40 Dias escrita por Saori


Capítulo 5
Implicância mútua.


Notas iniciais do capítulo

Oi, genteee! Sim, eu sumi por um tempo e sinto muito. Algumas obrigações novas surgiram na minha vida e eu tive um pouco de dificuldade para organizar o meu tempo, mas agora estou de volta, com um capítulo fresquinho para vocês. Espero que gostem. ♥



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Já havia se passado um tempo desde que eu tinha melhorado da minha gripe ou seja lá qual doença fosse aquela. Eu estava aliviada por estar bem novamente, mas, ao mesmo tempo, completamente tensa por não saber como reagir no dia a dia. E isso era algo que estava me matando por dentro.

Não contei para a mamãe, papai, Hugo e nem mesmo para Albus sobre isso, porque sabia que eles iam ficar preocupados desnecessariamente. Confesso que fiquei aliviada por ter sido apenas uma gripe. Em um momento como o que nos encontrávamos, um único espirro era capaz de causar pânico. Eu estava seguindo ferrenhamente todos os protocolos indicados para lidar com a pandemia, e Scorpius também, então imaginamos que não fosse nada grave. Mesmo assim, sempre há riscos, especialmente com os casos crescendo exponencialmente a cada dia. Então, me sentia culpada por ter submetido o Malfoy àquele risco, embora eu estivesse aliviada por não ter sido nada grave. Mesmo assim, eu era grata por ter tido a sua ajuda. Eu sempre fui muito independente, de fato, mas sempre que eu ficava doente, minha mãe fazia questão de ir para a minha casa me socorrer, então eu não estava acostumada a lidar com esse tipo de situação sozinha. E não precisei, porque ele havia ficado ao meu lado, ajudando-me quando necessário.

Desde aquele dia, a minha relação com Scorpius mudou, e eu não conseguia entender o motivo. Acredito que não tenha um grande culpado para isso, mas, de algum modo, eu conseguia perceber que nós dois estávamos diferentes um com o outro. Era como se não soubéssemos como agir quando estávamos juntos. Por isso, sempre terminávamos em silêncio. Um silêncio agonizante. Ensurdecedor. E eu detestava silêncios.

Pensar nisso estava me deixando à beira de um colapso. Prestes a explodir a qualquer momento, como um barril de pólvora. Exatamente por isso, eu decidi que dedicaria o meu dia inteiro à escrita, porque talvez assim eu não pensasse tanto na nossa situação. Talvez assim eu não pensasse tanto em Scorpius Malfoy. Não que eu estivesse realmente pensando nele, mas era incômodo e inconveniente.

Então, peguei o meu notebook na mesa que ficava ao lado da cama, ajeitei-me sobre o colchão e comecei a escrever o capítulo novo da minha história. Era um romance clichê, completamente previsível. Não era o livro favorito que eu estava escrevendo, mas clichês eram sempre uma boa pedida no mundo dos livros, e quase sempre um acerto.

Nem me dei conta das horas se passando, mas quando percebi, já tinha finalizado um capítulo de quinze páginas. Inevitavelmente, eu sorri, orgulhosa de mim mesma. Fazia bastante tempo que eu não escrevia tanto conteúdo de uma vez só. Talvez significasse que o meu bloqueio criativo estava indo embora de vez, ou talvez ele tivesse pedido uma trégua. Qualquer que fosse a alternativa, eu estava feliz e sentia-me satisfeita por ser produtiva novamente.

Comecei o segundo capítulo quase imediatamente, mas me perdi em meus pensamentos logo no terceiro parágrafo. Lá estava eu novamente, pensando sobre Scorpius Hyperion Malfoy, completamente contra a minha vontade. Ele havia sido um tanto quanto gentil comigo quando eu adoeci, mas era apenas uma trégua temporária entre nós, então por que as coisas não tinham voltado ao normal? Droga, elas precisavam voltar ao normal ou eu enlouqueceria. Eu já lidava bem com a nossa situação de implicância mútua, e estava satisfeita com as coisas como estavam.

Balancei a cabeça de um lado para o outro tentando afastar aqueles pensamentos, depois, levei uma das minhas mãos às minhas têmporas, que massageei. A dor de cabeça me atingiu em cheio, de um momento para o outro, e não havia inimigo maior para uma escritora do que a dor de cabeça. 

— Droga — resmunguei baixinho, impaciente.

Vesti o meu casaco de moletom e, contra a minha vontade, deixei o quarto. Precisava urgentemente de um remédio para melhorar essa dor e voltar a ser produtiva.

Peguei o comprimido na minha mochila e fui até a cozinha. Já estava tão familiarizada com o caminho, que nem sequer demorei dois minutos para chegar lá. Assim que o fiz, enchi um copo d’água e tomei a medicação, fazendo uma careta logo depois. Eu detestava remédios. Sim, eu ainda era uma criança, mas jamais admitiria em voz alta.

Quando estava prestes a voltar para o quarto, avistei Lynx. Fazia alguns dias que não o via, por isso, o segui pela casa, esperando que ele parasse em algum momento para que eu pudesse acariciá-lo um pouco, antes de voltar ao trabalho. Sem nem mesmo perceber, eu fui parar na sala de estar.

Abaixei-me um pouco e acariciei os pelos escuros e macios de Lynx, que ronronou em resposta, fazendo-me rir. Ao finalmente me levantar para retornar para o quarto, avistei Scorpius deitado sobre o sofá da sala, com uma de suas pernas esticadas, a outra dobrada, enquanto um dos braços envolvia um livro. Automaticamente, um sorriso apareceu nos meus lábios. Odiando-o ou não, aquela era uma cena adorável. E não tinha absolutamente nada a ver com o fato de ser Scorpius Malfoy ali. Isso era apenas um mero detalhe. Uma coincidência.

