The one with Lily Luna's situation escrita por Morgan


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

The one with Lily Luna's situation foi a primeira ideia que eu tive para o Maio Weasley e eu não achei que fosse realmente sair. Ela me deu trabalho em tudo, até na capa. E até depois de pronta, agora, na hora de postar, eu achei que tinha perdido ela inteira hahahah. Então, espero que ela não seja um surto total e alguém possa fazer uma boa leitura! Até as notas finais ♥



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Harry e Ginny Potter haviam viajado sozinhos pela primeira vez em anos para comemorar seu aniversário de casamento. Harry ainda estava receoso sobre isso mesmo que seus filhos agora fossem bem mais velhos e faltassem poucas semanas para que James Sirius finalmente completasse 17 anos.

Bem, talvez o fato de saber que em breve seu filho mais velho seria maior de idade fosse exatamente o que preocupava o sr. Potter.

— Sem festas, sem namorada, no máximo Fred e Roxanne e não o fim de semana inteiro, estamos entendidos, James? – dissera ele ao filho antes de sair.

James suspirou.

— Já entendi, pai, o senhor quer que eu passe três dias miserável e sozinho.

— James.

A postura do garoto mudou assim que seu nome saiu dos lábios de sua mãe que fazia os últimos retoques no cabelo em frente ao espelho do corredor.

— Não quero que você seja miserável, Jamie, só quero que dê atenção aos seus irmãos.

James fez uma careta como se o pai tivesse acabado de enfiar um limão dentro de sua boca.

— Sua irmã sente a sua falta – disse Ginny. – Passe um tempo com ela.

— Mãe, você não conversou com ela nessa última semana? O humor da garota está impossível!

Sua mãe apenas riu.

— Estou contando com você, James. Pode cuidar dos seus irmãos? – Harry encarou o filho com seus olhos verdes doces, pouco severos, mas extremamente eficazes em fazer os filhos se sentirem culpados. James assentiu.

— O senhor sabe que sim.

Harry e Ginny sabiam que James era um bom irmão mais velho para Albus e Lily, mas o último ano em Hogwarts, a nova namorada, as ocasionais encrencas e, bem, apenas a idade o estava afastando lentamente dos mais novos, algo que Ginny odiava. Vinha de uma família grande e amorosa, mesmo com as desavenças todos os irmãos sempre estiveram ali uns pelos outros. 

Então os dois partiram na sexta-feira à noite e até a hora do almoço do dia seguinte James já estava achando que estava tudo muito bem em casa, começou a pensar que ficar sozinho com os irmãos mais novos seria exatamente igual a estar em casa com eles e com os pais.

Isso até Albus abrir a porta de seu quarto sem cerimônia alguma e avisar que já estava na hora dele descer e fazer o almoço.

— Eu não sei cozinhar direito – disse James.

Albus suspirou tão alto que James pensou que até mesmo os vizinhos seriam capazes de escutá-lo enquanto se virava murmurando "onde diabos estava Teddy", algo que fez as orelhas de James esquentarem na mesma hora e largar o livro que estava lendo.

James se arrastou até a cozinha no andar de baixo da casa apenas para se deparar com Albus encarando uma panela cheia de água e um pacote de macarrão. Ele ergueu os olhos cheios de expectativa para o irmão mais velho e James revirou os olhos enquanto abria um sorriso.

— Scorpius me disse que era só colocar na água e deixar cozinhar.

James dobrou as mangas longas de seu pijama e foi para detrás do balcão junto do outro.

— E o que Scorpius Malfoy poderia saber sobre fazer macarrão, Al? Scorpius Malfoy!

— Talvez a gente devesse olhar na internet primeiro...

— Nah – disse James em seu tom confiante de sempre enquanto colocava o macarrão dentro da panela e ia até o fogão. – É só macarrão, o que poderia dar errado?

Bom, algumas coisas. Começando pelo tempo de cozimento que James e Albus não acompanharam como deveriam e quando despejaram a massa branca no escorredor, ela não estava nem um pouco parecida com o que sua mãe costumava fazer. Era apenas uma massa grudenta que nem se mexia. 

