Steampunk escrita por Aiwa Schawa


Capítulo 7
Capítulo 6




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Capítulo 6

A Esquadrilha Real

A primeira coisa do mundo que eu vi, foi o chão.

—...

Por sorte, minha velocidade não foi conservada entre um tempo e outro, portando eu não sofri uma queda maior que meio metro.

E quando nós olhamos ao redor… era uma caverna, apenas uma caverna, ainda intocada pelas mãos de qualquer homem. 

Saindo dela, a ausência das escrituras nas paredes parecia significativa, me fazia repensar o que havia ocorrido até agora.

E quando chegamos do lado de fora, era como lembramos, porém, diferente…

—Chris, você tem alguma ideia de quanto no passado você nos levo?

—Zero…

Foi como imaginei.

Ele me deu o relógio, porém, eu também não consegui decifrá-lo, parecia marcar a mesma hora que um relógio normal, não havia algo para datas ou anos sequer. Frustrado, eu resolvi da-lo de volta para Chris, com apenas o aviso de que ele deveria proteger tal artefato com a própria vida.

Assim, nós começamos a viajar pelos vastos gramados de uma Alemanha que não era a mesma.

Contudo, eu estava começando a ter alguma ideia, tendo vivido lá por algum tempo, eu tive a impressão de que não era a mesma Alemanha de minha infância… não devíamos ter viajado tanto tempo assim no passado.

“Talvez algo como dois anos…?”

Nós tivemos muita sorte, assim imaginando, quando encontramos um grupo de pessoas, cerca de dez delas, usando roupas… esquisitas.

Alguns deles tinham algo como mantos brancos, com bolsos e que me lembravam de meu jaleco, cabelos e a pele pintadas para ficarem pálidos como a neblina ao nosso redor.

Outros, carregavam banners com um simbolo que eu não reconhecia, lembrando um brasão de armas… mais outros tinham em suas mãos, lâminas erguidas ao ar cuspindo sangue e suas roupas tinham o padrão de trovões.

Nós aceleramos para os encontrar.

—Com licença, poderiam nos ajudar?

—OH! São eles! Oh meus deus! Eles apareceram!

—...!?

Quando aquelas pessoas batiam seus olhos em nós, sua expressão mudava repentinamente, um choque que eu não podia ver a fonte, eles então largaram tudo o que carregavam e todas aquelas pessoas se prostraram a nós.

—Ei! Quem são vocês?!

Jacob deu um grito, tentando os comandar, quando então, uma jovem foi quem falou:

—Nós viemos pois ouvimos que vocês estariam neste lugar, por favor, aceitem nossa fé e nossas oferendas…!

E quando eu vi, agora eles estavam nos jogando peças de minerais, ouro, prata e bronze, como se tivessem se encontrado com alguma entidade divina…

—Ei! O que é isso?!

—Perdoe nossa impotência! Nos perdoem por favor, ó esquadrilha real, imploro que achem motivo para poupar os nossos!

“Esquadrilha real…?”

—Jacob, deixa eu tentar uma coisa… que ano estamos?

—Oras, 1911… logo após a esquadrilha fazer seu ataque ao esconderijo de Edwin e acabar com a vida do cientista insano e agora… ó! Eu não acredito que terei a chance de ver isso…!

Eu puxei os outros e nós tomamos alguma distância, então em sussurros…

—Vocês acham que é o que eu acho que é?

—Parece isso, camarada, não consigo acreditar…

O Chris resolveu tomar a dianteira, e com mais uma pergunta, nós tivemos uma boa ideia do que estava acontecendo.

—Por que vocês estão fazendo isso, exatamente?

—Bem… eu não sei os outros, porém minha família foi salva, graças a vocês ainda, quando em 1921 a esquadrilha parou a revolução dos autômatos na França, muitas pessoas morreram, mas teria sido ainda pior sem vocês, as pessoas aqui devem suas vidas a esquadrilha real! então por favor! nos diga o que devemos fazer!

“Inacreditável…”

Provavelmente porque a linha do tempo foi alterada, após Edwin morrer o mundo mudou drasticamente, agora, por alguma razão, havia viajantes do tempo que nos idealizavam como se fossemos seres divinos graças a feitos que nós sequer tínhamos conhecimento, melhor, feitos que ainda estava por vir.

