Don't You Want Me escrita por isa


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Tá sem revisão (soy rebelde), e é baseada numa música muito ruim (mas eu amo demais demais a melodiazinha e o refrão hahaha): https://open.spotify.com/track/0bmDpMruiJpzV5eQ92W0Lq?si=a50d7f8e955a477f

Eu espero que seja uma boa distração pra quem ler, do mesmo modo que foi pra mim escrever.
Beijo :)



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No ano 79 pós período Aang, havia uma filial da Jasmine Dragon em qualquer quarteirão metropolitano que se julgasse urbano o suficiente. Era o caso do bairro Kyoshi, na Cidade República, lar de um parque público famoso, duas grandes galerias de arte e um museu de cera. Próximo a uma das três principais universidades dispostas na cidade, o bairro fervilhava com exposições diversas, universitários sonolentos, trabalhadores apressados e pessoas de veia artística variada.

Era um bom lugar para se trabalhar por meio período como garçonete, por exemplo, especialmente se você fosse uma aluna intercambista e estivesse mesmo precisando de uma graninha para arcar com o aluguel do pequeno cubículo que, por eufemismo ou sadismo, os corretores imobiliários insistiam em chamar de apartamento. Pelo menos, era o que Korra achava. E como ela é a protagonista da história, vamos apenas partir do pressuposto de que ela deveria ter alguma razão, especialmente porque agora já fazia treze meses desde a sua chegada.

Nesse meio tempo, ela já havia chorado de raiva no banho uma centena de vezes, visitado o departamento do curso acadêmico outras tantas e lidado com burocracias múltiplas. Havia conseguido a bolsa de estudos, começado e terminado um namoro, matado mais baratas do que sua mente fazia questão de se lembrar, aprendido o básico de economia doméstica para sobreviver e passeado com cachorros de mulheres ricas. Ela havia dormido em aulas. Conhecido pubs. E virado noites estudando para provas. Em resumo, ela estava habilitada em todos os campos da vida jovem adulta, mas, como a maioria das pessoas de sua idade - ou de qualquer outra - ainda sentia um suor frio quando julgava estar interessada por alguém.

— É a sétima vez que você suspira em menos de meia hora. - Bolin pontuou naquela manhã de céu leitoso. Havia um quê melancólico no modo como as nuvens espessas e cinzentas anunciavam uma tempestada. Nada disso parecia afetar a personalidade solar do barista e especialista em chás na Jasmine Dragon. Ele era também o melhor amigo de Korra e a pessoa que havia lhe indicado para o emprego.

— Eu não sei do que você está falando. - ela murmurou, evitando olhar para a mesa de número sete como uma criança no jardim de infância apaixonada pela primeira vez.

— Ah sim. - o rapaz pegou uma xícara na prateleira, divertindo-se com a expressão da amiga. - Então você ficaria aliviada se eu dissesse que Asami acabou de sair?

— O que? - Korra gaguejou e virou o pescoço tão rápido que temeu ter conseguido um torcicolo. A garota mencionada continuava sentada, concentrada no leitor digital enquanto uma xícara de chá fumegava ao seu lado. - Isso não tem graça Bolin. - Korra alertou, massageando o ombro tenso. - É da namorada do seu irmão de que estamos falando.

— Bom, você também costumava ser, né? Além disso, faz algum tempo que não os vejo juntos.

— Algum tempo? - disse num fiozinho de voz, sabendo que estava fracassando miseravelmente em não parecer interessada.

— Uma semana ou duas. - Bolin informou, piscando.

— E você me diz agora?

— Sua frase preferida sobre o assunto sempre foi "não me interessa". - ele se justificou, provocando.

— E desde quando você me escuta? – Korra quis saber, mas não esperou pela resposta, o cérebro subitamente agitado com as novas informações. A verdade é que ela gostava de Mako, agora que não tirava mais a roupa para ele. Ele era um bom amigo, como Bolin. E ela definitivamente gostava muito de Asami, só que de uma maneira bem menos fraternal.

