Acts of love escrita por Fanfictioner


Capítulo 1
Love, care and companionship


Notas iniciais do capítulo

AVISO: Essa história contém gatilho de depressão e tentativa de suicídio, se for forte demais para você, não leia a parte 2 (Twenty-Two). A ideia é diminuir o tabu sobre o tema, e falar sobre como nunca estamos sozinhos. Se você está passando por sentimentos como os retratados nessa história, peça ajuda! Ligue CVV: 188, procure acompanhamento psicológico e apoio familiar e de amigos!


Essa fic nasceu fruto desses 3 sentimentos: amor, cuidado e companheirismo. O Pride Month foi mais do que um projeto de fanfics em 2020, e é por isso que essa fic é dedicado às todas as fanfiqueiras de lá. O JPFMB é um reduto de amizades e afeto, conversas boas e risadas, memes e muitos headcanons. É um safe place, um lugar para pedir apoio e cuidarmos umas das outras, como amizades que extrapolam o mundo de fanfics. É o local das pessoas sensatas, contra ronronados e com consciência política, que se reunem para temer um golpe militar. Companheirismo puro. Talvez eu fale mais com algumas de vocês, outras menos, mas saibam que todas tem o mesmo espacinho: o local especial de quem também está segurando minha mão nessa loucura que é viver no Brasil em plena pandemia. Que Act of Love é ter vocês, meninas.

Feliz Ever Secret Exchange



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Fifteen - Love

Teddy Lupin era, sem sombras de coisa, a melhor coisa que Victorie nunca tinha imaginado que gostaria de ‘ter’. Não que ela o tivesse, quer dizer, era confuso. Mas era confuso de um jeito delicioso.

Por anos, tinha sido apenas os dois. Teddy - o afilhado de Harry que, por algum motivo, sempre estava junto na Toca, com os cabelos mudando de cor incontrolavelmente e um monte de perguntas curiosas - e Victorie, a primeira neta dos Weasley, seus cabelos louros e feição principesca veélica herdada da mãe.

E, no entanto, mesmo depois de uma infinidade de outros primos - e irmãos -, Teddy ainda era o melhor amigo de Victoire, correndo e brincando juntos, mas é claro que Hogwarts tinha mudado tudo. Tanto pelos dois anos de diferença, que faziam Teddy já ser um terceiranista quando ela pisou na escola, quanto por ela ser selecionada para a Grifinória enquanto ele era da Lufa-Lufa.

— Teddy não liga mais para mim. - ela tinha resmungado, magoada, em sua primeira vinda para casa, para o Natal.

— Não seja boba, Toire. - o pai havia respondido, rindo enquanto preparava um prato de papinha para Louis, o caçula de apenas um ano à época. - Teddy só está mais acostumado à Hogwarts, e com mais amigos.

— Ele só anda com os amigos chatos dele. Nem fala comigo direito. E ele pode ir para Hogsmeade, enquanto eu fico mofando no castelo! 

— Deixa eu contar um segredo para você: - ele se inclinou na mesa e murmurou como se fosse um segredo. - garotos da idade do Teddy são chatos e se acham muito inteligentes. Mas se você for ainda mais inteligente e mostrar que não liga para as bobagens dele, então vão continuar sendo ótimos amigos. E quando ele superar ser um bobão, como todos os garotos são, vai voltar a ser seu amigo normalmente.

— Você era bobão, então? - insistiu Victoire, em tom de desafio.

— Eu era muito bobão. - Bill deu uma piscadinha, confidente. - E, qualquer coisa, você sempre pode dizer que eu estou querendo bater um papo com ele.

Não que Teddy tivesse medo de Bill, mas o respeitava tremendamente e admirava quase tanto quanto admirava o padrinho, e a voz ativa e as cicatrizes o intimidavam um pouco. Bill lembrava o falecido pai de Teddy, embora muito diferente, e o menino tinha o pai de Victoire em grande estima.

— Um galeão inteiro pelo que a aniversariante anda pensando. - murmurou Teddy em seu ouvido, fazendo um sorriso brotar imediatamente no rosto de Victoire.

Era a primeira visita a Hogsmeade no mês de maio e, coincidentemente, era o aniversário de Victoire. O tempo havia esquentado, e apesar de adorar festas e fazer aniversário, Victoire bem sabia que costumava ser um dia em que as pessoas ficavam mais introspectivas, por conta do aniversário da Batalha de Hogwarts. Os dezessete anos do evento tinham, inclusive, ocupado a semana inteira com rememorações e, sendo sincera, Toire estava meio exausta daquilo.

Ainda assim, por respeito, ela tinha decidido não fazer qualquer grande celebração, apenas aproveitar o passeio com as amigas. E esse plano ganhou um novo significado quando, na sexta após o almoço, Teddy Lupin a convidou para irem juntos, como um ‘encontro de aniversário’. Fazia alguns dias desde que ele tinha roubado um selinho dela na porta de sua sala comunal, e só a lembrança daquilo fazia as pernas de Toire parecerem gelatinas.

Era a piada mais gostosa do mundo que Teddy Lupin estivesse interessado nela, e Victorie não conseguia não lembrar do que o pai tinha comentado sobre garotos serem chatos, mas que depois passaria e Teddy voltaria a ser seu amigo. Aparentemente, mais do que aquilo.

— Que estou saindo com um garoto mais velho. - brincou, fazendo Teddy revirar os olhos.

— A diferença de idade não mudou, sabe? - ela riu. Não fazia nem bem vinte dias que Teddy completara dezessete anos, tornando-se maior de idade.

— É que catorze e dezessete parece mais longe do que quando a gente era criança.

— Quinze. Aniversariante do dia. - Teddy deu uma piscadinha, conjurando uma vela cor de rosa e colocando-a sobre a fatia de torta que ele tinha trazido para Victoire. - Anda, faz um pedido.