— Quanto tempo você disse? – questionou James com o cenho franzido enquanto enfiava o garfo na comida e tentava separar a grande bola que havia se formado.

— Eu não disse! Devíamos ter olhado as receitas, James, olhe só isso... – Albus se jogou na cadeira com uma expressão decepcionada. – E eu estou com tanta fome! Não podemos ir para vovó Molly?

— Você sabe que ela está doente, Al – disse James.

— Sério, por que papai não mandou Teddy ficar conosco? Ele sempre faz um prato diferente...

James largou o garfo causando um barulho alto na cozinha. Ele enfiou a mão no bolso da calça, passando rápido por sua lista de contatos até encontrar o nome que procurava. Podia não saber fazer uma galinha assada, lasanha ou as sobremesas especiais de Teddy, mas até onde sabia ainda era um bruxo e sabia exatamente quem podia ajudá-lo nisso.

— Oi, tio Percy. Não, não, está tudo bem. Sim, eles viajaram... escute, tio, posso te perguntar uma coisa? Sei que está no Ministério agora, então se você não puder falar... – James riu, recostando-se no balcão. – É que Al e eu... – Albus deu um chute na canela do irmão em um aviso claro de que não queria ser colocado nessa história. – Ok, apenas eu. Eu estava fazendo um macarrão para almoçar, mas saiu um pouco errado, sei que não posso tirar comida do nada, mas eu posso consertá-lo?... Não, não queimado. Está mais para o oposto – Albus observava o irmão com atenção quando ele puxou a varinha do bolso e apontou para o prato a sua frente. Com um movimento quase imperceptível aos olhos de Albus e um feitiço silencioso como James sempre fazia desde que sua tia Fleur o havia ensinado, o macarrão voltou ao normal em segundos.

Bem, o melhor normal que ele conseguia ficar, isso com certeza.

— Funcionou, tio Percy! Muito obrigado, o senhor é incrível! Tudo bem, eu ligo sim. Até mais!

Os olhos de Albus brilhavam enquanto mexia no macarrão com o garfo, de um lado para o outro, apenas pelo prazer de saber que agora era possível.

— Não sabia que tio Percy conhecia feitiços de comida. Achei que estava ligando para Alice ou Rose.

— Tio Percy conhece muitos feitiços, Al. Sempre que precisar de ajuda ligue para ele. É o que eu faço.

James abriu a geladeira, pegando diversos tomates, cebolas, alhos e algumas folhas que ele não sabia bem o nome, mas sabia que a mãe usava e que ele gostava.

— E ele ajuda? – perguntou Albus enquanto levantava-se da cadeira para pegar os tomates que James jogava em sua direção como se fossem balaços.

— Sim, sempre – respondeu sincero. 

— O que você vai fazer agora?

— O que nós vamos fazer agora – James disse com um sorriso – é o molho de tomate.

James puxou o primeiro tomate para a bancada e quando estava prestes a começar a fatiá-lo, a voz de Albus o interrompeu.

— Posso olhar na internet agora?

James não conseguiu evitar rir da expressão pesarosa do irmão.

— Sim, Al. Vamos olhar. 

*

— Não quero.

— Albus!

— Não quero – repetiu o garoto. – Você é o mais velho. Você é um adulto! Vai você!

James bufou. Os dois tinham consertado o macarrão, feito o molho de tomate e preparado a mesa. 

E Lily Luna não havia aparecido em momento nenhum. 

— Quando ela estiver com fome, ela vai descer – continuou Albus pegando o garfo, pronto para começar a comer.

— Não – disse James tirando o garfo do garoto novamente, Albus suspirou. – Vamos comer juntos... ou tentar. Temos que pelo menos tentar.

— Ela quer ficar sozinha, James, sério. Está trancada desde ontem.

— Não importa, vamos chamá-la. Nós não devíamos saber por que ela está tão triste? Ande, vamos. 

