Nosso Deslumbre escrita por Sirena


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Obrigada Isah Doll e Saibotris pelos comentários ♥



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 Laura estava se maquiando com auxilio do zoom da câmera do celular. Seu coração martelava no peito enquanto terminava.

Usava uma calça apertada, preta, de cintura alta, e um cropped branco de decote princesa e mangas bufantes. Passou um batom vermelho e subiu o zíper dos coturnos pretos de salto alto.

Se levantou engolindo em seco e saiu do quarto pegando sua bengala. Sentia suas pernas trêmulas e suas mãos suarem.

— Como estou? – perguntou, na sala, para avó Lurdes e vô Mateo.

— Tá bonita. – ele respondeu.

— Parece gente. Mas, lembra que se a pessoa não for rica, não vale a pena. – avó Lurdes respondeu.

— Vovó!

— Manda a localização para sua irmã. E me liga quando chegar lá. Não seja sequestrada.

— Vou fazer o melhor possível para não ser sequestrada, abuelo. – Laura revirou os olhos. — Tô indo nessa.

— Volta antes do jantar! Eu não vou guardar comida para você!

— Não se preocupa, vovó.

— Aqui, coloca isso. - avó Lurdes mandou tirando o colar dourado de coração vermelho que usava. — São os detalhes, os detalhes fazem toda diferença.

***

Giovana ficou mexendo na sua meia-arrastão enquanto olhava pela janela do carro, nervosa.

“Vai pai, eu vou me atrasar!”

— Giovana, eu não controlo o trânsito!

A garota grunhiu, estressada e ansiosa. Pegou um espelho na bolsa e verificou a maquiagem, as mãos tremendo enquanto ajeitava o cabelo cacheado volumoso. Tirou uma mancha de batom do dente e arrumou as mangas do vestido vermelho nos ombros.

— Você tem certeza que não é ninguém fingindo ser outra pessoa?

— Eu stalkei todas as redes sociais dela e de todos os amigos dela vinte e três vezes. Tenho certeza. - Giovana garantiu.

— Vou ficar pegando viagens por perto do shopping, qualquer coisa você me liga.

“Sim, senhor.” — suspirou. Nunca entenderia como seu pai conseguia dividir o tempo entre ser motorista de aplicativo e ajudar tanto Helen quanto Sara a administrarem o ateliê e o sebo. Não era atoa que ele se parecia muito mais com um senhor de sessenta anos do que com um quarentão pensou observando as marcas de expressão em torno dos os olhos caídos e escuros dele, as olheiras marcadas somadas com a palidez da pele negra, fazia com que parecesse doente.

— E me avisa assim que encontrar ela, me manda mensagem de hora em hora avisando se tá tudo bem.

“Ok.”

— Eu vou te ligar às quatro da tarde pra você vir aqui pra fora para irmos embora.

“Tá, beleza.”— Giovana suspirou e revisou mentalmente as instruções que Helen e sua mãe tinham passado, muito parecidas com essas. — Porcaria de trânsito.

Pegou o celular no bolso fazendo careta.

[Giovana]
Vou me atrasar
Desculpa
Trânsito

 

[Laura]
A
Ok
Já to chegando
Vou te esperar na frente do cinema

 

[Giovana]
Ok
Te vejo daq a pouco

***

Laura apertava as mãos ansiosamente, sentada nas escadas em frente ao cinema. Repassava mentalmente, com ansiedade, tudo que queria dizer a Giovana, embora não tivesse bem certeza de como diria isso. Queria ter conversado mais com ela sobre como exatamente, bem... Como conversariam. Mas, sentia que ainda não tinha processado bem a informação, então só seguiu a conversar marcando de se encontrarem.

Respirou fundo sentindo o peito apertar enquanto pegava o celular na bolsa novamente.

— Relaxa, Laura, relaxa! O pior que pode acontecer é você não ter com quem dividir o lanche e isso não é tão ruim assim, né? É até bom se você parar pra pensar, não? Então... Calma, respira. A vida é a vida, merda acontece. Mas, talvez dê tudo certo. Talvez. Não fique tão esperançosa também. Mas, também não fique desesperançosa, ninguém fica bonito quando tá sem esperança. Só... Relaxa.

Definitivamente, nada relaxada.

Nem um pouquinho que fosse.

***

— Giovana, espera o carro parar, caralho! – o pai gritou enquanto a filha abria a porta do carro que ainda estava estacionando.

"Tchau, pai. Valeu a carona!"

— Ei, ei, volta aqui! Manda a localização pra mim e pra suas mães.

A garota grunhiu enquanto voltava para perto do carro, pegando o celular. — Tá.

— Vai encontrar ela onde?

— Na frente do cinema.

— Tá bom. Dá beijo.

Giovana suspirou se inclinando para dar um beijo na bochecha do pai. — Obrigada pela carona, te vejo mais tarde.

— Tá bom. Te amo.

“Te amo.”— ela sorriu antes de fechar a porta do carro e sair correndo.