Mas talvez… naquela situação, ter um grupo tão leal assim ao nosso lado parecia exatamente o que precisávamos, nós então perguntamos se eles nos acompanhariam, assim…

Após andarmos bastante, subimos uma colina, nós encontramos uma construção, algo como um casarão marrom e um pouco velho, porém construído tão bem que havia se provado melhor que o tempo, era lá que aquele grupo estava dormindo todas as noites, parecia. E lá nos ficamos por um tempo.

Na primeira chance, corremos para um quarto e nos trancamos daquelas pessoas estranhas e tentamos raciocinar sobre tudo o que havia ocorrido:

—Ok… eu não sei como, mas é provavelmente culpa do relógio…

Rodando pelo quarto, apontei para o bolso do Chris e afirmei aquilo, não tinha muitas dúvidas, mas se havia viajantes do tempo, o relógio devia ter algum envolvimento. Considerando que no futuro devastado pessoas ainda foram capaz de voltar para nosso tempo… em um futuro sem isso, algo como um “turismo temporal” sem dúvidas acabaria sendo algo possível, caso então, nós fossemos algo como heróis do passado…

—Droga, nós provavelmente vamos ter problemas, se tiverem viajantes do tempo, a chance do mundo estar radicalmente diferente com certeza existe…

No final, nós escapamos de um mundo que futuramente seria devastado, mas me perguntava se o que conseguimos era muito melhor…

—O que fazemos agora?

A Yuki se pronunciou, após terminar de inspecionar aquele quarto, então Chris deu uma resposta que eu não esperava.

—Talvez devêssemos voltar para a Inglaterra, o Edwin ainda estava vivo em 1911, afinal.

—E quando chegarmos lá? O que você está pensando?

Resolvi perguntar, ele não parecia tão intelectual assim, então não tive plena confiança de que aquele plano renderia bons resultados.

—Ele é o único que talvez saiba mais sobre como viajar no tempo, eu não sei se realmente é uma boa ideia, mas é o que temos, não?

—Camarada Aiwa, ele tem um ponto, se não for isso, o que faríamos? Eu não sei dizer o porquê, mas eu realmente sinto que deveríamos voltar logo para a Inglaterra…

—Se vocês insistem… acho que é isso, amanhã nós vamos, eu não tenho condição de andar mais por hoje, então, por favor…

Eu sai daquele quarto e fui para o logo ao lado, iria descansar pelo resto do dia, faltava ainda metade de uma hora para o sol desaparecer, mas eu não tinha mais condições de continuar, havia usado meu overclock não uma, mas duas vezes já, não tinha um décimo da resiliência de meus aliados, portanto, eles teriam que lidar com esse atraso…

Jacob também, ele decidiu dar um tempo, soltar seus braços de algumas partes do exoesqueleto, então ler pelo resto do dia.

E apesar de, idealmente, nós todos termos partido na mesma hora, Chris e Yuki, após descansarem apenas algumas horas, ambos sairam pela noite para caminhar e conversar um pouco, eu não quis questionar muito sobre isso, contudo eu creio que nada daquilo teria sido de suma importância para nossa jornada.

E quando eles voltaram, assim que o sol estava prestes a nascer, aquelas construção estava vazia, enquanto o quarto onde seus aliados dormiam.

—Meu deus…

Chris soltou essa frase sem pensar ao ver o estado, ao redor da porta, havia uma marca enorme de queimado, enquanto do outro lado, onde antes tinha uma janela, agora havia um buraco com o triplo do tamanho de uma pessoa, aquele quarto havia se tornado um campo de guerra, assim parecia.

—Yuki… nós temos que encontrar eles…

Os dois pularam imediatamente daquele buraco que havia sido abert, imaginando que aquela cena parecia recente, seja lá quem fosse o culpado, eles pensaram que deveria ter ido naquela direção. E assim, pela neblina e pela floresta, os dois correram incansavelmente até parar em um vilarejo próximo…

Yuki apontou para um homem, Chris viu o gesto e logo correu até ele, o puxando pelo ombro e chamando sua atenção:

—Senhor! Por favor, você viu… você sabe quem eu sou?

O homem olhou ao redor, percebendo o alvoroço que ele causava, então sussurrou brevemente…

—Chris…? Desculpe senhor Alcova, eu estou tentando me misturar com a multidão…

Como Yuki havia percebido, aquele homem também tinha um relógio que era familiar até demais, quando ela percebeu que seria fácil tirar informação dele, Yuki perguntou logo:

—Onde estão os outros?