Os dois garotos subiram as escadas juntos, caminhando sem pressa até o quarto da irmã mais nova. A porta do quarto de Lily Luna se mostrava criativa, como ela, com diversas pinturas a decorando. A que James mais gostava era o desenho da parte de cima, onde A Toca estava contrastando com o fundo brilhante do sol que nascia atrás dela.

Ele bateu na porta, mas não teve resposta.

— Eu disse. Ela quer ficar sozinha.

— Ela só tem doze anos, Albus – James revirou os olhos e bateu novamente. – Lily Luna, vamos almoçar.

O silêncio continuou. Albus olhou para o irmão como se dissesse que havia avisado muito mais do que uma vez, mas James só conseguiu franzir o cenho. Esse tipo de comportamento não era normal. Pelo menos quando sua mãe estava em casa, Lily Luna descia, se estressava com Albus e subia novamente, agora ela não se dava nem ao trabalho de responder?

O garoto colocou a mão na maçaneta e bateu novamente.

— Estamos entrando. 

 A única luz acesa no quarto da pequena Potter eram as luzes de LED no varal de fotografias que James havia pendurado para ela no verão passado e ficava em cima de sua cama. 

Albus acendeu o interruptor ao seu lado e a garota se mexeu, desenterrando sua cabeça dos inúmeros cobertores jogados em cima de si.

— O que é que vocês querem? – soltou.

— Você está bem? – Perguntou James, sentando-se na beirada da cama e tirando a maioria dos cobertores de cima da garota.

— E desde quando você se importa? Alice Longbottom não te atendeu hoje?

Os cabelos ruivos de Lily Luna estavam colados em seu rosto e James se aproximou para tirá-los, escolhendo não responder. Sabia que a irmã caçula estava chateada com ele há algum tempo, principalmente desde que ele começou a namorar Alice e passou a passar ainda menos tempo em casa mesmo nas férias.

— Vamos almoçar.

— Não quero almoçar, estou com dores.

— Que dores? – Ele franziu o cenho, colocando a mão na testa da garota quando ela se virou para ele. – Você não está com febre. Está com dor de cabeça? Dor de garganta? O que você está sentindo?

— Ahn... James – chamou Albus.

— Pensando bem, você está um pouco gelada mesmo...

— James – chamou o garoto novamente.

— Onde está sentindo–

— JAMES!

O que, o que foi agora, Albus?

James se virou impaciente para encarar o irmão que ainda estava parado perto da porta. Sua expressão era confusa e seu olhar não estava em nenhum dos outros dois, mas sim em um ponto especifico na cama. James puxou Lily Luna para o lado e quase engasgou.

— Ah, por Merlin. Você não está doente, está apenas menstruada.

Lily se soltou do irmão o mais rápido que conseguiu, vendo por si mesma a mancha vermelha que Albus foi o primeiro a notar. Ela sentiu suas bochechas corarem, puxando o cobertor para tampar a pequena marca vermelha em seu pano de cama que a fazia se sentir tão envergonhada de repente.

— Acho melhor vocês saírem – disse ela sem conseguir erguer o rosto.

— Doninha, podemos ligar para alg–

— Não! Saiam daqui! Vão embora! – Esbravejou ela. James e Albus não se ofenderam, apenas trocaram um olhar e deixaram o quarto juntos.

— Ela está sangrando – disse Albus finalmente, quando eles já estavam na metade do corredor. James revirou os olhos.

— É normal.

— Acho que é a primeira vez. Ela parecia meio assustada, não era?

— Será?

— Acho que sim.

James estalou a língua, suspirando. Por que essas coisas tinham que acontecer quando ele estava no comando?

— Podemos ligar para mamãe.

James recusou prontamente.

— Não. Menstruação é algo normal e se ligarmos para eles e fazermos disso uma coisa tão grande, eles vão voltar e é a primeira vez em anos que eles viajam sozinhos. Não é justo com os dois.

— Victoire?

— Ela está viajando com Teddy.

— Tia Fleur? Dominique? Molly? Roxy? Posso continuar o dia todo, temos uma família grande – falou o garoto de uma vez só fazendo James rir.

— Você viu que ela não queria.

