo. No fim das contas, a tarefa se provou bastante tediosa, especialmente porque havia decidido que não beberia demais, já que queria estar em boas condições para o caso de um conflito acontecer. Regulus não teve a mesma moderação, o que fez Remus - contra sua vontade - se preocupar. Discretamente, pulou os bancos que os separavam, sentando-se ao lado de Regulus.

“Regulus, você não acha que está bebendo demais...?” Disse de modo cuidadoso, inclinando-se em busca da face do mais novo.

Estava acostumado a ser a babá de três beberrões.

Ele não respondeu, mantendo a cabeça abaixada, o rosto oculto pelos cabelos escuros.

Remus suspirou, deixando algumas notas embaixo do copo para pagar pelo consumo. Foi quando percebeu Regulus se levantando com um cambalear, o que o fez se levantar para ampará-lo rapidamente.

“Eu esperava um pouco de moderação de você.” Remus murmurou com um suspiro cansado. Não que pudesse afirmar com certeza, mas Regulus parecia mais responsável que seu irmão mais velho, então aquela postura lhe gerava estranhamento.

Não fazia parte de seus planos para a noite cuidar de um Regulus bêbado… Mas não podia deixá-lo. Podia? Não é como se tivesse alguma obrigação moral para com ele, no entanto, também se sentiria mal de apenas largá-lo naquele estado. Ainda era um conhecido, mesmo que não fossem íntimos, e o irmão mais novo de um de seus melhores amigos.

“Eu vou te levar. Vamos.”

“Se isso é um plano, não ache que eu vá abrir minha boca…”

A voz de Regulus era baixa e arrastada, a desconfiança palpável apesar disso. Poderia ser um plano. Seria fácil subjugá-lo naquele estado e tentar extrair alguma informação útil, mas Remus preferia não se sujeitar àquilo quando não era estritamente necessário.

“Certo, certo…” Murmurou em resposta, percebendo que Regulus havia deixado galeões como pagamento pela bebida. Bufando, pegou o dinheiro e trocou por algumas notas trouxas que ainda possuía. “Da próxima vez vai soar mais convincente que você não precisa da minha ajuda, se você estiver melhor preparado…”

Regulus estalou os lábios, deixando escapar como estava frustrado. Odiava receber ajuda, mas precisou segurar-se no braço de Remus para subir as escadas que levavam à porta de entrada - e também a única saída - do pub. Ganharam a calçada da rua e a brisa fria gerou um arrepio quando de encontro ao rosto de Regulus, corado pela bebida. A chuva havia parado, restando apenas o asfalto molhado sob seus pés, as gotas cintilando sob as luzes dos postes de iluminação.

Seus sentidos pareciam distantes. Etéreos, como se oscilassem junto à realidade. Em meio à noite fria, silenciosa e sem estrelas, era quase como se nada mais existisse. As luzes da cidade cintilavam, e o cenário sequer parecia real.

Como podia haver tanta paz em uma noite vazia, quando a guerra tanto barulho fazia?

“Ei, Lupin.”

Remus estranhou o chamado.

“Hm?”

“E se nada disso existisse…?”

"A-ahn?" Remus esboçou um sorriso forçado, sentindo-se repentinamente nervoso. "Do que está falando, Regulus…?"

Ele não sabia o que esperar. Não sabia se podia ser uma insinuação ou um aviso. Instintivamente, firmou mais o enlace na cintura do menor, não apenas para firmá-lo, mas guiado pelo nervosismo.

"Se pudéssemos viver uma noite eterna… assim, desse jeito. Já pensou nisso?"

Remus virou o rosto na direção do Black. Tinha algo de magnético em seus olhos. Não era apenas por conta do rosto bonito: havia algo de contemplativo em sua expressão, ao mesmo tempo em que parecia que ele sequer estava naquela realidade. Como se Regulus visualizasse estrelas muito mais distantes; como se pertencesse a outro lugar.

Seus passos se cessaram, deixando de ecoar na noite. Regulus, dependendo do apoio de Remus, não percebeu - e se percebeu não ligou, ocupado demais em seus próprios pensamentos.

Quase involuntário, instigado pelo questionamento, começou a pensar.

Não é como se entendesse a Regulus. Não é como se o conhecesse. Mas tinha algo reconfortante no calor de seu corpo naquela noite fria. Algo de humano e solitário no príncipe da Sonserina que reconhecia.

Se não fossem inimigos, se não estivessem em lados opostos da guerra, como seria?

Por um instante, Remus pode vislumbrar um futuro em que poderiam beber e rir juntos.

Um futuro em que poderiam estar juntos. Sem medo, sem desconfiança.

Seu lado mais ingênuo, que até então havia ficado esquecido, soterrado por tanto horror, atreveu-se a pensar se aquela noite não poderia ser um presságio.