—Uh… vocês não sabem? Eu também não sei muito, mas os outros dois, eles devem estar indo para a Inglaterra agora, quase certeza.

Chris suspirou, um pequeno alivio de saber a localização dos seus aliados, então ele bateu nos ombros do homem que o ajudou.

—Obrigado, você é um bom homem.

Então os dois saíram tão rápido quanto entraram, quando na floresta, reafirmaram o plano que ambos já haviam formado.

—Yuki! Vamos usar o dirigível! Eu vou ir o mais rápido possível de volta para a Inglaterra! Depois de lá, nós temos que dar um jeito de encontrar aqueles dois, custe o que custar!

—Alto e claro! Nós vamos!

O plano deles era simples, mas era honesto, era exatamente o objetivo que eles tinham, o coração deles não se continha sequer um pouco, por lealdade, por dever, Yuki e Chris subiram em um dirigivel e partiram da fronteira alemã e direto para a Inglaterra.

E do nosso ponto de vista… as coisas foram um pouco mais esquisitas, eu penso.

Pois quando estava indo para o quarto de Jacob, querendo tomar um chá com ele e tentarmos raciocinar sobre os eventos recentes…

Eu vi destroços serem lançados da parede, em seguida de um vortex do tempo se formando, junto de um poderoso trovão.

Asism, um homem com ombros tão largos que ele poderia contar como dois, mais de dois metros de altura, uma etnia africana, com a pele e cabelos escuros, um terno preto tão grosso a ponto de parecer com uma armadura, esse homem, apareceu e falou conosco.

—Aiwa, Jacob. Eu sou Jonathan Black. E eu preciso que vocês venham comigo, o destino dessa linha do tempo depende disso.

Com aquilo… eu terminei de beber meu chá, nem de longe eu tinha pensado que aquilo tinha sido a coisa mais surpreendente que aconteceu naquele dia, talvez fosse a mais bizarra apenas.

—Jonathan Black.... o que você precisa? Eu espero que não sejam mais oferendas…

Na verdade, ter um grupo de dez pessoas que desejam seu favorecimento tão inquietamente, acaba sendo irritante para algumas pessoas, eu não tenho tanto interesse em orde por autoridade, felizmente parecia que o Jacob havia lidado melhor com isso, não estava tão incomodado.

—Não, eu não sou como aqueles turistas. Eu sou  JONATHAN BLACK e eu inventei a viagem no tempo.

—...!

Dessa vez, eu cuspi o chá que estava tomando, isso era uma surpresa de verdade.

—O QUE!? Foi você quem deu o relógio para o…

—Não. Infelizmente, houve um momento em minha joranda em que eu acabei deixando o meu relógio do tempo ser perdido. E apesar de só existir um. Aparentemente ele viajou tantou pelo tempo e mudou tantas vezes de portador que agora, práticamente existem dezenas de milhares dos meus relógios espalhados pelo tempo e espaço. 

—Hum… isso não faz sentido algum.

—O que?...

—Sim, até o Jacob podia concoordar comigo, essa explicação é muito idiota.

—Err, eu não sou o cientista aqui, mas eu acho isso meio esquisito mesmo.

Quando notamos, o rosto sério daquele homem havia esvaído, ele estava tão desconcertado e pertubado quanto poderia.

—Imaginando que isso seja verdade, como você construiu esse relógio?

—Eu não posso dizer agora, eu vim para consertar a linha do tempo. Não deixá-la ainda pior. Então por favor, preciso que me ajudem.

—Senhor Black, como você espera que nós dois sozinhos consigamos o ajudar? O Aiwa ainda nem está pronto para voltar a caminhar.

—Eu gostaria de resolver isso sozinho, mas é realmente algo que apenas vocês dois podem fazer. Precisam seguir ao norte, ir até um porto e voltar para a Inglaterra, imediatamente.

—Err… nós já íamos fazer isso, se era tão urgente, então nós só precisamos esperar a Yuki e o Chris, né, Jacob?

—Não! Vocês precisam ir imediatamente! Senão eu ter vindo aqui não vai ter servido de nada! Entendeu!?

—Para de gritar! Ao menos explique o que está acontecendo!