— Bom, então vamos deixar ela se virar! Tenho uma partida de War online marcada com Scorpius e–

— Albus, não podemos deixá-la sozinha!

— Ela já tem doze anos, com certeza entende mais disso do que nós!

James negou com a cabeça, tirando o celular do bolso.

— Não vamos deixá-la sozinha. Volto em quinze minutos. E se você estiver grudado naquele computador, vou fazer com que ele suma em uma Chave de Portal!

Albus respondeu, provavelmente algo mal-criado, mas James não escutou, pois assim que terminou de falar aparatou bem na frente do mercado que havia perto de casa. A porta se abriu assim que se aproximou e ele entrou no primeiro corredor que viu enquanto seu celular completava a chamada que fazia.

Já era a segunda pessoa para qual ele ligava. Estava começando a se cansar. Eles não davam problema para Teddy ou ele era simplesmente muito bom em resolver tudo quando cuidava deles?

— Oi, amor – disse Alice do outro da linha. – Já estava com saudades.

— Eu também estou – disse James. – Mas não foi por isso que liguei.

— O que aconteceu?

— Bem... então... estamos com uma situação lá em casa...

— Situação? – Alice riu.

— Lily Luna teve sua primeira menstruação, aparentemente.

— Ah! Coitadinha! A primeira é sempre a mais difícil! Não sabemos o que está acontecendo – falou simpática. – Mas isso explica você dizer que ela estava estressada. Talvez estivesse de TPM.

James levou um tempo para responder. De repente se tornou muita informação para o garoto, mesmo que ele tentasse demonstrar para o irmão mais novo que era tudo muito normal, sozinho estava autorizado a ter alguns receios, não é?

— Sim, então, ela está trancada no quarto e nossa mãe não está em casa. Eu estou no mercado agora porque achei... não sei bem o que eu achei, por isso liguei para você, para você me dizer o que fazer. Você é sempre boa nisso.

— No que?

— Em me dizer o que fazer.

A risada da garota se fez presente mais uma vez e James se permitiu relaxar um pouco. A voz de Alice era sempre tão calma e decidida. Ela realmente parecia sempre saber o que fazer e quando não sabia, dava um jeito de descobrir. James era completamente apaixonado por ela. Sua risada foi cessando aos poucos e ela pigarreou.

— Ok, tudo bem. Eu gostava de usar absorventes com abas quando era menor, tampões não eram muito a minha praia, pelo menos não no primeiro mês. Acho que esse pode ser um bom começo para ela. Qualquer marca vai servir. Sua mãe pode ajudá-la quando voltar.

— Tudo bem. E o que mais?

— Remédio para cólica, chocolate e um pouco de atenção deve resolver tudo.

— Tudo bem, tudo bem. Eu disse para Albus que voltava em quinze minutos, então tenho que ir. Muito obrigada, amor, não sei o que seria de mim sem você.

Alice riu e James soube, simplesmente soube, que ela estava revirando os olhos para ele.

— Se precisar de alguma coisa, me liga. Até depois, Jay.

James enfiou o celular no bolso e se virou para as prateleiras lotadas ao seu lado. Segundo Alice, qualquer marca iria servir, mas o Potter não acreditava muito nisso. Os preços eram totalmente diferentes, então é claro que algumas deviam ser melhores que outras, não é?

Pouco mais de cinco minutos depois e uma ida rápida a farmácia, James voltou para casa carregando duas sacolas. Gostava de fazer magia, gostava mesmo. Mas tinha que admitir que viver na Londres trouxa era rápido e fácil. Em Hogwarts, enquanto os colegas corriam para a enfermaria em busca de poções para dor de cabeça, James e Alice resolviam tudo com algum comprimido que Hannah Abbot havia colocado nas coisas da filha.

Claro que nem sempre foi assim. James demorou a entender que embora o pai trabalhasse no Ministério da Magia e fosse famoso pelo mundo inteiro, ele não gostava disso. E viver na Londres trouxa impedia que jornalistas intrometidos o seguissem o dia inteiro tirando fotos de cada pequena coisa que Harry Potter, O Eleito e sua família fizessem. Obviamente tudo ficou muito melhor quando a mãe de Alice decidiu que não queria administrar o Caldeirão Furado ela mesma e gostaria de cuidar de jardins, como o lado não-mágico de sua família.

