E eu que sou a vilã? escrita por Agome chan


Capítulo 2
Capítulo 2 - E eu mereci? Como assim?!




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Luena

Para a cerimônia, eu imaginava momentos lindos de nós dois juntos, iguais ao do nosso casamento. Estava muito curiosa para saber os votos dele. Pensava, será que ele nem escreveu e está me enrolando? Mas deixava para lá, afinal Theo era um homem muito organizado e detalhista, sempre fez tudo com antecedência, quem o irritava deixando tudo para última hora era eu. Daria tudo certo então.

E nossa dança? Oh! Estava muito empolgada!

Ainda me lembro como foi divertido nossa entrada no salão, tocando uma batida contagiante, ele passando na frente dançando. Todos nossos amigos e familiares no hype. Eu entrava na dança, recebendo dele a chuva de dinheiro. Ele dançando ao meu redor, me cultuando feito uma deusa, e ele era o meu. O mundo era nosso. Os convidados despejavam mais notas em nós.

Era meu conto de fadas, mesmo nós nos desentendendo, eu o amava tanto que imaginava que tudo daria certo no final. Nós éramos pra ser.

 

 

Meu irmão mais velho abriu as portas para minha entrada triunfal, porém parou.

O que me chamou a atenção era tanta gente falando. Tudo bem que não vai ser na igreja, mas essas pessoas não maneiravam? E a etiqueta? Por outro lado, muitos tinham o privilégio de não se preocuparem tanto com modos… talvez fosse isso.

Ele não pediu música e me puxou antes que eu pudesse entrar, antes que mais pessoas me vissem, o que era uma pena, eu estava incrível. Mal tive tempo de me atentar as pessoas no altar, de ver Theo. 

No corredor, me virei e vinham correndo minhas madrinhas amigas, amigos, os cinco mais próximos, todos com a mesma cara de urgência.

— O que aconteceu?

— Ele não veio.

— Quem?

— Theo. Não está lá dentro.

Fiquei tonta e meu irmão me segurou para não cair dura ali mesmo.

Os cochichos ficavam mais e mais altos, ecoando na minha cabeça. Era pena que uns sentiam de mim, “pobrezinha, largada assim”. E muitos outros achando bem-feito, “Theo fez o correto. Uma mulher como aquela quer castrar qualquer homem para vestir as calças em casa”. E mais, “Luena é tão metida, sempre com essa vida perfeita esfregando na cara de todo mundo. Bom cair do pedestal e aprender um pouco”. Tive vontade de entrar e estapear a loira safada, a Gabriela.

Desgraçada, não tinha mulher mais metida do que ela, arrogante, por ser modelo. Até a água que ela toma tem que ser da marca específica, armou um barraco em várias seções de fotos por isso, e eu sou a metida? Convencida sim, mas tem diferença.

 

Sempre soube que aquelas pessoas do lado de dentro do salão eram cobras. Só confiava nesses meus amigos que me amparavam ali, em seus braços, e minha família.

Meu irmão não esperou eu dizer nada, me pegou no colo e me tirou de lá, meus amigos acompanharam segurando a barra do vestido, evitando acidentes enquanto íamos para limusine pelos fundos, onde, com eles, pude chorar.

 

Que absurdo! Eu nunca me senti tão humilhada em toda minha vida!

Que tipo de desgraçado faz isso com alguém?!

Esse homem tem noção do tamanho do trabalho que eu tive para essa cerimônia? Meses de trabalho! Convidei até os amigos insuportáveis dele, os mesmo que, minutos depois, estavam me mandando mensagens. Que amigos fiéis você tem, Theo. Você mal saiu do acento e já querem sentar no lugar ainda quente. 

O tanto que tive que aguentar as críticas da mãe dele na decoração, do lugar, da música, do meu vestido. Se ela queria tanto se casar com o filho, ela que fizesse a festa dela, inferno! A minha é minha!

Aquilo me corruíra toda. Apostava que ele estava com a amante que eu já vinha desconfiando que o filho da… tinha. E depois eu sou a louca? Eu sou a louca, Theo?! Mas errada não estava, estava?!

— Ele não fica com a minha casa, nem por cima do meu cadáver! — Vai ser minha ressecção pelas as humilhações.

Falta o quê? Ele casar com a amante em poucos meses para completar! Minhas lojas são minhas lojas, vou brigar pela minha parte. Muito tempo e dinheiro investido, para ele dar para uma outra. Na verdade, imagino o quanto ele já vem dando do meu ganho. Eu trabalho muito mais que ele, não vai em nossas óticas ou boutiques, mal sabe a cara dos funcionários, porque só quer saber da empresa da família dele.

 

Pedi para mandarem todos direto para o salão de festa, lá eu iria me virar e contornar a situação.

 

 

Percebo que tive muitas expectativas, e baseada nelas decorri planos elaborados. E tudo ruiu.