—Não há tempo de explicar! Todo segundo é precioso! Já sei, se fizerem isso, eu estarei devendo um favor a todo o seu grupo, quando precisarem de qualquer coisa,  falem o meu nome e eu vou dar um jeito, isso está bom?

Olhei para o Jacob, pensei por um instante…

“Ele não parece ter más intenções…”

—Camarada, eu não sei, mas eu sinto que ele pode realmente estar certo nisso, vamos logo.

—Err… certo, eu não gosto tanto dos dois mesmo.

Me levantei, Jacob seguiu e nós fomos para o buraco que aquele homem tinha criado.

—Não irei com vocês, preciso prepara a cena desse quarto para aqueles dois e terminar algumas tarefas, não se preocupem, saberão o que está de errado só de chegar lá, especialmente o cientista.

demos de ombros, a companhia de alguém tão chamativo assim também não era uma que tinhamos interesse.

Pulamos e caminhamos pela floresta, direto ao norte por algum tempo.

E enquanto passávamos por uma vila, eu vi uma farmácia aberta e não tive como me controlar, uma nova invenção havia sido pensada por mim, então eu pedi um tempo e entrei na loja.

A mulher na bancada me deu os químicos que pedi, conforme o esperado.

Ela parecia um pouco estranha, no entanto, seus cabelos pretos pareciam pintados. A sua pele não era exatamente o tom que via normalmente nos alemães… tinha olhos um pouco afiados, lembrando-me vagamente até de asiaticos, isso tudo não eram apenas impressões…

POis quando ia sair…

—Err… desculpe atrapalhar, mas… eu sei quem vocês são.

Me virei, um pouco surpreso.

—Hum…?

Assim… é para o meu irmão.

A mulher me entregou um bonequinho de pano, ele tinha cabelos brancos, a pele pálida, usava um jaleco…

“Isso está REALMENTE ridículo”

—Poderia autografar ele?

A mulher fez questão de me dar uma caneta, sem querer ser rude, eu apenas fiz minha assinatura no jaleco daquele bonequinho e a entreguei.

—Muito obrigada! Você é ainda mais branco de perto do que eu imaginava!

Nós saimos sem falar mais nada para ela, eu só sussurei para Jacob, já do lado de fora.

—Jacob… aquilo é um elógio?

—A intenção dela… foi essa, eu acho que você poderia dar um “inocente até que provado o contrário” para ela.

—Ok.

E claro, por incrivel que parecesse, nossos encontros com turistas ainda não havia acabado. Foi apenas algumas horas depois de termos saido da vila, enquanto passavamos por perto de uma torre antiga, repentinamente eu notei que estavamos cercados por… pessoas normais, não, normais talvez elas fossem em suas casas, para nós, era uma multidão gritando:

—JACOB! JACOB! JACOB! 

—É ELE! O HOMEM MAIS FORTE DO MUNDO!

—AIWA! AIWA! AIWA!

—SÃO ELES! O HOMEM MAIS FORTE DO MUNDO E O BRUXO BRANCO DE BRANDEMBURGO!

“O O QUE!?” Antes de nós sermos afogados por “fãs” o Jacob me agarrou, jogou um gancho para o topo da torre e pousou sobre o topo dela, mas os gritos continuavam, ainda MAIS histéricos!

—OLHA ALI! ELES SÃO INCRÍVEIS! A ESQUADRILHA REAL CONSEGUE FAZER QUALQUER COISA! BRAVO! BRAVO! BRAVO!

—Jacob…! O que foi aquilo?! Do que eles estavam me chamando?!

—BRUXO BRANCO DE BRANDEMBURGO! BRUXO BRANCO DE BRANDEMBURGO!

—Isso…

De alguma forma, aquele evento da prisão, quando eu discursei até não ter mais palavras, tentando ganhar tempo para Edwin, agora parecia ter se virado contra mim, em um nome o qual era reconhecido por todo o tempo e espaço.

—Aiwa… não tem como continuarmos assim, precisamos nos disfarçar.

—Falou e disse… na próxima cidade, nós vamos fazer isso.

Me apoiei nos ombros de Jacob e com uma ultima salva de palmas daquela “plateia” ele pulou pelos ares  o quão alto ele podia, muito além dos limites humanos, então, na próxima cidade.

Pintei meu cabelo para preto, coloquei um par de óculos falsos e substitui o jaleco por um terno branco, em um instante, eu já estava disfarçado.