James jogou a primeira sacola no balcão da cozinha, encheu um copo de água e subiu as escadas em direção ao quarto da irmã mais nova. Albus, que ouviu os passos do irmão, saiu rápido do quarto.

Como se James não soubesse que ele estava jogando videogame.

Os dois pararam na frente da porta de Lily Luna novamente e James bateu.

— Doninha, estamos entrando. 

As luzes de seu quarto agora estavam acesas e o pano que antes estava na cama, agora jazia jogado no canto do quarto. Lily estava sentada na cama, seus cabelos continuavam revoltosos e James se aproximou, entregando o copo de água a irmã.

Ele virou a sacola que segurava em cima da cama e Albus soltou uma risada.

— O que diabos é isso?

— Eu não sabia o que trazer – explicou ele, abrindo a caixa do remédio que havia comprado e tirando um dos comprimidos amarelos. – Pode tomar, é para aliviar suas cólicas.

Lily continuava com o cenho franzido para o irmão mais velho, mas ainda assim aceitou.

— Não sei o que você deveria usar então eu trouxe tudo.

Lily entregou o copo para Albus enquanto revirava as compras em frente a ela.

— Tem com abas, sem abas, noturno, diário e para... ahn... fluxo intenso. Tem tampões ali também. Eu não faço ideia de como se coloca isso, mas vi uma mulher comprando. Tem um copo esquisito também que eu definitivamente não entendi a física da coisa, mas era caro e parecia... útil. Não sei.

Ele falou tudo de uma vez e pela primeira vez no dia, Lily Luna riu. James sentiu como se uma tonelada fosse tirada de cima dele.

— Obrigada, Jayjay.

James passou a mão pelos cabelos ruivos da irmã e abriu um sorriso.

— Você não precisa almoçar se não quiser, mas à noite vamos fazer algo especial para nós três, tudo bem?

— O que?

James levantou os ombros devagar. – Cookies? Bolo? Cookies e bolo?

— Cookies e bolo – respondeu a mais nova enquanto Albus e James saíam do quarto.

James podia ser muitas coisas para muitas pessoas. Para McGonagall, ele era definitivamente um arruaceiro e para Alice, antes de namorá-la, era apenas mais um apanhador idiota, mas James nunca quis ser um irmão ruim. Ele não sabia exatamente quando a ideia de Teddy ser um irmão mais velho melhor que ele passou a incomodá-lo, ele nunca se importou de dividir nada com o garoto, ora, ele não lembrava de existir sem o lufano. Teddy era o seu irmão. Havia o dedurado algumas vezes e salvado seu pescoço em outras, como um irmão costumava fazer. Mas quando Lily Luna e Albus passaram a dizer isso... James se sentiu mal. Não porque não poderiam considerar Teddy o que ele era mesmo no fim das contas, mas porque parecia que ele não era suficiente e isso foi difícil de sentir, principalmente quando você está acostumado a sempre ser mais do que suficiente para todo mundo.

James Sirius sabia que era muitas coisas, mas não queria ser um irmão ruim. Não mais pelo menos, em ano de exames ou não, por estar ocupado com uma garota ou não. Então, quando o ponteiro do relógio em cima da lareira dos Potter anunciou que eram cinco horas da tarde e Lily Luna desceu as escadas por vontade própria pela primeira vez em alguns dias, fitando Albus que lia uma história de quadrinhos trouxa distraído e James que após lavar a louça do almoço passou a responder as mensagens atrasadas em seu celular, o mais velho sorriu abertamente.

— Queria fazer bolo de cenoura – anunciou ela.

James bloqueou a tela do celular. – Bolo de cenoura é o que vamos fazer então.

Os três foram para cozinha. Albus insistiu em pegar o livro de receitas que seu pai havia montado para sua mãe usar em emergências, pois Ginny Potter nunca fora muito boa na cozinha, principalmente se não seguissem a risca uma receita. Albus apenas alegou que “James Sirius na cozinha era a maior emergência de todas”.