Para minha surpresa, o safado do Theo tinha apresentado a outra para os amigos dele. Mas é claro, a corna sempre é a última a saber! 

Fabrício, o amigo dele mais insistente comigo desde o fracasso da minha renovação de votos, me contou. Aproveitei e dei atenção ao idiota para ele me falar mais sobre ela e ele me deu o endereço. É claro que fui lá na semana seguinte.

Óculos escuros, meu maior salto, lenço colorido e um vestido vermelho, combinando com meu sangue fervendo.

Estava pronta para despejar meu ódio nela também, em uma discussão onde a faço se estressar, ouvir ela tentando me humilhar, que venceu e esfregar na minha cara o constrangimento que me fez passar, saber o que ele dizia sobre mim, o quanto não me desejava e mentia que eu não precisava enchimento na bunda ou silicone nos meus seios tamanhos m. Mas eu estaria ali, de pé, sem descer do salto, jogando o cabelo da minha peruca, para os dois saberem que eu estou ótima e fabulosa como sempre. Não estou…, mas o que vale são as aparências e meu orgulho.

Quando ela abriu a porta, nem deixei transparecer, que ela era ainda melhor que nas fotos e o fato de sermos tão diferentes fisicamente, me incomodava ainda mais. 

Eu achava que eu era o tipo do Theo, então… como era possível? O que eu tinha de alta, ela tinha de baixa, eu era meio esguia, ela meio robusta, a textura do cabelo passando dos ombros dela deveria ser 3C, o meu natural era 4B e 4C que eu usava as vezes em muitos penteados diferentes. Ela era uma negra de tom médio que nem ele, e eu sendo retinta.

Ela estava vestida roupas menos elaboradas por estar em casa, eu vim montada, bater de surpresa aqui pensando na maior probabilidade disso acontecer. Entretanto, eu tinha um top colorido igualzinho ao que ela usava, em minha casa, então não tinha como criticar as roupas que gostei.

Outras similaridades era o nariz redondo e lábios grossos que tínhamos. Theo vivia elogiando esses traços em mim.

Num tom de escárnio, lhe disse:

— Então… é você a outra?

Ela enrugou a testa:

— Que?

Girei os olhos:

— Garota, não se faça de sonsa. Você deve estar muito orgulhosa do seu feito, sem um pingo de vergonha. Só quero que saiba que me fez um favor ficando com os restos que eu deveria ter jogado fora a muito… 

— P-pera ai… rebobina, por favor. Eu? A outra? — Ela ergueu as mãos para o alto. Ok, uma reação que não tinha previsto. — Você não está se confundido? — Cruzou os braços. Ah, finalmente ela parece irritada. — Eu desconfiava que Theo me traísse a tempo. A outra é você.

— Hã? Querida? Bateu a cabeça? Eu sou a es-po-sa.

Os olhos dela se esbugalharam e ela se apoiou na porta. Um gato preto bonito miou de dentro do apartamento, provavelmente preocupado com a dona.

— Sim, sou seu maior pesadelo. Não adianta fingir passar mal, você vai me ouvir sim!

— E-espo… ele é divorciado a dois anos, não?

— … — As palavras sumiram.

Ela não sabia mesmo. Uau, Theo! Parabéns, conseguiu fazer duas de trouxa.

 

 

No fim, eu estava dentro da casa da amante do meu marido, servindo a ela água com açúcar, acariciando suas costas, enquanto ela chorava compulsivamente.

Nessa virada de cenário, me senti cruel por ter chegado daquele jeito na casa dela, coitada. E imaginar que eu queria fazer ela chorar de raiva…

— Por que ele trairia você? V-você é tão bonita — me disse entre soluços. — E comigo? Não faz sentido.

— Que isso. Você é maravilhosa. Deve ser por isso que ele se apaixonou e quer se divorciar de mim. Te quer como a esposa dele… — E eu passei a chorar.

— O que eu iria querer com um homem que abandona esposa no altar?! Imperdoável! Monstruoso! — Milene passou a esfregar minhas costas e me consolar.

— Mas não é assim que é o amor?! Ele com certeza não me ama mais. Nunca entendo ele! Uma hora diz que o sufoco, noutra diz que eu não lhe dou atenção e só penso em trabalhar demais, e se dou uma pausa para me distrair, diz que eu sou supérflua e egocêntrica.

— Ele não sabe o que quer, Luena! Dane-se o que ele pensa!

Pegou meu rosto em suas mãos e me fez a encarar dentro de seus olhos escuros feito a noite estrelada, brilhosos pelas lágrimas. Vermelhos e inchados.

— Quer saber? Eu vou pegar as coisas dele e pôr no saco de lixo.

Acariciei suas mãos amáveis.

 

Eu esperei encontrar minha inimiga. Encontrei uma amiga. 

 


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