Teddy murmurou parabéns para ela, porque sabia que Victoire não gostava de chamar muita atenção, e quando Toire fechou os olhos e assoprou a vela, nem mesmo pensou muito. O pedido surgiu como magia em sua cabeça.

‘Que dure. O quanto puder, mas que dure e seja bom.’

— Não vai me contar?

— De jeito algum! Você quer que meu pedido não se realize? - Teddy riu dela, e passaram o resto da manhã juntos, brincando e passeando pelo vilarejo.

Compraram materiais, doces na Dedosdemel, encontraram as amigas de Victoire para um chá antes de irem embora - e, ao contrário do que ela tinha imaginado, Teddy não ficou nada intimidado ou retraído em meio a um monte de garotas grifinórias do quarto ano. Ele fez tudo ser natural, engraçado e divertido.

— Acho que foi meu melhor aniversário! Juro! - confessou ela, segurando a barriga de tanto rir da última piada de Teddy enquanto entravam de volta na escola. 

A noite começava a se anunciar, embora o sol ainda estivesse muito aceso no céu. Naquela chegada do verão os dias eram longos e, apesar de ainda haver claridade, já passava das 18h e o jantar já estava sendo servido no grande salão. As amigas de Victoire entraram na frente, disparando em uma corrida esquisita e de risinhos afetados escadas acima na entrada da escola, deixando Teddy e ela para trás.

— É bom ouvir isso. Espero que goste. - ele tirou uma caixinha de uma sacola, e Victoire não teve reação.

— Teddy, não prec-

— Ah, não começa. Anda, me diz se gostou.

Quando Victoire abriu o pacote com um laço, havia uma delicada pulseira de berloques, com pingentes de pincéis de pintura e flores, dois dos hobbys de Victoire, que tinha planos de ir para a França estudar artes, depois de Hogwarts.

— Por Merlin, Teddy! É lindo! - o cabelo dele se tornou de um azul turquesa vivo, a cor que ele mais gostava de deixar. - Eu amei! Vou colocar agora!

Largou as sacolas ali mesmo, na entrada da escola, e se atrapalhou um pouco para fechar o acessório. Teddy se aproximou, tentando ajudar e, mesmo depois que a pulseira estava fechada em torno do pulso fino e pálido de Victoire, ele não se afastou.

— Ficou lindo! - comentou, admirando o presente.

— Como você. - as bochechas dela coraram tanto quanto as dele, e o espaço entre os dois pareceu esquentar ao menos dois graus. - Feliz aniversário, Toire. Eu amo você.

E sem que ela tivesse tempo de pensar, Teddy segurou seu rosto nas mãos - surpreendentemente geladas - e a beijou. Não foi como o selinho roubado no começo da semana, foi muito melhor! Foi paciente, e escondido atrás de uma das colunas da entrada da escola, longe de qualquer olhar curioso. Teve a sensação de um milhão de explosões simultâneas, e foi o primeiro beijo genuíno de Victoire. Ela não sabia exatamente o que fazer com as mãos - que, com rapidez, acharam os ombros de Teddy - e, apesar de estar nervosa ao ponto de esquecer de respirar, tudo parecia um conto de fadas.

De repente, Victoire se via beijando seu melhor amigo de infância, por quem estava completamente caidinha há meses. Ela tinha acabado de ganhar um presente de aniversário maravilhoso, e Teddy a chamara de linda, e dissera que a amava. 

E quando se é uma menina apaixonada de quinze anos, não se pensa muito sobre as inúmeras acepções de ‘amor’, nem sobre se é ou não genuíno, ou mesmo se o garoto sequer sabe o que é ‘amar’, provavelmente nem ela mesma sabia. Mas quando se tem quinze anos e está apaixonada pelo melhor amigo, que diz amar você e depois a beija, apenas se acredita, com todo o coração.

***

Twenty-Two - Care

— Graças a Deus! - Toire atirou-se nos braços dele assim que as chamas verdes do Flu sumiram. 

Não foi necessário que Teddy a olhasse para saber que Victoire estava agoniada, e a considerar pelo nervosismo dela quando pediu que ele viesse imediatamente, algo precisava estar errado. 

— Ei! Ei, calma! Calma, estou aqui, meu bem! - ele pediu, segurando-a firme pelos braços, tentando olhá-la nos olhos. - O que houve, o que foi?

— Dominique. - ela conseguiu murmurar, quase sem energia, parecendo em choque. - Do-dom. 

— Certo, certo. Cadê ela? Cadê todo mundo, Torie? - Teddy esquadrinhou a sala, andando com Victoire para fora da lareira.

Victoire tentou dizer a ele o que acontecera, mas era como se tivesse perdido a habilidade de se comunicar. Falava palavras desconexas, e seu olhar parecia perdido, as ideias meio desajustadas e gaguejantes.

— Meu bem, por favor, você precisa se acalmar. - murmurou ele, esfregando os ombros de Toire para trazê-la de volta ao presente. - Independente do que tenha ocorrido com a Domi, é claro que ela vai ficar cem por cent-

—Teddy, - os olhos dela estavam assustados e frágeis, e a respiração alterada deixava claro que Victoire não estava bem, que estava a beira do choro. - a Dominique tentou se matar.

A sala dos Delacour-Weasley pareceu muitos graus mais fria, apesar de setembro mal ter começado. O estômago de Teddy caiu em seus pés, ou ao menos essa foi a sensação que ele teve, e suas pernas pareceram fraquejar. A palavra era fria, bruta, indigesta e parecia irreal. Matar. Matar a si mesmo.

Suicídio.