Jacob pegou uma cadeira de roda, tirou seu exoesqueleto e o colocou consigo, abaixo do pano que cobria suas pernas.

E enquanto eu empurrava sua cadeira, nós fomos pegar uma passagem para a Inglaterra, felizmente o dinheiro que havia conseguido a dias nas partidas de poker havia sido meramente suficiente, junto de algumas oferendas dos turistas, sendo sincero.

—Hum, vocês dois… deixa eu adivinhar para onde estão indo…

Por alguma razão, o homem que vendia passagens gostava de fazer jogos com passageiros. Ele pensou um pouco, fez algumas caretas e perguntou:

—Para URSSJ, não é?

“...?”

Novamente, um ponto esquisito apareceu naquela linha do tempo, esse… com certeza o pior de todos.

—Senhor… perdoe-me a ignorância, mas o que é “URSSJ”?

—Oras, fica um pouco ao leste, lembro bem a sigla, apesar de eu não saber o que significa tudo…

—O que seria essa sigla, então?

—União das Republicas Socialistas Sovieticas de Jacob.

—...!

—...?

Pensando bem, fazia sentido, o Jacob fazia parte do partido comunista da Inglaterra afinal… era um salto lógico impressionante, mas um que fazia sentido.

E assim nós fizemos, entramos naquele dirigível sem nunca ser parados por ninguém, naquele tempo nós ainda não éramos ninguém, com aqueles discursos nós sequer éramos alguém por todo o tempo.

Nós vimos pessoas de todo o tipo, viajamos pelas nuvens e pelo mar, o dirigível fez seu caminho sem nunca ser parado, pois esses eram os tempos em que estávamos, não havia uma guerra prestes a ocorrer, atravessar fronteiras dessa maneira era apenas natural a alguns anos atrás, para todas aquelas pessoas que víamos, continuava a ser a coisa mais natural possível, eu até achava difícil de compreender, aquela circunstância infeliz havia se tornado normal para mim, apesar de o quão ridículo era pensar que a guerra houvesse prendido tantas pessoas em suas fronteiras, impedido o proliferamento da cultura e da vida… se tivesse uma chance de fazer todo o mundo se unir novamente, a tomaria, contudo, nossa jornada não era sobre isso, era sobre salvar o tempo, nosso mundo em si, países e as pessoas não estavam exatamente incluídas, apesar de serem uma das pessoas que salvariamos, claro.

E assim, após alguns dias de viagem pelo oceano, nós chegamos na Inglaterra, eu desci levando Jacob em sua cadeira de rodas, quando chegamos perto do Big Ben, no entanto, Jacob me fez um pedido:

—Aiwa, eu tenho algo a resolver… nesse tempo. Eu preciso ir, nos encontramos de novo aqui, ok?

—Huh…

Eu pensei um pouco, diria que normalmente eu não deveria ter deixado alguém andar sozinho por um tempo que não era dele, afinal, difícil seria imaginar todos os problemas que poderiam ser criados, ainda mais pois Jacob não era um cientista, ele não entendia as circunstâncias que estava plenamente, porém… eu também tinha problemas que queria resolver sozinho, com meu julgamento alterado pela pressa, eu fiz uma das minhas piores decisões, uma que teria consequências pelas próximas décadas de minha vida ainda.

Nós nos separamos. E primeiro… eu deveria contar o que eu estava fazendo.

Meu caminho foi para apenas um lugar, minha casa, naquela casa, naquele dia, uma pessoa que em meu tempo estava dormindo, naquele momento ela devia estar acordada, eu não tinha intenção de alterar nada, era perigoso demais, eu não sabia exatamente como, mas o tempo estava em algum risco que eu não compreendia, portanto, fizesse o que fosse, eu não poderia impedir nada do que vi de ocorrer, senão…

“O que vi na caverna, deve ter sido o resultado de causar um paradoxo e é sorte nossa que conseguimos tomar refúgio nesse tempo, entretanto, essa linha está correndo para os eventos de 1913, onde Edwin morrerá por nossa mão e tudo irá ocorrer novamente, se não fizermos mais algo, vir até aqui não teria adiantado de nada”

Por isso, eu corri, eu corri pelas ruas e até minha casa, contudo, o mundo me deu um aviso, quando…

Alguns homens, três deles, um bem alto, um mais ou menos da minha altura e um mais baixo que eu apareceram e me puxaram para um beco…

Pensei que seria assaltado, tinha de alguma forma parecido algum rico desatento para o bando de criminosos, contudo… eu senti que apenas dar meu dinheiro não seria certo, repentinamente, algo em mim veio e eu decidi como lidaria com eles…

E para a próxima cena, fazer sentido, precisamos olhar o que ocorria do outro lado de Londres, onde Chris estava.

