Concha, aconchego escrita por Diego Farias


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu comecei postando aqui na categoria: Saint Seiya, mas eu também sou um escrito assíduo de Pokémon.



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A professora Juniper bebericava um longo gole de café numa xícara de porcelana. Ela apreciava a bebida amarga descendo pela garganta, ajudando-lhe com o leve resfriado que adquirira, graças aos estudos dos pokemon do tipo gelo que Hilbert lhe enviara mais cedo.

  Já se aproximava do final do expediente, portanto, a professora se deu ao direito de lanchar. Logo tomaria uma longa ducha quente para relaxar e mais tarde assistiria a sua novela.

   ― Estava pensando nela! ― exclamou ela ao notar que se Xtraveicer estava tocando, trazendo no visor um número conhecido. ― Espera um pouco, filha! Mamãe vai te atender do computador.

   Juniper deslizou sobre a cadeira de rodinhas e percorreu toda a sala, até chegar no computador de mesa que estava em modo de descanso. Foi agitar o mouse e a tela se ascendeu com a notificação de uma chamada ativa. Ao aceitá-la, a webcam ativou-se junto com os microfones e uma tela menor se abriu, sintonizando a imagem de uma jovem adolescente, loira, de rosto redondo que usava um par de óculos quadrados de armação cobreada.

   ― Fale-me, Bianca. Por que você está com essa cara?

   A jovem tentou esconder as grandes bochechas coradas e os olhos inchados de tanto chorar. Demorou para que ela iniciasse o assunto, porque ela estava num centro pokémon, olhando ao seu redor para ter certeza que nenhum outro treinador ouviria o que ela tinha a dizer.

   ― É ele, mamãe... De novo... Ele tem algum problema! É serio!

  ― Bianca... ― disse ela num tom de quem estava um pouco saturada de ouvir as mesmas reclamações. ― Eu já fiz vários testes com ele. Mesmo sem precisar. Um pokémon inicial já vêm das fazendas de reprodução completamente aprovado.

  ― Mas o Snivy da Hilda e o Tepig do Cheren já evoluíram. O meu atingiu o nível necessário, mas não evoluí... Acabamos de levar um pau da Lenora, porque o Oshawott não quer usar aquela concha idiota para batalhar.

  ― Bianca! Eu já lhe disse. As conchas são muito importantes para esses pokémon. Elas representam...

  ― O último presente de suas genitoras, sim! Eu sei. Eu só acho injusto, porque parece que a culpa é minha. Eu fiz de tudo para ele confiar em mim, fiz de tudo para ter uma boa relação com ele, mas ele não quer aprender o Razor Shell de modo algum.

   Juniper respirou fundo e tomou mais um gole de café. Mais uma vez, arrependia-se de ter deixado sua única filha sair em jornada atrás de seus melhores amigos de infância. Bianca sempre foi muito mimada e imatura. A professora tinha certeza de que essas características estavam atrapalhando o Oshawott.

   ― E o que você pretende fazer?

  ― Eu, sinceramente, estou pensando em treinar um outro pokémon e devolvê-lo ao laboratório! ― as sobrancelhas da professora ergueram-se de pavor. ― Eu não vou ficar carregando um pokémon defeituoso.

  ― E se o Oshawott merecesse um outro treinador? ― foi a vez de Bianca assustar-se. ― Eu lhe conheço, Bianca. Agora falo como mãe e não como professora ou tutora. Você é extremamente mimada e egocêntrica. Dificilmente percebe ou se importa com as necessidades dos outros e sempre acha que suas futilidades são prioridades.

  ― É por isso que eu não queria falar com a senhora! A senhora sempre acha que o problema sou eu! ― as lágrimas voltaram aos olhos da garota. ― Eu sempre trabalhei no laboratório dando tudo de mim e ainda sim, a senhora preferiu Hilbert e Cheren à mim.

   ― Bianca! ― o tom tornou-se mais firme, frio e impaciente. ― Conte-me o conto da mamãe Samurott.

  ― Para mamãe! Não é hora para...

  ― Conte-me!