Muito afetado, ele caminhou até uma das poltronas da sala e sentou-se, atônito, colocando a cabeça apoiada nas mãos, fixamente olhando para o nada por alguns segundos. A imagem de Dominique, com seus cabelos louros pintados de roxo nas pontas, com seu jeito ácido e engraçado ao mesmo tempo, parecia grudada em seu cérebro. O que tinha acontecido? Por Merlin, o que tinha acontecido?

— O qu- como? Onde ela es-

— St. Mungus. - Victoire respondeu, e a prontidão dela, solícita, fez Teddy notar como estava em choque. - Meus pais levaram-na, a mamãe entrou em desespero. 

Teddy conseguia imaginar o porquê. Um arrepio frio e desconfortável subia por sua espinha quanto mais pensava naquilo. Parecia um roteiro de narração, Dominique havia tentado suicídio, Victorie em choque, Fleur e Bill provavelmente desesperados, tentando salvar a vida da filha.

— Fui eu quem a achou. Deve ter uma meia hora… três vidros de poção do sono hiperconcentrada, do armário da mamãe.

Victoire com certeza não estava bem, não estava processando o que dizia, porque falava com uma neutralidade fria. Teddy sentia a repulsa da tensão do momento, suas entranhas se revirando agoniadas com a ideia de que Toire tinha encontrado a irmã semi-viva. Não era o tipo de coisa que alguém queria pensar sobre, muito menos ouvir e, na verdade, ele não achava que queria ouvir muito mais daquilo, pois sua habilidade em lidar com perdas era muito pequena.

Que dirá se tratando de alguém conhecido e querido como era Dominique. Merlin, não, ele não queria pensar em perdas sobre ela. 

— Toire, eu acho que devemos ir ao St. Mungus. Ver como sua mãe está. - ela assentiu, mas Teddy não teve muita certeza de que processara bem o que ele tinha dito.

Harry e Ginny faziam companhia a Fleur Weasley quando eles chegaram ao hospital. Fleur tinha o olhar perdido e desajustado, e o padrinho de Teddy o informou que ela havia recebido uma poção calmante pois entrara em crise ao ver os curandeiros tentando reanimar a filha. Ginny fazia carinhos na mão de Fleur, e Victoire sentou-se ao lado das duas, mordiscando o cantinho interno da boca como sempre fazia quando nervosa.

— Toire disse que foi uma overdose de poção do sono.

— Eles iam reanimá-la, para então sedarem e tentarem lavar o estômago. Deram um bezoar para conter a intoxicação. - Harry explicou, falando baixo, um pouco afastado das mulheres. - Vim para cá assim que Bill me disse o que tinha acontecido

— Ele estava no ministério, na hora? - Teddy perguntou e Harry confirmou. - Ela vai ficar bem, não vai Harry?

Harry respirou fundo e olhou sério para Teddy, honestamente dizendo a ele que não sabia, que não podia garantir nada.

— Mas não vamos preocupar Fleur mais ainda agora, ela está muito abalada.

— Sim, claro. - Teddy assentiu, murmurando com o padrinho. - Eu acho que Toire está em choque. Foi ela quem achou a Domi.

— Merda!

Harry virou-se na direção da sobrinha, que descansava a cabeça no ombro da mãe. Victoire parecia muito distante, como se não estivesse mesmo ali. As horas foram se arrastando e Ginny precisou ir embora, deixando Harry e Teddy com as duas, à espera de Bill, que ainda não voltara depois de acompanhar a filha.

Quando Bill apareceu na porta da salinha, estava abatido e cansado, com os cabelos desalinhados, e as cicatrizes parecendo muito mais fundas no rosto e, aproveitando que Fleur e Dominique haviam cochilado, chamou os outros dois homens para o corredor.

— Ela está sedada. Não temos como saber os danos agora, a poção já havia feito bastante efeito quando chegamos aqui. Dominique convulsionou, e amarraram ela na maca. - ele explicou, as palavras saindo arrancadas com violência de dentro dele. - Eu vou passar a noite aqui.

— Eu também. - prontificou-se Harry, ao que Teddy negou.

— Você tem plantão no esquadrão amanhã. - relembrou, recordando-se de como nas quartas-feiras seu padrinho sempre tinha apenas uma hora de jantar, pois passava a noite na seção de aurores. - Eu fico. Pode ser, Bill?

O sogro de Teddy assentiu, parecendo flutuar no raciocínio, embora muito prático e consciente da situação.

— Fleur não pode ficar só. E não devia ficar aqu-

— Com certeza Ginny não vai se importar se ela e Victoire ficarem conosco. - Harry afirmou. - Você quer avisá-las?

Bill assentiu, e tanto Harry quanto Teddy deram a ele um momento a sós com a família, para explicar a elas que ficaria a noite no hospital, mas pelas reações das duas mulheres, Teddy soube que ele omitira alguns detalhes do que tinha acontecido com Dominique. Provavelmente era melhor.

— Eu vou passar a noite na tia Ginny. - Victoire comunicou a ele, com uma expressão neutra e meio perdida.

— E eu vou ficar aqui com seu pai. Vamos ter tempo para conversarmos um pouco. - Teddy deu uma piscadinha, tentando distraí-la. - Amanhã eu busco você para vir aqui, tudo bem? - Victoire assentiu, então Teddy deixou um beijo na bochecha dela. - Mas pode me chamar a qualquer hora, se precisar.

Victoire concordou, silenciosa e, pouco depois, foi embora com a mãe e Harry, deixando Teddy e Bill no St. Mungus, caminhando pelos corredores até o pequeno hall de espera do terceiro andar, que tratava do envenenamento por poções ou plantas. Teddy viu Bill riscar sua localização em uma moeda que tirou do bolso e, minutos depois, pequenos aviões de papel, enfeitiçados, voavam em torno deles.