Aos poucos, sorrateiramente, aproximei-me dele e abaixei, até que eu ficasse na altura do seu rosto, que parecia levemente sujo de algo semelhante a chocolate, mas eu não tinha certeza.

— Por que você está me espiando? — Scorpius perguntou, abrindo apenas um dos olhos.

O susto, assim que eu ouvi a voz dele, foi inevitável. Por causa disso, perdi o equilíbrio e acertei o chão em cheio, caindo sentada. O Malfoy não fez questão alguma de esconder a risada, que rapidamente preencheu o curto momento de silêncio. Senti minhas bochechas esquentarem, devido a minha evidente vergonha, mas recusei-me a admitir. Levantei-me quase tão rápido quanto caí, cruzei os braços e lancei-lhe um olhar furioso, que ele pareceu perceber, porque engoliu seco.

— Porque você é um idiota! — respondi, sabendo que as minhas palavras não faziam o menor sentido.

— Por que está tão irritada? — Aos poucos, ele ergueu o corpo e sentou-se no sofá, ainda um pouco sonolento. — Por acaso eu fiz algo de errado? Se foi porque eu ri de você, bem, foi engraçado...

Ele só podia estar brincando comigo.

— Não te interessa! — rebati, gesticulando ao mesmo tempo. — Você é quem é o irritante aqui.

— Percebi que não está em um dia bom... — comentou, em um tom de voz baixo, mais para si mesmo, do que para mim. — Quer conversar sobre algo?

Por que Scorpius estava sendo tão gentil? Ele havia acabado de rir da minha cara. Não tinha nem mesmo dois minutos. Essa ambiguidade estava me consumindo aos poucos. Eu nem mesmo sabia mais o que pensar. Talvez ele só quisesse que eu desabafasse para jogar minhas próprias palavras contra mim futuramente. Talvez fosse isso. Na verdade, só podia ser isso. O nosso pequeno jogo de implicância não iria embora tão facilmente, tão de repente.

— Por que eu te falaria algo? Para você jogar contra mim amanhã? Não, muito obrigada.

Quando meus olhos repousaram sobre o seu rosto, percebi algo diferente nele. Quase como se estivesse magoado ou, no mínimo, chateado. Só podia ser coisa da minha cabeça.

— Eu não vou usar nada contra você, Rose — afirmou, sério.

Recusei-me a acreditar.

— Ah, claro — falei, irônica. — A nossa trégua acabou, Scorpius. Eu não sou burra.

Ele ficou em silêncio por um instante.

— Você acha mesmo que... — Scorpius não terminou a sua fala, apenas passou a mão direita entre os fios de cabelo loiros bagunçados e suspirou. — Rose, isso é sério?

— Por que diabos não seria sério, Malfoy? — indaguei, desafiadora.

— Não sei, Rose, porque depois de tudo o que aconteceu, achei que você pelo menos pudesse confiar um pouco em mim, mas vejo que me enganei. — Sua feição indicava frustração, mas eu fingi não ver.

— É, se enganou — garanti. Meu orgulho havia falado mais alto do que eu, por isso, senti uma pontada no meu coração. — Você me odiou praticamente a nossa adolescência toda, não venha querer que eu confie em você de um dia para o outro!

— De um dia para o outro? — Ele riu, incrédulo. — De um dia para o outro? Que merda, Rose, a gente se conhece quase a vida toda!

— É, a gente se conhece quase a vida toda, e você nunca fez questão de me dar motivos para realmente confiar em você — falei, mas sabia que, em partes, eu estava errada. — Muito pelo contrário, na verdade.

— Eu nunca... — Eu sabia que eu estava prestes a deixá-lo com os nervos a flor da pele, o que não era algo fácil de ser feito. No entanto, Scorpius suspirou, a fim de manter a compostura, e equilibrou o seu tom de voz, impecável como quase sempre. — Eu não cuidei de você por caridade, Rose, eu cuidei de você porque eu quis. É tão difícil assim acreditar?

— Você passou quase a metade da minha vida me odiando, então, sim — rebati, sem nem pensar duas vezes. — E eu sou grata pelo que fez por mim, vou arrumar um jeito de recompensá-lo.

A julgar pelo seu olhar, que parecia levemente triste, talvez eu tenha sido muito dura nas minhas palavras, mas não havia volta, afinal, eu já as havia dito.

— Rose... — ele me chamou, tão baixo que eu quase nem pude ouvir. Ainda que eu estivesse um pouco constrangida devido a tudo o que eu havia dito, encarei-o em seus olhos cinzentos. — Eu não quero uma recompensa. — Ele suspirou. — Você sabe que eu nunca te odiei de verdade, não sabe? Nós éramos apenas adolescentes, eu nunca te odiei.

Eu não o respondi de imediato. Na verdade, eu nem sequer sabia o que deveria pensar acerca daquela declaração tão repentina. Senti meu coração palpitar por um instante, sem saber o real motivo para isso. Os olhos cinzas de Scorpius me fitavam como se ele implorasse por perdão. Por isso, desviei o meu olhar para o chão.

— Não foi o que pareceu na época.

Não abri margem para qualquer resposta que ele pudesse dar, porque logo saí da sala e retornei para o quarto.

Depois desse momento, eu tive certeza de que havia tomado o meu remédio em vão, porque a minha dor de cabeça certamente não passaria tão cedo.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez, desculpa por ter sumido, pessoal. Em breve eu trarei novas atualizações. Espero que estejam curtindo o rumo da história. Esse capítulo foi mais curto do que o habitual, mas vocês serão recompensados futuramente. Beijinhos e até mais!



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