Enquanto Lily Luna pegava os ingredientes, o garoto se aproximou do irmão mais velho, abaixando o tom de voz:

— Você faz tudo que ela quer, por isso ela é mimada desse jeito.

— Ela está triste – justificou-se. – São literalmente os hormônios dela.

— Ela brigou com Anthony Zabini antes das férias, por isso que está assim.

James franziu o cenho, mas antes que pudesse pedir uma explicação mais elaborada do garoto, Lily Luna deixou que a enorme forma redonda caísse em frente a eles, causando um enorme estrondo.

— Estou ouvindo você, Albus!

O garoto apenas deu de ombros.

— Anthony é o irmão mais novo de Nico? – questionou James e a garota assentiu. – E por que vocês brigaram?

— Não foi nada demais.

— Ele estava por aí dizendo que o irmão dele era melhor que você porque ganhamos da Grifinória no ano passado.

— Meu Deus, Al, você é tão fofoqueiro! Nada segura essa sua boca?

— E o que tem ele saber, não foi sobre ele também? – retrucou o garoto. James percebeu com uma risada que quando Albus e Lily Luna estavam juntos, ele raramente parecia ser três anos mais velho que a garota.

— Tudo bem – disse James, empurrando Albus para o lado e o mandando bater os ingredientes juntos e quando o garoto obedeceu, voltou-se para a mais nova que brincava com as embalagens da cobertura de bolo timidamente. – Você não deveria ter brigado com seu amigo por causa de mim, Doninha.

— Já tenho doze anos, James, você pode parar de me chamar assim.

— Quando você ficar mais alta talvez eu pare.

— Eu não briguei-briguei com ele – disse ela olhando decidida para James, seus olhos castanhos faiscando exatamente como os da mãe quando ficava incomodada. – Só disse que ele estava sendo estúpido e que deveria me procurar quando não fosse mais me fazer ouvir tanta idiotice.

Albus soltou uma gargalhada atrás deles. – Sério, você é muito grossa!

— Doninha, nem todo mundo em Hogwarts gosta de mim. Eu estudo lá há bastante tempo para ter incomodado algumas pessoas, você não precisa brigar por mim.

— E daí? Você ainda é o meu irmão mais velho – resmungou ela, saltando do banco onde estava e indo até Albus para colocarem a massa na forma para que James pudesse colocar no forno de uma vez.

Depois do bolo, eles perceberam que era muito melhor só pegar a massa pronta dos cookies do que tentar fazer e destruírem a cozinha e todos os mantimentos da casa.

James gostou de ver Albus e Lily Luna montarem juntos as fornalhas que iriam ao forno, principalmente quando Lily Luna convenceu o irmão a fazer todos os biscoitos em forma de coração, gostou quando Albus passou a contar todas as fofocas possíveis sobre os alunos da Sonserina – ele era, definitivamente, o mais fofoqueiro da família Potter. Talvez até mesmo da família Weasley, embora Lucy não ficasse muito atrás. Gostou de ver a irmã mais nova rir e gostou mais ainda quando eles tiraram as formas do forno e puderam colocar a cobertura de chocolate no bolo.

E embora gostasse da animação recém adquirida dos irmãos mais novos, James se sentiu um pouco mal ao perceber que as histórias deles nunca acabavam. Não porque ele não queria ouvir, queria sim, mas dava a impressão de que eles as tinham guardado por muito tempo, apenas esperando por uma brecha para que pudessem contar ao mais velho. Saber que ele não havia dado esse espaço naquele último ano o fez se sentir muito envergonhado.

— E então Rose simplesmente saiu! Sério, é muito difícil conviver com os dois ao mesmo tempo. Se odeiam! Se odeiam sem mais nem menos! – disse Albus, exasperado, depois de um longo monólogo sobre Scorpius Malfoy e Rose Weasley.

— Rose é meio irritada por natureza, né? – comentou Lily Luna.

— Deve ser coisa de ruiva – provocou Albus fazendo a irmã fechar a cara para ele.