Após se dividir da Yuki, ele estava olhando por Londres freneticamente, procurando a torto e a direita pelos seus dois aliados, assim, ele viu alguém….

Um garoto de jaleco, cabelo branco e a pele pálida como uma nuvem de inverno, sem pensar, ele correu até ele, puxando-o pelo ombro:

—AIWA!

—Ah!

Chris não havia percebido, no entanto, que além de estar carregando alguma madeira em suas mãos, bem pouca ainda, ele era suspeitamente menor do que o Aiwa que ele se lembrava, não demorou muito para que o mercenário conectasse tudo e concluisse…

—Er… você é o assistente do Edwin, não é?

—Ah! Como você sabe disso…?!

—Não… eu conheço o Edwin, digo, somos só conhecidos, nada tão forte assim, mas…. err, ele me falou sobre você e…

—Hum…?

—O que é essa madeira toda? Por que você está carregando isso?

—É um experimento, vamos usar isso para o combustível… eu ainda vou ter que fazer mais algumas viagens para conseguir tudo, mas o dia está nublado então…

—Vou te ajudar, cadê o resto? Eu posso carregar o resto.

Chris se ofereceu prontamente para ajudar aquele Aiwa, interessantemente, o garoto aceitou a ajuda e ainda mais interessantemente, durante o caminho ao laboratório, Chris falou algo que…

—Alias, Chihuahua, você devia tentar fazer exercícios, trabalhar seus músculos, um homem precisa conseguir fazer esse tipo de coisa.

De volta aonde eu estava…

—AHHHHHHHH!

Repentinamente, eu havia me sentido forte, eu levantei meu punho com toda minha força com um gancho no maior daqueles bandidos, ele voou pelos ares por alguns instantes, repentinamente caindo no chão, já desmaiado…

—Ah! Ele é forte demais!

O bandido menor deu de costas e correu sem pensar, o outro até considerou puxar alguma arma branca, mas notou que não valia mais a pena, em vez disso ele só deu as costas também, correndo e gritando…

—AHHHHH! ME PERDOE!

E quando vi… eles desapareceram…

“O que…? Foi isso…?”

Olhei novamente nas minhas mãos, notei como se elas estivessem por um instante, diferentes do que lembrava, durante aqueles instantes em que bati no homem, me sentia como se pudesse fazer qualquer coisa…

Pois a resposta do jovem Aiwa foi apenas considerar as palavras de Chris por alguns instantes, então, responder com um sorriso:

—Eu não posso fazer algo assim… me perdoe, mas já tem alguém para cuidar disso para mim.

A linha do tempo, por um instante havia divergido e me salvo dos bandidos, no dia eu não havia notado isso, não iria ter desvendado o segredo daquele evento nem por mais vinte anos, por isso, apenas continuei correndo para casa.

E logo, logo eu cheguei lá. 

E consegui tudo o que precisava, uma visão que não tinha a muito tempo.

Naomi, ela estava nos jardins caminhando, ela tinha sua espada na cintura, eu adivinhei na hora que ela devia estar indo para praticar, afinal, sua ambição no futuro era lutar, se houvesse uma guerra, que haveria, ela iria lutar pelo país que estava, não importava se seu sangue era diferente, as pessoas com quem ela vivia eram ingleses, tal qual, ela lutaria bravamente pela Inglaterra.

Devo admitir, naquele dia, eu perdi algumas lágrimas, como o sangue que saia dos meus olhos quando usava meu trunfo, elas caíram no chão e lá ficaram, eu não iria conseguir me segurar só com lágrimas, não por muito mais tempo.

Sabendo que não podia mudar o futuro, eu saí de lá e continuei, eu tinha uma missão para cumprir, afinal, essa missão não estava naqueles jardins, e apesar de parecer irracional, não estava ao lado de Naomi.

Enquanto andava até o laboratório de Edwin, um local que não visitava, para mim, a quase um mês já, eu me lembrei do passado, esses foram os meus dias mais felizes, eu tinha Naomi ao meu lado, o meu futuro como um cientista, tudo o que precisava.