Era vergonhoso admitir, já que Korra havia se sentido tão intimidada no início que havia decidido adotar uma postura indiferente perto da garota que cheirava a perfume importado. Seu cabelo escuro e brilhoso descia em cascatas de ondas perfeitas e pouco naturais por sob rosto e ombros e Korra tinha certeza que apenas para manter aquela aparência ela gastava por mês mais do que Korra poderia ganhar em um ano. A disparidade era infinita: ela tinha certeza que só conseguira comprar o notebook decente que queria no mês de seu aniversário por conta das gorjetas generosas de clientes como a srta. Sato.

Mas à parte da beleza devastadora e o cheiro de grana que se podia rastrear há quilômetros, Asami era sempre gentil. Não daquele jeito estranho de pessoas muito ricas que acabam tendo o efeito contrário e deixando qualquer um desconfortável, mas de uma forma que fazia Korra estremecer por dentro e querer puxar a cadeira, ignorar outras mesas e apenas ouvir ela fazer uma ou duas piadas espirituosas sobre o tempo ou sobre o programa que estivesse passando na TV.

Toda terça e toda quinta, muito antes mesmo de Mako conhecer Asami, era assim que Korra se sentia. Ela levantava mais disposta, cantarolava músicas estúpidas de musicais igualmente estúpidos enquanto se ajeitava para pegar o metrô e não importava quão espremida ela fizesse o trajeto até o trabalho, a vida era boa. Então ela chegava e se sentia idiota. Toda a parte boa de ter uma quedinha platônica por alguém se esvaia e só sobrava as inúmeras autocríticas mentais.

Tudo piorou, é claro, naquele dia fatídico em que o ex-namorado apareceu para dar carona para ela e para Bolin e acabou esbarrando em Asami. Korra soube, pela maneira como Mako sorriu, que ele tentaria a sorte. Ela não o julgava – na verdade, sendo muito sincera consigo, sabia que faria o mesmo se dispusesse só um pouquinho mais de qualquer-coisa que pessoas que sabiam flertar tinham. E quando eles começaram a sair, Korra apenas abraçou o peso da possibilidade cerrada, resignando-se de maneira silenciosa.

Havia muitas mulheres e muitos homens interessantes na Cidade República, Korra tinha certeza. Ela só tinha que torcer para se livrar logo daquela arritmia estranha que sentia quando via Asami e que parecia pior agora, mil vezes pior agora que Bolin soltara casualmente a possibilidade de ela não estar mais saindo com Mako. De repente, todos os seus esforços de apenas não olhar para a mesa sete foram surrados para longe pela força da esperança alimentada a base de curiosidade.

Tentou ler Asami: ela parecia neutra. Nem feliz, nem triste, apenas concentrada no que quer que estivesse lendo. Korra reparou nos óculos de leitura, no modo como ela franzia um pouco o cenho enquanto beliscava um pedaço de croissant. Ninguém deveria parecer tão bonito fazendo uma coisa tão cotidiana. Talvez fosse a visão, porque quando deu por si, Korra já tinha pegado um dos pequenos tabletes de chocolates de Ba Sing Se da bomboniere de cristal e oferecido como um pequeno ofertório na mesa de Asami.

— Cortesia da casa. – ela balbuciou, já arrependida.

— Então Bolin te contou? – Asami perguntou, divertindo-se. Seus olhos não saíram do texto.

Korra sentiu o corpo inteiro arder numa febre de mil graus de vergonha. Não havia limites para o quanto ela conseguia se colocar em situações ridículas. Talvez tudo fosse passível de melhoria se ao menos conseguisse ser ágil para inventar desculpas. Mas ela não era.

— Eu só achei que você gostaria de um chocolate. – disse por fim, depois de um provável minuto inteiro de silêncio. – Está frio lá fora.

— Obrigada, Korra. – Asami tirou os óculos e dessa vez sorriu para ela. – É muita gentileza sua. Eu deveria vir mais vezes quando a temperatura estiver negativa.

— Eu... – Korra ensaiou alguma coisa para dizer, mas esqueceu-se quando reconheceu os primeiros acordes de Dont You Want Me tocando baixinho nos autofalantes da lanchonete. Ao longe, um Bolin que parecia vermelho de tanto segurar uma risada ensaiava uma pose séria atrás do balcão de atendimento. – Preciso ir. – Matar Bolin, completou em sua própria cabeça.

