Sirius Black sempre foi um homem leal. Isso significava ser leal em suas amizades, relacionamentos e, por fim, ser fiel em relação aos seus sentimentos.

Portanto, quando soube que gostava de Marlene McKinnon mais do que como uma simples amiga, não hesitou em demonstrar, mesmo que de maneira torta.

Passava as aulas provocando a garota. Propunha encontros em Hogsmeade, surpresas na sala precisa, enquanto Marlene apenas revirava os olhos e, em seguida, ria das cantadas idiotas dele.

Para alguém que sempre teve tudo que quis, Sirius persistiu por eternos 30 dias até que ela lhe roubou um beijo. A felicidade daquele momento ainda era uma lembrança recorrente em seus sonhos. Anos depois, ela admitiria que não havia cedido antes, pois gostava de vê-lo inquieto em busca da atenção dela. Sirius iria sorrir e beijá-la com toda a urgência da primeira vez.

Em dias bons, Sirius se via perdido em lembranças de um verão com ela. Os beijos com gosto de sal, os lençóis desarrumados, os encontros em lugares inesperados. Ele sempre aparecia na janela da casa do McKinnon de madrugada, convocando Marlene para uma aventura.

Sobrevoavam toda a cidade e terminavam sempre em algum lugar em que pudessem olhar para o céu. Lá era o único lugar em que podiam se sentir infinitos.

Eles nunca haviam de fato estabelecido rótulos, nomes, ou marcado a data que aquilo tudo havia começado, mas o amor estava ali. Estava na curva do sorriso de Sirius quando entrelaçava os dedos nos de Marlene. Estava no olhar preguiçoso dela, ao acordar pela manhã depois de terem se esgotado noite afora.

O amor estava nos dias bons e era testado nos dias ruins. Quando Marlene acordava no meio da noite com medo e sem conseguir respirar. Quando Sirius se afastava por medo de emboscarem os dois. Quando as lembranças do passado feliz eram tudo que eles possuíam, pois o futuro parecia estar sendo aniquilado a cada feitiço amaldiçoado.

Viviam na esperança de uma solução, de não perder mais ninguém. Pensar em dias pacíficos, sem a ansiedade do próximo corpo tombado era um luxo que não tinham. Então eles se alimentavam do laço que haviam criado e de um falso otimismo de viver até a próxima hora.

O tempo escorria e cada dia era como se fosse o último.

Até que de fato, foi.

Sirius gritava de dor vendo a vida ser ceifada do corpo de Marlene. Dor de perdê-la, dor de não ter tido tempo suficiente para amá-la, dor porque o amor jamais havia sido o suficiente.

Em dias ruins, Sirius se via perdido em lembranças de quando brigavam ou de quando ela se foi. Derramava lágrimas, enquanto se afundava em qualquer bebida barata. Tudo era amargo, vazio e desbotado.

Sentia-se egoísta, desleal, fraco, porque se questionava do porquê daquilo tudo. A guerra podia um dia ter fim, mas não havia reparo para os estragos feitos por ela.

Era duro saber que Marlene jamais havia sido dele e, mesmo assim, perdê-la dessa forma era como perder uma parte de si.

O sorriso dela um fantasma, de um amor que foi bom, foi ruim e que agora viveria em gritos silenciosos nas paredes de Azkaban. Um amor que voltaria dos mortos em sonhos selvagens, deixando para sempre uma marca permanente. Um amor que se perderia em um jato de luz, o atingindo bem no peito.

Tarde demais.