Agora, enquanto caminhava, talvez o futuro que eu voltasse, não haveria um Edwin, talvez nem mesmo a Naomi… eu sabia que a minha vida teria que continuar, porém não se ela deveria

E quando cheguei no laboratório, eu bati na porta, ele estava um pouco diferente do que lembrava, Edwin ainda faria mais alguns ajustes nele durante o período de experimentos.

“1911, mas já deve ser depois… daquilo…”

Quando olhei no dia, 8 de outubro, eu tive certeza que, ironicamente, eu havia caído em um dos dias mais marcantes para mim, o dia em que Edwin me mostrou sua esposa…

Enquanto eu estava do lado de fora, começava a lembrar…

Edwin chamou o jovem Aiwa para uma parte escondida do laboratório, atrás de uma estante, uma passagem secreta para o subsolo.

Chris, ele esperava pacientemente do lado de fora…

Edwin levou o jovem Aiwa, meu eu de 1911, por corredores que ficavam cada vez mais frios, tinham cada vez mais cor, eu apenas conseguia lembrar da pergunta que fez Edwin me levar a um lugar daqueles, não havia sido sobre experimentos, nada do tipo, naquele dia, eu segui as instruções de Naomi e fiz uma pergunta sobre o próprio Edwin, apesar de ter uma boa ideia do que havia acontecido, eu precisei perguntar:

—Onde está a Senhora Thursby?

Foi quando ele ordenou que o seguisse, e nós fomos por esses caminhos que agora considero amaldiçoados.

E no fim daquele corredor, uma porta vermelha esperava, se destacando do cinza, do cinza das paredes e do preto do terno de Edwin, a porta foi aberta, liberando um ar tão gelado que se fazia visível em minúsculos cristais de gelo pelo ar.

E lá… era onde estava.

—Aiwa… eu ainda quero salvá-la, não pretendo lhe por responsabilidade alguma a mais, porém, eu desejo salvar minha mulher ainda.

Lá tinha um corpo, uma mulher quase morta, com a pele na cor de gelo, cabelos que haviam perdido a tonalidade do forte castanho escuro e estavam agora como uma água pálida, a mulher havia sido congelada, contudo… estava viva…

Quando lembrei disso, eu deixei o tempo passar e… ao notar que as partes importantes haviam passado, eu bati na porta:

—Preciso falar com Edwin Thursby, por favor, o rei envia cumprimentos ao senhor.

E foi quando esperava naquele lugar, que uma pessoa em particular me veio em mente…

“Onde está o Chris…?”

A verdade era, naquele mesmo lugar em que eu estava, Chris havia se visto, repentinamente, sem motivo aparente algum, perdendo sua forma em poeira e desaparecendo aos poucos, suas ultimas palavras, não foram ouvidas por ninguém…

—EDWIN!!!!!

E quando acabei de pensar sobre o mercenário, um garoto apareceu na porta, eu não tinha como não o reconhecer, afinal, era eu mesmo.

—Quem…?

—Sem tempo, eu preciso falar com Edwin Thursby imediatamente.

Era eu mesmo, então não senti culpa alguma de o jogar para o lado e entrar no laboratório sem pensar.

—Um momento… eu não te conheço, você é um agente…?

Olhei para trás, ignorando as perguntas do Edwin:

—Aiwa Saki, você tem que sair, eu irei falar com você depois de falar com Edwin. Isso é importante e meu tempo é curto, vá logo.

Não havia ninguém melhor para me convencer do que eu mesmo, eu realmente não sabia lidar quando alguém além da Naomi usava o nome da minha família atual, era… realmente estranho, então me afastei sem pensar, e sem saber que aquele homem era eu mesmo

—Edwin… preciso lhe perguntar sobre a viagem no tempo…

Faltava alguns segundos para eu resolver o problema, apenas mais algum tempo e talvez eu resolvesse o tal paradoxo proposto por Jonathan Black, entretanto… não importava se eu tinha ou não conseguido uma solução, pois logo…

Eu também, sentiria que algo estava errado comigo, ao olhar que Edwin repentinamente ficou assustado com algo, olharia para minha mão, então a veria sumindo…

—Edwin… droga… o que é isso…?

Meu corpo virava poeira, pois alguém havia feito sua decisão, bem, bem longe daquele lugar.


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