Estava prestes a mandar os dois ficarem quietos quando a campainha tocou o fazendo levantar. Ao abrir a porta, deparou-se com um menino franzino de pele negra e cabelos cacheados. Não se lembrava de ter visto o garoto alguma vez, mas quando seus olhos castanhos se ergueram para James, ele não conseguiu não sorrir. O menino parecia igualmente amedrontado e orgulhoso.

— Boa tarde. Posso falar com Lily Luna?

James inclinou a cabeça para o lado, sentindo-se divertido. – E qual é o seu nome, garoto?

— Anthony? – disse Lily Luna atrás dele. – O que está fazendo aqui?

— Eu... ahn... – o garoto olhava de Lily para James, que poderia facilmente ser considerado assustadoramente alto por um garoto de 12 anos. Ele mexia as mãos nervosamente e o garoto mais velho riu, desistindo da pose que o pai teria tido e puxando o pequeno Zabini para dentro de casa. – Só queria conversar.

Lily o olhou impassível por uns bons segundos até concordar com a cabeça e dizer para Anthony a seguir até o quintal do outro lado.

— Fique no meu campo de visão, Doninha! – gritou James quando ela bateu a porta de vidro, resultando em um olhar furioso por tê-la chamado assim em frente de qualquer pessoa que não fosse da família. Albus virou-se no sofá para ver a cena. Os dois sentaram-se no banco ao lado do bebedouro de pássaros que seu pai havia insistido em montar há alguns verões. Raramente algum pássaro realmente parava por ali, mas ele jurava que era por causa da “temporada de pássaros”. Aparentemente nunca era temporada de pássaros na casa da família Potter.

— Que garoto corajoso – disse ele, por fim, voltando-se ao irmão. – Não posso dizer o mesmo de você. Doninha? Ela vai te matar.

James riu, vendo como a irmã pareceu irritada no começo, mas agora parecia muito mais tranquila enquanto Anthony contava algo e gesticulava com as mãos. Ela jogou o cabelo para o lado e James sentiu-se, de repente, muito mais velho do que era realmente. Ele se voltou para Albus.

— Al?

— Hum?

— Sinto muito por não ter te ajudado ano passado nos treinos.

Aquilo pareceu ter pegado o garoto desprevenido. O mais novo piscou antes de apenas dar de ombros e sorrir.

— Está tudo bem.

— Não está, não. Sinto muito mesmo. Mas fico feliz que você entrou para o time da Sonserina.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não – disse James. – Só sinto muito por ter ficado meio distante de vocês ultimamente.

James pensou por um segundo que talvez Albus fosse negar, mas seu irmão não era assim, então quando abriu a boca novamente, disse:

— Sim, você foi meio idiota. Nem tanto comigo – falou. – Mas era o primeiro ano dela e você sempre foi o mais importante de todos. Sei que às vezes você acha que não precisa fazer o papel de irmão mais velho sempre porque temos Teddy, mas ele não é como você para ela. Acho que se ela não tivesse ido para Grifinória teria chorado o ano inteiro. Não por causa da família, mas porque ela sempre quis ser como você, então ser da mesma casa estava na lista.

James gostava do quanto seu irmão mais novo era divertido, mas gostava mais ainda quando ele era sincero.

— E ela gosta de Alice também. Só estava muito acostumada a ter toda sua atenção – continuou ele, trocando mais um olhar com os dois amigos do lado de fora da casa. – Mas as coisas vão melhorar. Nós já estamos crescendo.

Albus parecia que ia dizer mais alguma coisa, mas seu celular apitou e quando ele olhou para o visor, soltou uma exclamação.

— Ben me mandou uma mensagem – murmurou ele, o rosto começando a ficar vermelho. James riu. Albus ainda não havia contado para ninguém, mas era meio desligado e sempre deixava escapar alguma coisa perto de James sobre sua queda por Benjamin Chang. – Deve ser sobre o nosso trabalho de férias – disse tentando disfarçar o sorriso.

— Com certeza deve – James sorriu. – Você devia ir responder. Lá em cima, talvez?