— Uma palavra? – ela sussurrou para o amigo, puxando-o pelo avental, agradecendo o baixo movimento do horário. Eles atravessaram juntos a porta de correr para cozinha, Bolin gargalhando finalmente, do jeito que vinha querendo há tempos.

— Que porra é essa?

— A versão do Bahamas com The Weather Season, ora.

— Não banque o engraçadinho quando estou prestes a ter um colapso nervoso, Bolin.

— Você me acha engraçadinho? – os olhos dele brilharam, antes de erguer as mãos em sinal de rendição. – Olha, Korra, parei. Mas é você quem se entrega, sabe disso, não é?

Ela cruzou os braços, tentando se acalmar. Ele tinha razão, é claro. Nem por isso melhorava.  

— Eu pareci muito estúpida agora a pouco?

— Não, era pior quando você fingia que ela não existia.

— Eu não...! – Mas mediante a sobrancelha erguida dele, ela apenas suspirou, vencida. – Mas isso foi há algum tempo, vai? Eu tô tentando ser... simpática?

— Você tá me perguntando? – Bolin riu e dessa vez Korra lhe socou o braço para valer.

— É sério, Bolin, o que eu deveria fazer?

— No seu lugar eu iria ali fora tomar um ar. – ele apontou a porta dos fundos que dava para um beco estreito. – E não me preocuparia muito.

Korra assentiu com a cabeça. A vida adulta as vezes era muito parecida com a primeira infância. Na maior parte do tempo ela só estava tentando não fazer coisas que parecessem muito bizarras como comer cola (na creche) ou parecer patética na frente da menina que se tinha interesse (no presente).

— Korra? – a voz de Asami veio pela mesma porta que ela tinha acabado de sair.

— Ei. – ela abriu um sorriso amarelo, as duas mãos na cintura de uma maneira que ela estava rezando para que soasse casual.

— Eu vim verificar se Bolin estava vivo e aproveitei para checar você.

— Eu disse que o mataria em voz alta, não foi?

— Não, mas você se expressa muito bem... Facialmente. – riu e antes que Korra pudesse ter outro rompante de bochechas vermelhas, continuou: - eu gosto.

— Ah. Obrigada, eu acho. Eu... Ham... Nós... deveríamos voltar lá pra dentro.

— Certo. – Asami concordou depressa, pouco disposta a deixa-la em apuros no trabalho por sua causa. – Mas antes: você gostaria de sair comigo?

Korra a olhou por um instante. Ela ainda parecia... ofuscante, mas de uma maneira mais humana. O suficiente para Korra julgar ter visto um breve lampejo de nervosismo em sua expressão e achar adorável.

— É um convite ou uma pergunta?

Asami meneou a cabeça como se não pudesse acreditar na ingenuidade dela e se aproximou devagar. Korra pensou que algumas coisas ou se fazem ou se arrependem para sempre, de modo que encurtou outros dois passos.

— Eu realmente gostaria. – ela respondeu direito e o modo como Korra a encarou, fez com que Asami sentisse uma terrível vontade de beijá-la, o que ela de fato fez, embora não tivesse premeditado.

E por um instante a vida adulta foi ótima para Korra. A melhor fase da vida, mesmo com os medos e as péssimas habilidades sociais e as quedas platônicas alimentadas por meses a fio. E a Cidade República foi a melhor cidade do mundo, mesmo que aquele beco não fosse particularmente charmoso e muito possivelmente fosse lar de um – ou mais – ratos espertos. E ela se sentiu incrível por ter se sentido estupida, por estar tão nervosa que talvez alguém precisasse chamar uma ambulância quando o beijo terminasse. Korra poderia vomitar de felicidade. Por que o mundo era maravilhoso e horrível ao mesmo tempo, porque as possibilidades eram infinitas, e esse era o milagre.

Naquele instante, ela abraçou todas as possibilidades em aberto ao abraçar Asami pela cintura. E isso foi mais do que o suficiente.

Foi o princípio do fim do começo. 


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