— Memorandos do Gringotes. Preciso entregá-los hoje. - explicou o sogro, e Teddy internamente reprovou.

— Eu não acho que deveria estar trabalhando agora, Bill. Foi um dia cheio.

Mas apesar das boas recomendações de Teddy, o pai de Victoire o ignorou, então ele decidiu que seria mais útil se fosse ao oitavo andar buscar algo para os dois jantarem, porque, com certeza, Bill não iria querer sair dali por nada naquela noite.

Meia hora depois, Teddy retornou, com uma bandeja flutuante a seu lado contendo duas pequenas travessas de sopa, uma caixa de Feijõezinhos de Todos os Sabores, além de pedaços de pão em um guardanapo, enquanto carregava duas garrafas de suco de abóbora.

— Eu trouxe janta. - comentou, sério e educado. - Já passa das oito da noite, Bill. Você devia mesmo comer algo.

Sem muito o que dizer, Bill ignorou os dois últimos memorandos que flutuavam em torno dele - lançando um feitiço para que apenas flutuassem, estáticos no ar - e mergulhou um pedaço de pão na sopa. Estava fria e a careta de Bill foi quase simultânea a de Teddy, que servira uma colherada generosa.

— Não acho que a sopa seja o forte deles. - brincou, e Bill deu um pequeno riso. - O suco deve estar melhor.

Bill petiscou feijõezinhos com suco de abóbora por muito tempo, mas não conversou quase nada e, apesar de Teddy compreender o silêncio dele, sentia-se cansado e tenso. A espera da madrugada era a pior, e a cada curandeiro que passava pelo corredor, eles se arrumavam nas cadeiras, ansiosos. Novos pacientes chegaram, alguns vomitando pelo corredor, outros inconscientes, e as horas se arrastavam noite adentro.

Passava da meia noite, e Teddy recostara-se preguiçosamente na cadeira, batucando sua varinha na perna como uma baqueta, quando Bill parou de responder seu último memorando, com a respiração entrecortada e alta.

— Bill? Tudo bem? - perguntou Teddy, em um susto.

— Eu não quero perdê-la. Merlin, eu não quero perdê-la, Teddy. - confessou, com os olhos vermelhos e úmidos.

Teddy se sentiu pequeno e constrangido, porque não tinha absolutamente nenhuma ideia de como consolar um homem quase trinta anos mais velho do que ele, em uma situação que nunca tinha experienciado. Bill sempre fora, junto com Harry, uma referência para Teddy e, se fosse honesto consigo mesmo, precisava admitir que Bill o lembrava do seu pai.

Não apenas pelas cicatrizes que o faziam muito semelhante a Remus Lupin, mas porque Bill era exatamente como Andrômeda, sua avó, sempre tinha descrito Remus. Sério, mas amável, atencioso e cuidadoso. Bill era enérgico e atento e, desde que Teddy vira a lembrança de seu pai indo até o chalé das conchas no dia em que ele nascera, não conseguia desvincular o humor de Bill da felicidade do pai contando que ele, Teddy, havia nascido.

Bill parecia um reflexo mais novo de Remus, e Teddy podia ainda não saber, mas projetava muito de suas relações parentais no sogro, que por algum motivo o acolhia também como um filho. Teddy sempre fora a criança que Bill ensinara a jogar quadribol, e levara em brincadeiras e trilhas perigosas quando Harry estava em missões pelo Esquadrão de Aurores.

— Bill, não… você não vai perder ninguém. Domi vai melhorar, sei que vai.

— Eu tentei acertar, juro que tentei. Como eu não notei que ela não estava bem? Como não percebi que minha menina estava pedindo socorro, Teddy?

Ele queria escolher as palavras bem.

— Você não pode fazer as escolhas pelos outros, Bill. Dominique está doente, e não é sua culpa. - começou. - Você é um bom pai, e todo mundo sabe que tenta, que se esforça…

— Tentar não é suficiente, Teddy. Se Victoire não tivesse chegado a tempo, eu não tenho ideia… se Domi chegou a querer... Ela é só uma menina, só uma criança!

— Não é sua culpa, Bill. - insistiu Teddy, e Bill chorava silenciosamente. - Não é. Não se culpe, os pais fazem o que podem. Dominique estava sofrendo, está sofrendo. - corrigiu-se imediatamente.

Bill o encarou, secando os olhos; a boca crispada, contendo as emoções. 

— Você é igual ao seu pai. Humano, empático. - comentou, desviando o olhar. - Remus foi paciente comigo quando ninguém mais podia entender o que eu passava, me ensinou a reconhecer alguns sinais emocionais da licantropia, e como lidar com as mudanças de humor na lua cheia, depois que fui mordido. Seu pai era um grande homem, Teddy. Como você é.

Teddy deu um risinho constrangido, baixando a cabeça e recusando o elogio.

— Teddy, você está passando uma noite no hospital, sem a menor necessidade.

— Não me pareceu certo você ficar aqui sozinho. Eu não gostaria de ficar sozinho, no seu lugar.

— Não, não gostaria. - Bill recostou-se na cadeira e deu uma sacudidela amigável em Teddy. - Obrigado por ficar, Remus.

— Rem-

— Teddy Remus Lupin, um grande bruxo. - murmurou, como se falasse para si, mas Teddy reconheceu a citação, e sentiu-se esquentar de gratidão naquela madrugada fria e tensa.

— Ela vai ficar bem. - respondeu Teddy, dando um tapinha no joelho de Bill quando se levantou para beber água, e secar o canto dos olhos.

***

A primeira vez que Victoire visitou a irmã foi uma semana depois que Dominique deu entrada no Hospital St. Mungus, após seis dias de inconsciência. E saiu destruída do encontro. 