Uma noite eterna. Uma noite sem guerra, apenas o silêncio da cidade adormecida, embalada pelas reconfortantes luzes quentes.

"É, eu… eu acho que seria legal."

A realidade sempre viria como um baque. A não ser que Regulus mudasse de lado, aquele cenário só poderia acontecer em um universo paralelo. E não é como se a situação se resumisse a Regulus: só queria que tudo aquilo acabasse.

Remus suspirou e disse:

"Mas é impossível, não é?"

Regulus baixou os olhos, como se tais palavras o trouxessem de volta para a realidade.

"Só posso esperar que não. Eu preciso acreditar que não vai ser em vão…"

Sua voz era um sussurro fraco, mas a proximidade permitiu que Remus o ouvisse. Seus olhos se abriram um pouco mais, como se tentasse assim aguçar os ouvidos, enquanto se questionava o sentido daquelas palavras.

"O que não vai ser em vão?" Sugeriu, em um tom dócil de quem tentava sondá-lo.

Regulus estava bêbado, mas não o suficiente para cair nessa.

Ele chegou a abrir a boca, como se ensaiasse uma resposta. A intensidade em seu olhar era como se, por um momento, ele fosse despejar tudo o que quer que estivesse pensando sobre Remus. Quase como se fosse desabar.

Mas no instante seguinte, ele fechou os olhos e mordeu a boca, agarrando com mais força as costas do casaco de Remus, permitindo-se o silêncio.

Era difícil compreender a complexidade do olhar de Regulus. Era misterioso e magnético, como se abrigasse um universo. E não lhe revelava muito, ocultando seus segredos. Mas Remus podia ter certeza de que ele, como qualquer um em sã consciência, estava cansado. Não sabia se podia afirmar com certeza que ele não queria mais trabalhar para Voldemort, mas aqueles olhos… Aqueles olhos não eram de alguém que sentia prazer em ver morte e destruição. Por muito tempo, suas ideias foram tortas, influenciado pela família a acreditar que era o certo. Mas isso não queria necessariamente dizer que seu coração estava no lugar errado também.

Tantos erros, tantas culpas, tantos pecados. Quem não os carregava? A quem cabia julgar?

Eram pequenos demais, frente a um mundo que os queria como instrumentos.

Sirius já havia dito que Regulus não tinha jeito. Fraco demais, manipulável demais. Mas… será?

Remus sabia da culpa que Sirius carregava por abandoná-lo. E, sem saber ao certo, talvez por conta dessa certeza junto às palavras sugestivas de Regulus, regada ao álcool em seu sangue, que tomou coragem de fitá-lo nos olhos. Despido de disfarces e desconfiança, manteve-se a sustentar o corpo do mais novo por via das dúvidas, mas afrouxou o enlace apenas para ficar de frente para ele.

"Regulus, se você está arrependido, sempre há uma chance. Você pode escolher. Você tem uma opção."

As palavras eram relativamente vagas, mas fez com que Regulus estremecesse.

Não havia uma chance.

Não havia uma escolha.

Não do jeito que as coisas estavam.

Ele sabia o que tinha de fazer. Era a única possibilidade do futuro ser um pouco mais brilhante.

Um pouco mais quente e acolhedor, como as luzes amarelas daquela rua.

Era a única forma de expiar toda sua culpa.

Mas por um instante – um ínfimo instante – a tentação quase fez com que fraquejasse.

Poderia ver o irmão. Poderiam fazer as pazes. Não precisaria se sujeitar a tantos horrores que não o deixavam dormir à noite. Poderia até se visualizar sendo acolhido, em um ambiente caloroso, sem pressões ou expectativas que repentinamente caíam em seu colo.

Mas era tudo uma ilusão; uma ilusão que sumia rapidamente, como o extinguir das chamas de um fósforo. Queimava rápido demais, sumia rápido demais, e não era o suficiente para conservar aquele calor.

Ele não podia desistir. Não agora.

Ele não podia fraquejar.

"Você não sabe do que está falando." Regulus enfim rebateu, após um momento um pouco longo demais de silêncio. "Eu já fiz minha escolha."

Remus percebeu a hesitação de Regulus em respondê-lo. Era frustrante.

"Sempre é tempo, Regulus!" Tentou argumentar, segurando os braços dele, mantendo-o próximo. Tinha a impressão que ele tentava se afastar – e fugir. "Não precisa ter medo. Eu tenho certeza que…"

Sem aviso prévio, Regulus levou os dedos aos lábios do mais alto, impedindo-o de continuar aquelas palavras.

"Não. Não fale mais nada." Seu tom era firme, mas quando fitaram Remus, seus olhos estavam nublados. "Por favor."

Algo naquela expressão indecifrável fez o coração de Remus doer.