— Sim, sim – ele ainda olhava para tela quando se levantou e começou a subir as escadas, distraído. – Lá em cima.

O sorriso de James aumentou mais ainda quando percebeu que havia um ainda maior no rosto de Albus enquanto ele subia as escadas. Não sabia por quê Albus não queria contar sobre sua sexualidade, seja lá qual fosse, a família – eles o receberiam com tanto amor quanto receberam Dominique, Fred II e Molly, mas o apoiaria de qualquer forma e em qualquer lugar assim que ele resolvesse o fazer.

Voltou seu olhar para Lily e Anthony do lado de fora na mesma hora que seu celular tocou.

— Oi, pai – atendeu.

— Sua mãe e eu voltamos segunda de manhã, no máximo na hora do almoço. Como vocês estão?

— Bem. Fizemos macarrão, bolo e cookies – respondeu.

— Isso parece bom. Sua irmã saiu do quarto?

— Ah, saiu sim. Veja, tivemos uma pequena situação com Lily Luna...

— Aconteceu algo?

— Nada muito grande, não precisa se preocupar – disse ele. – Vocês estão se divertindo?

— É como voltar a namorar.

James riu e Harry se juntou a ele.

— Pai?

— Sim, Jay?

— Foi muito difícil me ver crescer?

— Possivelmente a coisa mais difícil de todas.

— Pai, o senhor salvou o mundo.

— E ainda não retiro o que disse – James soltou uma gargalhada. Seu pai ficava cada vez mais dramático com a idade.

— Não sei se estou pronto para ver a Doninha e Al crescerem.

— Não há muito o que fazer, filho, isso vai acontecer. Lembra quando você teve seu primeiro coração partido? Aquela garota no quarto ano... como era mesmo o nome dela?

— Taylor Thomas-Finnigan – respondeu. Por muito tempo, James não conseguiu nem dizer o nome de Taylor e achou que nunca conseguiria. As coisas mudavam muito rápido.

— Isso, a filha de Dean e Seamus! – exclamou Harry. – A única coisa que você pode fazer pelos seus irmãos, James, é ajudá-los. Você passou por tudo antes deles, afinal.

— Você acha que posso fazer alguma diferença?

— Tenho certeza. Você não é o irmão mais velho deles por acaso, Jay.

— Obrigado, pai – disse. – Bom fim de semana para você e para mamãe.

— Voltamos logo, logo. Até depois, filho.

Abaixando o aparelho do ouvido, James riu quando Lily Luna encontrou seu olhar e fez uma careta, como se dissesse sem palavra alguma que ele deveria olhar para o outro lado.

Seu pai estava certo. Ele não era o irmão mais velho de Albus e Lily por acaso. E sempre faria qualquer coisa pelos dois. Mas ele também estava errado em uma coisa.

Vendo a garota sentada ao lado de Anthony conversando animadamente depois de desculpá-lo e imaginando que Albus deveria estar tão animado quanto ela enquanto trocava mensagens com o garoto que gostava, James soube que seus irmãos já estavam crescendo e Lily Luna havia dado o primeiro passo naquele mesmo dia.

Estava tudo acontecendo bem na frente de seus olhos e ao mesmo tempo em que se sentia um pouco triste por saber que um dia Lily Luna deixaria de ser a sua Doninha e Albus não o obedeceria mais e nem pediria conselhos em conversas disfarçadas com “então, eu tenho um amigo...”, ele também se sentia feliz.  

Amava os seus irmãos mais do que podia colocar em palavras, mas não via a hora de serem melhores amigos também.


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Notas finais do capítulo

E essa é a minha última contribuição para esse mês incrível que foi Maio Weasley, cheio de fanfics maravilhosas com a melhor família do mundo bruxo. Queria mt agradecer as administradoras do projeto por nos darem oportunidade de escrever tanta coisa legal sobre eles, que talvez não tivessem nascido se não fosse esse empurrãozinho!

Espero muito que vocês tenham gostado e possam me dizer o que acharam nos comentários. Nos vemos daqui uns dias no mês mais florido do ano: o junho Scorose. Beijooo ♥