Teddy havia se voluntariado para acompanhá-la, mas não podia ter imaginado quão nervosa a namorada teria ficado. Victoire e Dominique não eram exatamente próximas, na verdade, não eram há anos. Teddy lembrava de quando eram crianças.

A diferença de idade das duas era de uns três anos, e Toire sempre fora meiga e amorosa e, apesar de brincar de todo tipo de coisa, o que lhe apetecia mesmo eram as coisas delicadas, cuidadosas, a pintura e o desenho. Dominique, ao contrário, era aquele tipo de criança agitada, espevitada, que gostava de brincar de luta, e que continuava correndo mesmo com o joelho escorrendo sangue.

Tinha havido uma época, em torno dos oito anos de Teddy, em que Toire era a heroína de Dominique, e ela e Molly II seguiam a primogênita de Bill e Fleur para todos os lados, quando estavam reunidos na Toca. Quando Teddy fora para Hogwarts, houve um afastamento natural - e puramente etário - de Toire, e foi a uma distância científica que ele pode assistir as diferenciações de Victoire e Dominique. 

E não obstante todas as diferenças entre elas, apesar de Victoire ser família, meiga e carinhosa como uma princesa, e Dominique gostar de aventuras, de se arriscar, e de dragões - como o padrinho Charlie -, apesar de Toire falar francês com um sotaque impecável, e Dominique detestar a França, e apesar de as duas serem como água e óleo, e não serem próximas desde que Toire saíra de Hogwarts, quatro anos atrás, as duas se amavam.

Daquele jeito torto de irmãs, em que poderiam passar semanas sem se falarem, mas se amavam.

— Eu podia ter perdido a Domi. - ela murmurou para Teddy assim que conseguiu falar, após sair do quarto da irmã, no hospital. 

Os olhos de Toire estavam perdidos, e ela parecia abalada de uma forma que Teddy não se lembrava de já ter visto. A ficha de Victoire tinha caído. Quando aparataram na casa dos pais dela, Toire chorou por muito, muito tempo, sem mesmo falar, e Teddy apenas a aninhou em um abraço, passando as mãos demoradamente pelo cabelo louro principesco da namorada.

— Não sei como a gente se perdeu, Teddy. Eu era a heroína dela, e de repente eu não era mais nada… eu não conheço mais a minha irmã, eu não sei como ela se sente… ela quis morrer e eu não percebi! - os olhos de Victoire emanavam culpa e dor, e Teddy não sabia o que dizer. - Dominique quis morrer, e eu não notei. Minha irmãzinha! - ela gemeu, caindo no choro.

Pensava em todas às vezes em que ela fora a irmã mais velha, que a escoltara, que alcançara o que Dominique era baixa demais para buscar, ou todas às vezes em que penteara o cabelo da irmã como sua boneca particular. E então vinha à mente a cena de uma semana atrás. Os olhos de Dominique fora de órbita, a pele pálida e o pedido mudo de socorro. O sentimento de que por muito pouco Victoire não a teria salvo.

— Ela é só uma criança, Teddy, minha irmãzinha inocente, e eu nã-

— Você fez tudo, Toire. Sem você, Dominique provavelmente não estaria com a gente agora. - Teddy a interrompeu, secando as lágrimas. - Vocês não se perderam, vocês cresceram, Toire. Dominique não é uma criança, é uma adulta, com dores, medos, traumas, memórias boas e ruins, e você não pode salvá-la como se Dominique tivesse três anos. Não é tarde demais para vocês… sabe? -  ele gesticulou, entrelaçando os dedos das duas mãos.

— Aproximarmos de novo… sim. - comentou baixinho, os olhos vermelhos de choro em um contraste gritante com a pele alva.

— Não tem como voltar e mudar o que aconteceu, mas tem como impedir de repetir... Dominique precisa de apoio, de carinho. Ela precisa de você, Toire. Não como uma heroína, mas como uma amiga… ela precisa da irmã mais velha, do seu cuidado. 

E Teddy se provou certo quando, nas três semanas seguintes, Dominique parecia ganhar vida quando se envolvia em atividades com Victoire. O acidente não era comentado nem mesmo em baixo tom entre os Delacour-Weasley e, apesar de o resto da família estar ciente do que acontecera, o tema era proibido em qualquer almoço.

A garota estava sendo acompanhada por vários profissionais, sendo medicada e indo em uma terapeuta. Louis, em seu segundo ano de Hogwarts, não fora avisado para que não se preocupasse, e os pais pretendiam conversar com ele apenas no feriado de natal. No geral, nada mudara, mas na prática tudo mudara. Tudo virara motivo para ser uma atividade conjunta com Dominique, que estava terminantemente recomendada a não ficar sozinha por muito tempo, ao menos nos primeiros meses, e era com um sorrisinho no rosto que Teddy assistia as duas irmãs se reaproximando.

— Não! Não é assim, Toire! - resmungou Dominique quando Victoire errou pela terceira vez seguida a posição de segurar o arco. - Dedos firmes, ombros para trás, visão centralizada.

Estavam os três, junto com Jia, namorada de Dominique, em uma tarde em um parque perto de Ottery St. Catchpole, onde moravam o senhor e a senhora Weasley - os patriarcas - fazendo um piquenique no fim de outubro, e Dominique buscava ensinar a irmã a atirar de arco e flecha, um de seus esportes favoritos do mundo trouxa.

— Paciência comigo! - riu Victoire. - Eu sou lenta, paciência Domi.

— Você é lerda, isso sim. - riu, mas quando Victoire acertou o centro do alvo pela primeira vez, Dominique deu um berro, satisfeita. - Merlin, você arrasou! A lerda mais talentosa que já conheci.

— Eu dou trabalho, mas vale a pena.

— Claro que vale. - Dominique passou um braço em torno do ombro da irmã, que era uma cabeça mais baixa. 