Algo lhe dizia que Regulus não falava de ter se aliado ao Lorde das Trevas.

Era só uma crença boba. Talvez nem fizesse sentido. Ainda assim, Naquele momento, ele sentiu como se estivesse perdendo algo que nunca de fato teve. Mas algo que poderia ter sido.

E mesmo assim, ele não conseguiu se obrigar a dizer algo. Não quando Regulus parecia estar se esforçando para manter-se intacto.

Remus não entendeu porque seus olhos marejaram. As lágrimas embaçavam as luzes, mas ele lutou contra a vontade de chorar, temendo perder Regulus de vista.

Foi quando Regulus se aproximou, seus olhos fechados quando os lábios tocaram os dedos que ainda silenciavam a Remus, que uma lágrima solitária teimou em escapar. Regulus se afastou milimetricamente, apenas para fitá-lo, a voz questionando-lhe como um sussurro frio da noite:

"Por que está chorando?"

*Sinceramente…" Remus riu sem humor, tomando delicadamente a mão do mais novo, percorrendo-a pela sua face e assim secando a lágrima que escorria. "Eu não sei."

Regulus o fitou com olhos estranhamente gentis, combinando com a delicadeza do toque que acariciava sua face. Seus olhos eram leitosos, como se neles estivesse contida a própria Via Láctea.

"Espero que em alguma vida possamos nos encontrar de outro jeito."

Foi a vez de Remus calá-lo. Dessa vez com um beijo. Pressionou os lábios com ternura, guiado pela urgência de um impulso que nem sabia que poderia existir.

"Não fale assim… por favor."

Seu pedido veio com uma voz quebrada, os lábios hesitando em quebrar o contato e mantendo-se a roçarem nos alheios. Regulus movimentou a face em uma concordância suave e muda, deixando que o beijo recomeçasse e se alongasse.

Regulus não tinha nenhum plano mirabolante.

Ele apenas sabia que aquela era sua última noite e pensou que deveria ficar um pouco sozinho e talvez pela primeira e última vez fazer algo por si mesmo. Era como uma revolução silenciosa: ir a um bar trouxa, beber quanto aguentasse e então esperar pelo momento final. Nunca havia feito nada disso, então o sabor amargo da bebida também tinha gosto de liberdade.

Talvez devesse ter escolhido ficar com os pais. Respeitava ao pai e amava a mãe, mas a vida que viveu até agora não havia sido escrita por eles? Tudo aquilo não passava de uma baboseira, a qual não suportava mais.

Podia ter procurado por Sirius. Agora tudo - mesmo a traição e o abandono, quando ele o largou sozinho naquela casa - parecia ínfimo demais para se importar. O mundo estava acabando e isso já não era mais importante. No entanto, duvidava que o irmão quisesse vê-lo. E se visse, Regulus temia hesitar.

E ele não podia fraquejar.

Não quando todos os arranjos já estavam feitos.

Quando encontrou Remus Lupin, não pensou muito sobre isso.

Não eram próximos, não eram amigos, ele não podia fazer nada para fazê-lo desistir.

Mas havia algo em Remus que fazia com que oscilasse. Talvez fosse a solidão e angústia que reconhecia em seus olhos, similares a seus próprios. Ou só havia de fato exagerado na bebida, os pensamentos voando livres e desconexos. Parte de si queria contar tudo, mas duvidava que ele acreditaria. A história era tão insana que nem mesmo Regulus conseguia digeri-la - e não precisava envolver mais ninguém nisso.

Porém o beijo de Remus era abrasador, seu corpo era quente e o abraço caloroso e Regulus se deu conta de que… de que não queria ficar sozinho. Não aquela noite.

Ele, que nunca teve nada, que viveu a vida toda uma vida planejada e baseada em atender as expectativas daqueles à sua volta, finalmente desejou por algo.

“Não me deixe sozinho essa noite, Remus Lupin.”

Soava como uma ordem, mas o sorriso de Remus era complacente.

“Você está bêbado, Regulus.”

“Hum.” Indiferente, afundou o rosto no ombro do mais alto, agarrando-se à frente do casaco alheio como se sua vida dependesse disso. “E daí? Não foi um pedido.”

Remus deixou um riso baixo e anasalado escapar. Apesar do modo de falar, não podia deixar de pensar que a visão que estava tendo era rara - quiçá inédita. Os dedos afundaram nos cabelos escuros de Regulus, em uma carícia gentil quando se inclinou para beijar o topo de sua cabeça.

“Como quiser, Majestade. Como quiser.”

Aquele encontro não deveria significar nada. Tão breve quanto a vida de uma estrela mediante o infinito do universo, tão fugaz quanto uma explosão, não deveria ser nada.

Mas, no fim, significou tudo.


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