   Bianca desviou o olhar e suspirou derrotada. Ela limpou as lágrimas e encarou o teto por alguns segundos, tentando recuperar a sua centralidade.

   ― Enquanto a mamãe Serperior deixa seus ovos serem aquecidos num tronco de árvore pela luz do sol e a mamãe Emboar deixa seus ovos nos lençóis magmáticos, a mamãe Samurott é a única que choca seus ovos até que eles eclodam.... ― ela balançou a cabeça e tapou os seus ouvidos a beira de um surto de raiva. ― Isso é uma besteira!

  ― Continue.

  ― A mamãe Samurott possuí um código de honra inquebrável, portanto, ela precisa estar lá quando o beber nascer. Ela o amamenta pela primeira vez e entrega uma das suas conchas à ele. O bebê oshawott posiciona a concha de sua mãe no centro do seu corpo, representando que mesmo que ele siga sozinho para a natureza, a sua mãe sempre o estará protegendo. Acolhendo-o.

  ― Por isso que Oshawotts tendem a ser mais emotivos e inseguros. Diferente dos Snivys e Tepigs, eles tem uma lembrança vaga de suas mães concentradas naquela concha. Para eles é a parte mais importante do seu corpo, porque ali reside todo o afeto que precisam para continuar vivendo.

  ― Mas eu não quero tomar a concha dele! Eu quero que ele a use para lutar!

  ― Quando que Oshawott evolui, Bianca?

  ― Quando ele alcança o lvl 17!

  ― Errado! ― a garota ficou confusa. ― Ele evolui quando encontra uma pessoa que o ensina que a concha não será a única demonstração de amor e afeto que ele receberá na vida. Quando Oshawott entende que ele não está mais sozinho, ele percebe que não faz diferença ter ou não ter aquela concha. Se ela se partir, ele sabe que a sua mãe ainda o ama e mesmo que não amasse, ele teria o seu treinador ao seu lado. É essa consciência que o faz aprender o Razor Shell.

   Bianca ficou sem reação e encarava a tela do computador muda, sentindo um rodamoinho se formando dentro de si. Ela colocou a mão em seu peito e se lembrou que a pequena lontra também fazia isso toda vez que se sentia insegura.

   ― Todo esse tempo... O Oshawott se sentia como eu, mas eu não percebi... ― Bianca pegou a pokebola de seu inicial aquático e começou a sussurrar um pedido desculpas para ele. ― Mamãe! Eu vou voltar! Eu não mereço ser uma treinadora! Eu não passo de uma garota egoísta e mimada! Eu traumatizei o Osha e agora ele nunca mais vai evoluir.

  ― Não... Não é assim, Bianca. ― a professora trocou o semblante duro por um sorriso orgulhoso. ― Esse Oshawott foi a minha concha para você! A prova que embora você tenha seus defeitos, eu escolhi apostar em você. ― os olhos da menina tremelicaram de surpresa. ― Eu sei que sou dura e exigente na maior parte do tempo, mas minha filha, se eu não acreditasse em você, você não estaria em jornada. Eu sei que você pode ser tão grande quanto ou até maior que Hilbert e Cheren, portanto, continue a crescer. Continue a amadurecer. Até que você não precise mais dessa concha e entenda o quanto eu amo você.

   Bianca abriu o bocão e começou a chorar emocionada, enquanto abraçava o telão do computador, atraíndo a atenção de vários treinadores curiosos. A professora ficou completamente sem graça, mas depois riu da situação, embora deixasse escapar algumas lágrimas pelo canto dos olhos.

   ― Mamãe, eu tenho que ir! Preciso acertar as coisas com o Osha...

  ― Vai sim, minha lontrinha! Eu confio em você!

   A loira tinha um semblante completamente diferente agora. Juniper não tinha certeza se ela e Oshawott conseguiriam se entender e criar essa relação, mas estava feliz de que pelo menos a sua filha pareceu entender como ela se sentia.Logo chegaria o tempo em que Bianca não precisaria mais de “conchas” para se sentir acolhida. E se Deus quiser, nem Oshawott.

  E com um beijo estalado, Bianca desligou.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem ^^