— Não vou pegar leve com você, Domi. - ela deu um beliscão nas costelas de Dominique e saiu correndo para onde Teddy e Jia Chang estavam sentados, cortando frutas e conversando, dando risada da irmã, que a perseguia com o arco pendurado no ombro.

— Alguém se divertiu. - brincou Teddy, achando graça das bochechas muito vermelhas de Victoire. - Quer dizer que essa senhora de idade ainda consegue correr?

— Me respeita, Lupin! - Toire o empurrou pelo peito, pegando um morango para comer. - Para fugir da Domi eu sempre tenho energia.

— Achei que a ideia era manter vocês próximas. - implicou Teddy, pegando o cabelo de Toire para trançar, um hábito que desenvolvera.

— É que tudo é melhor quando eu estou por perto. - devolveu Dominique, servindo um sanduíche, e perdeu o olhar carinhoso e delicado de Victoire para ela.

— Claro que é, Domi. Tudo fica bem, e bem melhor, com você junto da gente. - finalizou Teddy. - Eu sou o próximo a aprender o arco, eim?

***

Twenty-five - Companionship

Era impossível o quanto Teddy Lupin era maravilhoso. Como tinha a delicadeza de andar de um bailarino e, no entanto, uma firmeza despojada dos pés à cabeça, como sorria de um jeito que parecia iluminar tudo a seu redor, e como seu cabelo azul - porque ele fazia questão de deixá-lo assim a maior parte do tempo desde que Toire dissera, anos atrás, que era a versão que mais gostava - parecia ter sido feito para ele.

— Você vai babar, desse jeito. - brincou Louis, jogando-se em uma cadeira ao lado dela. Toire deu um tapinha na cabeça dele.

— E eu achei que você ia parar de encher meu saco quando começasse a enfiar sua língua na boca de uma garota. - ela viu Louis corar e soube que havia ganho a discussão.

— Do qu- foi a mamãe? Mamãe foi fofocar para você? Porque Agatha é só uma amiga!

— Ela não precisou. Você acabou de fazer isso por sua conta. - ela riu, levantando-se para ir ajudar a tia com uma caixa de enfeites de Natal. - Deixa que eu carrego, tia Mione. Teddy e eu terminamos aqui. Lou, porque você não vai buscar as toalhas para a mesa? A caixa de velas está no sótão.

O Natal na Toca não perdera seu brilho mágico mesmo depois de Victoire se tornar adulta, ao contrário. Parecia que agora que ela estava no time de organizar a festa, tudo se tornara mais interessante - embora também mais cansativo. A decoração da casa costumava ficar por conta dela, Louis e Lily, que eram os netos com dons artísticos, enquanto Rose gostava de ajudar na cozinha, e os demais se espalhavam em tantas atividades que Victoire não conseguia contabilizar.

Naquele ano, os netos tinham monopolizado a organização, como parte de um plano para deixar os avós descansarem um pouco. Molly Weasley já beirava aos setenta e cinco anos, e não tinha mais a mesma energia para cozinhar para um batalhão como o que vinha para o Natal.

— Você quer colocar as luzinhas? Ou eu ponho? - perguntou Teddy, desembolando uma maçaroca de pisca-pisca natalinos.

— Quero! - ela pediu, empolgada. Era uma de suas atividades favoritas. - Segura a escada para mim.

Teddy firmou a escada entre os pés e segurou o tornozelo de Victoire com uma das mãos enquanto com a outra ia passando pedaços do fio para ela, que prendia a decoração na parede com gestos de varinha.

— Eu acho uma brincadeira de mau-gosto isso.

— O quê, amor? - perguntou, virando-se para olhar para baixo, confusa.

— Sua bunda no meu campo de visão e eu ter que bancar o comportado. - a expressão de Teddy era séria, escondendo o sorriso maroto e sacana que ele queria dar.

— Imbecil. - riu, descendo a escada e passando os braços pelo pescoço de Teddy, beijando-o demoradamente. - A gente precisa acabar isso aqui. Eu ainda preciso ajudar a Rose a fazer a decoração da torta francesa, você sabe como a mamãe é chata com isso.

Teddy fez uma careta, beijando-a outra vez, e outra, e outra.

— É sério, babe. - riu.

— Não estou impedindo ninguém. - ele levantou as mãos para demonstrar que não estava segurando Toire, mas os braços dela entrelaçados no pescoço dele o puxaram para outro beijo.

— Vocês estão se beijando ou trabalhando? - brincou Lily, dando um assobio ao vir do jardim com uma caixa de bolinhas de cristal enfeitiçadas que jorravam glitter por dentro. - Eu não aguento vocês, seus perfeitos!

Ela fez um gesto de quem não se continha com tamanha fofura, e Victoire sorriu achando graça, abraçando Teddy.

— Estou fazendo uma reserva de afeto, para quando eu for para a França. - ela fez um beicinho brincalhão e Teddy a apertou mais forte no abraço.

Quando saíra de Hogwarts, sete anos atrás, a carreira de curandeira parecia ser a que Victoire queria seguir. No entanto, bastaram seis meses de curso preparatório no St. Mungus para que ela percebesse que não perdera seu gosto artístico, e que não seria nada realizada fazendo algo tão longe de sua delicadeza e habilidade para a pintura e a música. Passara uma temporada na França, com a tia, estudando em uma renomada escola de Belas-Artes e, cerca de seis meses após voltar à Inglaterra, Victoire tinha arranjado seu primeiro emprego na área.

Fazia três anos.

Agora Toire já era uma artista reconhecida no mundo bruxo - e mesmo no trouxa, com suas pinturas que retratavam o que eles definiam como ‘fantasioso’. Era esse reconhecimento que estava prestes a levar Victoire para uma temporada de cinco meses em Paris, para exibir seu trabalho, ministrar um curso na escola em que tinha estudado anos antes e, no tempo livre, aprimorar sua técnica no violino. Victoire era a artista da família, de quem todos se orgulhavam, e o olhar de Teddy brilhava de admiração por ela.