Giovana odiava correr de All Star, sentia seus calcanhares doerem, também odiava porque sabia que seus seios balançavam muito nisso, mas naquele instante não importava. Seu coração estava disparado de ansiedade. Só queria encontrar com Laura o quanto antes. Parou perto do cinema, para recuperar o fôlego e verificou no celular quão atrasada estava.

Vinte minutos.

Inferno.

Respirou fundo, ajeitando o cabelo, o rosto quente e o coração acelerado. Ajeitou as mangas do vestido novamente e verificou seu reflexo na tela do celular para confirmar novamente que a maquiagem estava ok.

Ajustou os aparelhos auditivos enquanto voltava a andar, guardando o celular na bolsa tiracolo.

Seus olhos esquadrilhavam as escadas em frente ao cinema, procurando.

Sentiu um sorrisinho se arrastar por seus lábios quando finalmente a encontrou, sentada num dos degraus.

Giovana parou um instante, admirando.

Linda.

— Oi. – murmurou sem graça se sentando ao lado de Laura.

— Oi. – Laura respondeu, de cabeça baixa.

— Me atrasei muito?

— Um pouco. – ela riu, erguendo o rosto, um sorriso no canto dos lábios. — Tudo bem?

— Tudo. – Giovana comentou observando com atenção o rosto da garota. — Hum... Você pode falar virada pra mim? É mais fácil entender assim.

Laura ofereceu a mão sorrindo enquanto virava o rosto para Giovana que hesitou antes de pousar a mão sobre a dela, seus dedos se entrelaçando e as mãos se encaixando.

— Então... O que exatamente a gente vai fazer hoje?

— A gente combinou isso muito mal, não foi? – Laura suspirou.

— Mal pra caralho.

***

As duas acharam melhor ir para a praça de alimentação.

— Ok, mas, você não é surda, tipo, surda, né? Quer dizer, você entende o que eu falo.

— Leitura labial. – Giovana deu de ombros. — Eu uso aparelho auditivo, mas não ajuda muito. Tipo, eu ainda escuto bastante, mas na maior parte do tempo não entendo, aí o aparelho me faz ouvir melhor, mas isso não significa que eu entenda melhor, saca? Só com leitura labial eu consigo entender direitinho. Quer dizer... Às vezes eu entendo sem ler lábios, mas só às vezes e normalmente só se não tiver muito barulho em volta, se tiver leitura labial é o que funciona pra mim. Na real, Libras é o que funciona pra mim, leitura labial é mais um plano B.

— Ah.

— Tipo, se a pessoa fala com o rosto de lado invés de virado pra mim, ou com o rosto baixo... Eu só não consigo ler os lábios dela. E também, quando eu fico lendo lábios por muito tempo, acabo ficando cansada. É cansativo demais, então eu prefiro usar Libras. Eu fiz fonoaudióloga dos dois anos até os quinze, por isso oralizo bem.

— Entendi.

— E você?

— Baixa visão severa. – Laura deu de ombros dando uma colherada no petit gateau que haviam comprado antes de sentarem-se. — Não é cegueira, mas é tipo... Tipo... Como... Eu não sei explicar. Como uma miopia muito alta, eu acho... Ou algo assim. Quer dizer, eu tenho miopia alta, astigmatismo alto, moscas flutuantes que são umas manchas aparecendo de vez em quando, então baixa visão não é exatamente miopia, mas eu não sei explicar.

— É tipo tudo meio embaçado?

—... Acho que é. – suspirou. — Eu queria aprender Libras quando pequena, mas, né... É meio difícil aprender a falar com as mãos quando eu não enxergo bem as mãos das pessoas.

— Ah.

— Isso é um problema, né? – Laura questionou após um longo instante de silêncio.

— Eu... Não sei. – Giovana admitiu, fazendo careta. — Eu converso em Libras mais fácil que em português, então... Meio.

— Ai.

— Desculpa.

— Não, não, eu... Eu devia ter dito antes.

— Eu entendo você não ter dito.

— Também entendo você não ter dito. – Laura sorriu. — É bem chato, né?

— Pra caralho! Parece que tem um baú enorme de coisas para assumir o tempo todo!

— Parece que nunca dá pra parar de ter medo de como os outros vão reagir...

— Pois é.

As duas voltaram ao silêncio, focando-se em comer.

— Mas... Tipo... – Giovana mordeu os lábios e respirou fundo, afastando as batatas fritas e dando um gole em seu milk shake. — Tipo... A gente pode... Sei que não é o que estávamos esperando, né? Mas, podemos continuar como amigas.

Laura forçou um sorriso, mas teve a impressão de que saiu mais como uma careta.

— Amigas, claro, claro. Por que não? Amigas. Então, é... Cinema agora?

— Como exatamente você sugere que a gente vá ao cinema se eu não escuto bem e você não enxerga bem legenda?

Laura comprimiu os lábios. — Eu tenho uma ideia. Mas, a gente vai ter que sair do shopping.

—... Você não vai me sequestrar, não é?

— Não.

— Ok, então. Só vou avisar meus pais.


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