— E eu não posso deixar ela me esquecer e ficar por lá, com um francês chamado Pierre, que usa bigodinho e come caramujo. - Lily riu, e Toire o chamou de bobo, enquanto ia para a cozinha.

— Você quer essas velas onde, Toire? - perguntou Louis, descendo a escada com várias caixas empilhadas nos braços, apenas um tufo de cabelo louro aparecendo por trás.

— Confio no seu bom gosto, Lou. Vocês três terminem aí, que eu vou ajudar a Rose na torta. 

— Eu vou precisar da sua ajuda. - murmurou Teddy baixinho para Louis, quando Victoire já não estava na sala.

***

As fotos que Victoire mandou para a família só deixavam Teddy a cada segundo mais certo de que jamais poderia amar alguém como amava aquela mulher. O sorriso radiante e natural em frente a placa de anúncio de sua exposição, os cabelos finos - que ele amava trançar - em um coque despojado enquanto Toire orientava um de seus alunos, numa foto claramente tirada por um deles. A Torre Eiffel parecia mais completa com a figura de Toire sentada no Champ de Mars, fazendo um piquenique com a tia Gabrielle.

Era difícil colocar em palavras o que ele sentia por Victoire, porque era o tipo de sentimento mais puro e intenso que podia existir. Conhecia Toire a vida toda, vinte e quatro anos (em breve, cinco) sabendo cada traço, cada gosto, cada gesto. Vinte e quatro anos apreciando o jeito com que ela mordiscava a boca quando nervosa ou insegura, a forma com que sempre dava um sorriso contido antes de abri-lo em um sorriso largo, como que esperando sua felicidade irradiar pelo corpo todo.

Victoire era graciosa em tudo que fazia, e até seu cabelo comprido - quase branco de tão louro - parecia dançar nas costas dela, quando andava. A mulher era talentosa de maneiras que Teddy jamais poderia sonhar em ser e, às vezes, pegava-se perguntando a si mesmo como era possível que alguém como Victoire, que parecia doce e perfeita demais, poderia amá-lo.

Amar seu jeito destrambelhado, que derrubava quase tudo, por pura desatenção; rir de suas piadas de humor tão… tão comum. Mas quando os dedos finos, gélidos e precisos dela delineavam seu rosto, em um carinho suave - ou se infiltravam por entre o cabelo azul, puxando com força em meio ao desejo -, Teddy tinha certeza de que ninguém o amava como Victoire.

A Victoire que o consolara depois de ter sido reprovado no exame de admissão para o Esquadrão de Aurores, a Victoire que não ligara para o fato de por dois anos inteiros Teddy trabalhar intensamente em uma loja de roupas do Beco Diagonal - e, mesmo assim, ter pouco dinheiro no fim do mês. A Victoire que o apoiara em fazer o treinamento de curandeiro e que, quando Teddy largou o curso depois de um ano, também achou o máximo ele tentar a prova para o Gringotes.

E depois de dois anos, a mesma Victoire o apoiou incondicionalmente na decisão de largar aquilo e investir no sonho de abrir uma livraria, sem se importar com o fato de que Teddy teria um longo caminho, do zero, a trilhar para abrir sua própria loja. Ela também não ligou para a questão de Teddy ter levado um ano para conseguir financiar o lugar, fechar contratos com editoras e autores, ou com o fato de por meses ele cheirar a tinta e verniz, reconstruindo - com a ajuda de George Weasley - o espaço que comprara, transformando-o em uma livraria decente.

Victoire não ligava para essas coisas, Victoire embarcava de cabeça nas maluquices dele, pintava madeira sem o uso de magia, apenas pela diversão da companhia dele, e ajudava Teddy a desencaixotar livros durante o tempo livre. Victoire nunca deixara de confiar nele, mesmo - e principalmente - quando ele perdera a confiança em si mesmo, em seu potencial.

Toire não gostava de chamar atenção, era tímida e não desejava holofotes - razão pela qual sempre os atraía -, mas não se importava em estar ao lado dele, que era espalhafatoso por natureza. Victoire era a única pessoa que ele queria, por toda uma vida e mais, e era a única escolha que faria. Nada a ver com metade da laranja, mas tudo a ver com ser sua melhor amiga, sua companhia de todo momento, e seu melhor sorriso todos os dias.

— Você comprou o anel? Porque, Teddy, eu mato você se não tiv-

— É claro que eu comprei, Dominique! - ele riu, acalmando-a, então tateando os bolsos para mostrar a ela a caixinha de veludo, dando uma piscadinha. - Desatento, mas nem tanto assim.

Desde que Victoire fora para a França, Dominique e Louis vinham ajudando Teddy a planejar um pedido de casamento que a irmã fosse gostar. A maior parte das ideias viera do caçula, que era muito parecido com a irmã mais velha, mas depois que ele voltara para Hogwarts, Dominique assumira a tarefa de ajudar Teddy com os planos. Restaurantes chiques não era o negócio de nenhum deles, Toire odiaria uma cena em público.

Foi assim que eles acabaram planejando organizar o Chalé das Conchas - que desde o nascimento de Dominique virara apenas uma casa de praia da família - para um final de semana especial, já que Victoire voltaria da França na véspera de seu aniversário. Dominique opinou no vestido que Teddy escolheu para presentear Victoire, e ajudou a decidir o que eles poderiam jantar - algo dentro das poucas habilidades culinárias dele. 

— Não surte.

— Não vou.

— Você está roendo as unhas, Teddy! - repreendeu Dominique, dando um tapa nas mãos dele. - Relaxa! O que acha que pode acontecer, ela dizer não?

Mas para Teddy aquilo passou longe de ser uma boa piada, e o rapaz perdeu metade da cor do rosto.

— Você acha que el-

— Meu Deus, Teddy! Claro que não, vocês dois já são quase casados! Uns oito anos juntos, acha que ela ficaria esse tempo todo se não gostasse de você? - ele sorriu, inseguro. - Fica calmo… vai dar tudo certo!

***

— Você arrasou tanto nessa comida, Teddy! - ela gemeu, deliciando-se com o jantar que ele preparara.

— Especial de aniversário? - ela riu. - Não coloca tanta expectativa, eu só sei fazer isso mesmo.

— Já está excelente para mim. Eu senti tanta falta disso, da gente.

Ela confessou bebericando o vinho que Teddy servira. A ideia de jantar na varanda tinha sido dele, porque maio era um mês fresco, de vento, e o sol estava se pondo, então eles poderiam assistir o céu se colorindo de laranja e rosa no horizonte, além da praia. Victoire achou excepcionalmente fofo que ele tivesse pendurado as luzinhas de natal na beira do telhado, criando um clima agradável e ameno.

— Isso é bom de ouvir, porque eu estava a dois dias de aparatar em Paris e sair procurando você. - ele brincou, arrepiando os cabelos azuis. Victoire sorriu. - Feliz aniversário, meu bem. Eu amo você.

Tempo depois, um pouco bêbados, mas não menos apaixonados, Victoire sugeriu que eles fossem observar as estrelas, na areia do lado de fora. Ela abraçou-se em Teddy, murmurando uma musiquinha, e não demorou nada para que ele conjurasse música e ficassem os dois ali, balançando-se, dançando juntos, sem se importar se eram bons naquilo.

— Eu preciso tocar para você as novas músicas que aprendi no violino. - comentou.

— Precisamos fazer tantas coisas, Toire… eu não tenho pressa. - respondeu, beijando a cabeça dela. 

O vestido que a presenteara caíra como uma luva, azul com alguns brilhantes, e quando Toire girava, ela parecia uma bailarina, uma princesa. Adequado a como Teddy a via. A chuva de verão veio antes que eles se dessem conta, e Teddy fez menção de entrar, mas Victoire fez que não, com uma careta brincalhona, e puxou Teddy para um beijo encharcado.

— Você é tão clichê, Victoire Weasley. - ele comentou, olhando-a fundo nos olhos. Aquele sorriso de menina-moça, doce, delicado, era o mesmo de dez anos atrás, rindo de uma piada qualquer que Teddy fizera quando voltava de Hogsmeade com a garota.

— É meu jeitinho especial. Você gosta.- Victoire respondeu, dando um risinho implicante.

— Não. Eu amo. - beijou-a outra vez. - Sabe que dia é hoje?

— Meu aniversário?

— E?

— Aniversário da Batalha.

— E?

— Merlin, tem mais algo? - perguntou, confusa.

— Faz dez anos que eu dei isso para você. - ele puxou o pulso de Victoire, onde permanecia a pulseira de berloques que ele dera a ela na ocasião. - E da primeira vez que nos beijamos.

— Ai, meu Deus, sim! - ela sorriu, chocada com a percepção. - Teddy! Eu não… eu não lembrava! Juro, não tinha pensado mesmo!

— Eu posso lembrar das coisas pela gente. - beijou-a. - Dez anos do primeiro beijo, quase oito anos de namoro, muitas confusões juntos, um número incontável de beijos e coisas mais - ela riu com o sorriso malicioso dele -, e memórias maravilhosas.

— A gente já fez muitas coisas juntos, né? - Victoire comentou, pensando com admiração.

— Muitas.

— Lembra quando a gente pintou o quarto do Lou? - riu, recordando-se do verão de quatro anos atrás.

— Prefiro não lembrar! Teve a viagem para Dublin, a reforma da livraria.

— Uns cinco mil empregos seus. - acrescentou, rindo.

— E quase isso de quadros seus. - completou. - E o mais engraçado é que você passou um ano todo me dizendo que ‘eu não quero perder sua amizade, Teddy. Ai, vamos estragar tudo. Ai, não gosto de acidentes’.

— Ei! Eu estava tentando ser a precavida! - protestou, dando um soquinho no peito dele.

— Claro que estava, meu bem. - riu, comentando casualmente um pouco depois. - E se eu acidentalmente tivesse um anel no meu bolso, você também iria querer ser precavida?

Victoire congelou, a risada sumindo imediatamente do rosto.

— O quê?

— Se eu - ele se afastou um passo, meteu a mão no bolso e puxou a caixinha. - tivesse um anel no bolso, você diria sim? 

Victoire segurou o sorriso, contido, e então abriu-o largamente, completamente rendida.

— Depende de qual a pergunta. - implicou, fazendo Teddy rir.

— Toire, você diria sim para se casar comigo? - perguntou Teddy, ajoelhando-se na areia.

Ela se jogou em cima dele, tentando acertar a boca para beijá-lo, e os dois terminaram deitados na areia, enroscados, com Teddy dando graças a Merlin que o anel não tivesse caído. Victoire beijou o, então, noivo algumas várias vezes, rindo com a mais genuína felicidade.

— Eu diria sim até se o anel fosse de papel, Teddy. 

— É um sim, então? - insistiu, apenas pela brincadeira, e Victoire revirou os olhos para ele. - Okay, apenas checando.


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Notas finais do capítulo

O relato da Dominique foi baseado em uma experiência real de um amigo, e em homenagem a outros amigos que perdi para o suicídio. Peçam ajuda, ninguém está só! ❤

Comentários são sempre bem vindos e tal, obrigada por lerem ❤